Despedida – Álvares de Azevedo

Autor: Álvares de Azevedo


Se entrares, ó meu anjo, alguma vez
Na solidão onde eu sonhava em ti,
Ah! vota uma saudade aos belos dias
Que a teus joelhos pálido vivi!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando…
Sinto o peito doer na despedida…
Sem ti o mundo é um deserto escuro
E tu és minha vida…

Só por teus olhos eu viver podia
E por teu coração amar e crer…
Em teus braços minh’alma unir à tua
E em teu seio morrer!

Mas se o fado me afasta da ventura,
Levo no coração a tua imagem…
De noite mandarei-te os meus suspiros
No murmúrio da aragem!

Quando a noite vier saudosa e pura,
Contempla a estrela do pastor nos céus,
Quando a ela eu volver o olhar em pranto…
Verei os olhos teus!

Mas antes de partir, antes que a vida,
Se afogue numa lágrima de dor,
Consente que em teus lábios num só beijo
Eu suspire de amor!

Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Tua boca beijar… eu o primeiro!
A ventura negou-me… mesmo até
O beijo derradeiro!

Só contigo eu podia ser ditoso,
Em teus olhos sentir os lábios meus!
Eu morro de ciúme e de saudade…
Adeus, meu anjo, adeus!

Álvares de Azevedo

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