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Tema para Juliana

O amor é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

Eu só queria ter um bem
Faz de conta que eu já tenho alguém
E que esse alguém também me quer

O lugar é meu
O coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

E pouco importa
As pedras do caminho e a felicidade
Se a minha sorte, a dura caminhada é a realidade

Se o amor é meu
Se o coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

E pouco importa
As pedras do caminho e a felicidade
Se a minha sorte, a dura caminhada é a realidade

Se o amor é meu
Se o coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

O amor é meu
O coração é meu
E aqui estou pro que der e vier

O lugar é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

O amor é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

O amor é meu
O coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

O lugar é meu

Coração de violeiro

Naquela tapera velha que o tempo já destroçou
Morou Zé Dunga, um pretinho, valente trabalhador
Foi o maior violeiro que Deus no mundo botou
Sua viola parecia um passarinho cantador

Trabalhava o dia inteiro, feliz sem se lastimar
Mas quando a Lua formosa no céu pegava a briar
Toda gente arrudiava pra ver o preto cantar
Sua viola de pinho fazia as pedra chorar

Acontece que a Carolina, cabocla, esprito de cão
Bonita como a sereia, mas que muié tentação
Pra judiar do pretinho, fingiu lhe ter afeição
Querendo, que nem criança, brincar com seu coração

Coração de violeiro não é como outro qualquer
É frágil que nem as pétalas de um mimoso mal-me-quer
Que cai com o vento das asas do beija-flor do Tié
Perde a vida quando abelha vem pra lhe roubar o mel

Por isso, o pobre Zé Dunga, magoado pela traição
Não podendo mais guentar no peito a grande paixão
Agarrado na viola e debruçado no chão
Foi encontrado com um punhal cravado no coração

Amor de violeiro

No braço de uma viola
Eu faço meu cativeiro
Eu choro, a dor me consola
E doa a quem doa, parceiro

Eu vim de um mundo levado
Misturado por inteiro
Fez o amor mais procurado
Que moeda, que dinheiro

Vejo a vela que se apaga
Vejo a luz, vejo o cruzeiro
Vejo a dor, vejo a vontade
Do amor de um violeiro

No braço de uma viola
Verdade seja bem-vinda
Que acabe o choro, que seja
O amor a coisa mais linda

Eu sou de agora e de sempre
Cantador de mundo afora
Padeço se estou contente
Me dói a dor de quem chora

Por isso eu sou violeiro
E num braço de uma viola
Quem quiser me abrace forte
Ou eu abraço primeiro

Sinto a vida, sinto a morte
Do amor de um violeiro
Salve a vida, salve a morte
Salve a hora de eu cantar

Deus me deu tamanha sorte
Não sair do meu lugar
No braço de uma viola
Eu faço meu cativeiro

Crônica do tempo

Pra mim, o mundo é um relógio
E, e o dinheiro é a mola
Que controla os relógios dessa vida

Se o senhor tiver tempo pra ouvir a minha história
Eu começo lhe contando
Que toda a minha vida foi um grande desencontro
Entre o tempo do relógio e as oportunidades

Deus, nosso Senhor, que perdoe a minha sinceridade
Como um segredo
Mas inté hoje não entendi
Por que é que pra tudo na minha vida
Eu sempre cheguei muito tarde ou muito cedo

Pra começar, nasci fora do tempo, sou de sete meses
E se foi cedo demais pra dar dores e tristezas
À minha mãe, com essa minha pressa de nascer
Foi tarde demais pra dar alegria ao meu pai, coitado
Ele morreu antes de me conhecer
E aí começa o meu rosário com o tempo do relógio

Já na idade de ir pra escola foi um tormento
Minha mãe, coitada, corria pra lá e pra cá
Comigo de mão dada
E sempre recebendo o mesmo desengano, coitada
Não pode, dona, só pro ano, é cedo ainda
Ou então, tarde demais, dona, as matrícula já tão tudo fechada

Com o tempo, eu fui crescendo
Já mocinho, procurava emprego
Porta de oficina, serviço diferente, coisa de pequena paga
E aquelas palavras do tempo me seguindo
Sempre acontecendo comigo como um relógio do destino
Olha, moço, não tem vaga, se você tivesse sido esperto
Agora o quadro de operários já tá completo

Eu me lembro que inté pro amor eu me atrasei
Quando pra aquela cabocla que eu gostava, me declarei
Ela falou pra mim: Você chegou tarde demais
Já dei meu coração pra outro rapaz

Mesmo assim, um dia me casei
E desse casamento nasceu
Um menino, bonito, que só vendo
Foi a única coisa que me chegou na hora certa
Porque ele foi a porta aberta pro meu riso
Riso que eu já nem sabia mais como era o jeito

