Poeta: Cecilia Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma professora, poetisa, jornalista e pintora brasileira. A poetisa foi a primeira voz feminina expressiva na literatura nacional. Teve mais de 50 obras publicadas – aos 18 anos estreou na literatura com o livro “Espectros”. Cecília Meireles nasceu no dia 7 de novembro de 1901 no Rio de Janeiro, perdeu os país ainda muito jovem e foi criada por sua avó materna.

Cecília Meireles nunca filiou-se a nenhum movimento literário. Sua poesia, no geral, filia-se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, suas obras iniciais evidenciam certa inclinação pelo Simbolismo, reunindo características como o individualismo, religiosidade e desespero. Há um certo misticismo no campo da solidão, mas existe a consciência de seu destino e de seus dons em sua obra. O uso frequente de elementos naturais como a água, o mar, o vento, o tempo, a solidão, o espaço, e a música confirmam a inclinação neossimbolista. 

Somente com o livro Viagem (1939) é que a Cecília ingressou definitivamente no espírito poético da escola modernista. Entre suas principais obras estão: Viagem (1925), Espectros (1919), Baladas Para El-Rei (1925), Nunca Mais… e Poema dos Poemas (1923), Viagem (1939), Vaga Música (1942), entre outras.

O eco – Cecília Meireles

O menino pergunta ao ecoOnde é que ele se esconde.Mas o eco só responde: Onde? Onde? O menino também lhe pede:Eco, vem passear comigo! Mas não sabe se o eco é amigoou inimigo. Pois só lhe ouve dizer: Migo! Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Tanta tinta – Cecília Meireles

Ah! Menina tonta,toda suja de tintamal o sol desponta! (Sentou-se na ponte,muito desatenta…E agora se espanta:Quem é que a ponte pintacom tanta tinta?…) A ponte apontae se desaponta.A tontinha tentalimpar a tinta,ponto por pontoe pinta por pinta…Ah! A menina tonta!Não viu a tinta da ponte! Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

O menino azul – Cecília Meireles

O menino quer um burrinhopara passear.Um burrinho manso,que não corra nem pule,mas que saiba conversar. O menino quer um burrinhoque saiba dizero nome dos rios,das montanhas, das flores,— de tudo o que aparecer. O menino quer um burrinhoque saiba inventar histórias bonitascom pessoas e bichose com barquinhos no mar. E os dois sairão pelo mundoque …

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Timidez – Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve… – mas só esse eu não farei. Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes… – palavra que não direi. Para que tu me adivinhes, entre …

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O vestido de Laura – Cecília Meireles

O vestido de Lauraé de três babados,todos bordados. O primeiro, todinho,todinho de floresde muitas cores. No segundo, apenasborboletas voando,num fino bando. O terceiro, estrelas,estrelas de renda– talvez de lenda… O vestido de Lauravamos ver agora,sem mais demora! Que as estrelas passam,borboletas, floresperdem suas cores.Se não formos depressa,acabou-se o vestidotodo bordado e florido! Cecília Meireles Autor: …

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Para ir à lua – Cecília Meireles

Enquanto não têm foguetespara ir à Luaos meninos deslizam de patinetepelas calçadas da rua. Vão cegos de velocidade:mesmo que quebrem o nariz,que grande felicidade!Ser veloz é ser feliz. Ah! se pudessem ser anjosde longas asas!Mas são apenas marmanjos. Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Motivo – Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta. Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento. Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei. Não sei se ficoou passo. Sei que canto. E a canção é tudo.Tem …

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Pregão do vendedor de lima – Cecília Meireles

Lima rimapela ramalima rimapelo aroma. O rumo é que leva o remo.O remo é que leva a rima. O ramo é que leva o aromaporém o aroma é da lima. É da lima o aromaa aromar? É da lima-limalima da limeirado auro da limao aroma de ourodo ar! Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Reinvenção – Cecília Meireles

A vida só é possívelreinventada. Anda o sol pelas campinase passeia a mão douradapelas águas, pelas folhas…Ah! tudo bolhasque vem de fundas piscinasde ilusionismo… — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida,a vida só é possívelreinventada. Vem a lua, vem, retiraas algemas dos meus braços.Projeto-me por espaçoscheios da tua Figura.Tudo mentira! Mentirada lua, …

