Search Results for: Só nós

Atos e retratos

Retratos que guardei memórias que desperdicei, Tentando encontrar, sentimentos que deixei pra tras E Já não dizem mais. Pra que chorar em vão se tudo mudou ? Não temos mais porque viver, E só nos restará lagrimas, Do que parecia ser só mais uma emoção. Já não nos pertencemos mais, o medo nos desfaz. Esconda-se …

Atos e retratos Leia mais »

Hardcore

Tem que ser hard Tem que ser core Tem que ser Hardcore O mundo não precisa de nós O mundo só nos explora O mundo castrou nossa voz O mundo que morra!

Parques de giz

Foi demais.Dá um tempo, desta vez foi demais.Está doendo pra valer.E é tão doentia essa tua compaixãoe tão pequeno me abraçarse desinfetas tuas mãos.E tua vontade de perdoaro que eu não tenho vergonha de sernesse teu mundo vulgar. Ah, acho tão discreto esse teu charmee teu sorriso nos jornais.Diz então, como podes me abrir o …

Parques de giz Leia mais »

Uma breve história da música brasileira

A música brasileira tem uma história rica e diversificada, com influências e contribuições de muitas culturas diferentes. A música indígena e africana é uma das principais influências na música brasileira, devido à presença dos índios e escravos africanos no país desde a época colonial. Durante o período colonial, música folclórica e religiosa também desempenharam um …

Uma breve história da música brasileira Leia mais »

História de Chico Buarque

Popularmente conhecido simplesmente como Chico Buarque, Francisco Buarque de Hollanda é um cantor e compositor brasileiro, dramaturgo, escritor e poeta. Chico é mais conhecido por suas músicas, que frequentemente incluíam comentários sociais, econômicos e culturais sobre o país. Buarque, Filho primogênito de Sérgio Buarque de Hollanda, viveu em diversos locais quando criança. Principalmente no Rio …

História de Chico Buarque Leia mais »

Barreiras

Nosso amor foi marcado por barreirasEnfrentamos mil fronteirasEm nome desse amorLutamos juntos, um pelo outroEu de um lado, você do outro Ah! Quase que te perdiQuase que enlouqueciPor causa desse amorAh! Tempestades de mentirasQueriam ver as nossas brigasMas nada adiantou À noite eu te olho ao meu ladoQuando lembro do passadoDe tudo que a gente …

Barreiras Leia mais »

Te Amo Disgraça

(Vai, senta firme)(Vai, senta, senta, senta) Eu sou Exú!(Vai, senta firme, vai)Facção carinhosa, ê, ê(Vai, senta firme)(Vai, senta, senta, senta)(Vai, senta firme)(Vai, senta, senta, senta) Bebendo vinho, quebrando as taçaFudendo por toda a casaSe eu divido o maço, eu te amo, desgraçaTe amo, desgraçaBebendo vinho e quebrando as taçaFudendo por toda a casaSe divido o …

Te Amo Disgraça Leia mais »

É tudo pra ontem

Talvez seja bom partir do finalAfinal, é um ano todo só de sexta-feira trezeCê também podia me ligar de vez em quandoEu ando igual lagarta, triste, sem poder sair Aqui o mantra que nos traz o centroEnquanto lavo um banheiro, uma louça, querendo lavar a almaNa calma da semente que germinaQue eu preciso olhar minhas …

É tudo pra ontem Leia mais »

Principia

[Pastoras do Rosário]Lá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-iaLá-ia, lá-ia, lá-ia [Emicida]Com o cheiro doce da arrudaPenso em buda, calmoTenso, busco uma ajudaÀs vezes me vem um salmoTira a visão que iluda, é tipo um oftalmoE eu, que vejo além de um palmoPor mim, tu, Ubuntu, algo almoSe for pra crer no terrenoSó no que …

Principia Leia mais »

Sublime

Não que eu me iludaEu acho até que você gosta de mimNão que eu me iludaEu penso até que você pensa Mas não o suficiente pra ficar assimCalado colado sem beijo apressadoSem olhar pro ladoSem tomar cuidado com o fim Não que eu me iludaEu sinto até que você sente um frissonO que não mudaQuando …

Sublime Leia mais »

Neguinho

Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê?Neguinho nem quer saberO que afinal define a vida de neguinho Neguinho compra o jornal, neguinho fura o sinalNem bem nem mal, prazerVotou, chorou, gozou: o que importa, neguinho? Rei, rei, neguinho reiSim, sei, neguinhoRei, rei, neguinho é reiSei não, neguinho Se nego pensa que é …

Neguinho Leia mais »

Nuvem negra

Não adiantaMe ver sorrirEspelho meuMeu riso é seuEu estou ilhadaHoje não ligo a TVNem mesmo pra ver o JôNão vou sairSe ligarem não estouÀ manhã que vemNem bom-dia eu vou darSe chegar alguémA me pedir um favorEu não seiTá difícil ser euSem reclamar de tudoPassa a nuvem negraLarga o diaE vê se leva o malQue …

Nuvem negra Leia mais »

Caminhos cruzados

Quando um coração que está cansado de sofrerEncontra um coração também cansado de sofrerÉ tempo de se pensar,Que o amor pode de repente chegarQuando existe alguém que tem saudade de outro alguémE esse outro alguém não entenderDeixe esse novo amor chegar,Mesmo que depois seja imprescindível chorarQue tolo fui eu que em vão tentei raciocinarNas coisas …

Caminhos cruzados Leia mais »

Lua de mel

Lua-de-melMamam mamãeEu tô em lua-de-melEu tô morandoNum pedaço do céuComo o diabo gosta…(2x) Todo delitoDoce deleiteTodo desfruteTem permissãoTudo que dá prazerTentação!… O dia inteiroNadar no marBanco de areiaImensidão!Tardes desmaiosNossa cançãoDiiiizzz!…. Lua-de-melMamam mamãeEu tô em lua-de-melEu tô morandoNum pedaço do céuComo o diabo gosta…(2x) Todo delitoDoce deleiteTodo desfruteTem permissãoTudo que dá prazerTentação!… O dia inteiroNadar no …

Lua de mel Leia mais »

Vaca profana

Respeito muito minhas lágrimasMas ainda mais minha risadaEscrevo, assim, minhas palavrasNa voz de uma mulher sagrada Vaca profana, põe teus cornosPra fora e acima da manadaVaca profana, põe teus cornosPra fora e acima da manada Ê, ê, êDona de divinas tetasDerrama o leite bom na minha caraE o leite mau na cara dos caretas Segue …

Vaca profana Leia mais »

Eternamente

Só mesmo o tempoPode revelar o lado oculto das paixõesO que se foiE o que não passaráInesquecíveis sensaçõesQue sempre vão ficarPra nos fazer lembrarDos sonhos, beijosTantos momentos bons Só mesmo o tempoVai poder provarA eternidade das cançõesA nossa música está no arEmocionando os coraçõesPois tudo que é amorParece com vocêPense, lembreNunca vou te esquecer Vou …

Eternamente Leia mais »

Pegando fogo

Meu coração amanheceu pegando fogo, fogo, fogoFoi uma morena que passou perto de mimE que me deixou assimMorena boa que passaCom sua graça infernalMexendo com nossa raçaDeixando a gente até malMande chamar o bombeiroPra esse fogo apagarE se ele não vem ligeiroNem cinzas vai encontrar

