Autor: Maria Firmina dos Reis
Eu a vi – gentil mimosa, Os lábios da cor da rosa, A voz um hino de amor! Eu a vi, lânguida, e bela: E ele a rever-se nela: Ele colibri – ela flor. Tinha a face reclinada Sobre a débil mão nevada: Era a flor à beira-rio. A voz meiga, a voz fluente, Era um arrulo cadente, Era um vago murmúrio. No langor dos olhos dela Havia expressão tão bela, Tão maga, tão sedutora, Que eu mesmo julguei-a anjo, Eloá, fada, ou arcanjo, Ou nuvem núncia d’aurora. Eu vi – o seio lhe arfava: E ela… ela cismava, Cismava no que lhe ouvia; Não sei que frase era aquela: Só ele falava a ela, Só ela a frase entendia. Eu tive tantos ciúmes!… Teria dos próprios numes, Se lhe falassem de amor. Porque, querê-la – só eu. Mas ela! – a outra ela deu meigo riso encantador… Ela esqueceu-se de mim Por ele… por ele, enfim. |
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 207-208 ]
Maria Firmina dos Reis