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Viagem passageira

O sonho é ter tudo resolvido
Com o passar do tempo pela vida
A casca da ferida se formando
A cicatriz na pele do futuro
A pele do futuro finalmente
Imune ao corte, à lâmina do tempo
O tempo finalmente estilhaçado
E a poeira sumindo no horizonte

O sonho é ter tudo dissolvido
O corpo, a mente, a fonte da lembrança
Enfim, ponto final na esperança
Somente as ondas soltas no oceano
Não mais o esperma e o óvulo da morte
Não mais a incerteza do binário
Um tempo liso sem o fuso horário

Não mais um sim, um não, um sul, um norte
O sonho dessa canção passageira
Mochila da viagem passageira
Passagem nessa vida passageira
Para uma vida ainda passageira

Amor até o fim

Amor não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar

Amor não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar

O amor é como a rosa num jardim
A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater
Pra crescer, pra crescer

A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar

Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem, não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem que se apagar

Amor não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar

Amor não tem que se acabar
Porque eu quero e sei que vou ficar
Até o fim eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar

O amor é como a rosa num jardim
A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater
Pra crescer, pra crescer

A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar

Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem, não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem, não tem que se apagar

Até o fim
Até o fim
Até o fim
Até o fim eu sei que vou te amar

O seu amor

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser

O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é

Esotérico

Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nada
Que morre afogada por mim
Mistérios sempre há de pintar por aí

Barato total

Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá

Quando a gente tá contente
Tanto faz o quente
Tanto faz o frio
Tanto faz
Que eu me esqueça do meu compromisso
Com isso e aquilo
Que aconteceu dez minutos atrás

Dez minutos atrás de uma ideia já deu
Pra uma teia de aranha crescer e prender
Sua vida na cadeia do pensamento
Que de um momento pro outro começa a doer

Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá

Quando a gente tá contente
Gente é gente
Gato é gato
Barata pode ser um barato total
Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal

Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente
A gente quer
Nem pensar a gente quer
A gente quer, a gente quer
A gente quer é viver

Eu vim da Bahia

Eu vim, eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem

Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver

Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
Do outro lado, o Senhor do Bonfim

Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar

Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia
Mas algum dia eu volto pra lá

Eu vim, eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem

Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver

Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
Do outro lado, o Senhor do Bonfim

Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar

Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia
Mas algum dia eu volto pra lá

Mas algum dia eu volto pra lá
Mas algum dia eu volto pra lá
Mas algum dia eu volto pra lá…

Minha senhora

Minha senhora
Onde é que você mora?
Em que parte desse mundo?
Em que cidade escondida?
Dizei-me, que sem demora
Lá também quero morar

Onde fica essa morada?
Em que reino, qual parada?
Dizei-me por qual estrada
É que eu devo caminhar

Minha senhora
Onde é que você mora?
Venho da beira da praia
Tantas prendas que eu lhe trago
Pulseira, sandália e saia
Sem saber como entregar

Quero chegar sem demora
Nesta cidade encantada
Dizei-me logo, senhora
Que essa chegança me agrada

Quero chegar sem demora
Nesta cidade encantada
Dizei-me logo, senhora
Que essa chegança me agrada

Minha senhora
Onde é que você mora?
Em que parte desse mundo?
Em que cidade escondida?
Dizei-me, que sem demora
Lá também quero morar

Onde fica essa morada?
Em que reino, qual parada?
Dizei-me por qual estrada
É que eu devo caminhar

Minha senhora
Onde é que você mora?
Venho da beira da praia
Tantas prendas que eu lhe trago
Pulseira, sandália e saia
Sem saber como entregar

Quero chegar sem demora
Nesta cidade encantada
Dizei-me logo, senhora
Que essa chegança me agrada

Quero chegar sem demora
Nesta cidade encantada
Dizei-me logo, senhora
Que essa chegança me agrada

Dizei-me logo, senhora
Que essa chegança me agrada

Dizei-me logo, senhora
Que esta chegança me agrada

Comunidá (Celso Fonseca e Gilberto Gil)

