Skip to main content

Viver e reviver (here, there and everywhere)

A vida é muito mais
Quando estou perto de você
E eu
Bem que tentei construir
Sonhos de paz vendo a relva crescer
Pobre de quem
Pensar que o amor morreu
É
Hoje eu lembrei de você
Noutro caminho tão longe daqui
Longe de mim
Eu sei o que você quer
Eu quero reviver
O que existe nas miragens
Que ninguém mais crê
A nossa viagem pelo céu de mel
Não ninguém pode esquecer
Que o sonho é livre, não morre jamais
Lembre de nós
Aonde esse amor viver
Vou viver
E reviver
Viver
E reviver

Me faz bem

Me faz bem
Esse jeito de se enroscar,
De chegar mansinho e se aninhar,
De me fazer seu par
Me faz bem
Esse jeito bom de gostar,
Viajar veredas que são mistério maior
Que o fundo do mar
Bem…
Me faz bem,
Arrepio de imaginar,
Me perder no lume do teu olhar,
Respirar, tocar
O teu corpo solto no cio
Me faz bem
Ser o velho lobo do mar
Que não cansa de navegar
Pois muito tesouro existe por lá
Me faz bem teu jeito de amar
Tens mais mistérios do que o mar
Me faz bem
Ser o velho lobo do mar
Que não cansa de navegar
Pois muito tesouro existe por lá
Me faz bem teu jeito de amar
Tens mais mistérios do que o mar

Quando Acabar o Maluco Sou Eu

Toda vez que eu olho no espelho a minha cara
Eis que sou normal e isso é coisa rara
A minha enfermeira tem mania de artista
Trepa em minha cama, crente que é
uma trapezista
Eu não vou dizer que eu também
seja perfeito
Mamãe me viciou a só querer mamar
no peito
Ehê, Ahá! Quando acabar o maluco sou eu
Ahá! Quando acabar, o maluco sou eu
O russo que guardava o botão da bomba “H”
Tomou um pilequinho e quis mandar
tudo pro ar
Seu Zé, preocupado anda numa de horror
Pois falta um carimbo no seu
“Tito” de eleitor
Ehê, Ahá!
Quando acabar o maluco sou eu
Ahá! Quando acabar, o maluco sou eu
Eu sou louco mais sou feliz
Muito mais louco é quem me diz
Eu sou dono, dono do meu nariz
Em Feira de Santana ou mesmo em Paris
Não bulo com governo, com polícia,
nem censura
É tudo gente fina, meu advogado jura
Já pensou o dia em que o Papa se tocar
E sair pelado pela Itália a cantar
Ehê, Ahá! Quando acabar o maluco sou eu
Ahá! Quando acabar, o maluco sou eu

Eu sou louco mais sou feliz
Muito mais louco é quem me diz
Eu sou dono, dono do meu nariz
Em feira de Santana ou mesmo em Paris
Não bulo com governo, com polícia,
nem censura
É tudo gente fina, meu advogado jura
Já pensou o dia em que o Papa se tocar
E sair pelado pela Itália a cantar
Ehê, Ahá! Quando acabar o maluco sou eu

Deslizes

Não sei por que
Insisto tanto em te querer
Se você sempre faz de mim
O que bem quer
Se ao teu lado
Sei tão pouco de você
É pelos outros que eu sei
Quem você é

Eu sei de tudo
Com quem andas, aonde vais
Mas eu disfarço o meu ciúme
Mesmo assim
Pois aprendi
Que o meu silêncio vale mais
E desse jeito eu vou trazer
Você pra mim

E como prêmio
Eu recebo o teu abraço
Subornando o meu desejo
Tão antigo
E fecho os olhos
Para todos os teus passos
Me enganando
Só assim somos amigos

Por quantas vezes
Me dá raiva de querer
Em concordar com tudo
Que você me faz
Já fiz de tudo
Pra tentar te esquecer
Falta coragem pra dizer
Que nunca mais

Nós somos cúmplices
Nós dois somos culpados
No mesmo instante
Em que teu corpo toca o meu
Já não existe
Nem o certo, nem errado
Só o amor que por encanto
Aconteceu

E é só assim que eu perdoo
Os teus deslizes
E é assim o nosso jeito de viver
Em outros braços
Tu resolves tuas crises
Em outras bocas
Não consigo te esquecer
Te esquecer

