O Bêbado e A Equilibrista

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos…

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!…

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil…

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança…

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar…

Asas!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar…


Letra Composta por: Aldir Blanc e João Bosco
Melodia Composta por:
Álbum: Elis, essa mulher
Ano: 1979
Estilo Musical:

115 comentários em “O Bêbado e A Equilibrista”

  1. Sérgio Soeiro

    Atendendo a solicitação da Gabrielle:

    Gravada em 1979, esta música de João Bosco (melodia) e Aldir Blanc (letra), retrata uma época marcante da história do Brasil e tornou-se um hino à anistia no período final da ditadura militar iniciada no golpe militar de 1964.
    Ao fim da década de 1970 a ditadura brasileira sofria grandes reveses. A pressão pela abertura democrática vinha de todos os lados, mas o regime se mantinha duro e firme. As incertezas eram imensas e quem ousava levantar a voz contra o regime corria o risco de pagar, até com a própria vida, pelo ato.
    Assim, este texto é um discurso de denúncia e esperança: O “Bêbado” é a classe artística, representada pelo seu símbolo-maior, Carlitos, personagem de Charles Chaplin, com toda sua aura de liberdade e utopia.
    Chaplin foi um artista cujo trabalho visava as pessoas menos favorecidas, e no final dos seus filmes havia sempre uma estrada e uma esperança, onde Carlitos andava em direção ao infinito. A “Equilibrista” representa aquele fio de esperança que estava surgindo, a democracia. Aldir Blanc foi muito feliz em representar algo tão tênue e incerto quanto nossa abertura política, na figura de uma equilibrista.
    Desta forma, ambos, a classe artística e a esperança de democracia tinham que se equilibrar em suas “cordas-bambas” para poderem atingir seus objetivos.
    Aldir Blanc é considerado um poeta-repórter, pois seus textos geralmente são fatos de uma época, e o discorrer desta música são imagens deste período de incertezas.
    No verso “Caía a tarde feito um viaduto”… Ele quer dizer que a tarde caia abruptamente, tal qual parte do Viaduto Paulo Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971.
    “E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”… O “traje de luto” simboliza o estado no qual a classe artística encontrava-se na época, pela falta de liberdade de criação.
    Invariavelmente, todo fim de tarde sugere melancolia e tristeza, uma vez que estamos saindo da claridade do dia para a escuridão da noite. Aldir Blanc utilizou esta imagem para representar a situação na qual vivia o Brasil. Além de quê, sabe-se que as sessões de torturas eram realizadas nos porões do DOI-CODI durante a noite.
    Sem luz própria, “A lua” assume as funções de “dona de bordel”, pegando emprestado um pouco de brilho das estrelas, exatamente como faz a cafetina com suas contratadas, e também para fixar a imagem de que naquele início de noite, tal qual prostitutas, as estrelas eram de brilho falso e sem vontade de brilhar.
    Ainda com os olhos para o alto, há “as nuvens e o céu”. Estas imagens nos remetem ao universo da religiosidade. No final da década de 1970, quando o país discutia a anistia geral e irrestrita, a igreja católica demorou a se posicionar e acabou defendendo a anistia, mas com restrições. A imagem de “mata-borrão do céu” demonstra o poder político e balsâmico da igreja.
    Dentro do texto, o protesto contra as torturas que ocorriam na calada da noite fica evidente. Para saudar essa noite do Brasil, só se justificava se fosse na alegria etílica de um bêbado. Somente num estado de loucura poderia se reverenciar aquela realidade.
    O nacionalismo aparece nas entrelinhas com o Hino Nacional. “A nossa pátria, mãe gentil” abrigava as esposas e mães que choraram por seus filhos e maridos. A primeira entidade organizada para lutar pela anistia foi o MFA – Movimento Feminino pela Anistia, criado em 1975.
    O texto também fala dos exilados, como foi o caso do sociólogo Betinho, irmão de Henfil, e relembra as mortes do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgico Manuel Fiel Filho ao citar os nomes de suas esposas, Maria e Clarisse, respectivamente.
    Este texto traz a voz de alguém que num momento de consciência, acorda para um mundo totalmente adverso, observa o que está à sua volta, o céu da cidade, um bêbado, o cair da tarde. Tudo é estranho e triste. Mesmo assim há uma esperança que não abandona a sua missão. Por isso pode-se vislumbrar a liberdade e sonhar com ela, mesmo quando os olhos só vêem a opressão.
    Fica claro no texto que o desejo de liberdade sempre vai estar no coração do homem. Esta é a sua arte.