Dei a ele o nome de Vitório, ia ser meu grande vingador
Pra me vingar do tempo, pra me vingar das hora dos relógio
E inté dos segundo, e de tudo
Me vingar dos donos desse relógio que é o mundo
Vitório, o meu grande vingador

Vitório foi crescendo como pode
Logo já tinha cinco ano, e a vida, o tempo
O tempo como um inimigo traidor sempre me espiando
Um dia, Vitório adoentou-se
Como acontece com qualquer criança
E eu trabalhava num faz de tudo ao mesmo tempo
Pra nenhum remédio lhe fartá, eu tinha esperança

Num dia só fui camelô, bilheteiro
Entregador de encomenda, jardineiro, tudo
E chegava em casa moído e fedorento
De suor pra lhe abraçar e lhe beijar
E o coitadinho encuído, magrinho, dava dó, tava sofrendo

Então o doutor trouxe ele pra vê ele
É, homem bão, atencioso
Que logo depois de examinar falou assim
Oh, corre, vá depressa comprar essa receita
Seu filho não tá bão, quem sabe se com isso ele se ajeita
E chacoalhando a cabeça, foi-se embora
Quem sabe aconselhando uma promessa

Como eu não tinha dinheiro pro remédio
Dei de garra num velho despertador lá de casa
A única coisa de valor
Pensando que podia vender ele num brechó
E saí correndo, bem correndo

Mas inté hoje não entendi por que ouvi uns grito na rua
Pega ladrão, pega ladrão
E gente amontoando pro meu lado
Quem sabe imaginando que eu era algum malfeitor
E foi soco, bordoada, pontapé
E quando eu pude perceber
Já tava de pé na frente de um delegado

Doutor, meu filho tá doente, tá morrendo
Por favor, eu tenho aqui uma receita, ó
E supliquei, chorando
O tal delegado, então, acreditando, falou pro guarda
Pega o carro da rádio patrulha, leva o moço
E me entregando um toco de dinheiro do seu bolso, arrematou
Corre, corre, compra o tal remédio pro seu filho na farmácia

Eu fui embora correndo, correndo
Correndo, correndo comprei o remédio
Voltei feito um raio, feito um raio lá pra casa
Mas como sempre na vida, eu corri contra o tempo
Esse covarde
Quando abracei meu filho, é que eu vi
Mais uma vez, eu tinha chegado tarde

Lá vai minha garça branca

Lá vai minha garça branca
Vai voando, vai voando
Vai levando minha saudade
Pra quem tá morando em Piedade

Garça branca
Tu és minha mensageira
E pela vez primeira
Eu te peço este favor

Diz a ela
Que eu vivo tão sozinho
Que ela volte ao nosso ninho
Dando alívio a minha dor

Lá vai minha garça branca
Vai voando, vai voando
Vai levando minha saudade
Pra quem tá morando em Piedade

Ventania (De Como Um Homem Perdeu Seu Cavalo e Continuou Andando)

Meu senhor, minha senhora
Vou falar com precisão
Não me negue nessa hora
Seu calor, sua atenção
A canção que eu trago agora
Fala de toda a nação
Andei pelo mundo afora
Querendo tanto encontrar
Um lugar prá ser contente
Onde eu pudesse mudar
Mas a vida não mudava
Mudando só de lugar

(falado)
“que a morte que eu vi no campo
Encontrei também no mar
Boiadeiro, jangadeiro iguais
No mesmo esperar
Que um dia se mude a vida
Eem tudo e em todo lugar”

Prá alegrar eu tenho a viola
Prá cantar, minha intenção
Prá esperar tenho a certeza
Que guardo no coração
Prá chegar tem tanta estrada
Prá correr meu caminhão
Já soltei o meu cavalo
Já deixei a plantação
Eu já fui até soldado
Hoje muito mais amado
Sou chofer de caminhão
Já gastei muita esperança
Já segui muita ilusão
Já chorei como criança
Atrás de uma procissão
Mas já fiz correr valente
Quando tive precisão
Amor prá moça bonita
Repeito prá contramão
Saudade vira poeira
Na estrada e no coração
Riso franco, peito aberto
Sou chofer de caminhão
Se você não vive certo
Se não ouve o coração
Não se chegue muito perto
Não perdôo ingratidão.
Riso franco, peito aberto
Vou cantar minha canção
De setembro a fevereiro
O que vir não vou negar
Rodando país inteiro,
Norte, sul, sertão e mar
Aprendi ser tão ligeiro
Que ninguém vai segurar
Fui vaqueiro e jangadeiro
No campo e no litoral
Cantador serei primeiro
Cantando não por dinheiro
Por justo anseio geral
Cantador serei primeiro
Cantando não por dinheiro
Por justo anseio geral.
Cantando por justo anseio geral

Violeiro triste

Canta, canta bentivi
Pra mim ouvir
Canta, canta sabiá
Pra me consolá
Que a tristeza e a sodade
Tão me fazendo chorar.

