Resultados da pesquisa por: VIDA

Abandono – Adalgisa Nery

A exaustão faminta Procura elementos ainda vivos no meu ser Talvez guardados em escuros vácuos Que carrego sem saber. Alimenta-se do sopro das imagens Desenhadas pela minha imaginação Pelo tato dos meus sentimentos, Pelo pânico do desconhecido. Aparece como febre constante dilatando as minhas carnes Descoloridas e sem sabor de vida. A exaustão sobe pelos meus pés, Cobre os meus gestos incipientes, Prende a minha língua, Suga o …

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Cemitério Adalgisa – Adalgisa Nery

Moram em mim Fundos de mares, estrelas-d′alva, Ilhas, esqueletos de animais, Nuvens que não couberam no céu, Razões mortas, perdões, condenações, Gestos de amparo incompleto, O desejo do meu sexo E a vontade de atingir a perfeição. Adolescências cortadas, velhices demoradas, Os braços de Abel e as pernas de Caim. Sinto que não moro. Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas É habitada pelos corpos. Moram …

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Estigma – Adalgisa Nery

Não receio que partas para longe, Que faças por fugir, por te livrares Da força da minha voz E da compreensão do meu olhar. Não temo que os mares te levem No bojo dos transatlânticos Nem tampouco me amedronta Que em possantes aviões No céu e na terra, Em todos os seres me encontrarás Cortes …

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Mistério – Adalgisa Nery

Há vozes dentro da noite que clamam por mim, Há vozes nas fontes que gritam meu nome. Minha alma distende seus ouvidos E minha memória desce aos abismos escuros Procurando quem chama. Há vozes que correm nos ventos clamando por mim. Há vozes debaixo das pedras que gemem meu nome E eu olho para as …

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Clima – Orides Fontela

Neste lugar marcado: campo onde uma árvore única se alteia e o alongado gesto absorvendo todo o silêncio – ascende e                     imobiliza-se (som antes da voz pré-vivo ou além da voz e vida) neste lugar marcado: campo                 …

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Poema – Orides Fontela

Saber de cor o silênciodiamante e-ou espelhoo silêncio alémdo branco.Saber seu pesoSeu signo– habitar sua estrelaImpiedosa. Saber seu centro: vazioesplendor alémda vidae vida alémda memória.    Saber de cor o silêncio – e profaná-lo, dissolvê-lo        em palavras.– Orides Fontela, do livro “Alba”, em “Poesia Reunida [1969-1996]”. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: …

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Amanhã – Patativa do Assaré

Amanhã, ilusão doce e fagueira, Linda rosa molhada pelo orvalho: Amanhã, findarei o meu trabalho, Amanhã, muito cedo, irei à feira.Desta forma, na vida passageira, Como aquele que vive do baralho, Um espera a melhora no agasalho E outro, a cura feliz de uma cegueira.Com o belo amanhã que ilude a gente, Cada qual anda …

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Eternidade – Júlia Cortines

Eternidade d’alma! ilusória miragem, Que a alma busca através da crença e do terror, A idear uma calma ou sombria paragem De infinito prazer ou de infinita dor!Por que há de haver além, noutro mundo distante, Um prêmio eterno para a virtude mortal? E para o ser que vive apenas um instante Por que há …

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Ancião africano – Júlia Cortines

A testa negra sob a carapinha branca.Da longa escravidão a tremenda torturaNão lhe alterou da face a expressão de doçura.Um riso bom entreabre a sua boca franca.A vingança do peito um brado não lhe arranca;Em seu tranquilo olhar o rancor não fulgura,Quando, na resignada e humílima postura,Vê se erguer uma mão que ameaça e que …

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Entre abismos – Júlia Cortines

Mistérios só, de um lado, e sombras…Em seguida,A estrada tortuosa e aspérrima da vida,Onde impreca a Revolta, onde brada o Terror,Onde geme a Saudade e se lastima a Dor,E, co’o gesto convulso e os traços descompostos,Batidos pelo vento, à tempestade expostos,Atropelam-se, em doida e febril confusão,O Desespero, a Raiva, a Cólera, a Paixão,Cujo concerto de …

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Indiferente – Júlia Cortines

E vão assim as horas! – Vão fugindoUm após outro os dias voadores,Ao túmulo do olvido conduzindoAs alegrias como os dissabores,O sonho agita as asas multicores,E vai-se e vai-se rápido sumindo,Enquanto a vaga quérula das doresSoluça, e rola pelo espaço infindo…A mim, porém a mim, a mim que importa,A mim, cuja esperança há muito é …

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A um cadáver – Júlia Cortines

Eis-te, enfim, a dormir o teu sono de morte:Semicerrado o olhar, as pupilas serenas,Na atitude de quem nada teme da sorte,Deslembrado do amor e esquecido das penas.Nada pode turbar-te em teu repouso: estalaO raio, a lacerar das nuvens os vestidos;No espaço a luz se extingue, o estampido se cala,Sem vir ferir-te o olhar ou ferir-te …

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Sonhadores – Júlia Cortines

Almas – da natureza a execrada exceção – Em que o Sonho ateou seu nefasto clarão, Vós que, presas à terra, a asa do pensamento Sentis sempre a voar, em livre movimento, Para o distante azul dos mundos ideais, Onde o bem que buscais não existiu jamais; Vós que abris, procurando o mistério das coisas, …

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Finis – Júlia Cortines

Ouço um surdo, abafado e discorde ruído, Logo após um fragor que pelos ares trona. Qual se dum terremoto o solo sacudido Fosse, em torno de mim tudo se desmorona. O que é feito de vós, altivos monumentos, Que afrontáveis do tempo os inúteis furores, Mergulhando no azul dos largos firmamentos, Mergulhando dos céus nos …

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Por toda parte – Júlia Cortines

Interrogaste a vida: interrogaste o arcano, Misterioso sentir do coração humano; A mesta palidez serena do luar; O murmúrio plangente e soturno do mar; O réptil, que rasteja; o pássaro, que voa; A fera, cujo berro as solidões atroa; A desenfreada fúria insana do tufão; A planta a se estorcer numa atroz convulsão. Interrogaste, enfim, …

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Poesia perdida – Jacinta Passos