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      1. Wanderlan Rodrigues da Silva

        Tamanha a emoção, o q me levou aos prantos, ouvindo e entendo a letra da música…Parabéns…Tão atual…Nossa pátria mãe gentil ainda sofre e chora…

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    1. Carlos Sant'Anna

      Boa noite, Sérgio.
      Meu nome é Carlos.
      Fui indagado,pela minha namorada,neste momento.Fui pesquisar e me deparei com uma análise perfeita!
      Em alguns trechos,até citados por você,fiz a mesma leitura.
      Enfim,gostei muito de ter mais esse aprendizado e entendimento.
      Obrigado e um grande abraço.

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    2. Marcia Cesar

      Sergio Soeiro, quem é você ? Estudei direito com um Sergio Soeiro, mas não acredito que seja a mesma pessoa. Será?

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    3. Silvia Afonso de André

      Nossa, o esclarecimento dessa música linda torna ela mais incrível, e nos faz ver que por pior que esteja essa corrupção, uma intervenção militar é algo assustador

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    4. Virgínia Maciel Pereira

      Entendia razamente a letra da música. Lendo agora,estou muito mais encantada .
      Parabéns pela descrição.

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    5. Aline Batista

      Perfeito! Obrigada por tamanho esclarecimento, sempre cantei essa música, apreciando todo aua beleza, mas agora vou grava-la e fui analisar a letra, e me deparei com seu texto 🙏🏽

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    6. Parabéns! Linda análise e bem completa hisctoricamente! Com certeza voltarei ao site para entender outras músicas

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    7. Ana Cássia Palhares de Morais

      Muito bem interpretada.
      Só faço uma intervenção a um erro que também cometi ao trocar irreverência por reverências.

      “Louco, o bêbado com chapeu coco fazia *irreverências mil…* isto é, desrespeitada ou xingava a “noite do Brasil”, talvez fosse uma referência
      à todos os brasileiros que ousaram se rebelar contra o governo colocando sua própria vida em risco.

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    8. JUSLENE LUZ

      Parabéns pela interpretação da música!
      Da mesma forma que outros leitores, compreendi a letra da música com a sua interpretação, fiquei emocionada e também, chorei.
      Os fatos históricos relacionados com a ditadura e anistia continuam se repetindo.

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  2. Rafael Sampaio

    Muito boa a análise Sergio. Só Levantando mais dois pontos: Há quem diga que a Lua, na música, representa a Rede Globo. Um dos(quisá o)maior instrumento de mídia durante o regime militar. As estrelas frias seriam os militares. A lua, dona do bordel, destaca a importancia da Globo no setor atístico da época. Ela tinha, vamos dizer o “poder de criar ídolos, imagens e pensamentos para a massa brasileira”. Dessa forma a música denuncia os subsidios que a emissora recebia dos militares e troca de progamação pro-governo:”Pedia a cada estrela fria/Um brilho de aluguel “. O que é evidenciado no fato da emissora ter seu maior salto de estruturação durante o regime militar.
    O segundo ponto: As nuvens pode ser interpretada tembem como os torturadores, uma vez que elas estava no “mata-borrão do céu”, colocando o céu com o alto (governo) .O mata borrão que tira o excesso da tinta,ou seja, que tira as informações “em excesso” , informações que incomodam(que interessam) o governo . As “manchas torturadas” são as vítimas do regime militar, que passaram pelo mata borrão.

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  3. ISABEL TAVARES

    SÉRGIO, ESTOU FASCINADA COM SUA ANÁLISE DA LETRA Q DESDE CRIANÇA OUÇO MEU PAI CANTAR E DA QUAL CRESCI APAIXONADA. TENHO 28 ANOS E NÃO VIVI ESSE TEMPO SANGRENTO E VERGONHOSO DA DITADURA, PORÉM TENHO MUITA VONTADE DE FAZER DESTE TEMA, UM ESTUDO CONSTANTE SEM ENVEREDAR PELA ORLA POLÍTICA, MAS SIM ARTÍSTICA DA ÉPOCA…ESSA ANÁLISE SÓ ME DEU MAIS VORACIDADE EM MINHA PAIXÃO…ESPERO VER MAIS TEXTOS EXPLICATIVOS SEUS…UM FORTE ABRAÇO(AINDA INEBRIADA POR SUS PALAVRAS!)