Vê se quem faz a comida é o ouro

E quem traz a bebida

E quem prepara o salão

Um troco do sindicato é o ouro

Uns cem do candidato

Uns dez da associação

Luz, pede pra prefeitura, é o ouro

Pede uma viatura

Com Cosme e Damião

Vê se esse novo bicheiro é o ouro

Pode ser o patrono

E acabar dando uma mão

Comunidá

Camaradagem, todas cores

Comunidá

Lavagem pra lavar nossas dores

Comunidá

Na hora da dificuldade, eu sei

Comunidá também

Na festa, na titica de felicidade, amém

Clichê do chiclê (Gilberto Gil e Vinícius Cantuária)

Não vou jogar
Meu destino contra o seu
Num filme piegas sem sal
Não vou chorar
Nem fingir que o amor morreu
Chega de drama banal

Que seja a dor
Nosso amor, nossos ardis
Teatro nô japonês
Onde o ator
É ao mesmo tempo atriz
Vestes da mesma nudez

Eu, Belmondo
Como um Pierrot, le fou
Só no cinema francês
Você, Bardot
Belo anúncio de shampoo
Só fica bem nas TVs

Melhor viver
Nosso papel bem normal
Que a vida nos reservou
Interpretar
Nosso bem e nosso mal
Sem texto e sem diretor

Chega de representar
O que nós não queremos ser
Não vamos nos transformar
Num casal clichê do clichê

Ciranda (Gilberto Gil e Moacir Santos)

Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos aliviar as dores
Os maus olhados
Os dissabores

Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
Só por folia
Só por amor

Vem de um lugar chamado Flores
Esta ciranda
De tantas cores
Vem nos falar dos trovadores
Dos bem-amados
Dos benfeitores

Ó, cirandeiro, cirandeiro
Que faz ciranda o tempo inteiro
E só por isso
Tem seu valor

Cantiga (Gilberto Gil e Torquato Neto)

Sabe amor
Eu te amo tanto, tanto
Que esta minha vida, sem você
Seria para sempre, triste.
E eu nem sei se existe, vida assim
Que alguém possa viver
Meu bem eu te amo tanto…
Que vou te dizer
Daria a minha vida, pra não te perder.

Sabe amor
Eu te amo tanto, tanto
Que esta minha vida, sem você
Seria para sempre, triste.
E eu nem sei se existe, vida assim
Que alguém possa viver
Meu bem eu te amo tanto…
Que vou te dizer
Daria a minha vida, pra não te perder.

Canção da moça (Gilberto Gil e Capinan)

Vou andando
Vou sonhando que um dia
Que um dia possa ter um lugar
Um lugar que seja meu, que seja meu
Um luar, um luar sobre o caminho
Um amor a quem dê flores
Nuvens no céu, conchas no mar
Amor a quem ensine o amor
Que aprendi ao caminhar
Vou andando, vou sonhando, vou sorrindo
Teu sorriso, sonho antigo em minha dor
Vou andando, vou sonhando, vou sorrindo
Teu sorriso, sonho antigo em minha dor

Bruxa de mentira (Gilberto Gil e João Donato)

A bruxa de mentira
Bombom de rapadura
Saborosa figura
A bruxa de mentira

Não vejo a hora de ir
Na barraquinha comprar
Rapadoçura bombom
Bruxinha gostosura

A bruxa de mentira
Bombom de rapadura
Saborosa figura
A bruxa de mentira

Bombom de rapadura
Exdrúxula figura
Bruxinha gostosa
Neném rapadoçura

Barracos (Liminha e Gilberto Gil)

Nos barracos da cidade
Ninguém mais tem ilusão
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade, se pode, não faz questão
Mas se faz questão, não
Consegue
Enfrentar o tubarão

Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita

E o governador promete,
Mas o sistema diz não
Os lucros são muito grandes,
Grandes… ie, ie
E ninguém quer abrir mão, não
Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijão

Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita

Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita
Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita

Átimo de pó (Gilberto Gil e Carlos Rennó)

Entre a célula e o céu
O germe e Perseu
O quark e a Via-Láctea
A bactéria e a galáxia

Entre agora e o eon
O íon e Órion
A lua e o magnéton
Entre a estrela e o elétron
Entre o glóbulo e o globo blue