Ó! a poesia deste momento que passa,a grande poesia vivida neste instantepor todos os seres da terra,que palpita nas coisas mais simplescomo um rastro luminoso da Belezae, sem uma voz humana para eternizá-la,se perde para sempre, inutilmente…Por que existo, Senhor, quando não posso cantar?– Jacinta Passos (1933?), em  parte I “Momentos de Poesia”, do livro …

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Canção da alegria – Jacinta Passos

Urupembaurupembamandioca aipim!peneirarpeneirouque restou no fim?Peneira massa peneira,peneira peneiradinha,(Ai! vida tão peneirada)peneira nossa farinha.Olhe o romboolhe o romboolhe o rombo arrombou!olhe o ciscoolhe o riscourupemba furou!Eh! sai espantalhoda ponta do galho!Escorra! Escorra!Tirai essa borra!Urupembaurupembamandioca aipim!peneirarpeneirouque restou no fim?Farinha fininhapeneiradinha!Ai! vida, que vidanuinha! nuinha!– Jacinta Passos em “Canção da partida”. São Paulo: Edições Gaveta, 1945. Jacinta Passos …

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Cantigas das mães – Jacinta Passos

(para minha mãe)Fruto quando amadurececai das árvores no chão,e filho depois que crescenão é mais da gente, não.Eu tive cinco filhinhose hoje sozinha estou.Não foi a morte, não foi,oi!foi a vida que roubou.Tão lindos, tão pequeninos,como cresceram depressa,antes ficassem meninosos filhos do sangue meu,que meu ventre concebeu,que meu leite alimentou.Não foi a morte, não foi,oi!foi …

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Cântico de exílio – Jacinta Passos

Estou cansada, Senhor.Minha alma insaciável,a minha alma faminta de beleza,ávida de perfeição,é perseguida pelo teu amor.Puseste dentro dela esta ânsia infinitacujo ardor queima,como a sede que em pleno deserto escaldantepersegue o viajor.Esta angústia, que cresce e que vibra e palpita,nasceu dentro em mimno mesmo divino instanteem que, morrendo a última ilusão,só me restava afinaluma fria …

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Crepúsculo – Jacinta Passos

Vai lentamente agonizando o dia…O poente onde, há pouco, o sol ardia,se tingiu de cor de ouro, luminosa.Tons desmaiados de lilás e rosalistram o puro azul do firmamento– um poema de luz, neste momento.A sombra de mansinho vem caindoe o contorno das coisas, diluindo.Pesa um grande silêncio, enorme e mudo.Desce suavemente sobre tudo,uma bênção dulcíssima …

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Incerteza – Jacinta Passos

Em meu olhar se espelhaa sombra interior de incerteza angustiante.E em minha alma floresce, como rosa vermelhadum vermelho gritante,como o clangor clarim,esta angústia que vive a vibrar dentro em mim.É a minha vida um longo e ansioso esperar,num amor que há de vir.Amor – prazer que é dor e sofrer que é gozar –Amor que …

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Manhã de sol – Jacinta Passos

Dia azul de Maio. Esplendeum sol de ouro no céu que além se estende. Prolongam-se vibrações do arrebolna clara luz desta manhã de sol.O céu ardente,dum azul luminoso e transparente,tem doçura infinita…Um rumor de asas pelo azul palpita,palpita pelo ar.É carícia sonora, a música do mar.O verde risonhodas árvores é lindo como um sonho.A brisa …

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Meu sonho – Jacinta Passos

O meu sonhomais risonhoé suave e pequeninoresumindo entretanto o meu destino.É de cor azul escuracomo o mar que longe choraÉ cor de infinito e de ânsiacor do céu, cor do mar, cor de distância.Tem a leve suavidadeda saudade,e a cantante doçurade um regato que murmura.Macio e encantadoré carícia de pluma e perfume de flor.O meu …

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Navio de imigrantes – Jacinta Passos

a Lasar Segall Gestos paradosno limiardo céu e mar.Corpos largadosdesamparados,límpido tempode primaveramora no fundode vossa espera.Navio sombrio, que levas no bojo?– descobre o teu véu:navegas em busca da terra ou do céu?Corpos humanossuportam corpos,seus desenganos.Corpo, cansaço,longa viagem,busca um regaço,terra ou miragemArca ou navio,nau ou galera,vens doutra era,séculos a fio. Qual o teu rumo?Levas o sumoda dor …

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O mar – Jacinta Passos

Múrmuro e lento,o mar ao longe se espraia.Geme e brame, ruge e clamao seu tormento,e, soluçando, vem morrer na praia.O mar imenso…Quando eu escuto o seu rumor soturno,fico a cismar.Pensono destino do mar– ser eterno cantor –cantar a sua dor de eterno insatisfeito,cantar o seu sonho infinito desfeito,cantar o mesmo canto que embaloua infância do …

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Catedral – Alphonsus de Guimaraens

Entre brumas, ao longe, surge a aurora.O hialino orvalho aos poucos se evapora,Agoniza o arrebol.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu risonho,Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cadaRefulgente raio de luz.A catedral …

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Morrer – Ivan Junqueira

Pois morrer é apenas isto:cerrar os olhos vaziose esquecer o que foi visto; é não supor-se infinito,mas antes fáustico e ambíguo,jogral entre a história e o mito; é despedir-se em surdina, sem epitáfio melífluo ou testamento sovina; é talvez como despir o que em vida não vestia e agora é inútil vestir; é nada deixar aqui: memória, pecúlio, estirpe, sequer um traço de si; é findar-se …

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Ritual – Ivan Junqueira

Fecho as janelas desta casa(seus corredores, seus fantasmassua aérea arquitetura de pássaro)fecho a insônia que inundavameu quarto debruçado sobre o nadafecho as cortinas onde a larvado tempo tece agora sua pragafecho a clara algazarra plácidadas vozes sangüíneas da alvoradafecho o trecho taciturno da tocataa chuva percutindo as teclas do telhadoas sombras navegando pelo pátio    …

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Aviso aos náufragos – Paulo Leminski