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  4. Carlos Alberto

    Sergio, que análise fantástica!

    Posso afirmar isso pois andei buscando em diversos sites os significados da música, já que tive que representá-la em um trabalho Universitário. Seguramente a melhor análise que encontrei foi a sua! Meus parabéns!

    Um abraço!

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  5. Antonio Carlos Riceti

    Parabéns ao Sérgio e outros comentários…brilhantes;
    Vou colocar mais uma azeitona na empada tão recheada.
    “As Marias” citadas na letra., além da mãe do Metalurgico, homenageia tb a mãe do Betinho, do Henfil e Chico Mário., de um lado uma chorava pela morte do filho, outra chorava pelo exilio.
    Mas em dúvida é uma letra pra se tirar o chapeú
    forte abraço

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  6. Cara, sem comentários, viu? Sem palavras… Agora entendo porque as pessoas falam que as músicas de hoje em dia não têm letra. Não vivi a época da ditadura, tenho 28 anos, mas hoje viajei na sua intrepretação desta múscia.

    Parabéns mesmo. Muito legal.

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  7. Saulo Mayer

    Muito, muito, muito boa a sua análise.
    Fazia um bom tempo que eu queria entender esta letra e hoje pude entendê-la.
    muito Obrigado e parabéns!!!

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  8. Sérgio Parabéns!

    Estou fascinada pela sua análise, estava procurando o significado desta letra havia bastante tempo. Muito legal!

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  9. Sérgio, excelente.

    Tenho 30 anos parece que essa geração do Dom Bosco está em outro patamar de criação.

    Cabe saliantar tembém a feliz escolha de Elis Regina como intérprete; é de arrepiar. Considero a segunda melhor voz do Brasil, atrás apenas do Tiririca.

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  10. Parabéns a análise está de excelente categoria e de contextualização histórica . Nossos alunos precisam ouvir e aprender o valor de uma letra como esta.

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  11. Qual é a base para dizer que a tarde caia como um viaduto tem haver com o viaduto que caiu e não com o caimento do viaduto?

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    1. Ana Cássia Palhares de Morais

      Muito bem interpretada.
      Só faço uma intervenção a um erro que também cometi ao trocar irreverência por reverências.

      “Louco, o bêbado com chapeu coco fazia *irreverências mil…* isto é, desrespeitada ou xingava a “noite do Brasil”, talvez fosse uma referência
      à todos os brasileiros que ousaram se rebelar contra o governo colocando sua própria vida em risco.

      Ouso também responder ao comentário do Machado:

      As músicas têm essa magia de poder levar o ouvinte a diversas interpretações, conforme sua vivência.
      Essa música em especial. considerando o clima de alta sensura da época, se reveste ainda mais deste subterfúgio obra driblar os sensores.
      Portanto, você pode pensar no cair da tarde suave como as curvas de um viaduto ou ver a música inserida num contexto da época em que foi escrita.

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  12. gente, a interpretaçao do Sérgio esta certíssima, aproveitem e vejam a novela “amor e revoluçao” que retrata bem como foram os anos de ditadura, que insistem em apagar da nossa história, muitas pessoas nem sabe que aconteceu tanta barbaridade no Brasil. essa como outras músicas foi escrita em “código” para criticar a ditadura militar. outros exemplos: o que será que será, apesar de você, pra nao dizer que nao falei das flores,alegria alegria…

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  13. Sidney Roberto

    Gostaria de parabenizar ao Sergio Soeiro pela interpletação MARAVILHOSA PERFEITA!!
    e vai uma dica …componha algumas musicas voce mesmo.Voce tambem é um mestre da comunicação. [email protected] ADD NO ORKUT

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  14. Sérgio Soeiro

    Caro Sidney,

    Agradeço muito pelos elogios. Quanto a proposta de compor músicas, melhor deixar isso pro Chico Buarque.

