A Revolta dos Dândis

Entre o rosto e o retrato, o real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez
Entre o uniforme e a nudez
Entre o fim do mundo e o fim do mês
Entre a verdade e o rock inglês
Entre os outros e vocês

Eu me sinto um extrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre mortos e feridos
Entre gritos e gemidos
A mentira e a verdade
A solidão e a cidade
Entre um copo e outro da mesma bebida
E entre tantos corpos com a mesma ferida

Eu me sinto um extrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre a crença e os fiéis
Entre os dedos e os anéis
Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos!

Wntre a minha boca e a tua há tanto tempo, há tantos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos

E eu me sinto um extrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
E que não passa de ilusão

Que não passa por aqui, não
E que não passa de ilusão!


Letra Composta por:
Melodia Composta por:
Álbum:
Ano:
Estilo Musical: Rock Brasileiro

19 comentários em “A Revolta dos Dândis”

  1. Jeferson Martins

    Essa música é fabulosa… Ela é uma visão do Livro de Alberto Camus, “O Estrangeiro”: Ve-se claramente isto, através do refrão: “Eu me sinto um estrangeiro”.

    O livro conta a história de Meursault, uma personagem cuja personalidade é fora dos padrões, o que encaixa o livro no que chamamos de Literatura do Absurdo. Ele simplesmente não toma decisões… É… Verdade… Ele é meio indiferente às coisas… Tentarei reproduzir, de cabeça, um diálogo dele, no livro:

    A namorada dele:
    – você quer se casar comigo?
    Meursault responde:
    – Sim.
    – Mas você me ama?
    – Não.
    – Se outra mulher lhe pedisse em casamento, você aceitaria?
    – Provavelmente sim.

    Eu não vou contar a história do livro, pois perderia a graça do futuro leitor, mas para analisar essa música, tornou-se necessário falar dessa peculiaridade da história.

    Pois bem, reparem que o Eu-Lírico, assim como a personagem do livro, está sempre “em cima do muro”, sempre entre uma coisa e outra, nunca tomando uma posição específica:

    “Entre o rosto e o retrato, o real e o abstrato
    Entre a loucura e a lucidez
    Entre o uniforme e a nudez
    Entre o fim do mundo e o fim do mês
    Entre a verdade e o rock inglês
    Entre os outros e vocês”

    Há uma outra música, entitulada A Revolta de Dandis II. que segue o mesmo tema:

    Já não vejo diferença entre os
    dedos e os anéis
    Já não vejo diferença entre a
    crença e os fiéis
    Tudo é igual quando se pensa em
    como tudo poderia ser
    Há tão pouca diferença e há tanta
    coisa a fazer
    Esquerda e direita, direitos e deveres,
    os 3 patetas, os 3 poderes
    Ascenção e queda, são os dois
    lados da mesma moeda
    Tudo é igual quando se pensa em
    Como tudo poderia ser
    Há tão pouca diferença
    há tanta coisa a escolher
    é tanta coisa a fazer
    Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo
    Mas não há mais muito tempo pra sonhar
    Nossos sonhos são os mesmos há muito tempo
    Mas não há mais muito tempo pra sonhar
    Pensei que houvesse um muro
    entre o lado claro e o lado escuro
    Pensei que houvesse diferença entre
    gritos e sussurros
    Mas foi engano, foi tudo em vão
    Já não há mais diferença entre a raiva e a razão
    Esquerda e direita, direitos e deveres,
    os 3 patetas, os 3 poderes
    Ascenção e queda, são os dois lados da mesma moeda
    Tudo é igual quando se pensa em
    como tudo poderia ser
    Há tão pouca diferença,tanta coisa a fazer
    Tanta coisa a fazer
    E os nossos sonhos são os mesmos,a tanto tempo
    mas não há mas tanto tempo pra sonhar..
    Nossos sonhos são os mesmos,a tanto tempo
    mas não há mas tanto tempo pra sonhar..
    Tempo pra sonhar
    Nossos sonhos são os mesmos,amuito tempo
    mas não há mas tanto tempo pra sonhar..
    Nossos sonhos são os mesmos,a muito tempo
    mas não há mas tanto tempo pra sonhar..
    Tempo pra sonhar
    Tempo pra sonhar
    Tempo pra sonhar
    Tempo pra sonhar
    Vamos possuir retrato no real e o abstrato
    Entre a loucura e a lucidez
    Entre o fim do mundo e o fim do mês
    Entre a verdade e o Rock inglês

    Essa me lembra o final do livro e dá uma razão à palavra do título “REVOLTA”, porém não entendo pq Gessinger usou Dândis, que se não me engano representa “mauricinho”, “playboy”.