Eu, um cosmos em mim só
Um átimo de pó
Assim: do yang ao yin

Eu e o nada, nada não
O vasto, vasto vão
Do espaço até o spin

Do sem-fim além de mim
Ao sem-fim aquém de mim
Den de mim

As ayabás (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Nenhum outro som no ar pra que todo mundo ouça
Eu agora vou cantar para todas as moças
Eu agora vou bater para todas as moças
Eu agora vou dançar para todas as moças
Para todas Ayabás, para todas elas
Eu agora vou cantar para todas as moças
Eu agora vou bater para todas as moças
Eu agora vou dançar para todas as moças
Para todas Ayabás, para todas elas

Iansã comanda os ventos
E a força dos elementos
Na ponta do seu florim
É uma menina bonita
Quando o céu se precipita
Sempre o princípio e o fim
Iansã comanda os ventos
E a força dos elementos
Na ponta do seu florim
É uma menina bonita
Quando o céu se precipita
Sempre o princípio e o fim

Obá – Não tem homem que enfrente
Obá – A guerreira mais valente
Obá – Não sei se me deixo mudo
Obá – Numa mão, rédeas, escudo
Obá – Não sei se canto ou se não
Obá – A espada na outra mão
Obá – Não sei se canto ou se calo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo
Obá – De pé sobre o seu cavalo

Euá, Euá
É uma moça cismada
Que se esconde na mata
E não tem medo de nada
Euá, Euá
Não tem medo de nada
O chão, os bichos
As folhas, o céu
Euá, Euá
Virgem da mata virgem
Virgem da mata virgem
Dos lábios de mel
Euá, Euá
É uma moça cismada
Que se esconde na mata
E não tem medo de nada
Euá, Euá
Não tem medo de nada
O chão, os bichos
As folhas, o céu
Euá, Euá
Virgem da mata virgem
Virgem da mata virgem
Dos lábios de mel

Oxum… Oxum…
Doce mãe dessa gente morena
Oxum… Oxum…
Água dourada, lagoa serena
Oxum… Oxum…
Beleza da força da beleza da força da beleza
Oxum… Oxum…
Oxum… Oxum…
Doce mãe dessa gente morena
Oxum… Oxum…
Água dourada, lagoa serena
Oxum… Oxum…
Beleza da força da beleza da força da beleza
Oxum… Oxum…
Oxum… Oxum..

Alapala (the myth of shango) Gilberto Gil – vrs Carol Rogers

Aganju, Shango
Alapala, Alapala, Alapala
Shango, Aganju

A little boy, the age of three
He asked about his family tree:
“Oh, father, who is my grand papa?”

The father said: “My boy, grandpa is dead
And right before he died
He told me who was my grandpapa

“My grandpapa, your grandpapa’s
Daddy was born in Africa
A king, a tribal king Yoruba

“So you, my boy, you’ve got to be
Yourself a little new Shango”
Oh, Aganju, baba Alapala

Aganju, Shango
Alapala, Alapala, Alapala
Shango, Aganju

Alapala, egun, spirit of the family man
Ancestral soul of our tribe until this day
The tribe of Aganju-Shango, an axe is in his hand
His lightning axe could strike the sky above
And make the sound of crashing thunders threaten God
And that is why Shango became a God himself
And that is why you should be proud, my boy

Água de meninos (Gilberto Gil e Capinan

Na minha terra, a Bahia
Entre o mar e a poesia
Tem um porto, Salvador
As ladeiras da cidade
Descem das nuvens pro mar
E num tempo que passou – ô ô ô
Toda a cidade descia
Vinha pra feira comprarÁgua de Meninos, quero morar
Quero rede e tangerina
Quero o peixe desse mar
Quero o vento dessa praia
Quero azul, quero ficar
Com a moça que chegou
Vestida de rendas, ô
Vinda de TaperoáPor cima da feira, as nuvens
Atrás da feira, a cidade
Na frente da feira o mar
Atrás do mar, a marinha
Atrás da marinha, o moinho
Atrás do moinho o governo
Que quis a feira acabar / bisDentro da feira, o povo
Dentro do povo, a moça
Dentro da moça, a noiva
Vestida de rendas, ô
Abre a roda pra sambarMoinho da Bahia queimou
Queimou, deixa queimas
Abre a roda pra sambarA feira nem bem sabia
Se ía…

Africaner brother Bound (Jean Pierre, Henrique Hermeto e Gilberto Gil)

Africaner brother bound
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais

Poeta calou por um dia ou dois
Bandeira arriada pra descansar
O batuque ficou pra depois
Que o coração desenfrear 