Ilusão à toa

Eu acho engraçadoQuando um certo alguémSe aproxima de mimTrazendo exuberânciaQue me extasia Meus olhos sentemMinhas mãos transpiramÉ um amor que eu guardo há muitoDentro em mimE é a voz do coração que canta assimAssim Olha, somente um diaLonge dos teus olhosTrouxe a saudade do amor tão pertoE o mundo inteiro fez-se tão tristonho Mas embora …

Ilusão à toa Leia mais »

O amor

TalvezQuem sabeUm diaPor uma alamedaDo zoológicoEla também chegaráEla que tambémAmava os animaisEntrará sorridenteAssim como estáNa foto sobre a mesa Ela é tão bonitaEla é tão bonitaQue na certaEles a ressuscitarãoO século trinta venceráO coração destroçado jáPelas mesquinharias Agora vamos alcançarTudo o que nãoPodemos amar na vidaCom o estrelarDas noites inumeráveis Ressuscita-meAindaQue mais não sejaPorque sou …

O amor Leia mais »

Faltando um pedaço

O amor é um grande laçoUm passo pr’uma armadilhaUm lobo correndo em círculoPra alimentar a matilhaComparo sua chegadaComo a fuga de uma ilhaTanto engorda quanto mataFeito desgosto de filha, de filha O amor é como um raioGalopando em desafioAbre fendas, cobre valesRevolta as águas dos riosQuem tentar seguir seu rastroSe perderá no caminhoNa pureza de …

Faltando um pedaço Leia mais »

Inquietação

Quem se deixou escravizarE no abismo despencarDe um amor qualquerQuem no aceso da paixãoEntregou o coraçãoA uma mulherNão soube o mundo compreenderNem a arte de viverNem chegou mesmo de leve a perceberQue o mundo é sonho, fantasiaDesengano, alegriaSofrimento, ironiaNas asas brancas da ilusãoNossa imaginaçãoPelo espaço vai, vai, vaiSem desconfiarQue mais tarde caiPara nunca mais voar

Para a menina – Conceição Evaristo

Para todas as meninas e meninos de cabelos trançados ou sem tranças. Desmancho as tranças da meninae os meus dedos trememmedos nos caminhosrepartidos de seus cabelos. Lavo o corpo da meninae as minhas mãos tropeçamdores nas marcas-lembrançasde um chicote traiçoeiro. Visto a meninae aos meus olhosa cor de sua vesteinsiste e se confundecom o sangue …

Para a menina – Conceição Evaristo Leia mais »

Vozes-mulheres – Conceição Evaristo

A voz de minha bisavóecoou criançanos porões do navio.ecoou lamentosde uma infância perdida. A voz de minha avóecoou obediênciaaos brancos-donos de tudo. A voz de minha mãeecoou baixinho revoltano fundo das cozinhas alheiasdebaixo das trouxasroupagens sujas dos brancospelo caminho empoeiradorumo à favela. A minha voz aindaecoa versos perplexoscom rimas de sangueefome. A voz de minha …

Vozes-mulheres – Conceição Evaristo Leia mais »

Do velho ao jovem – Conceição Evaristo

Na face do velhoas rugas são letras,palavras escritas na carne,abecedário do viver. Na face do jovemo frescor da pelee o brilho dos olhossão dúvidas. Nas mãos entrelaçadasde ambos,o velho tempofunde-se ao novo,e as falas silenciadasexplodem. O que os livros escondem,as palavras ditas libertam.E não há quem ponhaum ponto final na históriaInfinitas são as personagens…Vovó Kalinda, …

Do velho ao jovem – Conceição Evaristo Leia mais »

Negro-Estrela – Conceição Evaristo

Em memória de Osvaldo, doce companheiro meu, pelo tempo que a vida nos permitiu Quero te viver na plenitudedo momento gastovivido em toda sua essênciasem sobra ou falta. Quero te viver,vivendo o tempo exatode nossa vida. Quero te viverme vivendo plenado teu, do nossovazio buraco.Quero te viver, Negro-Estrela,compondo em mim constelaçõesde tua presençapara quando um …

Negro-Estrela – Conceição Evaristo Leia mais »

Renga da noite – Alice Ruiz

noite escurade luz a luznenhuma dívida ontem hoje amanhãtrabalho pra madrugadanoites tardes manhãs noite no matoo cheiro de açucenaé nosso lume noite de verãoescrevendo ventoeu e o vento noite de verãovem com a brisaum cheiro de primavera noite no escuropensando que era baratamatei o vagalume noite cheialua minguantemeu quarto crescente Alice Ruiz Autor: Alice Ruiz

HAI-KAIS – Alice Ruiz

apaga a luzantes de amanhecerum vagalume vento secoentre os bambusbarulho d água tanta poesia no gestonenhum poemao diria o relógio marca48 horas sem te versei lá quantas para te esquecer circuluarsonho imparacordo par desacertoentre nóssó etceteras Alice Ruiz Autor: Alice Ruiz

Saudação da saudade – Alice Ruiz

Minha saudadesaúda tua idamesmo sabendoque uma vindasó é possívelnoutra vida. Aqui, no reinodo escuroe do silênciominha saudadeabsurda e mudaprocura às cegaste trazer à luz. Ali, ondenem mesmo vocêsabe maistalvez, enfimnos espereo esquecimento. Aí, ainda assimminha saudadete saúdae se despedede mim. Alice Ruiz Autor: Alice Ruiz

Beija-flores – Alberto de Oliveira

Os beija-flores, em festa,Com o sol, com a luz, com os rumores,Saem da verde floresta,Como um punhado de flores. E abrindo as asas formosas,As asas aurifulgentes,Feitas de opalas ardentesCom coloridos de rosas, Os beija-flores, em bando,Boêmios enfeitiçados,Vão como beijos voandoPor sobre os virentes prados; Sobem às altas colinas,Descem aos vales formosos,E espraiam-se após ruidososPela extensão …

Beija-flores – Alberto de Oliveira Leia mais »

Terceiro canto – Alberto de Oliveira

I Embala-me, balanço da mangueira,Embala-me, que enquanto vou contigo,Contigo venho, o meu pesar esqueço.Rompe a luz da manhã rosada e linda,Tudo desperta. E essa por quem padeço,Lânguida e preguiçosa,Entre brancos lençóis repousa ainda.Embala-me, pendente da mangueira,Na tensa corda, meu balanço amigo!Em claro a noite inteiraPassei, pensando nela. Ah! que formosaEstava ontem à tarde no mirante,Um …

Terceiro canto – Alberto de Oliveira Leia mais »

Fantástica – Alberto de Oliveira

Erguido em negro mármor luzidio,Portas fechadas, num mistério enorme,Numa terra de reis, mudo e sombrio,Sono de lendas um palácio dorme. Torvo, imoto em seu leito, um rio o cinge,E, à luz dos plenilúnios argentados,Vê-se em bronze uma antiga e bronca esfinge,E lamentam-se arbustos encantados. Dentro, assombro e mudez! quedas figurasDe reis e de rainhas; penduradasPelo …

Fantástica – Alberto de Oliveira Leia mais »