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    1. Júlia Sampaio

      A referencia de “A revolta dos Dandis vem de um capitulo de um livro entitulado “O homem revoltado”, de Albert Camus. Por tanto, nome não poderia ser outro. Alem do mais, Dandis quer dizer “sábio”, não “playboy” kkkkk. Mas foi uma ótima análise, obrigada!

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    2. Francirlene Queiroz

      Muito obrigada por compartilhar conosco tão bela analise. Parabéns! E de quebra,como pessoa inteligente e educada que és,demostrou humildade ao dizer que não entendeu uma pequena parte,abrindo desta forma espaço para interação e contribuições. A braço.

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  2. Ele usou dândis pq a palavra quer dizer inteligente sábio, logo a música fala sobre a revolta dos sábios ou intelectuais.

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  3. Juarez Veiga

    Caro Jeferson, muito legal sua retórica, acredito, no entanto que foi usado o termo Dandis justamento para fazer alusao a esses “problemas” esses questionamentos. O personagem titulo (Dandi) se sente um estrangeiro um passageiro que tudo vê, observa, porém nada faz para interceder, como um Dandi senão alheio aos questionamentos, incapaz de decidir sobre eles.

    Forte abraço.

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    1. Quando ele fala estrangeiro e passageiro de algum trem, ele se refere a Albert Camus, o autor de o estrangeiro e morreu num acidente de carro, desistindo na última hora de fazer a viagem de trem e ir de carro.

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  4. Jean Endres

    A Revolta dos Dandis é o título de um dos capítulos do livro “O Homem Revoltado” de Albert Camus.
    Esta letra é puramente existencialista, pra quem não conhece o existencialismo é bom ler Kierkegaard e depois Sarte e depois Camus entre outros. Basicamente o que a letra trata é o questionamento sobre qual o sentido de viver esta vida em que as escolhas são pré-determinadas. “estrangeiro passageiro de algum trem” é o próprio sujeito vivendo o “trem da vida”, sobre trilhos pré determinados. Na segunda parte da música ele fala da diferenca entre a os dedos e os anéis a crenca e os fiéis etc etc. Ou mesmo na primeira entre o rosto e o retrato, o real e o abstrato tratam da falta de liberdade, nascemos todos condenados a viver e a morrer, e todos os sentimentos e escolhas são pré determinadas. AHH não sei se consegui explicar direito, mas isso é o que é. E sim, o Estrangeiro é o personagem do livro homônimo, um cara que vive completamente alienado de qualquer sentimento e é portanto “livre”.

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    1. E eu tinha acabado de escutar essa música e me veio uma incerteza enorme sobre o que deveria postar a respeito da música no meu perfil. Eu pensei, estamos aqui todos de passagem e podemos partir de uma hora para outra sem destino certo. Ficar preso a ideias ou a valores que nos “cegam” seria perder tempo demais. Acho que estou viajando, mas foi o que eu senti na música.

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  5. João Ismael de Oliveira Silva

    O que seria Dândi?
    Segundo minha pesquisa, Dândi significa um homem elegante, que se veste muito bem. Esse termo fora usado como uma metáfora para designar a uma pessoa que se diferencia das demais. Uma pessoa de alta intelectualidade que percebe-se em um mundo de alienação, por isso ele se diz ser um estrangeiro.

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  6. Antonio Henrique

    Meus prezados, primeiro queria deixar anotado que pra mim é uma honra poder analisar as letras do maior roqueiro e poeta que já existiu no Brasil, que me desculpem os fãs da legião, mas vamos lá!!!
    Gessinger nessa música fala dos Dândis, que são cavalheiros por sua essência e não porque são advindos da nobreza, são até meio sem emoções. Hoje o termo Dândi é usado pejorativamente, mas no passado não, pois eram pessoas que além de ligados a aparência impecável eram diferenciadas, cultas.
    Aliás, um trecho da música deixa claro o que Gessinger quer passar: (…)”Eu me sinto um estrangeiro
    Passageiro de algum trem
    Que não passa por aqui
    Que não passa de ilusão”(…)