Africaner brother bound
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais

Quem é que no mundo pode impedir
O sol de nascer e de brilhar
A palmeira, de crescer, crescer
A noite na mata, de clarear

Do lado da gente, nós e nós e nós
Na luta feroz até o fim
A vitória deixará pra trás
Um tempo de guerra, tempo ruim

Africaner brother bound
Quanto tempo ainda mais
Já durou até demais
O que não devia ser jamais

Afogamento (Gilberto Gil e Jorge Bastos Moreno)

Vou correr o risco de afundar de vez
Sob o peso da insensatez
Já sem poder boiar

Estarei com alguém nariz contra nariz
Um afogamento por um triz
Tentarei me salvar

Sempre assim
Sempre que o amor vaza a maré
Vou parar bem longe aonde não dá pé
Difícil de nadar

Outro dia um fato aconteceu enfim
Um golfinho anjo, um boto serafim
Chegou pra me ajudar

Me agarrei, àquele corpo liso e me deixei levar
Ao lado seu sorriso aberto a me guiar
Então eu relaxei e me entreguei completamente ao mar

Abri a porta (Gilberto Gil e Dominguinhos)

Abri a porta
Apareci
A mais bonita
Sorriu pra mim
Naquele instante
Me convenci
O bom da vida
Vai prosseguir

Vai prosseguir
Vai dar pra lá do céu azul
Onde eu não sei
Lá onde a lei
Seja o amor
E usufruir do bem, do bom e do melhor
Seja comum
Pra qualquer um
Seja quem for

Abri a porta
Apareci
Isso é a vida
É a vida, sim

A rua (Gilberto Gil e Torquato Neto)

Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba

De uma rua, de uma rua
Eu lembro agora
Que o tempo, ninguém mais
Ninguém mais canta
Muito embora de cirandas
(Oi, de cirandas)
E de meninos correndo
Atrás de bandas

Atrás de bandas que passavam
Como o rio Parnaíba
Rio manso
Passava no fim da rua
E molhava seus lajedos
Onde a noite refletia
O brilho manso
O tempo claro da lua

Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão
Ê, Parnaíba passando
Separando a minha rua
Das outras, do Maranhão

De longe pensando nela
Meu coração de menino
Bate forte como um sino
Que anuncia procissão

Ê, minha rua, meu povo
Ê, gente que mal nasceu
Das Dores, que morreu cedo
Luzia, que se perdeu
Macapreto, Zé Velhinho
Esse menino crescido
Que tem o peito ferido
Anda vivo, não morreu

Ê, Pacatuba
Meu tempo de brincar já foi-se embora
Ê, Parnaíba
Passando pela rua até agora
Agora por aqui estou com vontade
E eu volto pra matar esta saudade

Ê, São João, ê, Pacatuba
Ê, rua do Barrocão

A necrofilia da arte (Gilberto Gil e Rubinho Troll)

A necrofilia da arte
Tem adeptos em toda parte
A necrofilia da arte
Traz barato artigos de morte

Se o lennon morreu, eu amo ele
Se o marley se foi, eu me flagelo
Elvis não morreu, mas não vivo sem ele
Kurt cobain se foi, e eu o venero

A necrofilia da arte
Dá meu endereço a quem não gosto
A necrofilia da arte
Faz compreender quem não conheço

Zunfus trunchus que eu nem conhecia
Virou meu star no outro dia

A ciência em si (Gilberto Gil e Arnaldo Antunes)

Se toda coincidência
Tende a que se entenda
E toda lenda
Quer chegar aqui
A ciência não se aprende
A ciência apreende
A ciência em si

Se toda estrela cadente
Cai pra fazer sentido
E todo mito
Quer ter carne aqui

A ciência não se ensina
A ciência insemina
A ciência em si

Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar
Do avião a jato ao jaboti
Desperta o que ainda não, não se pôde pensar
Do sono eterno ao eterno devir
Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar
Para alcançar o que já estava aqui
Se a crença quer se materializar
Tanto quanto a experiência quer se abstrair

A ciência não avança
A ciência alcança
A ciência em si

A bruxa de mentira (João Donato e Gilberto Gil)

A bruxa de mentira
Bombom de rapadura, saborosa figura
A bruxa de mentira
Não vejo a hora de ir na barraquinha comprar
Rapadoçura bombom
Bruxinha gostosura

