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O mineiro e o italiano

O mineiro e o italiano viviam às barras dos tribunais
Numa demanda de terra que não deixava os dois em paz
Só de pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais
O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais
Quero ver esse mineiro voltar de a pé pra Minas Gerais

Voltar de a pé pro mineiro seria feio pros seus parentes
Apelou para o advogado: Fale pro juiz pra ter dó da gente
Diga que nós somos pobres que meus filhinhos vivem doentes
Um palmo de terra a mais para o italiano é indiferente
Se o juiz me ajudar a ganhar lhe dou uma leitoa de presente

Retrucou o advogado: o senhor não sabe o que está falando
Não caia nessa besteira senão nós vamos entrar pro cano
Este juiz é uma fera, caboclo sério e de tutano
Paulista da velha-guarda família de 400 anos
Mandar a leitoa para ele é dar a vitória pro italiano

Porém chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto
Mineiro ganhou a demanda, o advogado achou esquisito
Mineiro disse ao doutor: Eu fiz conforme lhe havia dito
Respondeu o advogado que o juiz vendeu e eu não acredito
Jogo meu diploma fora se nesse angu não tiver mosquito

De fato, falou o mineiro nem mesmo eu tô acreditando
Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando
Peguei uma leitoa gorda foi Deus do céu me deu esse plano
De uma cidade vizinha para o juiz eu fui despachando
Só não mandei no meu nome mandei no nome do italiano

Padecimento

Ai a viola me conhece que eu não posso cantar só
Ai se eu sozinho canto bem junto eu canto melhor

Ai vai chegando o mês de Agosto bem pertinho de Setembro
Os passarinhos cantam alegres por ver as matas florescendo
Ai eu não sei o que será que já vai me entristecendo
Passando tanto trabalhos debaixo de chuva e sereno
Eu não como e não bebo nada vivo triste padecendo
Ai pra um coração de quem ama o alívio é só morrendo ai, ai, ai

Ai quem já teve amor na vida e por desventura perdeu
Não deve se lastimar nem ficar triste como eu
Pois eu também já tive amor mas não me correspondeu
O desgosto no meu peito quis ser inquilino meu
Mas eu tenho esta viola que foi enviada por Deus
Ai que só me traz alegria e a tristeza rebateu ai, ai, ai

Ai a viola me acompanha desde quinze anos de idade
Ela é minha companheira nas minhas contrariedades
Faço moda alegre e triste conforme a oportunidade
Esse dom de fazer moda não é querer e ter vontade
Tem muita gente que quer mas não tem facilidade
É um dom que Deus me deu pra desabafar saudade ai, ai, ai

Ai pra aprender cantar de viola primeiro estudo que eu tive
Aprendi com um violeiro velho que fazia moda impossível
Pois eu sou um violeiro novo mas também quero ser terrível
Faço moda de gente boa e de algum incorrigível
Toda moda que eu invento ocupo régua prumo e nível
Ai pensando bem um violeiro com prazer no mundo vive ai, ai, ai

Terra roxa

Um granfino num carro de luxo
Parou em frente de um restaurante
Faz favor de trocar mil cruzeiros
Afobado ele disse para o negociante
Me desculpe que eu não tenho troco
Mas aí tem freguês importante
O granfino foi de mesa em mesa
E por uma delas passou por diante
Por ver um preto que estava almoçando
Num traje esquisito num tipo de andante
Sem dizer que o tal mil cruzeiro
Ali era dinheiro para aqueles viajaaante aai aai

O negociante falou pro granfino
Esse preto eu já vi tem trocado
O granfino sorriu com desprezo
O senhor não tá vendo que é um pobre coitado
Com a roupa toda amarrotada
E o jeito de muito acanhado
Se esse cara for alguém na vida
Então eu serei presidente do estado
Desse mato aí não sai coelho
E para o senhor fica um muito obrigado
Perguntar se esse preto tem troco
É deixar o caboclo muito envergonhaaado aai aai

Nisso o preto que ouviu a conversa
Chamou o moço com modo educado
Arrancou da guaiaca um pacote
Com mais de umas cem
Cor de abóbora embolado
Uma a uma jogou sobre a mesa
Me desculpe não lhe ter trocado
O granfino sorriu amarelo
Na certa o senhor deve ser deputado
Pela cor vermelha dessas notas
Parece ser dinheiro que estava enterrado
Disse o preto não arregale o olho
É apenas o restolho do que eu tenho
Empataaado aaai aai