Aspiração – Alberto de Oliveira

Ser palmeira! existir num píncaro azulado,Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando;Dar ao sopro do mar o seio perfumado,Ora os leques abrindo, ora os leques fechando; Só de meu cimo, só de meu trono, os rumoresDo dia ouvir, nascendo o primeiro arrebol,E no azul dialogar com o espírito das flores,Que invisível ascende …

Aspiração – Alberto de Oliveira Leia mais »

A cancela da estrada – Alberto de Oliveira

Bate a cancela da estradaConstantemente. Cavaleiro, à disparada,Lá vai no cavalo ardente.Cavaleiro em descuidadaMarcha, lá vem indolente. Passa, ondeia levantadaA poeira, toldando o ambiente. Bate a cancela da estradaConstantemente. Bate, e exaspera-se e bradaOu chora contra o batente:(Ninguém lhe ouve na arrastada,Roufenha voz o que sente) — “Minha vida desgraçadaRepouso não me consente;Vivo a bater …

A cancela da estrada – Alberto de Oliveira Leia mais »

Identidade – Jenyffer Nascimento

Cansei de ser uma foto 3×4Acompanhada por uma sequência de dígitos. Cansei de ser númeroNo RG, CPF, Título de EleitorPassaporte, Carteira de Trabalho.A burocracia nunca me enxerga como gente.  Eles não sabem da cor azulQue fui a Bahia e vi Dona Canô na festa de ReisQue choro quando leio a Cor PúrpuraNem que passo as tardes …

Identidade – Jenyffer Nascimento Leia mais »

À minha extremosa amiga D. Ana Francisca Cordeiro – Maria Firmina dos Reis

Donzela, tu suspiras – esse pranto, Que vem do coração banhar teu rosto, Esse gemer de lânguido penar, Revela amarga dor – imo desgosto: Amiga… acaso cismas ao luar, Terno segredo de ignoto amor?!… Soltas madeixas desprendidas voam Por sobre os ombros de nevada alvura; Tua fronte pálida os pesares c’roam Como auréola de martírio… pura, Cândida virgem… que abandono o teu? Sonhas acaso com …

À minha extremosa amiga D. Ana Francisca Cordeiro – Maria Firmina dos Reis Leia mais »

Raízes – Jenyffer Nascimento

Chão de terraTerra pretaPreta é a tua pele.Olhares dispersosOlhares cruzadosSonhos roubados Chão de terraTerra pretaQuebraram-se as correntes.Nunca houve correntesA vontade era tantaNão conseguiu conter. Chão de terraTerra pretaAmanhece.Exalam cheiros íntimos,Pelas fretas contrastam os tonsQuero denegrir. Chão de terraTerra PretaFértil. Cresce uma raiz grossaBrota um desejo únicoSentir seu gosto negro Chão de terraTerra pretaUma descendência inteiraNa …

Raízes – Jenyffer Nascimento Leia mais »

Senzala – Adão Ventura

senzalaé minha carne retalhadapelo dia-a-dia senzalaé a sombra que tenho aprisionadanos ghetos da minha pele.– Adão Ventura, em “A cor da pele”. Belo Horizonte: Edição do Autor, 1980. Adão Ventura Autor: Adão Ventura

Poema essencialista – Adalgisa Nery

Sinto o conteúdo da existência. Procuro ultrapassá-lo com enorme exaltação poética, Rompo as grades do mundo com o espetáculo das formas, Dos sons e das cores. Tudo me afoga em nostalgia de outras eras, De outras vidas que cristalizaram As tendências da minha infância. A utilização das coisas plásticas Altera o equilíbrio da visão. Distribuo …

Poema essencialista – Adalgisa Nery Leia mais »

Poema simples – Adalgisa Nery

Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite, Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra, Deixa-me recolher a estrela úmida Antes que sua luz desapareça na madrugada, Deixa-me recolher a tristeza da alma Antes que a lágrima banhe a pálpebra Do órfão abandonado e faminto, Deixa-me recolher a ternura …

Poema simples – Adalgisa Nery Leia mais »

Silêncio – Adalgisa Nery

Nas mãos inquietas Cansadas esperanças Tateando formas na luz ausente, Nos olhos embrumados A viva cruz do alívio, Na boca imobilizada A palavra amortalhada. E à tona da fugaz realidade O mistério das surpresas superadas. Paisagem de espaços, e fantasmas Ordenam não falar, não morrer, Ouvir sem conduzir o pensamento, Viver os vazios lúcidos Entre …

Silêncio – Adalgisa Nery Leia mais »

Ternura – Adalgisa Nery

Antes que eu me transforme em água E corra com os rios Cantando para as florestas escuras A canção sublime Deixa-me contemplar tua face amada Para que a canção se eternize. Antes que os meus olhos se transformem nos minúsculos vermes Que movimentam o solo Deixa-me receber a luz de tua boca Para que eu …

Ternura – Adalgisa Nery Leia mais »

Vivência – Adalgisa Nery

Começamos a viver Quando saímos do sono da existência, Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo. Começamos a viver Quando confusos e sem consolo Não sentimos os traços do irmão perdido. Quando antes da força Surge a sombra do insignificante. Quando o sono é transformado em sonhos superados, Quando o existir não é …

Vivência – Adalgisa Nery Leia mais »

Instante – Adalgisa Nery

O espanto abriu meu pensamento Com idioma vindo do delírio, Dos receios indefesos, dos louvores sem raízes, No perdão oferecido sem razão. O espanto abriu meu pensamento Na noite carregada de lamentos Em linguagem universal Fluindo do eco perdido Com passos de presságio amanhecendo. Corpos florindo na pele da terra Acendendo vida nas rosas e …

Instante – Adalgisa Nery Leia mais »

Mulher – Adalgisa Nery

Na face, a geografia da angústia, Dos pânicos e das medrosas alegrias. Cada ruga é um presságio. E auréola da aflição constante O esplendor dos cabelos brancos. Uma só raiz para frutos diversos, Uma só vida para destinos tão complexos, Um só pranto para dores tão diversas. O útero que gera o herói, o sábio, …

Mulher – Adalgisa Nery Leia mais »

Paisagem – Adalgisa Nery

Restam nos meus olhos Séculos de planícies áridas E o vento ríspido que trouxe as lamentações Das sombras agitadas Sobre os pântanos desconhecidos Distantes estão os caminhos Onde eu encontraria a suprema fraqueza Para vergar os meus joelhos E deitar no pó a minha boca moribunda Invisíveis estão as estrelas Que me levariam a contemplar …

Paisagem – Adalgisa Nery Leia mais »

Olhando no espelho – Abdias do Nascimento

(Para meus netos Samora, Alan e Henrique Alberto)Ao espelho te vejo negrinhote reconheço garoto negrovivemos a mesma infânciaa melancolia partilhada do teu profundo olharera a senha e a contra-senhaidentificando nosso destinoconfraria dos humilhadosa povoar de terna lembrançaesta minha evocação de FrancaÉramos um só olharnos papagaios empinadosao sopro fresco do entardecerNegrinho garota negravivemos a mesma infâncianos …

Olhando no espelho – Abdias do Nascimento Leia mais »

Oriki da Elisa – Abdias do Nascimento

Amor em Saudade    desatado    de carência física    embotadoAmor de amor pleno    tranbordante    música pungente    latejanteLateja amor as têmporas   as taclas teclam amor   agudo punhal inclemente   apunhalando a dorDor do desamor que   não é meu   nem teu   meu é o   bemquerer que não morreu   associado partilhado   na partilha do que …