A bruxa de mentira
Bombom de rapadura
Saborosa figura
A bruxa de mentira

Não vejo a hora de ir na barraquinha comprar
Rapadoçura bombom
Bruxinha gostosura, gostosura

A bruxa de mentira de mentira
Bombom de rapadura, rapadura
Saborosa figura, la figura
A bruxa de mentira de mentira
Bombom de rapadura, rapadura
Esdrúxula figura, la figura
Bruxinha gostosura, gostosura
Neném de rapadoçura, doçura
A bruxa de mentira, de mentira

As ayabás (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Nenhum outro som no ar
Pra que todo mundo ouça
Eu agora vou cantar
Para todas as moças
Eu agora vou bater
Para todas as moças
Eu agora vou dançar
Para todas as moças
Para todas ayabás
Para todas elas

Iansã comanda os ventos
E a força dos elementos
Na ponta do seu florim
É uma menina bonita
Quando o céu se precipita
Sempre o princípio e o fim

Obá
Não tem homem que enfrente
Obá
A guerreira mais valente
Obá
Não sei se me deixo mudo
Obá
Numa mão, rédeas, escudo
Obá
Não sei se canto ou se não
Obá
A espada na outra mão
Obá
Não sei se canto ou se calo
Obá
De pé sobre o seu cavalo

Eles (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Em volta da mesa
Longe do quintal
A vida começa
No ponto final
Eles têm certeza
Do bem e do mal
Falam com franqueza do bem e do mal
Crêem na existência do bem e do mal
O porão da América
O bem e o mal
Só dizem o que dizem
O bem e o mal
Alegres ou tristes
São todos felizes durante o Natal
O bem e o mal
Têm medo da maçã
A sombra do arvoredo
O dia de amanhã
Eis que eles sabem o dia de amanhã
Eles sempre falam num dia de amanhã
Eles têm cuidado com o dia de amanhã
Eles cantam os hinos no dia de amanhã
Eles tomam bonde no dia de amanhã
Eles amam os filhos no dia de amanhã
Tomam táxi no dia de amanhã
É que eles têm medo do dia de amanhã
Eles aconselham o dia de amanhã
Eles desde já querem ter guardado
Todo o seu passado no dia de amanhã
Não preferem São Paulo, nem o Rio de Janeiro
Apenas tem medo de morrer sem dinheiro
Eles choram sábados pelo ano inteiro
E há só um galo em cada galinheiro
E mais vale aquele que acorda cedo
E farinha pouca, meu pirão primeiro
E na mesma boca senti o mesmo beijo
E não há amor como o primeiro amor
Como primeiro amor
Que é puro e verdadeiro
E não há segredo
E a vida é assim mesmo
E pior a emenda do que o soneto
Está sempre à esquerda a porta do banheiro
E certa gente se conhece no cheiro
Em volta da mesa
Longe da maçã
Durante o natal
Eles guardam dinheiro
O bem e o mal

Pro dia de amanhã
Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar
quarenta músicos para tocar um uníssono
(Miles Davis, durante uma gravação)

No dia em que eu vim me embora (Gilberto Gil e Caetano Veloso)

No dia em que eu vim-me embora minha mãe chorava em ai
Minha irmã chorava em ui e eu nem olhava pra trás
No dia que eu vim-me embora não teve nada de mais
Mala de couro forrada com pano forte brim cáqui
Minha avó já quase morta, minha mãe até a porta
Minha irmã até a rua e até o porto meu pai
O qual não disse palavra durante todo o caminho
E quando eu me vi sozinho, vi que não entendia nada
Nem de pro que eu ia indo nem dos sonhos que eu sonhava
Senti apenas que a mala de couro que eu carregava
Embora estando forrada fedia, cheirava mal
Afora isto ia indo, atravessando, seguindo
Nem chorando nem sorrindo sozinho pra Capital
Nem chorando nem sorrindo sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital
Sozinho pra Capital…

Abri a porta (co-autor Gilberto Gil)

Abri a porta
Apareci
A mais bonita
Sorriu pra mim
Naquele instante
Me convenci
O bom da vida
Vai prosseguir

Vai prosseguir
Vai dar pra lá do céu azul
Onde eu não sei
Lá onde a lei
Seja o amor
E usufruir do bem, do bom e do melhor
Seja comum
Pra qualquer um
Seja quem for

