Toda Vez

Meu coração
toda a vez que te vê
quer gritar, se arriscar
sair cantando
me delatando pra todo mundo
pensa que está
fora do alcance
e vai me anunciando
quando leve você passa
me entregando assim
de graça
neste estado inevitável
da paixão
mas fecho os olhos então
e ele fica mudo
meu escuro e o meu escudo
e silencioso
e meu coração…


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3 comentários em “Toda Vez”

  1. Sérgio Soeiro

    Na letra deste pop Zélia Duncan retrata aquilo por que todo apaixonado já passou ou ainda vai passar na vida, principalmente quando se é jovem e inexperiente. É o que chamamos “gamação”. Aquela situação na qual ficamos vidrados em alguém e este alguém, miseravelmente, não corresponde.
    Lógico que se apaixonar não é privilégio dos jovens, mas não há como negar que a experiência de vida, de sentimentos vividos, nos traz mais traquejo para lidar com esta situação tão gostosa e ao mesmo tempo tão desconfortável.
    Também é verdade que quando se é adolescente esta sensação é mais gostosa. O jovem, por ser mais afoito, fantasia mais e, invariavelmente, absorve mais os efeitos da gamação.
    Tal como o eu-lírico, todos nós, quando nos deparamos com aquela pessoa pela qual “arriamos os quatro pneus”, sentimos o coração “gritar, se arriscar, sair cantando”.
    E o pior de tudo é a possibilidade de se pagar um senhor mico, pois normalmente damos aquela bandeira e acabamos nos “delatando pra todo mundo” pois, como coração não pensa, ele “pensa que está fora de alcance” (aqui a Zélia usou um trocadilho genial).
    Nos versos:
    “E vai me anunciando
    Quando leve você passa
    Me entregando assim, De graça!
    Neste estado inevitável da paixão”.
    O eu-lírico continua relatando que seu coração não consegue se conter todas as vezes que se depara com sua paixão. Esta insistência no relato é proposital para enfatizar que, neste caso, não importa quantidade, mas sim, a intensidade e o turbilhão de emoções que resultam todas as vezes que se depara com aquele alguém.
    Nos últimos versos da estrofe o eu-lírico praticamente revela toda a sua fragilidade e inexperiência, ao usar como defesa a tática de fechar os olhos para não ver a pessoa. Na verdade, “fechar os olhos” é uma metáfora para o ato de manter-se à distância, procurar não cruzar o caminho daquela pessoa, e, principalmente, não ficar a sós com ela.
    No refrão, esta tática é enfatizada quando o eu-lírico diz que “seu escuro é seu escudo”. Ou seja, se ele não a(o) vê, ele está protegido e não corre perigo. Bem como, no relato: “silencioso é meu coração”, quer dizer que seu sentimento não é mundano, nem festeiro, mas sim, fiel àquele sentimento.
    Assim, por receio de passar por uma rejeição, e ser incapaz de se conter, ele se distancia. Mas gosta tanto daquele sentimento que se não a(o) vê, seu coração mantém-se quieto e não palpita por mais ninguém.

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