Esta página, por exemplo,não nasceu para ser lida.Nasceu para ser pálida,um mero plágio da Ilíada,alguma coisa que cala,folha que volta pro galho,muito depois de caída. Nasceu para ser praia,quem sabe Andrômeda, AntártidaHimalaia, sílaba sentida,nasceu para ser últimaa que não nasceu ainda. Palavras trazidas de longepelas águas do Nilo,um dia, esta pagina, papiro,vai ter que ser …

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Monjolo chorado do bate-pilão – Raul Bopp

Fazenda velha. Noite e diaBate-pilão. Negro passa a vida ouvindoBate-pilão. Relógio triste o da fazenda.Bate-pilão. Negro deita. Negro acorda.Bate-pilão. Quebra-se a tarde. Ave-Maria.Bate-pilão. Chega a noite. Toda a noiteBate-pilão. Quando há velório de negroBate-pilão. Negro levado pra covaBate-pilão. Raul Bopp Autor: Raul Bopp

Desencanto – Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem choraDe desalento… de desencanto…Fecha o meu livro, se por agoraNão tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente…Tristeza esparsa… remorso vão…Dói-me nas veias. Amargo e quente,Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia roucaAssim dos lábios a vida corre,Deixando um acre sabor na boca. …

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Não há vagas – Ferreira Gullar

O preço do feijãonão cabe no poema. O preçodo arroznão cabe no poema.Não cabem no poema o gása luz o telefonea sonegaçãodo leiteda carnedo açúcardo pão O funcionário públiconão cabe no poemacom seu salário de fomesua vida fechadaem arquivos.Como não cabe no poemao operárioque esmerila seu dia de açoe carvãonas oficinas escuras – porque o …

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XV – Jorge de Lima

A garupa da vaca era palustre e bela, uma penugem havia em seu queixo formoso; e na fronte lunada onde ardia uma estrela pairava um pensamento em constante repouso. Esta a imagem da vaca, a mais pura e singela que do fundo do sonho eu às vezes esposo e confunde-se à noite à outra imagem …

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Com licença poética – Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não tão feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, …

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Momento – Adélia Prado

Enquanto eu fiquei alegre,permaneceram um bule azul com um descascado no bico,uma garrafa de pimenta pelo meio,um latido e um céu limpidíssimocom recém-feitas estrelas.Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,constituindo o mundo pra mim, anteparopara o que foi um acometimento:súbito é bom ter um corpo pra rire sacudir a cabeça. A vida é mais tempoalegre …

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O fazedor de amanhecer – Manoel de Barros

Sou leso em tratagens com máquina.Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.Em toda a minha vida só engenhei3 máquinasComo sejam:Uma pequena manivela para pegar no sono.Um fazedor de amanhecerpara usamentos de poetasE um platinado de mandioca para ofordeco de meu irmão.Cheguei de ganhar um prêmio das indústriasautomobilísticas pelo Platinado de Mandioca.Fui aclamado de idiota pela maioriadas …

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O sonho – Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,porque você possui apenas uma vidae nela só se tem uma chancede fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.Dificuldades para fazê-la forte.Tristeza para fazê-la humana.E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.Elas sabem fazer o melhor das oportunidadesque aparecem …

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Soneto do amigo – Vinícius de Moraes

Enfim, depois de tanto erro passadoTantas retaliações, tanto perigoEis que ressurge noutro o velho amigoNunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao ladoCom olhos que contêm o olhar antigoSempre comigo um pouco atribuladoE como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humanoSabendo se mover e comoverE a disfarçar com o meu …

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A valsa – Casimiro de Abreu

Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranqüila,Serena,Sem penaDe mim! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Valsavas:— Teus belosCabelos,Já soltos,Revoltos, Saltavam,Voavam,BrincavamNo coloQue é meu;E os olhosEscurosTão puros,Os olhosPerjurosVolvias,Tremias,Sorrias,P’ra outroNão eu! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Meu Deus!Eras belaDonzela,Valsando,Sorrindo,Fugindo,Qual silfoRisonhoQue em …

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Risos – Casimiro de Abreu

Ri, criança, a vida é curta, O sonho dura um instante. Depois… o cipreste esguio Mostra a cova ao viandante! A vida é triste – quem nega? – Nem vale a pena dize-lo . Deus a parte entre seus dedos Qual um fio de cabelo! Como o dia, a nossa vida Na aurora é – toda venturas, De tarde – doce tristeza. Casimiro de Abreu …

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Poema de Natal – Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:Para lembrar e ser lembradosPara chorar e fazer chorarPara enterrar os nossos mortos —Por isso temos braços longos para os adeusesMãos para colher o que foi dadoDedos para cavar a terra.Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecerUma estrela a se apagar na trevaUm caminho entre dois túmulos —Por isso precisamos velarFalar …

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O pobre poema – Mário Quintana

Eu escrevi um poema horrível!É claro que ele queria dizer alguma coisa…Mas o quê?Estaria engasgado?Nas suas meias-palavras havia no entanto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma criança doente, uma precoce, incompreensível gravidadede quem, sem ler os jornais,soubesse dos seqüestrosdos que morrem sem culpados que se desviam porque todos os …

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O tempo – Mário Quintana

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…Quando se vê, já é 6ª-feira…Quando se vê, passaram 60 anos!Agora, é tarde demais para ser reprovado…E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógioseguia sempre em frente… E …

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Presença – Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos…É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo…Mas é preciso, também, que seja como …

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O verme – Machado de Assis

Existe uma flor que encerraCeleste orvalho e perfume.Plantou-a em fecunda terraMão benéfica de um nume.Um verme asqueroso e feio,Gerado em lodo mortal,Busca esta flor virginalE vai dormir-lhe no seio.Morde, sangra, rasga e mina,Suga-lhe a vida e o alento;A flor o cálix inclina;As folhas, leva-as o vento.Depois, nem resta o perfumeNos ares da solidão…Esta flor é …

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Visio – Machado de Assis

Eras pálida. E os cabelos,Aéreos, soltos novelos,Sobre as espáduas caíamOs olhos meio-cerradosDe volúpia e de ternuraEntre lágrimas luziamE os braços entrelaçados,Como cingindo a ventura,Ao teu seio me cingiram Depois, naquele delírio,Suave, doce martírioDe pouquíssimos instantesOs teus lábios sequiosos,Frios trêmulos, trocavamOs beijos mais delirantes,E no supremo dos gozosAnte os anjos se casavamNossas almas palpitantesDepois a verdade,A …