Abri a porta
Apareci
Isso é a vida
É a vida, sim

A Coisa Mais Linda Que Existe (Gilberto Gil e Torquato Neto)

Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim

Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura

A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim

O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim

(mais…)

Super-Homem (A Canção)

Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver

Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher

Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

(mais…)

A Novidade

A novidade veio dar a praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o busto de uma deusa maia
Metade um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo
Um paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
O mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
O, o, o, o…
De um lado esse carnaval
De outro a fome total
O, o, o, o…
E a novidade que seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Ô Mundo tão desigual…
A Novidade era o máximo…
Ô Mundo tão desigual… (mais…)

Domingo no Parque

O rei da brincadeira
Êh José!
O rei da confusão
Êh João!
Um trabalhava na feira
Êh José!
Outro na construção
Êh João!…

A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi prá lá
Prá Ribeira foi namorar…

O José como sempre
No fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo
Um passeio no parque
Lá perto da boca do Rio…

Foi no parque
Que ele avistou
Juliana!
Foi que ele viu
Foi que ele viu!
Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João…

O espinho da rosa feriu Zé
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa
Oh José!
A rosa e o sorvete
Oh José!
Foi dançando no peito
Oh José!
Do José brincalhão
Oh José!…

O sorvete e a rosa
Oh José!
A rosa e o sorvete
Oh José!
Oi girando na mente
Oh José!
Do José brincalhão
Oh José!…

Juliana girando
Oi girando!
Oi na roda gigante
Oi girando!
Oi na roda gigante
Oi girando!
O amigo João (João)…

O sorvete é morango
É vermelho!
Oi girando e a rosa
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi girando, girando…

Olha a faca! (Olha a faca!)
Olha o sangue na mão
Êh José!
Juliana no chão
Êh José!
Outro corpo caído
Êh José!
Seu amigo João
Êh José!…

Amanhã não tem feira
Êh José!
Não tem mais construção
Êh João!
Não tem mais brincadeira
Êh José!
Não tem mais confusão
Êh João!…

Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!…

(mais…)

Pela Internet

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje

Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé

Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut

De Connecticut de acessar
O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus para atacar os programas no Japão

Eu quero entrar na rede para contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze
Tem um videopôquer para se jogar

(mais…)

Aquele Abraço

O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março…

Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço!…(2x)

Chacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro…

Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele Abraço!…

Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!…

Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
Aquele Abraço!
Prá você que meu esqueceu
Ruuummm!
Aquele Abraço!
Alô Rio de Janeiro
Aquele Abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele Abraço!…

O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março…

Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele Abraço!…(2x)

Chacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro…

Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele Abraço!…

Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!…

Meu caminho pelo mundo
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu
Graças a Deus!
Régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu
É claro!
Aquele Abraço!
Prá você que meu esqueceu
Ruuummm!
Aquele Abraço!
Alô Rio de Janeiro
Aquele Abraço!
Todo o povo brasileiro
Aquele Abraço!…

Todo mês de fevereiro
Aquele Abraço!
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
E do Salgueiro e da Mangueira
E todo Rio de Janeiro
E todo mês de fevereiro
E todo povo brasileiro
Ah! Aquele Abraço!…

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A Paz

A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz

Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos “ais”

(mais…)

Se Eu Quiser Falar Com Deus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
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Bat Macumba

bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba o
bat macumba ê ê, bat macumba
bat macumba ê ê, bat macum
bat macumba ê ê, batman
bat macumba ê ê, bat
bat macumba ê ê, ba
bat macumba ê ê
bat macumba ê
bat macumba
bat macum
batman
bat
ba
bat
bat ma
bat macum
bat macumba
bat macumba ê
bat macumba ê ê
bat macumba ê ê, ba
bat macumba ê ê, bat
bat macumba ê ê, batman
bat macumba ê ê, bat macum
bat macumba ê ê, bat macumba
bat macumba ê ê, bat macumba o
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
bat macumba ê ê, bat macumba oba
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Panis et circenses

Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei fazer
De puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei plantar
Folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar

Mas as pessoas na sala de jantar
Essas pessoas na sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer
(mais…)

Cálice

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

(refrão)

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

(refrão)

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

(refrão)

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguem me esqueça
(mais…)