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  15. LUA ADVERSA
    Tenho fases, como a lua
    Fases de andar escondida,
    fases de vir para a rua…
    Perdição da minha vida!
    Perdição da vida minha!
    Tenho fases de ser tua,
    tenho outras de ser sozinha.
    Fases que vão e vêm,
    no secreto calendário
    que um astrólogo arbitrário
    inventou para meu uso.
    E roda a melancolia seu interminável fuso!
    Não me encontro com ninguém
    (tenho fases como a lua…)
    No dia de alguém ser meu
    não é dia de eu ser sua…
    E, quando chega esse dia,
    o outro desapareceu…
    Cecília Meireles

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  16. Que me desculpe o Sergio,mas em várias partes você foi infeliz na sua análise.O viaduto que caiu citado na letra na verdade é o viaduto que caiu na Gameleira.Este foi considerado o maior acidente da história da construção do país e nada foi feito na época.
    Acho que as pessoas deveriam se informar melhor antes de sairem acreditando em tudo que leem na net.
    Segue um trecho e o site da unicamp, de uma tese de doutorado que comprova esta informação.
    Vamos ser mais criticos,gente!!!Vamos confirmar informações antes de sair por aí vomitando elogios. Sei que o Sérgio teve boa intenção,mas tá errado!

    Tese de doutorado reconstitui maior acidente da construção
    civil brasileira por meio de depoimentos de testemunhas e de
    parentes de vítimas da tragédia que matou 69 operários em
    Belo Horizonte no início da década de 70

    http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2007/ju372pag6-7.html

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    1. Carlos Alberto de Almeida

      Gameleira não era um viaduto. E o carioca Aldir, morador da Tijuca, citou, sim, o acidente na Paulo de Frontin, quando da queda, aí sim, de um viaduto…Quem viveu na época e participou de grandes papos nos bares da Tijuca pode confirmar…

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  17. Sérgio Soeiro

    Cara Fernanda, obrigado por se “preocupar” com minha singela contribuição ao site, afinal, creio que a proposta do mesmo é justamente esta: dar liberdade para qualquer pessoa postar sua opinião, certo? Pois é, o que escrevi foi tão somente a “leitura” que faço de O Bêbado e a Equilibrista (tenho direito de expressá-la, não?), e em nenhum momento me coloquei como dono da verdade, como você aparentemente e erroneamente, compreendeu. Sobre a referida tese que você usou para mostrar sua indignação com minha interpretação, penso que é somente isto: uma tese – que qualquer um pode defender. Sendo assim, prefiro ficar com minha informação pelo mero fato do autor da letra (Aldir Blanc) ser carioca. Então acho mais aceitável ele estar se referindo ao acidente que ocorreu em sua cidade e que também foi bastante relevante, já que vitimou 48 pessoas, além de dezenas de feridos. Se você prefere a outra explicação, é um direito seu, apenas faça-o de maneira cordata e com a intenção de contribuir, e não de denegrir, ok? um abraço.

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  18. Pablo Busatto

    Adorei a interpretação do Sérgio, sempre tive curiosidade de saber o significado da letra dessa música, que já me parecia tão densa e me parece muito mais agora. Parabéns aos outros que também contribuiram: Rafael, Antônio Carlos e Fernanda.
    E, Fernanda, é só uma tese. As várias interpretações possíveis, nesse caso, só contribuem para a beleza da letra (você enlouqueceria lendo A Comédia de Dante Alighieri haha).

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  19. Breno Manfré Almagro

    Gostei (e concordo) muito da interpretação do Sergio, rica em detalhes históricos.
    Assisti ontem ao show da Maria Rita onde ela interpreta algumas canções da Elis.
    Durante o show ela faz algumas pausas pra conversar, inclusive quando termina de cantar essa música.
    Maria diz exatamente o que você disse, Sergio. Ela falou sobre o símbolo da anistia que a música se tornou, fala sobre tudo que a música quer expressar (de desapontamento a esperança) e termina com um “acreditem, essa letra é real. Marias e Clarices Existiram mesmo”
    Obrigado por essa contribuição que, senão real, ao menos nos levará a um novo bolo de pensamentos.

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  20. Breno Manfré almagro

    “[…]Que sonha com a volta
    Do irmão do Henfil.”
    Essa parte minha mãe quem explicou.
    Henfil foi um cartunista muito famoso na época e seu irmão (Betinho, ao qual se faz referencia no trecho a cima), sociólogo e escritor, teve grande papel na anestia, sendo perseguido durante a ditadura.

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  21. Silvio Fumero

    Primeiramente gostaria de parabenizar duplamente o Sérgio Soeiro, pela análise da música, que já tinha ouvido várias semelhanças e também pela resposta à Fernanda, quanta sabedoria e humildade !