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Bilhete – Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinhoNão o grites de cima dos telhadosDeixa em paz os passarinhosDeixa em paz a mim!Se me queres,enfim,tem de ser bem devagarinho, Amada,que a vida é breve, e o amor mais breve ainda… Mário Quintana Autor: Mário Quintana

Lobos? são muitos – Hilda Hilst

Mas tu podes aindaA palavra na línguaAquietá-los. Mortos? O mundo.Mas podes acordá-loSortilégio de vidaNa palavra escrita. Lúcidos? São poucos.Mas se farão milharesSe à lucidez dos poucosTe juntares. Raros? Teus preclaros amigos.E tu mesmo, raro.Se nas coisas que digoAcreditares. Hilda Hilst Autor: Hilda Hilst

Toma-me – Hilda Hilst

oma-me. A tua boca de linho sobre a minha bocaAustera. Toma-me AGORA, ANTESAntes que a carnadura se desfaça em sangue, antesDa morte, amor, da minha morte, toma-meCrava a tua mão, respira meu sopro, degluteEm cadência minha escura agonia. Tempo do corpo este tempo, da fomeDo de dentro. Corpo se conhecendo, lento,Um sol de diamante alimentando …

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Carolina – Machado de Assis

Querida, ao pé do leito derradeiroEm que descansas dessa longa vida,Aqui venho e virei, pobre querida,Trazer-te o coração do companheiro.Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiroQue, a despeito de toda a humana lida,Fez a nossa existência apetecidaE num recanto pôs o mundo inteiro.Trago-te flores – restos arrancadosDa terra que nos viu passar unidosE ora mortos nos deixa e …

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Epitáfio do México – Machado de Assis

Dobra o joelho: — é um túmulo.Embaixo amortalhadoJaz o cadáver tépidoDe um povo aniquilado;A prece melancólica Reza-lhe em torno à cruz.Ante o universo atônitoAbriu-se a estranha liça,Travou-se a luta férvidaDa força e da justiça;Contra a justiça, ó século,Venceu a espada e o obus.Venceu a força indômita;Mas a infeliz vencidaA mágoa, a dor, o ódio,Na face …

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Aninha e suas pedras – Cora Coralina

Não te deixes destruir…Ajuntando novas pedrase construindo novos poemas.Recria tua vida, sempre, sempre.Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.Faz de tua vida mesquinhaum poema.E viverás no coração dos jovense na memória das gerações que hão de vir.Esta fonte é para uso de todos os sedentos.Toma a tua parte.Vem a estas páginase não entraves …

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Meu destino – Cora Coralina

Nas palmas de tuas mãosleio as linhas da minha vida.Linhas cruzadas, sinuosas,interferindo no teu destino.Não te procurei, não me procurastes –íamos sozinhos por estradas diferentes.Indiferentes, cruzamosPassavas com o fardo da vida…Corri ao teu encontro.Sorri. Falamos.Esse dia foi marcadocom a pedra brancada cabeça de um peixe.E, desde então, caminhamosjuntos pela vida… Cora Coralina Autor: Cora Coralina

Oferta de Aninha (aos moços) – Cora Coralina

Eu sou aquela mulhera quem o tempomuito ensinou.Ensinou a amar a vida.Não desistir da luta.Recomeçar na derrota.Renunciar a palavras e pensamentos negativos.Acreditar nos valores humanos.Ser otimista.Creio numa força imanenteque vai ligando a família humananuma corrente luminosade fraternidade universal.Creio na solidariedade humana.Creio na superação dos errose angústias do presente.Acredito nos moços.Exalto sua confiança,generosidade e idealismo.Creio nos …

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Ressalva – Cora Coralina

Este livro foi escritopor uma mulherque no tarde da Vidarecria a poetiza sua própriaVida. Este livrofoi escrito por uma mulherque fez a escalada daMontanha da Vidaremovendo pedrase plantando flores. Este livro:Versos… Não.Poesia… Não.Um modo diferente de contar velhas estórias. Cora Coralina Autor: Cora Coralina

Saber viver – Cora Coralina

Não sei…se a vida é curtaou longa demais para nós.Mas sei que nada do que vivemostem sentido,se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser:colo que acolhe,braço que envolve,palavra que conforta,silêncio que respeita,alegria que contagia,lágrima que corre,olhar que sacia,amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo:é o que dá sentido …

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I-Juca-Pirama – Gonçalves Dias

                      I No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já …

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Estrela perigosa – Clarice Lispector

Estrela perigosaRosto ao ventoMarulho e silêncioleve porcelanatemplo submersotrigo e vinhotristeza de coisa vividaárvores já floresceramo sal trazido pelo ventoconhecimento por encantaçãoesqueleto de idéiasora pro nobisDecompor a luzmistério de estrelaspaixão pela exatidãocaça aos vagalumes.Vagalume é como orvalhoDiálogos que disfarçam conflitos por explodirEla pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é. No obscuro erotismo de vida …

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Nossa truculência – Clarice Lispector

Quando penso na alegria vorazcom que comemos galinha ao molho pardo,dou-me conta de nossa truculência.Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,tanto gosto delas vivasmexendo o pescoço feioe procurando minhocas.Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?Nunca.Nós somos canibais,é preciso não esquecer.E respeitar a violência que temos.E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,comeríamos …

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O segredo – Clarice Lispector

Há uma palavra que pertence a um reino que me deixa muda de horror. Não espantes o nosso mundo, não empurres com a palavra incauta o nosso barco para sempre ao mar. Temo que depois da palavra tocada fiquemos puros demais. Que faríamos de nossa vida pura? Deixa o céu à esperança apenas, com os …

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Passional – Clarice Lispector

Sou um ser totalmente passional.Sou movida pela emoção, pela paixão…. tenho meus desatinos…Detesto coisas mais ou menos.Não sei conviver com pessoas mais ou menos Não sei amar mais ou menos.Não me entrego de forma mais ou menos.Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo… ESQUEÇA-ME!Se você sabe conviver com pessoas intempestivas, …

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Quero escrever o borão vermelho de sangue – Clarice Lispector

