Autor: Júlia Costines
Ouço um surdo, abafado e discorde ruído, Logo após um fragor que pelos ares trona. Qual se dum terremoto o solo sacudido Fosse, em torno de mim tudo se desmorona.
O que é feito de vós, altivos monumentos, Que afrontáveis do tempo os inúteis furores, Mergulhando no azul dos largos firmamentos, Mergulhando dos céus nos vivos resplendores?!
A asa aberta do sonho, em convulsa ansiedade, O abrigo busca em vão, que se lhe oferecia Outrora, se a lufada aguda da verdade Bruscamente a seu lado as asas distendia.
O mundo está deserto e a natureza morta! E é debalde que estendo avidamente os braços: Tudo aquilo que nos alimenta e conforta Abateu, e rolou pelo solo em pedaços…
E nunca brotará dessa informe ruína, Clara, a fonte de fé, que se desliza mansa, Nem a flor brotará da quimera divina, Nem a palma sonora e verde da esperança!
De súbito calou-se a voz imperiosa Que me incitava à luta e me dizia: – “Avante! Após a negridão da noite procelosa É que o dia é mais claro e o sol é mais brilhante!”
O alvo, que resumiu para mim o universo, O alvo, a que convergia a minha vida inteira, Se desfez, e voou pelos ares, disperso Em átomos de areia, e de cinza, e poeira.
E, em derredor, a muda amplitude dum ermo Exâmine se abriu sob um céu de granito… E nada em baixo, à flor da planície sem termo, E nada em cima, à flor do horizonte infinito..
Júlia Cortines