    Na época, 1979, eu tinha 19 anos e vivenciei vários e tristes acontecimentos da ditatura.

    Sergio, novamente obrigado pela singela contribuição… Um grande abraço, Silvio

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  22. Débora Vieira

    Éhh, aquela época foi realmente um tempo em que nenhum dos que estavam presentes gostariam de ter presenteado, levando em consideração os horríveis acontecimentos que assolavam a populção em geral. Eu particularmente não gostaria de fazer parte da população naquela época, graças a Deus ainda não tinha nascido, mas,m minha maezinha já estava aqui e o agradeço também por ter protegido a.

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  23. Evandro saraiva

    O irmão do Henfil, Betinho, posteriormente foi o idealizador do Programa Fome Zero. Os três irmãos eram hemofílicos, e morreram de AIDS, adquirida em transfusões de sangue contaminado.

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  24. Ivan Capdeville Junior

    O acidente na Gameleira não foi de um viaduto, mas de um pavilhão de exposições. Logo, a música provavelmente se refere ao Paulo de Frontin, mesmo. Vide http://www.youtube.com/watch?v=z3OmlhUOjYk
    Quanto à lua pedindo brilhos de aluguel às estrelas frias, me parece uma referência às patentes do exército, designadas por quantidade de estrelas.

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  25. Sergio, sou francês, descobri esta cançao maravilhosa ha poco tempo, me fascinou, e a sua analise me encantou. Valeu! Gostei tambem da analise da lua como a Globo, fazendo e desfazendo “estrela frias” e falsas… Abraço

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  26. RAQUEL FREIRE PRESLEY

    1 – Caía a tarde feito um viaduto

    Ao cair da tarde a noite chega, a escuridão, a ditadura. Em 1970 um viaduto desabou sobre carros e ônibus matando muita gente. Na época nada se pode ser noticiado e tampouco as pessoas foram ressarcidas ou indenizadas. O incidente ocorreu em Belo Horizonte, viaduto da Gameleira, década de 1970.

    2 – E um bêbado trajando luto

    A figura do bêbado representa os artistas, poetas e músicos e outros “loucos”. Embreagados de liberdade ousavam levantar suas vozes contra a ditadura. Geralmente fica-se de luto quando há a morte de alguém. Neste caso o luto foi pela morte da democracia que, conseqüentemente acarretou na morte da Liberdade de Expressão; E também pela morte dos acidentados na queda do viaduto.

    3 – Me lembrou Carlitos

    Carlitos é como chamamos o personagem de Charles Chaplin, que era um vagabundo. Por isso a menção aos artistas e outros loucos.

    4 – A lua, tal qual a dona de um bordel

    A lua eram os políticos civis que se colocaram a favor do regime para obterem ganhos pessoais. Em determinadas épocas foram até chamados luas-pretas.*

    A Câmara de Deputados e o Senado foram comparados a bordéis em determinada época devido aos negócios imorais que lá se faziam. Por sua vez os cidadãos não poderiam

    vir a comentar, pois seriam, no mínimo, processados.

    *Eram aqueles que atribuíam aos conselhos recebidos o status de dogma. Se lhe fora dito que a lua é preta é porque a lua é realmente preta sem questionamento. Um exemplo clássico é o de um general dizendo a um político o que fazer sem questioná-lo.

    5 – Pedia a cada estrela fria

    As estrelas frias são os generais, donos do poder.

    6 – Um brilho de aluguel

    Era, como mencionado acima, os ganhos pessoais e eleitorais que pelos civis que aceitavam ser marionetes. Alguns civis-marionetes cresceram tanto que chegam até mesmo a passar seus “criadores” em termos de poder.

    7 – E nuvens, lá no mata-borrão do céu

    As nuvens são comparadas aos torturadores, pois eram intocáveis e inalcançáveis. O mata-borrão é um instrumento antiquado em que, como o próprio nome diz, seu objetivo era apagar os erros, borrões na escrita. O DOI-CODI¹ era a nossa polícia política² da época. O mata-borrão do regime. Já o céu é uma alusão às prisões no sentido de serem inalcançáveis aos cidadãos comuns, aos cidadãos passivos que aceitavam o que lhes foram imposto devido ao medo da ditadura. Nesta canção, os cidadãos incomuns são os “bêbados”.

    ¹ – O Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) foi um órgão subordinado ao Exército, de inteligência e repressão do governo brasileiro durante o regime inaugurado com o golpe militar.