Tem uma viola
Que nas noite de luar
Quando pego a pontear
Chora inté os passarinhos
E quando a lua, lá no céu
Me vê sozinho
Põe a sua luz prateada
Clareando o meu ranchinho.

Canta, canta bentivi
Pra mim ouvir
Canta, canta sabiá
Pra me consolá
Que a tristeza e a sodade
Tão me fazendo chorar.

Aqui na mata
Tenho tudo que eu quero
Tenho o canto do bodero
Tenho o céu e a natureza
E quando a lua vem saindo
Que beleza
Só me falta um amor
Pra matar minha tristeza.

Provérbios

Muita verdade se esconde
Entre o céu e a terra
Cão que ladra não morde
Bom cabrito não berra
Minha terra tem curíntias
Onde canta o curió
Não tem nada mais gostoso
Que o pastel da minha vó
Pergunte ao velho colombo
Que também usava franja
Se galinha velha é boa
Ou é melhor sua canja
Muito trabalho ele teve
Você sabe como é
Botar um ovo é facil
Difícil é botar ele em pé
Tire o cavalo da chuva
Que depois o sol esquenta
Para curar um mau feito
Use chá e água benta
Mosca com boca fechada
E rato que roi a roupa
Sexta-feira dia 13
Panela velha dá sopa
Um gato que é escaldado
De água fria tem um medo
Ensinar o pulo do gato
Nem mais tarde e nem mais cedo
Teimoso como uma mula
É o canguru saltador
Aquilo que não tem cura
Só pode ser mal de amor
Não olhe os dentes do bicho
Se for um cavalo dado
Falar mal, bater no peito
Isso também é pecado
Pão de ló não deve dar
Pra quem dentes não tiver
Não discuta futebol
E nem bata em sua mulher
O macaco no seu galho
É preguiça o dia inteiro
Barata que é esperta
Não cruza o galinheiro
Periquito leva a fama
Papagaio come milho
O bolo não quer galocha
E o trem só anda no trilho
A galinha do vizinho
Fez isso a final de contas
Bota ovo amarelinho
Minhas quebradas são contas

Adeus meu pai

Adeus meu pai, adeus minha mãe
Adeus pessoal, estou indo embora
Pro mundo afora, dentro de um bornal
Levo um restinho de alegria
Um bocadinho de sal, que cai dos olhos
Que dentro deles, como uma saudade mortal.

Eu deixei minha família
De um jeito que tanto faz
Lá no sertão de goiás,
Boiadas marcadas a ferro
Com letras de outro patrão
Quando atravessa o rio grande
Não volta nunca mais não.

Adeus meu pai, etc

Eu deixei minha família, etc

Flor do cafezal

Meu cafezal em flor!
Quanta flor, meu cafezal!
Meu cafezal em flor!
Quanta flor, meu cafezal!
Ai, menina, meu amor!
Minha flor do cafezal!
Ai, menina, meu amor!
Branca flor do cafezal!

Era a florada
Lindo véu de branca renda
Se estendeu sobre a fazenda
Qual um manto nupcial!
E de mâos dadas
Fomos juntos pela estrada
Toda branca e perfumada
Pela flor do cafezal.

Meu cafezal em flor…

Passa-se a noite
Vem o sol ardente e bruto
Morre a flor e nasce o fruto
No lugar de cada flor;
Passa-se o tempo
Em que a vida é todo encanto
Morre o amor e nasce o pranto
Fruto amargo de uma dor.

Meu cafezal em flor…

Pitoco

Pitoco era um cachorrinho
Qu’eu ganhei do meu padrinho
Numa noite de natá-
Era esperto, muito ativo,
Tinha dois zóio bem vivo,
Sartando pra-cá, pra-lá.

Bem cedo me levantava.
Pitoco que me acordava
C’os latido, sem pará,
Me fazia tanta festa,
Lambia na minha testa,
Quiria inté me bejá.

Nos dumingo, bem cedinho,
Pegava meu bodoguinho,
Os pelote no borná.
Pitoco corria na frente,
Dano sarto de contente,
Rolano nos capinzá.

Aquele devertimento
De grande contentamento
Ia inté no sor entrá.

Era dumingo de mêis
E dia de santa ineis: —
Tinha festa no arraiá.
Minha mãe, as criançada
Tudo de rôpa trocada,
Na capela foi rezá;
Fugino por ôtra estrada
C’o pitoco fui caçá.

Hoje, dói minha concência,
Pra morde a desobidiência.
Pitoco latia… latia,
Mostrano tanta alegria,
Sem nada podê cismá;
I eu tacava um pelote,
Fazeno virá cambóte,
Um pobre cara-cará.