Oriki da Elisa – Abdias do Nascimento Leia mais »

Autobiografia – Abdias do Nascimento

EITO que ressoa no meu sanguesangue do meu bisavô pinga de tua foicefoice da tua violação ainda corta o grito de minha avó LEITO de sangue negroemudecido no espanto clamor de tragédia não esquecida crime não punido nem perdoadoqueimam minhas entranhasPEITO pesado ao peso da madrugada de chumboorvalho de fel amargoorvalhando os passos de minha mãena oferta compulsória …

Autobiografia – Abdias do Nascimento Leia mais »

A rota – Adalgisa Nery

O mundo pulveriza-nos sem revelar Seus intuitos secretos. A vida é contemplá-los nos seus gestos mais sutis E sentir nas águas profundas O que de cada destino foi escrito Nos penhascos dos mares agitados. No vácuo do espírito Anda a forma sem direção Por caminhos já pisados E inseguros são os passos repetidos. Nem sempre …

A rota – Adalgisa Nery Leia mais »

Canção para dentro – Adalgisa Nery

A canção do corpo é cantada para dentro E a leveza da alegria se transmuda em peso, A brisa adere aos amargos pensamentos Fluindo no sorriso compassivo. Logo, Surgindo de células desamadas Os matizes áureos anoitecem, Pálpebras levantadas vão caindo E nesgas apenas vislumbramos, Geografias em nós morrendo, Oceanos crescendo, ilhas sumindo, Rosas nascendo na …

Canção para dentro – Adalgisa Nery Leia mais »

A um homem – Adalgisa Nery

Quando numa rocha porosa Cansado te encostares E dela vires surgir a umidade e depois a gota, Pensa, amado meu, com carinho, Que aí esta a minha boca. Se teus olhos ficarem nas praias E vires o mar ensalivando a areia Com alegria pensa amado meu Num corpo feliz Porque é só teu. Se descansares …

A um homem – Adalgisa Nery Leia mais »

Mistério – Adalgisa Nery

Há vozes dentro da noite que clamam por mim, Há vozes nas fontes que gritam meu nome. Minha alma distende seus ouvidos E minha memória desce aos abismos escuros Procurando quem chama. Há vozes que correm nos ventos clamando por mim. Há vozes debaixo das pedras que gemem meu nome E eu olho para as …

Mistério – Adalgisa Nery Leia mais »

Evocação da rosa – Abdias do Nascimento

(Para Yemanjá – no seu décimo aniversário)Era uma vez uma rosa que não era vegetal nem rosa mineralcarecia até da cor de rosaera uma gata formosanegra amarela e brancosairrequietamente caprichosavestida de suave pêlo multicorBichana terrivelmente amorosados laços dos seus encantosnenhum gato jamais se livrou pelos telhados miava dengosasuspirava a noite inteira seduzindo namoradeiratoda a gataria aoluar da lua alcoviteiraCerto …

Evocação da rosa – Abdias do Nascimento Leia mais »

VIII – Júlia Cortines

Como é doce seguir o teu rastro, ó saudade,Se equilibras no azul, à branda claridadeDe um sonhado luar, as tuas asas mansasDoiradas pela luz das nossas esperanças,E levas para longe o teu voo, a um passadoDe sorrisos e amor e sonhos estrelado,Onde vemos alguém, que sobre nós derramaDo seu profundo olhar a cariciosa chama,Fazendo rebentar …

VIII – Júlia Cortines Leia mais »

Amanhã – Patativa do Assaré

Amanhã, ilusão doce e fagueira, Linda rosa molhada pelo orvalho: Amanhã, findarei o meu trabalho, Amanhã, muito cedo, irei à feira.Desta forma, na vida passageira, Como aquele que vive do baralho, Um espera a melhora no agasalho E outro, a cura feliz de uma cegueira.Com o belo amanhã que ilude a gente, Cada qual anda …

Amanhã – Patativa do Assaré Leia mais »

O peixe – Patativa do Assaré

 Tendo por berço o lago cristalino, Folga o peixe, a nadar todo inocente, Medo ou receio do porvir não sente, Pois vive incauto do fatal destino. Se na ponta de um fio longo e fino A isca avista, ferra-a insconsciente, Ficando o pobre peixe de repente, Preso ao anzol do pescador ladino. O camponês, também, …

O peixe – Patativa do Assaré Leia mais »

Sina – Patativa do Assaré

Eu venho desde menino Desde muito pequenino Cumprindo o belo destino Que me deu Nosso Senhor Não nasci pra ser guerreiro Nem infeliz estrangeiro Eu num me entrego ao dinheiro Só ao olhar do meu amor Carrego nesses meus ombros O sinal do Redentor E tenho nessa parada Quanto mais feliz eu sou Eu nasci …

Sina – Patativa do Assaré Leia mais »

Canal – Patrícia Galvão

Nada mais sou que um canal Seria verde se fosse o caso Mas estão mortas todas as esperanças Sou um canal Sabem vocês o que é ser um canal? Apenas um canal? Evidentemente um canal tem as suas nervuras As suas nebulosidades As suas algas Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas Mas por favor Não pensem …

Canal – Patrícia Galvão Leia mais »

Anfitrite – Júlia Cortines

(Sobre uma página de Fénelon) Tinta a escama de azul e de oiro, solevandoEm seus brincos a vaga espúmea, pelo bandoDos alegres tritões, que os búzios retorcidosSopram, enchendo o ar de músicos ruídos,Acompanhados, vão os ligeiros golfinhosSeguindo de Anfitrite o carro, que marinhosCorcéis, – que têm na cor cetinosa do peloA brancura da neve e …

Anfitrite – Júlia Cortines Leia mais »

Em vão – Júlia Cortines

É a ilusão, bem vejo: em tua fronte Inda fulge um resplendor de aurora. Tens o mesmo sorriso com que outrora Deliciavas a minha alma insonte. Debalde apontas para além do monte Prainos que a ardência do verão enflora; Asas vibrando pelos céus em fora, Céus sem nuvens, sem raias o horizonte… Esta grandiosa e …

Em vão – Júlia Cortines Leia mais »

Indiferente – Júlia Cortines

E vão assim as horas! – Vão fugindoUm após outro os dias voadores,Ao túmulo do olvido conduzindoAs alegrias como os dissabores,O sonho agita as asas multicores,E vai-se e vai-se rápido sumindo,Enquanto a vaga quérula das doresSoluça, e rola pelo espaço infindo…A mim, porém a mim, a mim que importa,A mim, cuja esperança há muito é …

Indiferente – Júlia Cortines Leia mais »

O infinito – Júlia Cortines

(G. LEOPARDI)AO DR. ESPERIDIÃO ELOY FILHO. Sempre caro me foi este ermo cole,Mais esta sebe, que de tanta parteO longínquo horizonte à vista oculta.Mas, se me assento, contemplando-a, espaçosIntérminos além, e sobre-humanoSilêncio, e profundíssima quietudeMeu pensamento fantasia; e quaseSe me apavora o coração. Se o ventoOuço fremir nas árvores, aqueleInfinito silêncio a este murmúrioVou comparando: …

