Autor: Álvares de Azevedo
De teus seios tão mimosos
Quem gozasse o talismã!
Que ali deitasse a fronte
Cheia de amoroso afã!
E quem nele respirasse
A tua malva-maçã!
Dá-me essa folha cheirosa
Que treme no seio teu!
Dá-me a folha… hei de beijá-la
Sedenta no lábio meu!
Não vês que o calor do seio
Tua malva emurcheceu…
(…)
Descansar nesses teus braços
Fora angélica ventura:
Fora morrer — nos teus lábios
Aspirar tua alma pura!
Fora ser Deus dar-te um beijo
Na divina formosura!
Mas o que peço, donzela,
Meus amores, não é tanto!
Basta-me a flor do seio
Para que eu viva no encanto,
E em noites enamoradas
Eu verta amoroso pranto!
Oh! virgem dos meus amores,
Dá-me essa folha singela!
Quero sentir teu perfume
Nos doces aromas dela…
E nessa malva-maçã
Sonhar teu seio, donzela!
Uma folha assim perdida
De um seio virgem no afã
Acorda ignotas doçuras
Com divino talismã!
Dá-me do seio esta folha
— A tua malva-maçã!
Quero apertá-la a meu peito
E beijá-la com ternura…
Dormir com ela nos lábios
Desse aroma na frescura…
Beijando-a sonhar contigo
E desmaiar de ventura!
A folha que tens no seio
De joelho pedirei…
Se posso viver sem ela
Não o creio!… oh! eu não sei!…
Dá-ma pelo amor de Deus,
Que sem ela morrerei!…
Pelas estrelas da noite,
Pelas brisas da manhã,
Por teus amores mais puros,
Pelo amor de tua irmã,
Dá-me essa folha cheirosa,
— A tua malva-maçã!