Com Açúcar, Com Afeto

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer? Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.


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Álbum:
Ano:
Estilo Musical: MPB

5 comentários em “Com Açúcar, Com Afeto”

  1. Sérgio Soeiro

    Atendendo o pedido da Isabel:

    “Com açúcar, com afeto” é uma trova conhecida no jargão poético como “Cantiga de Amigo”. Basicamente é um texto no qual um poeta deseja falar por intermédio da mulher.
    Este tipo de poesia se caracteriza por 3 vertentes de intenção do poeta: 1) Quando ele se descreve pela mulher; 2) Quando ele sonha pela mulher e; 3) Quando se assume mulher.
    “Com açúcar, Com afeto” foi a primeira empreitada de Chico em mergulhar no universo feminino, já que no seguimento de sua obra existem outras de mesma conotação (Olhos nos olhos, Mulheres de Atenas, Etc), e neste texto ele já utiliza pequenos traços de ironia, que viria explorar ao máximo em Mulheres de Atenas.
    Chico era fã ardoroso da bossa nova e foi criado no meio de poetas e músicos deste segmento. Como os poetas da bossa nova gostavam de alternar as formas como se referiam às musas, ou mesmo, ao cotidiano social que os cercava, fica claro que “Com Açúcar, Com Afeto” é uma Cantiga de Amigo, na qual Chico procurou colocar na boca da mulher as impressões que ele tinha do seu próprio comportamento cotidiano, numa autocrítica espelhada no comportamento da companheira.
    A ironia fica evidente quando se percebe que mesmo resignada com o descaso do marido, a personagem tem perfeita noção daquelas mentiras ao utilizar os termos: Qual o quê, Sei lá o quê, Comemorar o quê?
    O texto também faz uma autocrítica ao comportamento masculino quando o machista transfere para a companheira toda a sorte de tarefas, que se aparentam superficiais, enquanto “vai à caça” argumentando “ir à luta”, com a infantil idéia de que ela o estará esperando sem questionamentos. Esta ilusão serve para mostrar o quanto este tipo de postura é imbecil e inútil, pois, na verdade, ao perdoá-lo e recebê-lo de braços abertos, fatalmente a mulher irá torná-lo ainda mais dependente dela.
    Este frágil procedimento na verdade é uma grande arma: O jeito da alma feminina de perdoar mais.

    Um abraço!

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