O infinito – Júlia Cortines Leia mais »

Sinal na fonte – Júlia Cortines

(ADA NEGRI)Uma estrangeira, em púrpuras e gala,Tocou-me a fronte com um dedo, e riu-se.Um frêmito me abala.E disse-me: “Um sinal tu tens na fronte,Talhado em forma de uma cruz bizarra.Tens um sinal na fronte.Dos anos teus no afortunado giroSempre o trarás contigo – pois abriu-oA boca d’um vampiro,Que da tua existência a melhor parteÁvido suga, …

Sinal na fonte – Júlia Cortines Leia mais »

Dies iræ – Júlia Cortines

A esse som de trombeta e de alarma, quem há de Dormir? Mortos, deixai a paz da sepultura E acorrei: o que ouvis é o clarim da Saudade! De pé! de pé! de pé! Despedaçai a dura Lousa que sobre vós lançou o esquecimento, Espectros do sofrer, fantasmas da ventura! Ó divina ilusão, que um …

Dies iræ – Júlia Cortines Leia mais »

Finis – Júlia Cortines

Ouço um surdo, abafado e discorde ruído, Logo após um fragor que pelos ares trona. Qual se dum terremoto o solo sacudido Fosse, em torno de mim tudo se desmorona. O que é feito de vós, altivos monumentos, Que afrontáveis do tempo os inúteis furores, Mergulhando no azul dos largos firmamentos, Mergulhando dos céus nos …

Finis – Júlia Cortines Leia mais »

O poema – Ivan Junqueira

Não sou eu que escrevo o meu poema:ele é que se escreve e que se pensa,como um polvo a distender-se, lento,no fundo das águas, entre anêmonasque nos abismos do mar despencam.Ele é que se escreve com a penada memória, do amor, do tormento,de tudo o que aos poucos se relembra:um rosto, uma paisagem, a intensapulsação …

O poema – Ivan Junqueira Leia mais »

Adminimistério – Paulo Leminski

Quando o mistério chegar,já vai me encontrar dormindo,metade dando pro sábado,outra metade, domingo.Não haja som nem silêncio,quando o mistério aumentar.Silêncio é coisa sem senso,não cesso de observar.Mistério, algo que, penso,mais tempo, menos lugar.Quando o mistério voltar,meu sono esteja tão solto,nem haja susto no mundoque possa me sustentar. Meia-noite, livro aberto.Mariposas e mosquitospousam no texto incerto.Seria …

Adminimistério – Paulo Leminski Leia mais »

Morte e Vida Severina (trecho) – João Cabral de Melo Neto

— O meu nome é Severino,como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Maria;como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor …

Morte e Vida Severina (trecho) – João Cabral de Melo Neto Leia mais »

Bem no fundo – Paulo Leminski

No fundo, no fundo,bem lá no fundo,a gente gostariade ver nossos problemasresolvidos por decreto a partir desta data,aquela mágoa sem remédioé considerada nulae sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso,maldito seja quem olhar pra trás,lá pra trás não há nada,e nada mais mas problemas não se resolvem,problemas têm família grande,e aos …

Bem no fundo – Paulo Leminski Leia mais »

A infância – Ariano Suassuna

Sem lei nem Rei, me vi arremessadobem menino a um Planalto pedregoso.Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,vi o mundo rugir. Tigre maldoso. O cantar do Sertão, Rifle apontado,vinha malhar seu Corpo furioso.Era o Canto demente, sufocado,rugido nos Caminhos sem repouso. E veio o Sonho: e foi despedaçado!E veio o Sangue: o marco iluminado,a luta extraviada …

A infância – Ariano Suassuna Leia mais »

A estrada – Ariano Suassuna

No relógio do Céu, o Sol ponteiroSangra a Cabra no estranho céu chumboso.A Pedra lasca o Mundo impiedoso,A chama da Espingarda fere o Aceiro. No carrascal do sol, azul braseiro,Refulge o Girassol rubro e fogoso.Como morrer na sombra do meu Pouso?Como enfrentar as flechas desse Arqueiro? Lá fora, o incêndio: o roxo lampadáriodas Macambiras rubras …

A estrada – Ariano Suassuna Leia mais »

Lápide – Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalonas pedras do meu Pasto incendiado:fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lonuma Sela de couro esverdeado,que arraste pelo Chão pedroso e pardochapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido,tropel de cascos, sangue do Castanho,talvez …

Lápide – Ariano Suassuna Leia mais »

Com licença poética – Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não tão feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, …

Com licença poética – Adélia Prado Leia mais »

Alfândega – Adélia Prado

O que pude oferecer sem mácula foimeu choro por beleza ou cansaço,um dente exraizado,o preconceito favorável a todas as formasdo barroco na música e o Rio de Janeiroque visitei uma vez e me deixou suspensa.‘Não serve’, disseram. E exigirama língua estrangeira que não aprendi,o registro do meu diploma extraviadono Ministério da Educação, mais taxa sobre …

Alfândega – Adélia Prado Leia mais »

Casamento – Adélia Prado

Há mulheres que dizem:Meu marido, se quiser pescar, pesque,mas que limpe os peixes.Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram,ele fala coisas como “este foi difícil”“prateou no ar dando rabanadas”e faz o gesto …

Casamento – Adélia Prado Leia mais »

Dona Doida – Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grossocom trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.Quando se pôde abrir as janelas,as poças tremiam com os últimos pingos.Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.A …

Dona Doida – Adélia Prado Leia mais »

Aprendimentos – Manoel de Barros

O filósofo Kierkegaard me ensinou que culturaé o caminho que o homem percorre para se conhecer.Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fimfalou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisasdi-menor com a natureza. Aprendeu que as folhasdas árvores servem para nos ensinar a …

Aprendimentos – Manoel de Barros Leia mais »

Poema dos olhos da amada – Vinícius de Moraes

Ó minha amadaQue olhos os teusSão cais noturnosCheios de adeusSão docas mansasTrilhando luzesQue brilham longeLonge nos breus… Ó minha amadaQue olhos os teusQuanto mistérioNos olhos teusQuantos saveirosQuantos naviosQuantos naufrágiosNos olhos teus… Ó minha amadaQue olhos os teusSe Deus houveraFizera-os DeusPois não os fizeraQuem não souberaQue há muitas erasNos olhos teus. Ah, minha amadaDe olhos ateusCria …

Poema dos olhos da amada – Vinícius de Moraes Leia mais »

Ternura – Vinícius de Moraes

Eu te peço perdão por te amar de repenteEmbora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidosDas horas que passei à sombra dos teus gestosBebendo em tua boca o perfume dos sorrisosDas noites que vivi acalentadoPela graça indizível dos teus passos eternamente fugindoTrago a doçura dos que aceitam melancolicamente.E posso te dizer que …

Ternura – Vinícius de Moraes Leia mais »

O que é simpatia (a uma menina) – Casimiro de Abreu

Simpatia – é o sentimentoQue nasce num só momento,Sincero, no coração;São dois olhares acesosBem juntos, unidos, presosNuma mágica atração. Simpatia – são dois galhosBanhados de bons orvalhosNas mangueiras do jardim;Bem longe às vezes nascidos,Mas que se juntam crescidosE que se abraçam por fim. São duas almas bem gêmeasQue riem no mesmo riso,Que choram nos mesmos …

