Opereta do Moribundo

I Funeral de rico

Rico quando vai
Desta vida, sempre vai de mau humor
Ir deitado de casaca é um terror
Abafado e morto de calor
Aturar a marcha fúnebre

Só de imaginar
Que os amigos vão deitar nos seus sofás
Vão tomar os seus vermutes, os seus cristais
E as suas mulheres principais
Já na beira do seu túmulo

– Gente, quanta gente
Que excelente funeral
– Ficas bem de preto
E o cabelo ao natural
– Dizem que o eminente
Triplicou seu capital
– Vai sobrar para gente
Que nem viu ele vivo
– Tem até donativo
Para as obras do hospital

II Enterro de pobre

Pobre quando vai
Sempre dizem que ele vai para uma melhor
Vai olhando aquela gente ao seu redor
Todos com poeira e com suor
Ele achando a coisa ótima

Só de imaginar
Que os amigos vão pagar o seu caixão
O barbeiro, o aluguel do rabecão
O vinho do padre, o sacristão
E o sermão na igreja gótica
– Gente, não tem gente
Tem parente pobre só
– Esse teu modelo
Mais parece um dominó
– Nem o indigente
Quis herdar o seu palitó
– Vai sobrar para a gente
Que nem viu ele vivo
– Tem até um passivo
No caderno do Jacó


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