Quero escrever o borrão vermelho de sanguecom as gotas e coágulos pingandode dentro para dentro.Quero escrever amarelo-ourocom raios de translucidez.Que não me entendampouco-se-me-dá.Nada tenho a perder.Jogo tudo na violênciaque sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que eu,por falso respeito humano,não dei. Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde …

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Sonhe – Clarice Lispector

Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem …

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Sou… – Clarice Lispector

… assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade Guiam-me, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de …

Sou… – Clarice Lispector Leia mais »

Motivo – Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta. Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento. Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei. Não sei se ficoou passo. Sei que canto. E a canção é tudo.Tem …

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Reinvenção – Cecília Meireles

A vida só é possívelreinventada. Anda o sol pelas campinase passeia a mão douradapelas águas, pelas folhas…Ah! tudo bolhasque vem de fundas piscinasde ilusionismo… — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida,a vida só é possívelreinventada. Vem a lua, vem, retiraas algemas dos meus braços.Projeto-me por espaçoscheios da tua Figura.Tudo mentira! Mentirada lua, …

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Vozes da morte – Augusto dos Anjos

Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,Tamarindo de minha desventura,Tu, com o envelhecimento da nervuraEu, com o envelhecimento dos tecidos! Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!E a podridão, meu velho! E essa futuraUltrafatalidade de ossatura,A que nos acharemos reduzidos! Não morrerão, porém tuas sementes!E assim, para o Futuro, em diferentesFlorestas, vales, selvas, glebas, trilhos, Na …

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Meus oito anos – Casimiro de Abreu

Oh ! que saudades que eu tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais !Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais ! Como são belos os diasDo despontar da existência !– Respira a alma inocênciaComo perfumes a flor;O mar é – lago sereno,O céu …

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A língua de nhem – Cecília Meireles

Havia uma velhinhaque andava aborrecidapois dava a sua vidapara falar com alguém. E estava sempre em casaa boa velhinharesmungando sozinha:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… O gato que dormiano canto da cozinhaescutando a velhinha,principiou também a miar nessa línguae se ela resmungava,o gatinho a acompanhava:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… Depois veio o cachorroda casa da vizinha,pato, cabra e galinhade cá, de lá, de além, …

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A fome e o amor a um monstro fome – Augusto dos Anjos

E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,Receando outras mandíbulas a esbangem,Os dentes antropófagos que rangem,Antes da refeição sanguinolenta! Amor! E a satiríasis sedenta,Rugindo, enquanto as almas se confrangem,Todas as danações sexuais que abrangemA apolínica besta famulenta! Ambos assim, tragando a ambiência vasta,No desembestamento que os arrasta,Superexcitadíssimos, os dois Representam, no ardor dos seus assomosA alegoria …

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A louca – Augusto dos Anjos

A Dias Paredes Quando ela passa: – a veste desgrenhada,O cabelo revolto em desalinho,No seu olhar feroz eu adivinhoO mistério da dor que a traz penada. Moça, tão moça e já desventurada;Da desdita ferida pelo espinho,Vai morta em vida assim pelo caminho,No sudário de mágoa sepultada. Eu sei a sua história. – Em seu passadoHouve …

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Anseio – Augusto dos Anjos

Que sou eu, neste ergástulo das vidasDanadamente, a soluçar de dor?!– Trinta triliões de células vencidas,Nutrindo uma efeméride inferior. Branda, entanto, a afagar tantas feridas,A áurea mão taumitúrgica do AmorTraça, nas minhas formas carcomidas,A estrutura de um mundo superior! Alta noite, esse mundo incoerenteEssa elementaríssima sementeDo que hei de ser, tenta transpor o Ideal… Grita …

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Budismo moderno – Augusto dos Anjos

Tome, Dr., esta tesoura, e… corteMinha singularíssima pessoa.Que importa a mim que a bicharia roaTodo o meu coração, depois da morte?! Ah! Um urubu pousou na minha sorte!Também, das diatomáceas da lagoaA criptógama cápsula se esbroaAo contacto de bronca dextra forte! Dissolva-se, portanto, minha vidaIgualmente a uma célula caídaNa aberração de um óvulo infecundo; Mas …

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Infeliz – Augusto dos Anjos

Alma viúva das paixões da vida,Tu que, na estrada da existência em fora,Cantaste e riste, e na existência agoraTriste soluças a ilusão perdida; Oh! Tu, que na grinalda emurchecidaDe teu passado de felicidadeFoste juntar os goivos da SaudadeÀs flores da Esperança enlanguescida; Se nada te aniquila o desalentoQue te invade, e o pesar negro e …

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Lenço dela – Álvares de Azevedo

Quando, a primeira vez, da minha terraDeixei as noites de amoroso encanto,A minha doce amante suspirandoVolveu-me os olhos úmidos de pranto. Um romance cantou de despedida,Mas a saudade amortecia o canto!Lágrimas enxugou nos olhos belos…E deu-me o lenço que molhava o pranto. Quantos anos, contudo, já passaram!Não olvido porém amor tão santo!Guardo ainda num cofre …

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Morena – Álvares de Azevedo

Ó Teresa, um outro beijo! e abandona-mea meus sonhos e a meus suaves delírios.JACOPO ORTIS É loucura, meu anjo, é loucuraOs amores por anjos… bem sei!Foram sonhos, foi louca ternuraEsse amor que a teus pés derramei! Quando a fronte requeima e delira,Quando o lábio desbota de amor,Quando as cordas rebentam na liraQue palpita no seio …

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Poema da necessidade – Carlos Drummond de Andrade

É preciso casar João,é preciso suportar Antônio,é preciso odiar Melquíadesé preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país,é preciso crer em Deus,é preciso pagar as dívidas,é preciso comprar um rádio,é preciso esquecer fulana. É preciso estudar volapuque,é preciso estar sempre bêbado,é preciso ler Baudelaire,é preciso colher as floresde que rezam velhos autores. É preciso …

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Poema que aconteceu – Carlos Drummond de Andrade

Nenhum desejo neste domingo Nenhum problema nesta vida O mundo parou de repente Os homens ficaram calados Domingo sem fim nem começo. A mão que escreve este poema Não sabe o que está escrevendo Mas é possível que se soubesse Nem ligasse Carlos Drummond de Andrade Autor: Carlos Drummond de Andrade