    ² – Uma polícia política é um corpo de polícia que serve a interesses de poder político, seja de um governo, de um partido político, de uma guerrilha ou um grupo paramilitar ou terrorista, ou qualquer outra instituição que busque manter uma situação de dominação ou alcançá-la. Diferentemente da polícia convencional, a polícia política não combate tanto criminosos no sentido estrito, mas dissidentes e oposicionistas que são considerados “inimigos” do grupo no poder.

    8 – Chupavam manchas torturadas

    Os rebeldes eram comparados a manchas, um erro na escrita, uma anomalia, algo fora da ordem ou um indisciplinado, fora dos moldes ditatoriais. Tais manchas (ou rebeldes se preferirem), eram torturados “dentro do mata-borrão no céu, pelas nuvens”.

    9 – Que sufoco

    A palavra “sufoco” no sentido figurado significa uma situação sem saída, desesperadora. Era assim que os rebeldes se sentiam.

    10 – Louco, o bêbado com chapéu-coco

    O bêbado se configura-se ainda como o cidadão incomum mas dessa vez importante e conhecido. O chapéu-coco foi um acessório usado pelos homens de negócios londrinos nas décadas de 1950-60. Por estarem em evidência, os artistas importantes poderiam vir a serem taxados de loucos por se expressarem.

    11 – Fazia irreverências mil

    Reforça a idéia de que os artistas nunca se calaram. Esta própria canção é uma das irreverências mesmo que de forma subliminar.

    12 – Pra noite do Brasil, meu Brasil

    À época era um tema recorrente. O regresso das liberdades políticas é comparada ao amanhecer. Em contramão, o anoitecer fora comparado à ditadura.

    13 – Que sonha com a volta do irmão do Henfil

    Henfil foi um cartunista político muito visado pelo regime. Assim como seus dois irmãos, Betinho (sociólogo) e Chico Mário (músico), também havia contraído Hemofilia de sua mãe. Os três morreram de Aids.

    Betinho foi um sociólogo que deu assessoria ao MEC e ao Ministro Paulo de Tarso Santos, sempre defendendo reformas. Em 1964 se mobilizou contra a ditadura e devido a repressão foi obrigado a se exilar no Chile em 1971 onde assessorou Salvador Allende até deposição em 1973 devido ao golpe de Pinochet. Voltou ao Brasil em 1979 como Anistiado*.

    *Anistia vem do termo grego Amnestia que quer dizer esquecimento. O objetivo primordial da anistia é anular a punição e o fato que a causa.

    14 – Com tanta gente que partiu

    Os exilados políticos, assim como Betinho.

    15 – Num rabo de foguete

    Indica uma situação potencialmente perigosa, como uma “furada” ou uma “fria”.

    16 – Choram Marias e Clarices // No solo do Brasil

    Ambas mulheres de homens mortos pelo DOI-CODI. A primeira era mulher de Manuel Fiel Filho e a outra era esposa de Vladimir Herzog (Na verdade seu nome era Vlado mas considerava seu nome um tanto quanto exótico). Ambos tinham suspeitas de ligação com o Partido Comunista Brasileiro.

    17 – Azar, a esperança equilibrista

    A equilibrista era a esperança de democracia, um projeto de abertura política gradual, que a cada “eleição”, a cada evento que incomodava os militares (passeatas, etc), tinha sua existência ameaçada. Azar também tem o sentido de “Dane-se”, e ainda é empregado por agentes das forças armadas.

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    1. Lucas Gomes

      Gostei muito da interpretação Raquel.

      Como estamos em país de total liberdade de expressão, eu de alguma forma queria também deixar minha singela interpretação.

      15 “Num rabo de foguete”
      Seria uma alusão à necessidade de rapidez em fugir do país em relação às perseguições políticas existentes na Época.

      Pois de fato tem uma Mini série sendo apresentada na Rede Globo chamada “Os Dias Eram Assim” que em vários capítulos mostram brasileiros que foram perseguidos pelo regime militar, e por serem considerados subversivos e terroristas tiveram de sair do país às pressas e aguardarem por varios anos enfim a criação da Anistia para terem o direito de retornarem ao país sem ter problemas com a justiça.