Essas notas vermelhas de terra
É de terra pura massapé
Foi aonde eu plantei a sete anos
Duzentos e oitenta mil pés de café
Essa terra que a água não lava
E sustenta o brasil de pé
Você tando montado nos cobre
Nunca falta amigo e algumas muié
É com elas que nós importamos
Os tais cadillac, ford e chevrolet
Pra depois os mocinhos granfinos
Andar se exiibindo que nem coronééé aai aai

O granfino pediu mil desculpas
Rematou meio desenxavido
Gostaria de arriscar a sorte
Onde está esse imenso tesouro escondido
Isso é fácil respondeu o preto
Se na enxada tu fores sacudido
Terra lá é a peso de ouro
E o seu futuro estará garantido
Essa terra é abençoada por Deus
Não é propaganda lá não fui nascido
É no estado do paraná
Aonde que está meu ranchinho queriiido aaai aai

A beleza do ponteio

Muita gente me pergunta
Se eu nasci em Juiz de Fora
Barbacena ou Lafaiete
Ouro Preto ou Pirapora
Com toda sinceridade
Vou esclarecer agora

Pode ver que está na cara que eu sou puro mineiro
Cidade de Montes Claros é meu torrão verdadeiro
O meu pai já me ensinava a cantiga do carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar

Quanto mais cantava o carro
Eu ficava mais contente
Eu ainda era um candeeiro
O piá que vai na frente
E às vezes eu pensava
Numa vida diferente

Mesmo o meu pai me dizendo ser carreiro é sua sina
Cismei de ser garimpeiro e rumei pra Diamantina
Ainda lembro as cantigas que cantava lá na mina

Esta cata está funda
Vão descendo devagar
Um escora e outro segura
Pra ninguém se machucar

Tim… dê… Tim dá
Tim… dê… Tim pá
Tim… dê… Tim dá
Tim… dê… Tim pá

Eu fui pra Belo Horizonte
Já não era mais menino
Quando eu fiz dezoito anos
Vi chegar o meu destino
Fui sorteado pra servir
No quartel de Ouro Fino

Mas agora felizmente vejo o meu Brasil inteiro
Que já sabem ver beleza no ponteio do violeiro
Hoje eu lembro com saudade o meu tempo de carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar

Pagode (co-autor Carreirinho)

Morena bonita dos dente aberto
Vai no pagode o barulho é certo
Não me namore tão descoberto
Que eu sou casado, mas não sou certo

Modelos de agora é muito esquisito
Essas mocinhas mostrando os cambitos
Das canelas lisa que nem parmito
As moças de hoje eu não facilito

Eu com a minha muié fizemos combinação
Eu vou no pagode, ela não vai não
No sábado passado eu fui, ela ficou
No Sábado que vem ela fica e eu vou

Eu mandei fazer um laço do couro do boi Carreiro
Pra laçar moça bonita que tem os olhos morteiro
Joguei o laço na moça, o laço caiu no chão
Joguei o laço pra lá e peguei a moça com a mão

Eu tratei meu casamento, vou casar por esses dias
Foi com uma italiana gorda sem saber se ela queria
Se a gorda não me quiser
Caso com a magra mesmo, italiana gorda é fantasia

Canto moda dos amigos, pro meu gasto eu também faço
Na viola eu tenho o desembaraço
É coisa que eu acho feio violeiro querer abater
Mas não fazem moda, mandam fazer

Quem deseja amar aos outros, lembre bem deste ditado
Que seu castigo está reservado
Quer prova cuspa pra cima
Se falhar é coisa rara, pode esperar que lhe cai na cara

Quebrei o facão do Cristiano e o facão de Tenacho
Nós tá por cima, eles tão por baixo
Tem uns violeiro em São Paulo, vivem fazendo rutina
Eles tão por baixo, nós tá por cima

A majestade “o pagode” (co-autor Lourival dos Santos)

Com meu primeiro pagode uma bomba que explodiu
Foi o pagode em brasília que até hoje não caiu
Nasceu no som da viola está no som do pandeiro
Lá na casa do ibope fala o pagode primeiro
Nasceu em três corações aquele que é o rei da bola
Rei do pagode nasceu no braço desta viola

Meu pagode é um rochedo é pedreira que não rola
Quem diz que o pagode cai tá doente da cachola
Querendo tirar a pinta que tem na pena da angola
O pagode verdadeiro tem que ter som de viola
Nasceu em três corações aquele que é o rei da bola
Rei do pagode nasceu no braço desta viola.

Meu pagode está tinindo no salão e no terreiro
Tá na boca do caboclo tá no pé do batuqueiro
Eu já to desconfiado que até Deus é pagodeiro
Carnaval é quatro dias meu pagode é o ano inteiro
Nasceu em três corações aquele que é o rei da bola
Rei do pagode nasceu no braço desta viola.