Poesia – Carlos Drummond de Andrade

Gastei uma hora pensando em um verso Que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro Inquieto, vivo. Ele está cá dentro E não quer sair. Mas a poesia deste momento Inunda minha vida inteira Carlos Drummond de Andrade Autor: Carlos Drummond de Andrade

Despedida – Álvares de Azevedo

Se entrares, ó meu anjo, alguma vezNa solidão onde eu sonhava em ti,Ah! vota uma saudade aos belos diasQue a teus joelhos pálido vivi! Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando…Sinto o peito doer na despedida…Sem ti o mundo é um deserto escuroE tu és minha vida… Só por teus olhos eu viver podiaE por teu …

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Eutanásia – Álvares de Azevedo

Ergue-te daí, velho! ergue essa fronte onde o passado afundou suas rugas como o vendaval no Oceano, onde a morte assombrou sua palidez como na face do cadáver, onde o simoun do tempo ressicou os anéis louros do mancebo nas cãs alvacentas de ancião?Por que tão lívido, ó monge taciturno, debruças a cabeça macilenta no …

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Fragmento de um canto em cordas de bronze – Álvares de Azevedo

Deixai que o pranto esse palor me queime,Deixai que as fibras que estalaram doresDesse maldito coração me vibremA canção dos meus últimos amores! Da delirante embriaguez de bardoSonhos em que afoguei o ardor da vida,Ardente orvalhos de febris pranteios,Que lucro à alma descrida? Deixai que chore pois. — Nem loucas venhamConsolações a importunar-me as dores:Quero …

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Consolo na praia – Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores.A infância está perdida.A mocidade está perdida.Mas a vida não se perdeu.O primeiro amor passou.O segundo amor passou.O terceiro amor passou.Mas o coração continua.Perdeste o melhor amigo.Não tentaste qualquer viagem.Não possuis carro, navio, terra.Mas tens um cão.Algumas palavras duras,em voz mansa, te golpearam.Nunca, nunca cicatrizam.Mas, e o humour?A injustiça não se resolve.À sombra …

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Poema Sujo – Ferreira Gullar

turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica …

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Anjinho – Álvares de Azevedo

And from her fresh and unpolluted fleshMay violets spring!HAMLET Não chorem! que não morreu!Era um anjinho do céuQue um outro anjinho chamou!Era uma luz peregrina,Era uma estrela divinaQue ao firmamento voou! Pobre criança! dormia:A beleza reluziaNo carmim da face dela!Tinha uns olhos que choravam,Tinha uns risos que encantavam!Ai meu Deus! era tão bela! Um anjo …

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Solidão – Paulo César Pinheiro

Eu sozinho sou mais forteMinh’alma mais atrevidaNão fujo nunca da vidaNem tenho medo da morte Eu sozinho de verdadeEncontro em mim minha essênciaNão faço caso de ausênciaE nem me incomoda a saudade Eu sozinho em estado brutoSou força que principiaSou gerador de energiaDe mim mesmo absoluto Eu sozinho sou imensoNão meço nunca o meu passoNão …

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Meu rosário – Conceição Evaristo

Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falopadres-nossos e ave-marias.Do meu rosário eu ouço os longínquos batuquesdo meu povoe encontro na memória mal adormecidaas rezas dos meses de maio de minha infância.As coroações da Senhora, em que as meninas negras,apesar do desejo de coroar …

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Eu-Mulher – Conceição Evaristo

Uma gota de leiteme escorre entre os seios.Uma mancha de sangueme enfeita entre as pernas.Meia palavra mordidame foge da boca.Vagos desejos insinuam esperanças.Eu-mulher em rios vermelhosinauguro a vida.Em baixa vozviolento os tímpanos do mundo.Antevejo.Antecipo.Antes-vivoAntes – agora – o que há de vir.Eu fêmea-matriz.Eu força-motriz.Eu-mulherabrigo da sementemoto-contínuodo mundo. Conceição Evaristo Autor: Conceição Evaristo

Fêmea-Fênix – Uncategorized

Para Léa Garcia  Navego-me eu–mulher e não temo,sei da falsa maciez das águase quando o receiome busca, não temo o medo,sei que posso me deslizarnas pedras e me sair ilesa,com o corpo marcado pelo olorda lama. Abraso-me eu-mulher e não temo,sei do inebriante calor da queimae quando o temorme visita, não temo o receio,sei que …

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Folha morta

Sei que falam de mimSei que zombam de mimOh, Deus, como eu sou infelizVivo à margem da vidaSem amparo ou guaridaOh, Deus, como eu sou infeliz Já tive amores, tive carinhosJá tive sonhosOs dessabores levaram minha almaPor caminhos tristonhosHoje sou folha mortaQue a corrente transportaOh, Deus, como eu sou infeliz, infelizEu queria um minuto apenasPra …

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Eu-Mulher

Uma gota de leiteme escorre entre os seios.Uma mancha de sangueme enfeita entre as pernas.Meia palavra mordidame foge da boca.Vagos desejos insinuam esperanças.Eu-mulher em rios vermelhosinauguro a vida.Em baixa vozviolento os tímpanos do mundo.Antevejo.Antecipo.Antes-vivoAntes – agora – o que há de vir.Eu fêmea-matriz.Eu força-motriz.Eu-mulherabrigo da sementemoto-contínuodo mundo. Autor: Conceição Evaristo

Fêmea-Fênix

Para Léa Garcia  Navego-me eu–mulher e não temo,sei da falsa maciez das águase quando o receiome busca, não temo o medo,sei que posso me deslizarnas pedras e me sair ilesa,com o corpo marcado pelo olorda lama. Abraso-me eu-mulher e não temo,sei do inebriante calor da queimae quando o temorme visita, não temo o receio,sei que …

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Malungo, brother, irmão

No fundo do calumbénossas mãos aindaespalmam cascalhosnem ouro nem diamanteespalham enfeitesem nossos seios e dedos. Tudo se foimas a cobradeixa o seu rastronos caminhos aonde passae a lesma lentaem seu passo-arrastolarga uma gosma douradaque brilha no sol. um dia antesum dia avantea dívida acumulae fere o tempo tensoda paciência gastade quem há muito espera. Os …