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  27. Sempre soube do significado dessa música, mas nunca soube com riqueza de detalhes, gostei muito!
    Essa música tem muito a ver com a minha família, não pelo significado da letra, e sim pelo o que aconteceu. Estávamos ouvindo essa música interpretada pela Elis Regina e de repente, quando eu, meu irmão e minha mãe olhamos pela janela estava subindo um balão ENORME com a figura do Carlitos. Como eu era criança, isso ficou muito marcado, juntamente com o brilho nos olhos de emoção da minha mãe, que adorava a Elis. Desde então, toda vez que ouço essa música, me arrepio todo!

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  28. Em minha opinião trata-se da música brasileira mais bonita e emblemática que va pude ouvir.
    Obrigada por compartilhar sua leitura dessa letra incrível.

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  29. Me emocionou muito.
    Tô aqui com meu filho de sete meses ( Davi ) que só dorme se eu cantar essa música. Muito obrigado por dar um significado bem mais especial em minha vida.
    Abraço.

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  30. Luiz Ernani

    Muito boa a análise da Raquel, exceto pelo fato de que esse acidente não foi noticiado. Veja as manchetes de O Globo:http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-novembro-de-1971-elevado-paulo-de-frontin-desabou-matando-26-pessoas-10808571 e da Revista Manchete que começou na semana do acidente e continuou pelo mês de dezembro de 1971 http://www.museu.cbmerj.rj.gov.br/modules.php?name=News&file=article&sid=278. Eu morava no interior do RGS e acompanhei todo o noticiário pelo rádio, jornais e revistas.

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  31. Luiz Ernani

    E mais: o desabamento que ocorreu na Gameleira , em BH, foi de um Pavilhão e não de um viaduto. O viaduto foi no Leblon, no RJ.

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  32. Comment by RAQUEL FREIRE PRESLEY — 17 de junho de 2013

    PARABÉNS.

    Comment by Ivan Capdeville Junior — 3 de novembro de 2012

    PARABÉNS; O VIADUTO FOI Paulo de Frontin, COM CERTEZA ,EU ACOMPANHEI O NOTICIÁRIO NA ÉPOCA.

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  33. Bruno Senior

    Sérgio Soeiro…. FANTÁSTICO!!! Muito obrigado por nos brindar com tanta sensibilidade de interpretação. Valeu, mesmo.
    Mas é chato ver alguns se apropriando da interpretação e escrevendo as mesmas coisas. Se já foram ditas, basta fazer a referência.

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  34. Mirela Nunes

    Fernanda, me desculpe mas espero que hoje não seja tão grosseira em relação a opiniões adversas às suas. Enfim, Sérgio, meus parabéns pelas suas inesquecíveis análises e quanto ao viaduto eu também acredito que o autor se referiu a um acontecimento de sua terra. Fernanda, sua crítica poderia ser aceita sim, no sentido de que a queda do viaduto mineiro remete a Gameleira, porém o autor (em minha concepção) se referiu ao viaduto mineiro. Fernanda, tente melhorar sua forma de expressão, com toda sinceridade, entendi o que quis dizer, porém também não acho que ofensas deveriam ser utilizadas, não dessa forma, não nesse tipo de site.

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    1. Lucas Gomes

      Concordo com você plenamente Mirela. Pois estamos em país de total liberdade de expressão e de forma alguma precisamos ofender a opinião alheia, mas sim adicionar nossa opinião de forma em somar conhecimento.

      De tal forma fiz em um comentário acima, não criticando e jamais ratificando o comentário do nosso colega Rafael, mas sim dando relevância ao espírito de liberdade de expeessao que a Nobre e Bela Canção tal qual nos dá nos dias atuais.

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  35. Thiago Assoni

    Um povo que se esquece de seu passado, está fadado a vivê-lo novamente.
    Nesta música, é claro o manifesto pelo desagrado àquele Governo e, claro, às torturas e forma de Governar. Tão sutil, tão bela…

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  36. Igor Willy

    Sérgio você quebrou a criptografia dessa música para nova geração que não viveu essa época…
    Parabéns!!! Agora essa música faz muito mais sentido…

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    1. Sérgio Soeiro

      Muito obrigado pela citação, Igor. A demora na resposta foi porque havia tempos eu não entrava no site.

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  37. Lucas Gomes

    Esse fórum não é um debate de conhecimentos, mas sim uma ferramenta de finalidade em somar conhecimentos, pois a cada ano que se passa o país muda sua história política de e as idéias também podem mudar.