Final dos tempos (co-autor Lourival dos Santos)

Já está na beira do abismo
Nosso mundo sem escora
Já foi tudo pro vinagre
E não tem sinal de melhora
A sogra foge com o genro
O sogro foge com a nora
Velório já virou festa
No enterro ninguém chora.

O que é ruim está aumentando
O que é bom do mundo some
Honestidade e trabalho
Não traz vitória pro homem
Se ficar o bicho pega
Se correr o bicho come
O escravo do trabalho
Ganha o salário da fome.

O homem vive explorando
A lua, terra e o mar
Quantas crianças na rua
Sem escola e sem um lar
Gastaram tanto dinheiro
Fazendo armas de guerra
Daria pra fazer casas
Pra todos pobres da terra.

Falência e concordata
Filhas da maracutáia
Duas bruxas sem vassoura
Estão levantando a saia
Velho chicote arrebenta
No lombo do nosso povo
Descamisados ganhando
No natal chicote novo.

Quanta miséria na terra
Fortuna explode no espaço
É este o final dos tempos
O mundo virou um bagaço
Nosso pai que está no céu
Deu a vida pelo povo
Se voltar aqui na terra
Vai morrer na cruz de novo

O fogo e a brasa (Tião Carreiro e Praiano)

A mulher do meu sonho é comprometida!
Também tenho outra, meu deus que loucura!
Amor proibido é o merengue da vida
Doce dos amantes até quando dura
A minha riqueza nos braços do outro
Um céu estrelado só vê noite escura
Quando está do meu lado no mundo do amor
Vê tudo brilhante se sente segura…

Fecho a porta do mundo com chave de ouro,
Para ninguém ver nossa grande aventura.

Ela é pro marido o remédio que mata,
Mas é para mim o veneno que cura!
Da janela eu vejo os seu apartamento!
E seus movimentos a cada ensejo!
Da sua janela ela também me vê,
Com o corpo a ferver de tanto desejo…
Os beijos da outra já não me aquecem,
O mesmo acontece com ela também
Lá fora nós somos “o fogo e a brasa”
Que dentro de casa a gente não tem

Da janela eu vejo o seu apartamento,
E seus movimentos a cada ensejo.
Da sua janela ela também me vê,
Com o corpo a ferver de tanto desejo.
Os beijos da outra já não me aquecem…
O mesmo acontece com ela também
Lá fora nós somos “o fogo e a brasa”
Que dentro de casa, a gente não tem.

Minha vida, minha cruz (co-autor Dino Franco)

Não esqueças nunca que Jesus um dia
Renasceu das águas do rio Jordão
Ensinou a lei pra muitos doutores
Respondeu ao ódio com o seu perdão

Curou os leprosos endemoniados
Fez também o injusto se arrepender
Mostrou o caminho, a luz da verdade
E pra nos salvar chegou até morrer

Oh! Meu Jesus Cristo
Eu estou sofrendo
Quero Tua força
Quero Tua luz

Vivo me arrastando
Às vezes caindo
Por não suportar
Essa pesada cruz

Também foi traído por um outro Judas
Sigo meu caminho busco meu calvário
O mundo me bate com tala de espinhos
De abrolhos fizeram o meu pobre rosário

Perdoe meu Jesus por estar comparando
Com as tuas penas os meus tristes ais
Tu ressuscitastes ao terceiro dia
Porém eu se morro não volto jamais

Noites de angustia (co-autor Dino Franco)

Sei que nunca mais voltarei aos braços de quem eu tanto amo
Embora eu tenha que me esforçar para esquecer
Esta saudade que fere meu peito sempre me acompanha
E sei também que por muito tempo irei padecer

Amei de mais fui abandonado inocentemente
Por isso mesmo aquela mulher eu não quero ver
Ela foi cruel ao renunciar meu amor sincero
Agora do mundo nada mais espero
Nem mesmo que outra possa me querer

Que noites tão longas são as minhas noites
Vejo seu retrato não posso dormir
Daquele dia que você meu bem destruiu meu sonho
Esteja certa que por toda vida eu também morri

Morena do sul de Minas (co-autor Dino Franco)

Minha linda garça branca do varjão do sul de Minas
Que voa cortando espaço cruzando verdes campinas
Vai dizer pra minha amada que a paixão me domina
Ela será meu tesouro, ou talvez minha ruína, ai, ai!

O assunto desse amor trago sempre na surdina
Só meu coração que sabe que a morena me fascina
Sei também que ela me ama desde o tempo de menina
Só não me caso com ela se não for a minha sina, ai, ai!

Essa mineira que eu digo mudou lá pro norte de Minas
Numa cidade distante que se chama Diamantina
Tem os cabelos compridos e o olhar que fascina
Seus olhos são dois faróis que a minha vida ilumina, ai, ai!

