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Brega-chique (o vento levou black)

Eduardo Dusek

Foi trabalhar
Recomendada prá dois gringos
Logo assim
Que chegou do interior
Era um casal
Tipo metido a granfino
Mas o salário
Era tipo, um horror…

A tal da madame, tinha mania
Esquisitona de bater
E baixava a porrada
Quando a coisa tava errada
Não queria nem saber…

Doméstica!
Ela era
Doméstica!
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!…

Nunca notou
A quantidade de giletes
Não reparou
A mesa espelhada no salão
Não perguntou
O quê que era um papelote
Baixou “os home”
Ela entrou no camburão…

Na delegacia
Sua patroa americana ameaçou:
“Lembra que eu sou
Uma milionária,
Eu fungava, de gripada
Não seja otária, por favor”…

Doméstica!
Traficante disfarçada
De doméstica
Era manchete nos jornais
O casal lhe deu prá trás
Sujando brabo prá doméstica…

No presídio aprendeu
Com as companheiras
A ser dar bem
A descolar, como ninguém
Ficou famosa
No ambiente carcerário
Com a mulata
Que nasceu prá ser alguém…

Pois não é que a
Doméstica!
Conseguiu uma prisão, doméstica
Saiu por bom comportamento
Mas jurou nesse momento
Vingar a raça das domésticas…

Então alguém
Lhe aconselhou logo de cara
“Dá um passeio
Vê se arranja um barão”
Porque melhor
Que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar
No calçadão…

Até que um dia
Um Mercedinho prateado buzinou
Era um louro alemão
Que lhe abriu a porta do carro
E lhe tacou um bofetão…

Doméstica!
Virou uma baronesa
Doméstica!
Mesmo com as taras do barão
Segurou a situação
Levando uma vida doméstica….

Realizada em sua mansão
Em Stutgard
Ouvindo Mozart de Beethoven de montão
Com um pivete
Mulatinho pela casa
Que era herdeiro
De olho azul como o barão…

Precisou de uma babá
Botou um anúncio
Bilíngüe no jornal
Seu mordomo abriu a porta
Uma loira meio brega
Uma yankee de quintal…

Doméstica!
Era a americana, de doméstica
A nêga deu uma gargalhada
Disse:
“Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica”! …(2x)


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