A louca – Augusto dos Anjos

Autor: Augusto dos Anjos


A Dias Paredes


Quando ela passa: – a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. – Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
– O segredo d’um peito torturado –

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça – coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

Augusto dos Anjos

1 comentário em “A louca – Augusto dos Anjos”

  1. Roberto Carlos Valadares

    quem nunca se viu na poesia e porque não amou com desenvoltura necessária, a vida plena é passada por amores e paixões, todas as regras infringidas e razões abandonadas, só assim é que são as feridas construídas, aquelas dores gostosas e que causam saudades, assim é o amar.

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