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Olha

Olha, você tem todas as coisasQue um dia eu sonhei pra mimA cabeça cheia de problemasNão me importo, eu gosto mesmo assim Tem os olhos cheios de esperançaDe uma cor que mais ninguém possuiMe traz meu passado e as lembrançasDo que eu sempre quis ser e não fui Olha, você vive tão distanteMuito além do …

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Samba rasgado

Uma cabrocha bonita cantando e sambandoQuem não admiraGingando seu corpo que mesmo a gente espiandoParece mentiraCabrocha que só fala gíriaQue tem candomblé no seu sapateado Cabrocha que veio do morroTrazer pra cidade o samba rasgadoPara eu cantar um sambaNão precisa orquestraçãoGosto mais de uma cuíca, um cavaquinhoUm pandeiro e um violão… Uma vez fui convidada …

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Força estranha

Eu vi o menino correndo eu vi o tempoBrincando ao redor do caminho daquele meninoEu pus os meus pés no riachoE acho que nunca os tireiO sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei Eu vi a mulher preparando outra pessoaO tempo parou pra eu olhar para aquela barrigaA vida é amiga da arteÉ …

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Paula e Bebeto

Ê vida, vida, que amor brincadeira, à veraEles se amaram de qualquer maneira, à vera Qualquer maneira de amor vale à penaQualquer maneira de amor vale amar Pena, que pena, que coisa bonita, digaQual a palavra que nunca foi dita, digaQualquer maneira de amor vale aquela / amar / à pena / valerá Eles partiram …

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Barato total

Lá, lá, lá, lá, lá, lá, láLá, lá, lá, lá, lá, lá, lá Quando a gente tá contenteTanto faz o quenteTanto faz o frioTanto fazQue eu me esqueça do meu compromissoCom isso e aquiloQue aconteceu dez minutos atrás Dez minutos atrás de uma ideia já deuPra uma teia de aranha crescer e prenderSua vida na …

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Meu rosário

Meu rosário é feito de contas negras e mágicas.Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falopadres-nossos e ave-marias.Do meu rosário eu ouço os longínquos batuquesdo meu povoe encontro na memória mal adormecidaas rezas dos meses de maio de minha infância.As coroações da Senhora, em que as meninas negras,apesar do desejo de coroar …

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Pedra, pau, espinho e grade

“No meio do caminho tinha uma pedra”,Mas a ousada esperançade quem marcha cordilheirastriturando todas as pedrasda primeira à derradeirade quem banha a vida todano unguento da corageme da luta cotidianafaz do sumo beberragemtopa a pedra pesadeloé ali que faz paradapara o salto e não o recuonão estanca os seus sonhoslá no fundo da memória,pedra, pau, …

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Solidão

Eu sozinho sou mais forteMinh’alma mais atrevidaNão fujo nunca da vidaNem tenho medo da morte Eu sozinho de verdadeEncontro em mim minha essênciaNão faço caso de ausênciaE nem me incomoda a saudade Eu sozinho em estado brutoSou força que principiaSou gerador de energiaDe mim mesmo absoluto Eu sozinho sou imensoNão meço nunca o meu passoNão …

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Poder da criação

a música me ama, ela me deixa fazê-la. A música é uma estrela, deitada na minha cama. Ela me chega sem jeito, quase sem eu perceber. Quando dou conta e vou ver, ela já entrou no meu peito. No que ela entra a alma sai, fica meu corpo sem vida. Volta depois comovida, e eu …

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Mamãe, coragem

Mamãe, mamãe, não choreA vida é assim mesmoEu fui emboraMamãe, mamãe, não choreEu nunca mais vou voltar por aíMamãe, mamãe, não choreA vida é assim mesmoEu quero mesmo é isto aqui Mamãe, mamãe, não chorePegue uns panos pra lavarLeia um romanceVeja as contas do mercado Pague as prestaçõesSer mãeÉ desdobrar fibra por fibraOs corações dos …

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Pra machucar meu coração

Está fazendo um ano e meio, amorQue o nosso lar desmoronouMeu sabiáMeu violãoE uma cruel desilusãoFoi tudo que ficouFicou pra machucar meu coração Quem sabe não foi bem melhor assimMelhor pra vocêE melhor pra mimA vida é uma escolaOnde a gente precisa aprenderA ciência de viver pra não sofrer

Sábado em Copacabana

Depois de trabalhar toda a semanaMeu sábado não vou desperdiçarJá fiz o meu programa prá esta noiteE sei por onde começar Um bom lugar para encontrarCopacabanaPrá passear à beira-marCopacabanaDepois num bar à meia-luzCopacabanaEu esperei por essa noite uma semana Um bom jantar depois de dançarCopacabanaPrá se amar um só lugarCopacabanaA noite passa tão depressaMas vou …

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A Revoada Começou

O desespero do meu travesseiroVirou pesadelo, tem seu cheiro lá (tem seu cheiro lá)O meu espelho me chamou de feioGelado chuveiro tá sem funcionar (tá sem funcionar)Meu guarda roupa quebrou a portaMinha geladeira não tá cheia, nãoAs minhas roupas me ignoraMas se tu precisar voltar a luz vai tá acesaFecha a porta apaga a luz, …

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Canta Brasil

As selvas te deram nas noites teus ritmos bárbarosE os negros trouxeram de longe reservas de prantoOs brancos falaram de amor em suas cançõesE dessa mistura de vozes nasceu o teu cantoBrasil, minha voz enternecidaJá adorou os seus brasõesNa expressão mais comovidaDas mais ardentes cançõesTambém na beleza desse céuOnde o azul é mais azulNa aquarela …

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Brasil

Não me convidaramPra essa festa pobreQue os homens armaram pra me convencerA pagar sem verToda essa drogaQue já vem malhada antes de eu nascer Não me ofereceramNem um cigarroFiquei na porta estacionando os carrosNão me elegeramChefe de nadaO meu cartão de crédito é uma navalha BrasilMostra tua caraQuero ver quem pagaPra gente ficar assimBrasilQual é …

