Recreio das meninas II

Eu fui de bengala, tossindo, com febre, lá no Renascença,
porque em toda a vida o samba foi cura pra minha doença.
Sentei no meu canto, uma voz perguntou: “O que qui vai querer?”
Perdi a cabeça e falei pra menina:
– Eu queria você…

Um riso de aurora acolheu meu ocaso e a pressão subiu.
Peguei meu remédio mas as mãos tremiam e o vidro caiu.
Chutei a caixinha, pedi caipirinha, pernil e café.
Receita infalível pro meu coração é um corpo moreno de mulher.

Eu vou com ela ao Capela, ao Siri e traço moqueca, carré, javali…
Digo sempre, bebendo com o Jorge:
– Foi no Renascença que eu renasci.

Aos que me gozam no bar,
dizendo que eu sou
o Recreio das Meninas,
respondo:
– Andorinhas fazem ninho nas ruínas.


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