Pitoco me acumpanhava;
De veis in quano sentava
E quiria adivinhá…

De repente fiquei fria
Gritei pr’a virge maria,
Que pudia me sarvá.
Uma urutu das dorada,
Num gaio dipindurada
Tava pronta pra sartá!

Pitoco ficô arrepiado,
Ficô c’o zóio vidrado
E deu um sarto mortá: —
Se cumbateu c’a serpente,
Repicô tudo de dente,
Mais num pôde se escapá.

Pitoco morreu latindo,
Os zóio vivo, tão lindo,
Foi fechano devagá;
Parece qu’inté se ria
Da minha patifaria
De num podê le sarvá.

E neste mundo tão oco,
Unde os amigo são pôco,
Despois que morreu pitoco
Nunca mais tive outro iguá!

Futebol da bicharada

Lá no arraiá das coruja formaro dois cumbinado,
O time do quebra-dedo, e o time do pé-rapado.
A bicharada reuniu, formaro logo seu quadro,
Nóis fumo vê esse jogo, por sê um jogo faladu.

A bicharada pediu pro jogo sê irradiadu,
Na estação du lugá, PRJ-Bichadu,
O “ispriqui” era o jumento, rapaizinho apreparadu,
As quinze hora da tarde o jogo foi cumeçado.

O time do quebra-dedo tinha fama de campeão,
Sapo jogava no gol, béqui de espera o leão,
Cavalo o béqui de avanço, o arco esquerdo preá,
Veado de center-arco, arco direito o gambá.

A linha tava um perigo, na meia jogava o rato,
No centro jogava o tigre, na otra meia o macaco,
Na esquerda jogava o bode, direita jogava o gato,
E pra atuá di juiz, foi convidado o lagarto.

(Boa tarde senhoras e senhores. Ai que bicharada gorda, barbaridade…)

O tigre deu a saída, coelho foi pra tirá,
O tigre passô pru bode, mais quando ele foi chutá,
Puxaro a barba do bode, o bode foi recramá,
Juiz falô que num viu, cachorro já quis brigá.

A cabra muié do bode, xingô o juiz de ladrão,
Torcida do quebra-dedo fizéro recramação,
A capivara e a cotia chegaro a xingá o leão,
Preguiça dava risada, de vê o sapo de carção.

Largato que era o juiz, na hora dele apitá,
Tinha engulido o apito, num pôde o jogo pará,
A torcida entrô no campo, de pau, de faca e punhá,
O pau cumeu direitinho, mataro trêis no lugá.

O bode ficô ferido, mataro o béqui leão,
Rasgaro a saia da cobra, cavalo quebrô a mão,
O sapo saiu correndo, jogou-se no riberão,
Por que na hora da briga ele ficô sem carção.

O jogo num terminô, pur isso ficô empatado,
Agora nóis vai falá, do center-arco veado.
Nervoso ele dizia, entre suspiros e ais:

Ai meu Deus do céu qui jogo bruto, meu Deus, que estupidez. Assim num jogo, num jogo, num jogo mais…

Seresta

Meu violão em seresta à luz de um luar
A natureza em festa, tudo parece cantar
Só eu tristonho na rua, sozinho, sem ninguém

Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem
Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem

Porque não vens, não vens escutar o teu cantor a cantar
Esta canção que eu mesmo fiz por ser assim infeliz
Porque não vens não vens escutar o teu cantor a cantar
Esta canção que eu mesmo fiz por ser assim infeliz

Meu violão em seresta à luz de um luar
A natureza em festa, tudo parece cantar
Só eu tristonho na rua, sozinho, sem ninguém

Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem
Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem

Acorda Maria Bonita

Acorda Maria Bonita
Levanta vai fazer o café
Que o dia já vem raiando
E a polícia já está de pé

Se eu soubesse que chorando
Empato a tua viagem
Meus olhos eram dois rios
Que não te davam passagem

Cabelos pretos anelados
Olhos castanhos delicados
Quem não ama a cor morena
Morre cego e não vê nada

Eu, a viola e Deus

Eu vim-me embora
E na hora cantou um passarinho
Porque eu vim sozinho
Eu, a viola e Deus

Vim parando assustado, espantado
Com as pedras do caminho
Cheguei bem cedinho
A viola, eu e Deus

Esperando encontrar o amor
Que é das velhas toadas canções
Feito as modas da gente cantar
Nas quebradas dos grandes sertões

A poeira do velho estradão
Deixou marcas no meu coração
E nas palmas da mão e do pé
Os catiras de uma mulher, ei…

Essa hora da gente ir-se embora é doída
Como é dolorida,
Eu, a viola e Deus

Eu vou-me embora
E na hora vai cantar um passarinho
Porque eu vou sozinho
Eu, a viola e Deus

Vou parando assustado, espantado
Com as pedras do caminho
Vou chegar cedinho
A viola, eu e Deus

Vide vida marvada

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê

Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vaqueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-lis