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Sua estupidez

Meu bem, meu bemVocê tem que acreditar em mimNinguém pode destruir assimUm grande amorNão dê ouvidos a maldade alheiaE creia:Sua estupidez não lhe deixa verQue eu te amo Meu bem, meu bemUse a inteligência uma vez sóQuantos idiotas vivem sóSem ter amorE você vai ficar também sozinhaE eu sei porquêSua estupidez não lhe deixa verQue …

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Reencarnação

Pai, criador do universoQuero lhe pedir perdãoPelos erros cometidosEspero não chamar seu nome em vão A gente aqui na Terra erraMuitas vezes sem razãoPeço ao CriadorQuero voltar na reencarnação Sei que vou subirMeu pensamento está na descidaEspero que o bom zambi me devolvaTudo de bom que tenho nesta vida O som do surdo e o …

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Chamamos aos Heróis da Independência

Chamamos aos Heróis da IndependênciaPresente presenteTrazendo o fogo sagrado da pátriaIluminando quem nos fez independenteLá nas Minas gerais Houve um movimento e conjuraçãoFoi a Bahia e Pernambuco em São Paulo foi a decisãoGlória aos heróis que tombaramPara nos dar um Brasil novoHomens que não mediram sacrifícioPela independência de seu povoLiberdadePalavra singelaFosse eu pintorTua grandeza eu …

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Ponto de partida

Não tenho para a cabeçaSomente o verso brejeiroRimo no chão da senzalaQuilombo com cativeiro, olerêNão tenho para o coraçãoSomente o ar da montanhaTenho a planície espinheiraCom mão de sangue, façanha, olerê, olaráNão tenho para o ouvidoSomente o rumor do ventoTenho gemidos e precesRompantes e contratempo, olerê, olará, olerê, lará Tenho pra minha vidaA busca como …

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Cafezinho

Minha vida foiCafezinhoFeito na horaQuentinhoDe incomparável saborUm café bem temperadoE recendendo a pecadoQuando achei meu amor Tinha doçura no olharNão se deixava tomarSem ser aos olhos de dorTinha no sangue a fervuraQue temperava em ternuraO cafezinho do amor Mas o que era póVoltou a póPelo o ventoLevou o seu devidoLugarDes de então minha vidaNão é …

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Buquê de Isabel

Casou Maria, com Zé casouJogou o bouquet, solteirona Isabel pegouIsabel, no seu quarto, sozinha e distante da genteChorando, desfolha um bouquet, Isabel Toda vez que uma amiga casavaComprava um vestido, se empoava pra verSe arranjava também casamentoPorque era um tormento viver sem ninguémMas o tempo passando esqueciaDe dar-lhe algum dia um noivo tambémE ela agora …

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Semente e fruto

Tomara, seja sempre assim, tomaraTempos viverão em nósPura energia, paz e alegriaHarmonia em nossa alma A vida há de ser assimA onda vem beijar o caisEm todo continente o sol vai nascerPra toda nossa gente a esperançaAonde for esteja a fimDa paz fruto do amor, em si Tomara, seja sempre assim, tomaraTempos viverão em nósPura …

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À procura de alguém

Eu ando à procura de alguémQue me queira bemMas que seja meuSomente meuE de mais ninguémQuando isso acontecerEu nunca mais na vidaHei de sofrer Eu não quero um amorDesses que vão e vêmQuero um amor de verdadeQue me queira também

Como flor

Subindo a colinaAo sol poenteHomem cansado curvadoPoeira no olharCaminho de voltaMeu pé de ventoSoprando mansoO descansoTe espera afinalJá se vêRosto amigo felizA te esperarVeste branco um sorrisoE brilha em seu olharUm resto de esperançaQue a vida deixouSó pra quem sofreuChorou sem saberQue o amorNesse chão que é seuComo flor nasceuViveu sem saberQue o amorNesse chão …

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Tanto querer

Quando a gente se encontra, cresce no peitoUm gosto de vidaUm sorriso, tanto querer É quando a luz da saudadeAcende de um jeitoSe faz tanto tempo a gente não quer nem saber Agora será como sempreEterno, presenteCerteza que mesmo distante, em nós resistiu Seja luar, amanhecerSaudade vem e vaiAmor é o que me levará a …

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Arraial dos tucanos

Arraial dos tucanosAté quando o homemQue da terra viveE que da vida arrancaO pão diárioVai ter tua pazPazAparentemente pazArraial dos tucanosMesmo assim louvaiToda freguesiaQue de longe vemQue pra longe vaiPelos seus caminhosPelos seus quintaisVeredas de espinhosPelos seus umbraisArraial dos tucanosVai Ter tua pazPazAparente pazPaz aparentemente paz

Novena

Sei que são nove dias, nove apenasEnquanto espero, aumentamO mundo se faz esquecidoNa terra dos homens de luzesColoridasEnquanto família reza a novenaAs notíciasQue montam cavalos ligeirosVão tomando todo o mundoNa casa, no larEsquecidos, todos ficam longeDe saber o que foi que aconteceuE ali ninguém percebeuTanta pedra de amor cairTanta gente se partirNo azul dessa incrível …

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O jangadeiro

O jangadeiro vai ganhar a vidaNo alto marVai sem saber se voltaMas tem que a vida ganhara vida ganhar… Quando ele vem voltando na beira da praiaFica logo assim de gente pra peixe comprarPeixe a cem mil réis o quilo ninguém quer pagarMas todos quer peixe bonitoNo preço do fiscalQue nunca enfrentouTemporal… Mas ele enfrenta …

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Minha missão

Quando eu cantoÉ para aliviar meu prantoE o pranto de quem jáTanto sofreuQuando eu cantoEstou sentindo a luz de um santoEstou ajoelhandoAos pés de DeusCanto para anunciar o diaCanto para amenizar a noiteCanto pra denunciar o açoiteCanto também contra a tiraniaCanto porque numa melodiaAcendo no coração do povoA esperança de um mundo novoE a luta …

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Súplica

O corpo a morte levaA voz some na brisaA dor sobe pr’as trevasO nome a obra imortalizaA morte benze o espíritoA brisa traz a músicaQue na vida é sempre a luz mais forteIlumina a gente além da morteVem a mim, oh, músicaVem no arOuve de onde estás a minha súplicaQue eu bem sei talvez não …

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