O que é simpatia (a uma menina) – Casimiro de Abreu Leia mais »

A valsa – Casimiro de Abreu

Tu, ontem,Na dançaQue cansa,VoavasCo’as facesEm rosasFormosasDe vivo,LascivoCarmim;Na valsaTão falsa,Corrias,Fugias,Ardente,Contente,Tranqüila,Serena,Sem penaDe mim! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Valsavas:— Teus belosCabelos,Já soltos,Revoltos, Saltavam,Voavam,BrincavamNo coloQue é meu;E os olhosEscurosTão puros,Os olhosPerjurosVolvias,Tremias,Sorrias,P’ra outroNão eu! Quem deraQue sintasAs doresDe amoresQue loucoSenti!Quem deraQue sintas!…— Não negues,Não mintas…— Eu vi!… Meu Deus!Eras belaDonzela,Valsando,Sorrindo,Fugindo,Qual silfoRisonhoQue em …

A valsa – Casimiro de Abreu Leia mais »

Deus – Casimiro de Abreu

Eu me lembro! eu me lembro! – Era pequeno E brincava na praia; o mar bramia E, erguendo o dorso altivo, sacudia A branca escuma para o céu sereno. E eu disse a minha mãe nesse momento: “Que dura orquestra! Que furor insano! “Que pode haver maior do que o oceano, “Ou que seja mais forte do que o vento?!” – Minha mãe …

Deus – Casimiro de Abreu Leia mais »

Clara – Casimiro de Abreu

Não sabes, Clara, que penaEu teria se – morenaTu fosses em vez de clara!Talvez… Quem sabe?… não digo…Mas refletindo comigoTalvez nem tanto te amara! A tua cor é mimosa, Brilha mais da face a rosa,Tem mais graça a boca breve.O teu sorriso é delírio…És alva da cor do lírio,És clara da cor da neve! A morena …

Clara – Casimiro de Abreu Leia mais »

Saudades – Casimiro de Abreu

Nas horas mortas da noiteComo é doce o meditarQuando as estrelas cintilamNas ondas quietas do mar;Quando a lua majestosaSurgindo linda e formosa,Como donzela vaidosaNas águas se vai mirar! Nessas horas de silêncio,De tristezas e de amor,Eu gosto de ouvir ao longe,Cheio de mágoa e de dor,O sino do campanárioQue fala tão solitárioCom esse som mortuárioQue …

Saudades – Casimiro de Abreu Leia mais »

Moreninha – Casimiro de Abreu

Moreninha, Moreninha,Tu és do campo a rainha,Tu és senhora de mim;Tu matas todos d’amores,Faceira, vendendo as floresQue colhes no teu jardim. Quando tu passas n’aldeiaDiz o povo à boca cheia:– “Mulher mais linda não há“Ai! vejam como é bonita“Co’as tranças presas na fita,“Co’as flores no samburá! – Tu és meiga, és inocenteComo a rola que …

Moreninha – Casimiro de Abreu Leia mais »

Segredos – Casimiro de Abreu

Eu tenho uns amores – quem é que os não tinhaNos tempos antigos? – Amar não faz mal;As almas que sentem paixão como a minhaQue digam, que falem em regra geral.– A flor dos meus sonhos é moça e bonitaQual flor entreaberta do dia ao raiar,Mas onde ela mora, que casa ela habita,Não quero, não …

Segredos – Casimiro de Abreu Leia mais »

Pedra no cachimbo – Miriam Alves

A pedra quando chega acertaacerta bem no meio dos meus sonhosbem nos olhos da esperançae cegaa pedra quando chegaé fumaça em cachimbos improvisadosé cinco segundos de noia eufórica  fúria em descontroleA pedra quando chega é demo-cráticaacerta brancos negros pobre e ricos  Mas os poderes públicos só se sensibilizamquando a pedra no cachimbo acertaa vidraça das …

Pedra no cachimbo – Miriam Alves Leia mais »

Poema de Natal – Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:Para lembrar e ser lembradosPara chorar e fazer chorarPara enterrar os nossos mortos —Por isso temos braços longos para os adeusesMãos para colher o que foi dadoDedos para cavar a terra.Assim será nossa vida:Uma tarde sempre a esquecerUma estrela a se apagar na trevaUm caminho entre dois túmulos —Por isso precisamos velarFalar …

Poema de Natal – Vinícius de Moraes Leia mais »

O pobre poema – Mário Quintana

Eu escrevi um poema horrível!É claro que ele queria dizer alguma coisa…Mas o quê?Estaria engasgado?Nas suas meias-palavras havia no entanto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma criança doente, uma precoce, incompreensível gravidadede quem, sem ler os jornais,soubesse dos seqüestrosdos que morrem sem culpados que se desviam porque todos os …

O pobre poema – Mário Quintana Leia mais »

Presença – Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,teu perfil exato e que, apenas, levemente, o ventodas horas ponha um frêmito em teus cabelos…É preciso que a tua ausência trescalesutilmente, no ar, a trevo machucado,as folhas de alecrim desde há muito guardadasnão se sabe por quem nalgum móvel antigo…Mas é preciso, também, que seja como …

Presença – Mário Quintana Leia mais »

Mnu – Miriam Alves

Eu sei:“havia uma faca         atravessando os olhos gordos                em esperançashavia um ferro em brasa         tostando as costas         retendo as lutashavia mordaças pesadas         esparadrapando as ordens               das palavras”Eu sei:    Surgiu …

Mnu – Miriam Alves Leia mais »

O verme – Machado de Assis

Existe uma flor que encerraCeleste orvalho e perfume.Plantou-a em fecunda terraMão benéfica de um nume.Um verme asqueroso e feio,Gerado em lodo mortal,Busca esta flor virginalE vai dormir-lhe no seio.Morde, sangra, rasga e mina,Suga-lhe a vida e o alento;A flor o cálix inclina;As folhas, leva-as o vento.Depois, nem resta o perfumeNos ares da solidão…Esta flor é …

O verme – Machado de Assis Leia mais »

Stella – Machado de Assis

Já raro e mais escassoA noite arrasta o manto,E verte o último prantoPor todo o vasto espaço. Tíbio clarão já coraA tela do horizonte,E já de sobre o monteVem debruçar-se a aurora À muda e torva irmã,Dormida de cansaço,Lá vem tomar o espaçoA virgem da manhã. Uma por uma, vãoAs pálidas estrelas,E vão, e vão …

Stella – Machado de Assis Leia mais »

Visio – Machado de Assis

Eras pálida. E os cabelos,Aéreos, soltos novelos,Sobre as espáduas caíamOs olhos meio-cerradosDe volúpia e de ternuraEntre lágrimas luziamE os braços entrelaçados,Como cingindo a ventura,Ao teu seio me cingiram Depois, naquele delírio,Suave, doce martírioDe pouquíssimos instantesOs teus lábios sequiosos,Frios trêmulos, trocavamOs beijos mais delirantes,E no supremo dos gozosAnte os anjos se casavamNossas almas palpitantesDepois a verdade,A …

Visio – Machado de Assis Leia mais »

Araras versáteis – Hilda Hilst

Araras versáteis. Prato de anêmonas.O efebo passou entre as meninas trêfegas.O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida lacaE vergastou a cona com minúsculo açoite.O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meiosE uma língua de agulha, de fogo, de moluscoEmpapou-se de mel nos refolhos robustos.Ela gritava …

