Fumaça – Miriam Alves

Autor: Miriam Alves


Estou a toque de máquina

corro, louca, voo, suo

a fumaça sou eu

Estou a toque de nada

vivo, ando

como a comida envenenada

e o comido sou eu

estou a toque de selva

os ferros torcidos, sacudidos

dentro de uma marmita

e a marmita sou eu

Nego, mas vivo dizendo

Sim

a tudo que me dói na cabeça

e o doido sou eu

Paro, mas estou sempre correndo

doem as pernas, os pés

e este corpo é o meu

Amanhã me encontra acordada

como a noite deixou

e o insone sou eu

Indago, mas não estou escutando

a pergunta anda solta

e ninguém explicou

que a resposta sou eu

Miriam Alves

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