Autor: Júlia Costines
Longe, longe, a uma grande, infinita distância,
Que não me será dado afrontar nunca mais,
Fica a terra onde vi deslizar minha infância:
Tal, sob um bosque em flor e um ar todo fragrância,
Um arroio a correr através dos juncais.
Vejo ainda essa pátria adorada e formosa:
– Densa e verde, a floresta infinda se estender
Por sob um céu azul, broslado de oiro e rosa,
E a cachoeira, como uma serpe raivosa,
Pelos flancos da serra, em convulsões, descer…
Pátria onde vive e luta uma raça valente,
Que a morte encara sem os olhos abaixar,
Que sabe opor o peito à força da corrente,
Vencer o tigre, a flecha atirar destramente,
E na mão do inimigo o tacape quebrar.
Vejo agora, – ó visão de sonhos tentadores! –
Da fronte a cabeleira a escorregar-lhe aos pés,
Tendo na brônzea pele o perfume das flores,
Ágil, esvelta e linda, a virgem dos amores,
Seminua, passar das ramas através…
Asas! Ave que vais para longe, eu quisera
Asas para transpor, como tu, a amplidão!
De um país onde fulge, eterna, a primavera,
Longe o amor me sorri e a luta chama e espera.
Asas! para fazer voar meu coração!