    E cada geração tem sua opinião diferente e mesmo que a estamos devemos respeitar.

    A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar.

    Uma sina eterna e atual aos olhos de quem sabe interpretar!

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  38. Ramon Antonio

    Falo com certeza. Pois nasci e cresci ali. Brinquei muitas vezes neste local. Havia muitos pombos que procriavam na galeria. Exatamene em frente ao quinto batalhão da PM. Então a suposta tese esta errada.

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  39. Cassio da Hora

    Sempre tinha dúvida a respeito do trecho do viaduto, esclarecido!
    Essa bela música ficando cada vez mais atual, Triste!

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  40. Pedro Sarro

    Parabéns ao Sérgio e a todos, vivi o fim da ditadura e democracia é isto, aceitarmos a diversidade em todos os sentidos.
    Mas como sou inquieto quero colocar um pouco mais de pimenta neste angú.

    1- A figura da queda do viaduto é perfeita, e na minha opinião pouco importa qual ele seja, pois não modifica a imagem que se queria transmitir.
    Era a democracia que estava lá feito um viaduto, que cai derrepente, a beleza da demogracia representada numa tarde perfeita com um arco íris ao fundo.

    Acho que quando ele fala “ um bebado com chapéu cocó, fazia reverências mil a noite do Brasil”, o bebado com chapeu cocó é são os militares, chapéu cocó é uma referência ao capacete deles.
    Fazia referências mil, é a continência feita entre os militares que é um sinal de submissão e de concordância com o perder do superior, os militares sempre se achavam superiores ao resto da população, vide o Nazizmo.

    “As noites do Brasil”, a noite é sempre uma alusão ao perigo, pois perdemos a visão a de longe, pela visão de perto, a primeira visão é a Democracia e a segunda a Ditadura, eles tinham a visão que aniquilando as pessoas construiriam uma sociedade melhor, como no Nazismo.

    É isso pessoal, espero ter contribuído, e vamos ao debate, pois no fim ele é o mais importante, fico contente em ver que pessoas mais jovens estão preocupadas com as coisas que aconteceram no país, e ainda há quem defenda a Ditadura, como disse Cristo “ Perdoaos senhor eles não sabem o que fazem”, fui……..

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  41. Sérgio Soeiro

    Oi, Márcia. Desculpe a demora em responder (nunca mais havia acessado este site). Olha só, eu iniciei um curso de Direito (fiz 3 anos mas abandonei por incompatibilidade profissional) no antigo CESEP aqui em Belém-PA. Lembro que havia uma Márcia baixinha. Era você?

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  42. Heleno Oliveira Moraes

    Muito boa a análise. Gostei muito! Hoje, 26 de outubro, ante-véspera do segundo turno das eleições presidenciais, me veio à mente essa música. Não lembro se já havia lido alguma análise dela. Mas rapidinho me veio em mente a ligação com a ditadura militar e o momento atual. Acho muito apropriada para o momento em que vivemos. Muito obrigado!

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  43. Na noite do dia 28/10/2018 essa música não parava de tocar na minha mente chorei muito. O futuro do país está tal qual a noite nebulosa e escuro só mesmo Deus para nos salvar

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  44. Inaldo Matias

    Gostei imensamente da sua interpretação. Você apresentou detalhes que eu desconhecia. Ótimo trabalho

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  45. Eduardo Santos

    Simplesmente uma madura visão de uma época que vivi jovem…com a certeza que o autoritarismo nunca terminou, e sim mudou de forma…Subjugar o poder imperialista e o poder do capital tem sido o grande erro das pessoas coerentes de bom coração…

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  46. Amei a análise dessa letra! Gosto muito dessa música, mas ainda não compreendia algumas coisas. Obrigada pelos esclarecimentos.
    Parabéns!

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  47. Paulo Sergio

    Sensibilizado pela morte de Charlie Chaplin, João Bosco fez uma melodia em sua homenagem. Aldir Blanc criou um personagem chapliniano, que deplorava a condição dos exilados.
    Nisso a música mostra os assassinatos, torturas e exílios durante o Regime Militar.
    Como falou Elis Regina sobre essa canção:
    “Grande parcela da população anseia encontrar um Carlitos desses e sonha não ver mais nem Marias nem Clarices chorando”
    Vejam a análise completa verso a verso dessa música, bem como toda história envolvida nela.
    https://www.youtube.com/watch?v=akPb7jlLWyw

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