A saudade mata a gente quando a paixão predomina
Eu tenho quase morrido por gostar dessa menina
Esta dor que me persegue já nem sei quando termina
Se eu não realizar meu sonho adeus, estado de Minas, ai, ai!

Alma de boêmio (co-autor Benedito Seviero)

A minha sorte foi tirana e deslinda
Estou sofrendo por amar quem não me quer
Isto acontece para um homem que acredita
Que existe amor no coração duma mulher

Por mais que eu queira esquecer o meu passado
Meu sofrimento é viver pensando nela
E os amigos só para me ver magoado
Quando me encontra vem me dar noticias dela

Só tenho as ruas e a bebida como herança
Essa mulher me deu esse maldito prêmio
E hoje dela só me resta uma lembrança
A torturar a minha alma de boêmio

Embriagado passo as noites pelas ruas
Ninguém tem pena deste meu triste viver
Olhando ao céu quanto contemplando a luz da lua
Me representa a sua imagem aparecer

Foi o desgosto que atirou-me nesta vida
Abandonado e renegado pelo mundo
Eu vivo sempre naufragado na bebida
Tornei-me apenas um boêmio vagabundo

Perdi amigos, perdi tudo que já tive
Em altas noites só o sereno me abraça
Essa mulher na mesma rua ainda vive
Bebe com outro a brindar minha desgraça

“Se hoje vive maltrapilho pela rua
A culpa é toda tua, não soubestes me conservar
E por vingança hoje eu bebo nesta taça
A brindar tua desgraça na mesa deste bar”

“Segue, segue bebendo que eu continuo vivendo assim
E quando chegar meu fim que eu partir deste mundo
Hás de lembrar com saudade que já foi para eternidade
Eu boêmio vagabundo”

Foi o desgosto que atirou-me nesta vida
Abandonado e renegado pelo mundo
Eu vivo sempre naufragado na bebida
Tornei-me apenas um boêmio vagabundo

Perdi amigos, perdi tudo que já tive
Em altas noites só o sereno me abraça
Essa mulher na mesma rua ainda vive
Bebe com outro a brindar minha desgraça

A vaca foi pro brejo (co-autor Lourival dos Santos)

Mundo velho está perdido Já não endireita mais
Os filhos de hoje em dia já não obedecem os pais
É o começo do fim Já estou vendo sinais
Metade da mocidade estão virando marginais
É um bando de serpenteOs mocinhos vão na frente, as mocinhas vão atrás

Pobre pai e pobre mãe Morrendo de trabalhar
Deixa o couro no serviço pra fazer filho estudar
Compra carro à prestação Para o filho passear
Os filhos vivem rodando fazendo pneu cantar
Ouvi um filho dizer O meu pai tem que gemer
Não mandei ninguém casar

O filho parece rei Filha parece rainha
Eles que mandam na casa e ninguém tira farinha
Manda a mãe calar a boca
Coitada fica quietinha
O pai é um zero à esquerda, é um trem fora da linha
Cantando agora eu falo
Terreiro que não tem galo quem canta é frango e franguinha

Pra ver a filha formada Um grande amigo meu
O pão que o diabo amassou o pobre homem comeu
Quando a filha se formou Foi só desgosto que deu
Ela disse assim pro pai: Quem vai embora sou eu
Pobre pai banhado em pranto
O seu desgosto foi tanto que o pobre velho morreu

Meu mestre é Deus nas alturas O mundo é meu colégio
Eu sei criticar cantando: Deus me deu o privilégio
Mato a cobra e mostro o pau Eu mato e não apedrejo
Dragão de sete cabeças também mato e não aleijo
Estamos no fim do respeito
Mundo velho não tem jeito, a vaca já foi pro brejo