Araras versáteis – Hilda Hilst Leia mais »

Árias pequenas. Para bandolim – Hilda Hilst

Antes que o mundo acabe, Túlio,Deita-te e provaEsse milagre do gostoQue se fez na minha bocaEnquanto o mundo gritaBelicoso. E ao meu ladoTe fazes árabe, me faço israelitaE nos cobrimos de beijosE de flores Antes que o mundo se acabeAntes que acabe em nósNosso desejo. Hilda Hilst Autor: Hilda Hilst

Desejo – Hilda Hilst

Quem és? Perguntei ao desejo. Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada. IPorque há desejo em mim, é tudo cintilância.Antes, o cotidiano era um pensar alturasBuscando Aquele Outro decantadoSurdo à minha humana ladradura.Visgo e suor, pois nunca se faziam.Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivoTomas-me o corpo. E que descanso me dásDepois das lidas. Sonhei penhascosQuando …

Desejo – Hilda Hilst Leia mais »

Tateio – Hilda Hilst

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.O fundo sortilégio da omoplata.Matéria-menina a tua fronte e euMadurez, ausência nos teus clarosGuardados. Ai, ai de mim. Enquanto caminhasEm lúcida altivez, eu já sou o passado.Esta fronte que é minha, prodigiosaDe núpcias e caminhoÉ tão diversa da tua fronte descuidada. Tateio. E a um só tempo vivoE vou …

Tateio – Hilda Hilst Leia mais »

Toma-me – Hilda Hilst

oma-me. A tua boca de linho sobre a minha bocaAustera. Toma-me AGORA, ANTESAntes que a carnadura se desfaça em sangue, antesDa morte, amor, da minha morte, toma-meCrava a tua mão, respira meu sopro, degluteEm cadência minha escura agonia. Tempo do corpo este tempo, da fomeDo de dentro. Corpo se conhecendo, lento,Um sol de diamante alimentando …

Toma-me – Hilda Hilst Leia mais »

Oferta de Aninha (aos moços) – Cora Coralina

Eu sou aquela mulhera quem o tempomuito ensinou.Ensinou a amar a vida.Não desistir da luta.Recomeçar na derrota.Renunciar a palavras e pensamentos negativos.Acreditar nos valores humanos.Ser otimista.Creio numa força imanenteque vai ligando a família humananuma corrente luminosade fraternidade universal.Creio na solidariedade humana.Creio na superação dos errose angústias do presente.Acredito nos moços.Exalto sua confiança,generosidade e idealismo.Creio nos …

Oferta de Aninha (aos moços) – Cora Coralina Leia mais »

Saber viver – Cora Coralina

Não sei…se a vida é curtaou longa demais para nós.Mas sei que nada do que vivemostem sentido,se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser:colo que acolhe,braço que envolve,palavra que conforta,silêncio que respeita,alegria que contagia,lágrima que corre,olhar que sacia,amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo:é o que dá sentido …

Saber viver – Cora Coralina Leia mais »

I-Juca-Pirama – Gonçalves Dias

                      I No meio das tabas de amenos verdores, Cercadas de troncos – cobertos de flores, Alteiam-se os tetos d’altiva nação; São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, Temíveis na guerra, que em densas coortes Assombram das matas a imensa extensão. São rudos, severos, sedentos de glória, Já prélios incitam, já …

I-Juca-Pirama – Gonçalves Dias Leia mais »

O canto do piaga – Gonçalves Dias

           I Ó guerreiros da Taba sagrada,Ó guerreiros da Tribo Tupi,Falam Deuses nos cantos do Piaga,Ó guerreiros, meus cantos ouvi.     Esta noite – era a lua já morta –Anhangá me vedava sonhar;Eis na horrível caverna, que habito,Rouca voz começou-me a chamar.  Abro os olhos, inquieto, medroso,Manitôs! que prodígios que vi!Arde o pau de …

O canto do piaga – Gonçalves Dias Leia mais »

A vida é líquida – Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.Nela despenco: pedra mórula ferida.É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.Como-a no livro da línguaTinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-meNo estreito-poucoDo meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vidaTua unha púmblea, me casaco rossoE perambulamos de coturno pela ruaRubras, góticas, altas de …

A vida é líquida – Hilda Hilst Leia mais »

Amavisse – Hilda Hilst

Como se te perdesse, assim te quero.Como se não te visse (favas douradasSob um amarelo) assim te apreendo bruscoInamovível, e te respiro inteiro Um arco-íris de ar em águas profundas. Como se tudo o mais me permitisses,A mim me fotografo nuns portões de ferroOcres, altos, e eu mesma diluída e mínimaNo dissoluto de toda despedida. …

Amavisse – Hilda Hilst Leia mais »

Estrela perigosa – Clarice Lispector

Estrela perigosaRosto ao ventoMarulho e silêncioleve porcelanatemplo submersotrigo e vinhotristeza de coisa vividaárvores já floresceramo sal trazido pelo ventoconhecimento por encantaçãoesqueleto de idéiasora pro nobisDecompor a luzmistério de estrelaspaixão pela exatidãocaça aos vagalumes.Vagalume é como orvalhoDiálogos que disfarçam conflitos por explodirEla pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é. No obscuro erotismo de vida …

Estrela perigosa – Clarice Lispector Leia mais »

Eu – Clarice Lispector

Sou composta por urgências:minhas alegrias são intensas;minhas tristezas, absolutas.Entupo-me de ausências,Esvazio-me de excessos.Eu não caibo no estreito,eu só vivo nos extremos. Pouco não me serve,médio não me satisfaz,metades nunca foram meu forte! Todos os grandes e pequenos momentos,feitos com amor e com carinho,são pra mim recordações eternas.Palavras até me conquistam temporariamente…Mas atitudes me perdem ou …

Eu – Clarice Lispector Leia mais »

O segredo – Clarice Lispector

Há uma palavra que pertence a um reino que me deixa muda de horror. Não espantes o nosso mundo, não empurres com a palavra incauta o nosso barco para sempre ao mar. Temo que depois da palavra tocada fiquemos puros demais. Que faríamos de nossa vida pura? Deixa o céu à esperança apenas, com os …

O segredo – Clarice Lispector Leia mais »

Passional – Clarice Lispector

Sou um ser totalmente passional.Sou movida pela emoção, pela paixão…. tenho meus desatinos…Detesto coisas mais ou menos.Não sei conviver com pessoas mais ou menos Não sei amar mais ou menos.Não me entrego de forma mais ou menos.Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo… ESQUEÇA-ME!Se você sabe conviver com pessoas intempestivas, …

Passional – Clarice Lispector Leia mais »

Precisão – Clarice Lispector

O que me tranquilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existecom essa exatidãonos é tecnicamente …

Precisão – Clarice Lispector Leia mais »

Timidez – Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve… – mas só esse eu não farei. Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes… – palavra que não direi. Para que tu me adivinhes, entre …

Timidez – Cecília Meireles Leia mais »

A lucidez perigosa – Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grandeque me anula como pessoa atual e comum:é uma lucidez vazia, como explicar?assim como um cálculo matemático perfeitodo qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizervendo claramente o vazio.E nem entendo aquilo que entendo:pois estou infinitamente maior que eu mesma,e não me alcanço.Além do que:que faço dessa lucidez?Sei …