    Notem: Um estrangeiro, alguém que não combina com o mundo que vive, tanto é que Albert Camus, filósofo que era um dândi, escreveu a obra O estrangeiro (Gessinger claramente se diz fã de Camus), Esse estrangeiro era um cara que perde a mãe e não demonstra emoção… Tempo depois, de forma até meio acidental, comete um assassinato, mas é uma pessoa sem emoções, desligada do mundo, sem emoções até no enterro de sua mãe, ele então acaba sendo executado e a principal acusação é a falta de emoção no velório da mãe…
    A música continua com uma crítica: (…)”Entre a crença e os fiéis”(…)
    O estrangeiro é assassinado, as pessoas são fiéis a seus acusadores sem sequer perguntar o porquê, semelhente às pessoas hoje que aceitam tudo… É isso
    Um dândi de certa forma é alguém sem emoções, mais preocupado com as vaidades… É isso…
    As músicas dos engenheiros são profundas e merecem todo o respeito que tem…

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    1. Fernanda Hellen

      Não sei se ajuda em algo, mas Oscar Wild era do movimento dândi e escreveu o retrato de Dorian G. Talvez daí venha o rosto é o retrato.
      O movimento tinha haver com sensibilidade, beleza, senso estético. Pessoas que procuravam se distanciar da realidade podre das cidades tomadas pela revolução industrial ao ocupar-se com poesia, roupas finas, ócio e lazer. Sim, filhos de papaizinho.

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  7. Antonio Henrique

    Meus prezados, primeiro queria deixar anotado que pra mim é uma honra poder analisar as letras do maior roqueiro e poeta que já existiu no Brasil, que me desculpem os fãs da legião, mas vamos lá!!!
    Gessinger nessa música fala dos Dândis, que são cavalheiros por sua essência e não porque são advindos da nobreza, são até meio sem emoções. Hoje o termo Dândi é usado pejorativamente, mas no passado não, pois eram pessoas que além de ligados a aparência impecável eram diferenciadas, cultas.
    Aliás, um trecho da música deixa claro o que Gessinger quer passar: (…)”Eu me sinto um estrangeiro
    Passageiro de algum trem
    Que não passa por aqui
    Que não passa de ilusão”(…)

    Notem: Um estrangeiro, alguém que não combina com o mundo que vive, tanto é que Albert Camus, filósofo que era um dândi, escreveu a obra O estrangeiro (Gessinger claramente se diz fã de Camus), Esse estrangeiro era um cara que perde a mãe e não demonstra emoção… Tempo depois, de forma até meio acidental, comete um assassinato, mas é uma pessoa sem emoções, desligada do mundo, sem emoções até no enterro de sua mãe, ele então acaba sendo executado e a principal acusação é a falta de emoção no velório da mãe…
    A música continua com uma crítica: (…)”Entre a crença e os fiéis”(…)
    O estrangeiro é assassinado, as pessoas são fiéis a seus acusadores sem sequer perguntar o porquê, semelhante às pessoas hoje que aceitam tudo… É isso
    Um dândi de certa forma é alguém sem emoções, mais preocupado com as vaidades…
    As músicas dos engenheiros são profundas e merecem todo o respeito que tem…

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  8. “Eu me sinto um estrangeiro..” = não sou um!!
    “Que não passa por aqui.” = que recuso, que não acredito!!

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  9. Jose Guilherme Braz Correia

    Ele se sente um estrangeiro. Passageiro de algum trem. Que nao passa por aqui. Que nao passa de ninguem rsr.

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  10. Aline Batista

    Aqui é a Aline Batista, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

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  11. Gilberto M Cruz

    Não sou um conhecedor da obra de Albert Camus “O estrangeiro” e nunca havia me detido a interpretar a letra dessa música de Composição de Humberto Gessinger, no Álbum A REVOLTA DOS DÂNDIS, Ano de lançamento: 1987, e, também, agora é que estou sabendo que “Dândis” refere-se a alguém extremamente culto e demais elegante. Penso que em “Dândis II”, após ler a contribuição das outras análises aqui postadas, o compositor quis afirmar que estamos sem rumo, pois não sabemos ao certo a que e a quem recorrer, haja vista que nada nem ninguém mais se diferencia, por mais que queiramos. Quais são os dedos ou os anéis? Os três poderes seriam três patetas? (quem pode o quê? será que o interesse de um não se funde nos dos outros e vice-versa? será que há equilíbrio, igualdades ou diferenças realmente? Percebe-se isso quando ele afirma:
    “(…) Já não vejo diferença entre a
    crença e os fiéis
    Tudo é igual quando se pensa em
    como tudo poderia ser
    Há tão pouca diferença e há tanta
    coisa a fazer
    Esquerda e direita, direitos e deveres,
    os 3 patetas, os 3 poderes (…)”

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