Golpe de mestre

Zezinho não tinha nem pai e nem mãe, rolando pro mundo vivia judiado.
Mariazinha, menina rica, e o pobre Zezinho era seu empregado.
Mas o destino preparou pros dois, porque um do outro ficou enamorado.
Maria dizia, Zezinho, eu te amo, serei sempre tua, meu anjo adorado.
Aos pés de Maria dizia o Zezinho, sou muito pouquinho pra ser teu amado.
O pai de Maria, um sujeito malvado, cismou de dar fim no amor das crianças.
Pegou num chicote de tala bem larga, falou pro Zezinho: no couro tu danças.
A minha filha é menina rica, está nas alturas, você não alcança.
Moleque atrevido, cachorro sem dono, pegue teus trapos e faça mudança.
Zezinho recebe um golpe profundo, e some no mundo cheio de esperança.
Antes da partida, Zezinho escondido, procurou Maria e falou deste jeito.
Existe um bom Deus, que está nas alturas, ele é bom demais, faz tudo perfeito.
Sou um caboclinho, de sangue nas veias, enfrento lança e quebro no peito.
Querida Maria, você vai ser minha, de agora em diante, meu plano está feito.
Se um dia obrigarem você se casar, no altar estarei pra ser tudo desfeito.
Passaram dez anos, correram depressa, Maria solteira, Zezinho solteiro.
O pai de Maria, um sujeito ambicioso, arrumou pra filha, por ser interesseiro.
Um velho careca, feio e barrigudo, mas dono do mundo, com muito dinheiro.
Pobre Maria, detestava o velho, queria Zezinho, seu amor primeiro.
Mas o casamento já estava marcado, pra ser realizado no mês de Janeiro.
Chegou o grande dia do casamento, Maria de branco estava divina.
Bastante capangas e guardas armados, cercava a igreja, guardava a menina.
Zezinho amoitado, esperava no altar, fugiu com maria e sumiu na surdina.
O Zezinho deu um golpe de mestre, só mesmo eu contando, ninguém imagina.
Lá na igreja ninguém desconfiava, que o Zezinho estava dentro da batina.

Por ti padeço (co-autor Carreirinho)

Quem me vê assim cantando sempre alegre e sorridente
Ninguém nota no meu rosto o que meu coração sente

No braço desta viola
Explicarei facilmente

É duro gostar de alguém, que já tem seu pretendente… ai

Quem vê os versos que eu faço diz que eu sou inteligente
O coração de quem ama trova versos de repente

Alguns dá pra ser poeta
Outros fica impertinente

O amor quebra opinião, de qualquer homem valente… ai

Às vezes começo a pensar então meu por contente
Por poder desabafar tudo que meu peito sente

Meus versos no coração
Atinge diretamente

Mais é que a felicidade não pertence a toda gente… ai

Conquistar seu coração sei que não sou suficiente
Vendo você todo dia sofrerei eternamente

Amanhã eu vou embora
Sei que vou partir doente

Pra mim ver você com outro prefiro viver ausente… ai

Maria ciumenta (Bolinha)

Não sei por que Mariazinha essa caboclinha de um olhar sereno
Tem ciúme da Tereza uma camponesa de rosto moreno
Tereza tem tantas belezas que ficou gravado no meu coração
Maria muito bonitinha embora ciumenta ela tem razão
Agora vivo num dilema porque Iracema é meu amor primeiro
Aguarde nosso casamento e pro meu contento ela tem dinheiro
Maria que me desculpe Tereza também
Não posso me casar com ela, mas continuo querendo bem
Mariazinha já me prometeu, será madrinha de um filho meu
E a Tereza é quem vai crismar, a Iracema não pode se opor
A vizinhança é quem fala, que a minha comadre já foi meu amor
A vizinhança é quem fala, que a minha comadre já foi meu amor

Nove e nove (co-autor Lourival dos Santos e Teddy Vieira)

Para frente e para alto
Eu nunca posso parar
Comigo é no nove nove
Nove nove eu vou contar

Meus versos têm nove nove
E nenhum nove vai faltar
Eu vou dar o resultado
E os nove, nove dar

Eu nasci no dia nove
Nove horas fui pagão
Nove padres, nove igrejas
Nove vezes fui cristão

Eu entrei em nove escolas
E aprendi nove lições
Eu ganhei nove medalhas
Quebrei nove campeões

Nove baianos valentes
Junta nove valentias
Nove susto nove choros
Correndo nove famílias

Nove baianos pulando
Corta nove, ferro fria
Nove facão tá tinindo
Nove bainha vazia

Entrei em nove pagodes
Topei nove valentão
Nove tapa, nove tombo
Nove caboclo no chão

Nove processos correndo
E trabalhar nove escrivão
Nove ordem de soltura
Nove advogados bom

Tive nove namoradas
Nove vezes fui casado
Nove sogra, nove sogros
Nove lar abandonado

Quando foi no dia nove
Topei nove cabras armados
Nove tiros eu dei pra cima
Fiz correr nove cunhados

A beleza do ponteio (co-autor Capitão Furtado)

Muita gente me pergunta
Se eu nasci em Juiz de Fora
Barbacena ou Lafaiete
Ouro Preto ou Pirapora
Com toda sinceridade
Vou esclarecer agora

Pode ver que está na cara que eu sou puro mineiro
Cidade de Montes Claros é meu torrão verdadeiro
O meu pai já me ensinava a cantiga do carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar

Quanto mais cantava o carro
Eu ficava mais contente
Eu ainda era um candeeiro
O piá que vai na frente
E às vezes eu pensava
Numa vida diferente