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Retrato – Cecília Meireles

Eu não tinha este rosto de hoje,Assim calmo, assim triste, assim magro,Nem estes olhos tão vazios,Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força,Tão paradas e frias e mortas;Eu não tinha este coraçãoQue nem se mostra. Eu não dei por esta mudança,Tão simples, tão certa, tão fácil:— Em que espelho ficou perdidaa minha …

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Canção da flor de pimenta – Cecília Meireles

A flor da pimenta é uma pequena estrela,fina e branca,a flor da pimenta. Frutinhas de fogo vêm depois da festadas estrelas.Frutinhas de fogo. Uns coraçõezinhos roxas, áureos, rubras,muito ardentes.Uns coraçõezinhos. E as pequenas flores tão sem firmamentojazem longe.As pequenas flores… Mudaram-se em farpas, sementes de fogotão pungentes!Mudaram-se em farpas. Novas se abrirão,leves,brancas,puras,deste fogo,muitas estrelinhas… Cecília …

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Colar de Carolina – Cecília Meireles

Com seu colar de coral,Carolinacorre por entre as colunasda colina. O colar de Carolinacolore o colo de cal,torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cordo colar de Carolina,põe coroas de coralnas colunas da colina. Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

Despedida – Cecília Meireles

Por mim, e por vós, e por mais aquiloque está onde as outras coisas nunca estão,deixo o mar bravo e o céu tranquilo:quero solidão. Meu caminho é sem marcos nem paisagens.E como o conheces? – me perguntarão.– Por não ter palavras, por não ter imagens.Nenhum inimigo e nenhum irmão. Que procuras? – Tudo. Que desejas? …

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Elegia – Cecília Meireles

Neste mês, as cigarras cantame os trovões caminham por cima da terra,agarrados ao sol.Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,e depois a noite é mais clara,e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão. Mas tudo é inútil,porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,e a tua narina …

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Encomenda – Cecília Meireles

Desejo uma fotografiacomo esta — o senhor vê? — como esta:em que para sempre me riacomo um vestido de eterna festa. Como tenho a testa sombria,derrame luz na minha testa.Deixe esta ruga, que me emprestaum certo ar de sabedoria. Não meta fundos de florestanem de arbitrária fantasia…Não… Neste espaço que ainda resta,ponha uma cadeira vazia. …

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Interlúdio – Cecília Meireles

As palavras estão muito ditase o mundo muito pensado.Fico ao teu lado. Não me digas que há futuronem passado.Deixa o presente — claro murosem coisas escritas. Deixa o presente. Não fales,Não me expliques o presente,pois é tudo demasiado. Em águas de eternamente,o cometa dos meus malesafunda, desarvorado. Fico ao teu lado. Cecília Meireles Autor: Cecilia …

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A avó do menino – Cecília Meireles

A avóvive só.Na casa da avóo galo lirófaz “cocorocó!”A avó bate pão-de-lóE anda um vento-t-o-tóNa cortina de filó.A avóvive só.Mas se o neto meninóMas se o neto RicardóMas se o neto travessóVai à casa da avó,Os dois jogam dominó. Cecília Meireles Autor: Cecilia Meireles

A língua de nhem – Cecília Meireles

Havia uma velhinhaque andava aborrecidapois dava a sua vidapara falar com alguém. E estava sempre em casaa boa velhinharesmungando sozinha:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… O gato que dormiano canto da cozinhaescutando a velhinha,principiou também a miar nessa línguae se ela resmungava,o gatinho a acompanhava:nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem… Depois veio o cachorroda casa da vizinha,pato, cabra e galinhade cá, de lá, de além, …

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As meninas – Cecília Meireles

Arabelaabria a janela. Carolinaerguia a cortina. E Mariaolhava e sorria:“Bom dia!” Arabelafoi sempre a mais bela. Carolina,a mais sábia menina. E Mariaapenas sorria:“Bom dia!” Pensaremos em cada meninaque vivia naquela janela; uma que se chamava Arabela,uma que se chamou Carolina. Mas a profunda saudadeé Maria, Maria, Maria, que dizia com voz de amizade:“Bom dia!” Cecília …

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