A lucidez perigosa – Clarice Lispector Leia mais »

A perfeição – Clarice Lispector

O que me tranqüilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existecom essa exatidãonos é tecnicamente …

A perfeição – Clarice Lispector Leia mais »

Volúpia imortal – Augusto dos Anjos

Cuidas que o genesíaco prazer,Fome do átomo e eurítmico transporteDe todas as moléculas, aborteNa hora em que a nossa carne apodrecer?! Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,Para a perpetuação da Espécie forte,Tragicamente, ainda depois da morte,Dentro dos ossos, continua a arder! Surdos destarte a apóstrofes e brados,Os nossos esqueletos descamados,Em convulsivas contorções …

Volúpia imortal – Augusto dos Anjos Leia mais »

Alucinação a beira mar – Augusto dos Anjos

Um medo de morrer meus pés esfriava.Noite alta. Ante o telúrico recorte,Na diuturna discórdia, a equórea coorteAtordoadoramente ribombava! Eu, ególatra céptico, cismavaEm meu destino!… O vento estava forteE aquela matemática da MorteCom os seus números negros me assombrava! Mas a alga usufructuária dos oceanosE os malacopterígios subraquianosQue um castigo de espécie emudeceu, No eterno horror …

Alucinação a beira mar – Augusto dos Anjos Leia mais »

Lenço dela – Álvares de Azevedo

Quando, a primeira vez, da minha terraDeixei as noites de amoroso encanto,A minha doce amante suspirandoVolveu-me os olhos úmidos de pranto. Um romance cantou de despedida,Mas a saudade amortecia o canto!Lágrimas enxugou nos olhos belos…E deu-me o lenço que molhava o pranto. Quantos anos, contudo, já passaram!Não olvido porém amor tão santo!Guardo ainda num cofre …

Lenço dela – Álvares de Azevedo Leia mais »

Vagabundo – Álvares de Azevedo

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,Fumando meu cigarro vaporoso;Nas noites de verão namoro estrelas;Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;Mas tenho na viola uma riqueza:Canto à lua de noite serenatas,E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raivaNas cavernas do …

Vagabundo – Álvares de Azevedo Leia mais »

Morena – Álvares de Azevedo

Ó Teresa, um outro beijo! e abandona-mea meus sonhos e a meus suaves delírios.JACOPO ORTIS É loucura, meu anjo, é loucuraOs amores por anjos… bem sei!Foram sonhos, foi louca ternuraEsse amor que a teus pés derramei! Quando a fronte requeima e delira,Quando o lábio desbota de amor,Quando as cordas rebentam na liraQue palpita no seio …

Morena – Álvares de Azevedo Leia mais »

Malva maça – Álvares de Azevedo

De teus seios tão mimososQuem gozasse o talismã!Que ali deitasse a fronteCheia de amoroso afã!E quem nele respirasseA tua malva-maçã! Dá-me essa folha cheirosaQue treme no seio teu!Dá-me a folha… hei de beijá-laSedenta no lábio meu!Não vês que o calor do seioTua malva emurcheceu… (…) Descansar nesses teus braçosFora angélica ventura:Fora morrer — nos teus …

Malva maça – Álvares de Azevedo Leia mais »

A caridade – Augusto dos Anjos

No universo a caridadeEm contraste ao vicio infandoÉ como um astro brilhandoSobre a dor da humanidade! Nos mais sombrios horroresPor entre a mágoa nefastaA caridade se arrastaToda coberta de flores! Semeadora de carinhosEla abre todas as portasE no horror das horas mortasVem beijar os pobrezinhos. Torna as tormentas mais calmasOuve o soluço do mundoE dentro …

A caridade – Augusto dos Anjos Leia mais »

Poema da necessidade – Carlos Drummond de Andrade

É preciso casar João,é preciso suportar Antônio,é preciso odiar Melquíadesé preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país,é preciso crer em Deus,é preciso pagar as dívidas,é preciso comprar um rádio,é preciso esquecer fulana. É preciso estudar volapuque,é preciso estar sempre bêbado,é preciso ler Baudelaire,é preciso colher as floresde que rezam velhos autores. É preciso …

Poema da necessidade – Carlos Drummond de Andrade Leia mais »

Tarde de maio – Carlos Drummond de Andrade

Como esses primitivos que carregam por toda parte omaxilar inferior de seus mortos,assim te levo comigo, tarde de maio,quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,surdamente lavrava sob meus traços cômicos,e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantese condenadas, no solo ardente, porções de minh’almanunca antes nem …

Tarde de maio – Carlos Drummond de Andrade Leia mais »

Despedida – Álvares de Azevedo

Se entrares, ó meu anjo, alguma vezNa solidão onde eu sonhava em ti,Ah! vota uma saudade aos belos diasQue a teus joelhos pálido vivi! Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando…Sinto o peito doer na despedida…Sem ti o mundo é um deserto escuroE tu és minha vida… Só por teus olhos eu viver podiaE por teu …

Despedida – Álvares de Azevedo Leia mais »

Eutanásia – Álvares de Azevedo

Ergue-te daí, velho! ergue essa fronte onde o passado afundou suas rugas como o vendaval no Oceano, onde a morte assombrou sua palidez como na face do cadáver, onde o simoun do tempo ressicou os anéis louros do mancebo nas cãs alvacentas de ancião?Por que tão lívido, ó monge taciturno, debruças a cabeça macilenta no …

Eutanásia – Álvares de Azevedo Leia mais »

Fantasia – Álvares de Azevedo

Quanti dolci pensier, quanto disio!DANTE C’est alors que ma voixMurmure un nom tout bas… c’est alors que je voisM’apparaître à demi, jeune, voluptueuse,Sur ma couche penchée une femme amoureuse!………………………..Oh! toi que j’ai rêvée,Femme à mes longs baisers si souvent enlevée,Ne viendras-tu jamais?………………………..CH. DOVALLE À noite sonhei contigo…E o sonho cruel maldigoQue me deu tanta ventura.Uma …

Fantasia – Álvares de Azevedo Leia mais »

Fragmento de um canto em cordas de bronze – Álvares de Azevedo

Deixai que o pranto esse palor me queime,Deixai que as fibras que estalaram doresDesse maldito coração me vibremA canção dos meus últimos amores! Da delirante embriaguez de bardoSonhos em que afoguei o ardor da vida,Ardente orvalhos de febris pranteios,Que lucro à alma descrida? Deixai que chore pois. — Nem loucas venhamConsolações a importunar-me as dores:Quero …

Fragmento de um canto em cordas de bronze – Álvares de Azevedo Leia mais »

Idéias íntimas – Álvares de Azevedo

FRAGMENTO.La chaise ou je m’assieds, la natte ou je me couche,La table ou je t’écris, ……………………….…………………………………………….Mes gros souliers ferrés, mon bâton, mon chapeau,Mes livres pêle-mêle entassés sur leur planche……………………………………………..De cet espace étroit sont tout l’ameublement.LAMARTINE. Jocelyn. I Ossian o bardo é triste como a sombraQue seus cantos povoa. O LamartineE’ monótono e belo como a …

Idéias íntimas – Álvares de Azevedo Leia mais »

Sair da versão mobile