Mesmo o meu pai me dizendo ser carreiro é sua sina
Cismei de ser garimpeiro e rumei pra Diamantina
Ainda lembro as cantigas que cantava lá na mina

Esta cata está funda
Vão descendo devagar
Um escora e outro segura
Pra ninguém se machucar

Tim… dê… Tim dá
Tim… dê… Tim pá
Tim… dê… Tim dá
Tim… dê… Tim pá

Eu fui pra Belo Horizonte
Já não era mais menino
Quando eu fiz dezoito anos
Vi chegar o meu destino
Fui sorteado pra servir
No quartel de Ouro Fino

Mas agora felizmente vejo o meu Brasil inteiro
Que já sabem ver beleza no ponteio do violeiro
Hoje eu lembro com saudade o meu tempo de carreiro

Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar
Por isso mesmo eu não quero carrear
O carro vira e o carreiro vai sambar

Pagode (co-autor Carreirinho)

Morena bonita dos dente aberto
Vai no pagode o barulho é certo
Não me namore tão descoberto
Que eu sou casado mas não sou certo

Modelos de agora é tudo esquisito
Essas mocinhas mostrando os cambitos
Com as canelas fina que nem palmito
As moças de hoje eu não facilito

Eu mais a minha muié fizemos a combinação
Eu vou no pagode ela não vai não
Sábado passado eu fui ela ficou,
Sábado que vem ela fica e eu vou

Canto modas pros amigos pro meu gasto eu também faço
Na viola eu tenho o desembaraço
É coisa que eu acho feio violeiro querer abater
Mais não fazem moda mandam eu fazer

Eu fui na feira com dois tostão
Eu comprei arroz eu comprei feijão
Comprei açúcar comprei canela comprei
Um chicote que é pra bater nela

Vou fazer um vestido pra mulherada
O modelo é bom e não custa nada..
Na parte da frente pano não tem
Na parte de trás é assim também.

Eu vi uma véia tremendo os queixo
Pra me morder mas eu não deixo
Afasta véia da boca murcha
Te dou um tiro com minha garrucha
Bem de pertinho é de queima bucha

Rei do pagode (Lourival dos Santos e Moacir dos Santos)

Afirme o pé companheiro, bambeia o nó da gravata
Nos vamos cantar um pagode, que chegou na hora exata
Por ai tem um caboclo, quando canta me maltrata
Eu vou da minha resposta, que não é muito pacata
Vou tratar meus inimigos do jeito que eles me trata

Tenho dó desse coitado, eu deixo que ele se bata
Com sua língua nos dentes, com modas que desacata
Na escada do sucesso, ele subiu dando rata
A queda dele foi dura, no tombo quase se mata
Não acerta mais um passo, está jogado pras baratas

A verdade é cristalina, é igual água de cascata
Essas modas de abate, é uma coisa muito chata
Não falar mal dos colegas, é uma coisa mais sensata
Esses violeiros invejosos, reclamam da sorte ingrata
Pros escravos da inveja, meu pagode é uma chibata

No lugar aonde eu canto, o povo todo me acata
Sou querido das morenas, das loirinhas e das mulatas
Ganhei medalhas de ouro, não contando as de prata
O brasil inteiro fala, dos violeiros eu sou a nata
Onde eu canto meu pagode, meu sucesso é na batata

Sou um leão africano, quando dá um grito na mata
Os bicho pequeno correm, igualzinho um vira-lata
No lugar que pisa o leão, cachorro não põe a pata
Nossa coroa de rei, quero ver quem arrebata
Nossos laços de amizade, é um nó que não desata

A viola e o violeiro

Tem gente que não gosta da classe de violeiro
No braço desta viola defendo meus companheiros
Pra destruir nossa classe tem que me matar primeiro
Mesmo assim depois de morto ainda eu atrapalho
Morre um homem, fica a fama e minha fama dá trabalho.

Todos que nascem no mundo tem seu destino traçado
Uns nascem pra ser engenheiros, outros pra ser advogados
Eu nasci pra ser violeiro, me sinto bastante honrado
De tanto pontear viola meus dedo estão calejados
Sou um violeiro que canta para vinte e dois estados.

Viva o povo mineiro, cantador de recortado
Também viva os gaúchos que no xote é respeitado
Viva os violeiros do Norte que só canta improvisado
Goiano e Paranaense cantam tudo bem cantado
Viva o chão de Mato Grosso que é o berço do rasqueado.

Representando São Paulo este pagode é o recado
A música dos estrangeiros quer invadir nosso mercado
Vamos fazer uma guerra, cada violeiro é um soldado
Nossa viola é a carabina e nosso peito é um trem blindado
A viola e o violeiro é que não pode ser derrotado.