(mais…)

Bla Bla Bla…Eu te Amo (Rádio Bla)

Ela adora me fazer
De otário
Para entre amigas
Ter o que falar
É a onda da paixão
Paranóica!
Praticando sexo
Como jogo de azar…

Uma noite ela me disse
“Quero Me Apaixonar”
Como quem pede desculpas
Prá si mesmo
A paixão não tem nada a ver
Com a vontade
Quando bate é o alarme
De um louco desejo…

Não dá para controlar
Não dá!
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá
Blá, blá, blá, blá
Eu te amo!
Não dá para controlar
Não dá!
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá… (Eu te amo)

Sua vida burguesa
É um romance
Um roteiro de intrigas
Prá Fellini filmar
Cercada de drogas
De amigos inúteis
Ninguém pensaria
Que ela quer namorar…

Reconheço que ela
Me deixa inseguro
Sou louco por ela
E não sei o que falar
O que eu quero é que
Ela quebre a minha rotina
Que fique comigo
E deseje me amar…

Não dá para controlar
Não dá!
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá
Blá, blá, blá, blá
Eu te amo!
Não dá para controlar
Não dá
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá, blá, blá
Blá, blá, blá, blá…(2x)

Não dá para controlar
Não dá!
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá
Blá, blá, blá, blá
Eu te amo!
Não dá para controlar
Não dá
Não dá prá planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá…

(mais…)

O Nosso Amor a Gente Inventa (Estória Romântica)

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver…

Não pode ver
Que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu…

O nosso amor
A gente inventa
Prá se distrair
E quando acaba
A gente pensa
Que ele nunca existiu…

O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa…

Te ver
Não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa…

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açucar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica…

O nosso amor
A gente inventa
Prá se distrair
E quando acaba
A gente pensa
Que ele nunca existiu…

Mas ficou tudo fora de lugar
Café sem açucar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma história romântica…

O nosso amor
A gente inventa
Prá se distrair
E quando acaba
A gente pensa
Que ele nunca existiu…

O nosso amor
A gente inventa
Inventa
O nosso amor
A gente inventa…

(mais…)

Cowboy fora da lei

Mamãe, não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar
Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz
Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz

Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cowboy
Cowboy fora da lei
Durango Kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
Entrar pra historia é com vocês!

(mais…)

Infinita Highway

Você me faz, correr demais
Os riscos desta Highway
Você me faz, correr atrás
Do horizonte desta Highway
Ninguém por perto
O silêncio no deserto
Deserta Highway…

Estamos sós
E nenhum de nós
Sabe exatamente
Onde vai parar
Mas não precisamos
Saber prá onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos
Ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo, a lei
Da Infinita Highway…

Quando eu vivia
E morria na cidade
Eu não tinha nada
Nada a temer
Mas eu tinha medo
O medo dessa estrada
Olhe só, vê você
Quando eu vivia
E morria na cidade
Eu tinha de tudo
Tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia
Era que algo me faltava
E à noite eu acordava
Banhado em suor…

Não queremos
Lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos
Aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da Infinita Highway
Highway! Highway!…

Escute, garota
O vento canta uma canção
Dessas que uma banda
Nunca toca sem razão
Me diga, garota
Será estrada, uma prisão?
Eu acho que sim
Você finge que não
Mas nem por isso
Ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens
E os pés no chão…

-Tudo bem, garota
Não adianta mesmo ser livre…

Se tanta gente vive
Sem ter como viver
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos, sem motivos
Que motivos temos prá estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte
Dessa Highway
Silenciosa, Highway!
Highway!…

Eu vejo o horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar
Completamente enganado
Eu posso estar correndo
Pro lado errado
Mas a dúvida
É o preço da pureza
E é inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
Não corra, não morra
Não fume
Eu vejo as placas
Cortando o horizonte
Elas parecem facas
De dois gumes…

Minha vida é tão confusa
Quanto a América Central
Por isso não me acuse
De ser irracional
Escute, garota
Façamos um trato
Você desliga o telefone
Se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Bealte
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa
Do teu lado…

Por isso garota
Façamos um pacto
Não usar a Highway
Prá causar impacto
110, 120, 160
Só prá ver, até quando
O motor agüenta
Na bôca em vez de um beijo
Um chiclete de menta
E a sombra do sorriso
Que eu deixei…

Numa das curvas
Da Highway
Highway!
Infinita, Highway!
Highway!
Infinita, Highway!
Highway! Highway!
Highway!…
(mais…)

Todo o Sentimento

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
(mais…)

Que pais é esse?

Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No amazonas, no araguaia iá, iá,
Na baixada fluminense
Mato grosso, minas gerais e no
Nordeste tudo em paz
Na morte o meu descanso, mas o
Sangue anda solto
Manchando os papéis e documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior
Mas o brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
(mais…)

Angra dos Reis

Deixa, se fosse sempre assim
quente, deita aqui perto de mim
Tem dias, que tudo está em paz
E agora os dias são iguais

Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Pode rir agora que estou sozinho
Mas não venha me roubar…

Vamos brincar perto da usina
Deixa pra lá, a angra é dos reis
Por que se explicar se não existe perigo?
Senti teu coração perfeito batendo à toa
E isso dói
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Pode rir agora que estou sozinho
Mas não venha me roubar…

Vai ver que não é nada disso
Vai ver que já não sei quem sou
Vai ver que nunca fui o mesmo
A culpa é toda sua e nunca foi
Mesmo se as estrelas começassem a cair
A luz queimasse tudo ao redor
E fosse o fim chegando cedo
E você visse o nosso corpo em chamas
Deixa,a angra dos reis

quando as estrelas começarem a cair
me diz, me diz pra onde é que a gente vai fugir?

Quando as estrelas começarem a cair
Me diz, me diz pra onde é que a gente vai fugir?
(mais…)

Faroeste Caboclo

– Não tinha medo o tal João de Santo Cristo,
Era o que todos diziam quando ele se perdeu.
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu.
Quando criança só pensava em ser bandido,
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu.

Ia pra igreja só prá roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar.
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
E de escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado para o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava –
Descriminação por causa da sua classe ou sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar.
Dizia ele: – Estou indo pra Brasília,
Neste país lugar melhor não há.
Estou precisando visitar a minha filha
Então fico aqui e você vai no meu lugar.

E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal.
– Meu Deus,mas que cidade linda,
No ano-novo eu começo a trabalhar.
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga.

Na sexta feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô:
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar.

E Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa e decidiu que,
Como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
Sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
– Tem bagulho bom ai!
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.
Fez amigos, freqüentava a Asa Norte
E ia prá festa de rock, prá se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
– Vocês vão ver, eu vou pegar vocês.

Agora Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal.
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general.
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu.
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele
Pra ela o Santo Cristo prometeu
Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
– Maria Lúcia pra sempre eu vou te amar
E um filho com você eu quero ter.

O tempo passa e um dia vem à porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa e diz que espera uma resposta.
Uma resposta de João:
– Não boto bomba em banca de jornal nem em colégio de criança
Isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas, que fica atrás da mesa
Com o cú na mão.
E é melhor o senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião.
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
– Você perdeu a sua vida, meu irmão.

Você perdeu a sua vida meu irmão. Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
E eu vou sofrer as conseqüências como um cão.
Não é que o Santo Cristo estava certo
E seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira descobriu que tinha outro
Trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia e Santo Cristo revendia em Planaltina.

Mas acontece que um tal de Jeremias, traficante de renome,
Apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar.
Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que o Jeremias começasse a brigar.

(O Jeremias, maconheiro sem-vergonha, organizou a Rockonha
E fez todo mundo dançar.)

Desvirginava mocinhas inocentes
E dizia que era crente mas não sabia rezar.

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
– Eu vou embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já está em tempo da gente se casar.

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez.

Santo Cristo era só ódio por dentro e então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia, em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia, aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora o local e a razão.

No sábado então, às duas horas, todo o povo
Sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas e acertou o Santo Cristo
Começou a sorrir.
Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali.

E se lembrou de quando era uma criança e de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
– Se a via-crucis virou circo, estou aqui.

E nisso o sol cegou seus olhos e então Maria Lúcia ele reconheceu.
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu.

– Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é.
E não atiro pelas costas não.
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha,
Dá uma olhada no meu sangue
E vem sentir o teu perdão.

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor.

E o povo declarava que João de Santo Cristo era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade não acreditou na história que eles viram na TV
E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente,
Pra ajudar toda essa gente
Que só faz sofrer
(mais…)