Meu carro é minha viola (Carreirinho, Mozart Novaes)

Perguntaram se algum dia eu fui carreiro
nao senhor muito menos meu parceiro
é bastante diferente o nosso nome verdadeiro
Tiao Carreiro e Carreirinho é apelido de violeiro
Nois dois nao somos irmaos é somente companheiro
na viola nois ponteia uma semana o ano inteiro, ai ai..

Nosso carro nois nao toca nas estrada
só nas festas no meio das morenada
a viola é o nosso carro e as corda é nossa boiada
sao sinco juntas de boi e muito bem combinada
a nossa vida carreira é uma vida delicada
o carro que nois carreia é a viola bem afinada , ai ai..

As corda fina é os primeiro boi de guia
e as segunda sao os boi da sub-guia
vem a prima e a requinta na puxada bem macia
a toeira é os boi de coice com a sua compania
canotio é o cabeçaio os boi de mais garantia
quando puxa tudas junta até o corpo se arrepia, ai ai…

Nosso carro nois trais muito conservado
nois carreia com jeito e muito cuidado
tem dias que canta alegre outros dia amargurado
as vez canta por prazer muitas vezes obrigado
o cocão é nosso peito num dueto apaixonado
nessa hora de trabaio eu dexo a tristeza de lado , ai ai..

Pagode em Brasília

Quem tem mulher que namora
Quem tem burro empacador
Quem tem a roça no mato me chame
Que jeito eu dou
Eu tiro a roça do mato sua lavoura melhora
E o burro empacador eu corto ele de espora
E a mulher namoradeira eu passo o couro e mando embora

Tem prisioneiro inocente no fundo de uma prisão
Tem muita sogra encrenqueira e tem violeiro embrulhão
Pro prisioneiro inocente eu arranjo advogado
E a sogra encrenqueira eu dou de laço dobrado
E o violeiro embrulhão com meus versos estão quebrados

Bahia deu rui barbosa
Rio grande deu getúlio
Em minas deu juscelino
De são paulo eu me orgulho

Baiano não nasce burro e gaúcho é o rei das coxilhas
Paulista ninguém contesta é um brasileiro que brilha
Quero ver cabra de peito pra fazer outra brasília

No estado de goiás meu pagode está mandando
O bazar do vardomiro em brasília é o soberano
No repique da viola balanceia o chão goiano
Vou fazer a retirada e despedir dos paulistano
Adeus que eu já vou me embora que goiás tá me chamando.

Boiadeiro punho de aço

Me criei em Araçatuba laçando potro e dando repasso
Meu velho pai pra lidar com boi desde pequeno guiou meus passos
Meu filho o mundo é uma estrada cheia de atalho e tanto embaraço
Mas se você for bom no cipó na vida nunca terás fracasso

Com vinte anos parti foi na comitiva de um tal Inácio
Senti o nó me apertar à garganta quando meu pai me deu um abraço
Meu filho Deus lhe acompanhe são esses os votos que eu lhe faço
E como prêmio do teu talento lhe presenteio com esse meu laço

Por este Brasil afora fiz como fazem as nuvens no espaço
Vaguei ao léu conhecendo terras sempre ganhando dinheiro aos maços
Meu cipó em três rodilhas cobria a anca do meu Picasso
Foi o que me garantiu o nome de boiadeiro punho de aço

De volta pra minha terra viajava a noite com um mormaço
Naquilo eu topei com uma boiada beirando rio vinha passo a passo
Um grito de boiadeiro pedindo ajuda cortando espaço
Eu vi que o peão que ia rodando saltei no rio com o meu Picasso

A correnteza era forte tirei o cipó da chincha do macho
E pelo escuro ainda consegui laçar o peão por um dos seus braços
Ao trazer ele na praia meu coração se fez em pedaço
Por um milagre que Deus mandou salvei meu pai com seu próprio laço

Cavaleiros de Bom Jesus (João Alves, Nhô Silva e Teddy Vieira)

Senerino e Zé Diniz
Estes santo ele adora
São chefe nas romaria
Ai, ai, Bom Jesus de Pirapora

Na matriz de Santo Amaro
Reza a missa das deis horas
Pelas alma dos romeiros
Ai, ai, Bom Jesus de Pirapora

Toca a banda da arvorada
Os rojão nos ar istora
Vai saí o porta bandeira
Ai, ai, Bom Jesus de Pirapora

Lá vai indo os cavaleiro
Doze légua istrada a fora
Pra louvá o milagroso
Ai, ai, Bom Jesus de Pirapora

Na hora da comunhão
Tem gente que até chora
Jueia de frente o artar
Ai, ai Bom Jesus de Pirapora

Zé Diniz e Senerino
Deus lhe dê saúde e glória
E também pros cavaleiro
Ai, ai, Bom Jesus de Pirapora

O beijo (Carreirinho – Tião Carreiro & Carreirinho)

Beijo, que significa o beijo:
É pra matar o desejo nascido de uma paixao

Paixao , que quer dizer a paixao:
Quer dizer uma loucura de unir-se a um coraçao

Beijo tudo intao se desvanece
De um beijo ninguem se esquece
Quando é grande o seu amor
Eu perdi um amor do passado
Fiquei desesperado hoje sou um sofredor

Muitos boemio em altas madrugadas
Loucos de amor levam a vida a beber
Lembrando o beijo de sua doce amada
Bebem e cantam para esquecer
Voces que ouvem essas minhas estrofes
Sem notar que sentimento tem
Ve-se entao que foram escritas
Por um da queles boemios tambem

Saudade de Araraquara (Zé Carreiro)

Eu parti de Araraquara
Com destino pra goiás
Quando eu vim da minha terra
Travessei Minas Gerais
Eu passei campinas tristes
Lagoa dos ananáis
Os olhos que lá me viram
De certo não me veem mais

Fiz a minha embarcação
Lá na estação do Brás
Meu amor me procurava
Notícias pelos jornais
Eu padeço ela padece
Padecemos dois iguais
Quem parte leva saudade
Pra quem fica é muito mais

Eu olhei para o horizonte
Avistei certos sinais
Que as estrelas vão correndo
Deixando raios pra trás
Eu te quis e ainda te quero
Cada vez querendo mais
Os agrados de outro amor
Para mim não satisfaz

O meu peito é o retiro
Onde meu suspiro vai
Meu coração é um cuitelo
Que do seu jardim não sai
E vive beijando a rosa
Onde que o sereno cai
Adeus minha rosa branca
Adeus para nunca mais

Boi soberano

Me alembro e tenho saudade do tempo que vai ficando
Do tempo de boiadeiro que eu vivia viajando
Eu nunca tinha tristeza, vivia sempre cantando
Mês e mês cortando estrada no meu cavalo ruano
Sempre lidando com gado, desde à idade de 15 anos
Não me esqueço de um transporte, seiscentos bois cuiabanos
No meio tinha um boi preto por nome de soberano

Na hora da despedida o fazendeiro foi falando
Cuidado com esse boi que nas guampas é leviano
Esse boi é criminoso, já me fez diversos danos
Tocamos pelas estradas naquilo sempre pensando
Na cidade de barretos, na hora que eu fui chegando
A boiada estourou, ai, só via gente gritando
Foi mesmo uma tirania, na frente ia o soberano

O comércio da cidade as portas foram fechando
Na rua tinha um menino decerto estava brincando
Quando ele viu que morria de susto foi desmaiando
Coitadinho debruçou na frente do soberano
O soberano parou, ai, em cima ficou bufando
Rebatendo com o chifre, os bois que vinham passando
Naquilo o pai da criança de longe vinha gritando

Se esse boi matar meu filho eu mato quem vai tocando
E quando viu seu filho vivo e o boi por ele velando
Caiu de joelho por terra e para Deus foi implorando
Salvai meu anjo da guarda desse momento tirano
Quando passou a boiada, o boi foi se retirando
Veio o pai dessa criança e comprou o soberano
Esse boi salvou meu filho, ninguém mata o soberano!

Rei do gado

Num bar de Ribeirão Preto
Eu vi com meus olhos esta passagem
Quando champanha corria a rodo
No alto meio da grã-finagem
Nisto chegou um peão
Trazendo na testa o pó da viagem
Pro garçom ele pediu uma pinga
Que era pra rebater a friagem

Levantou um almofadinha e falou pro dono
Eu tenho má fé
Quando um caboclo que não se enxerga
Num lugar deste vem pôr os pés
Senhor que é o proprietário
Deve barrar a entrada de quarquer
E principarmente nessa ocasião
Que está presente o rei do café

Foi uma sarva de parma
Gritaram viva pro fazendeiro
Quem tem bilhões de pés de cafés
Por este rico chão brasileiro?
Sua safra é uma potência
Em nosso mercado e no estrangeiro
Portanto vejam que este ambiente
Não é pra quarquer tipo rampeiro

Com um modo bem cortês
Responde o peão pra rapaziada
Essa riqueza não me assusta
Topo em aposta quarquer parada
Cada pé desse café
Eu amarro um boi da minha invernada
E pra encerrar o assunto eu garanto
Que ainda me sobra uma boiada

Foi um silêncio profundo
O peão deixou o povo mais pasmado
Pagando a pinga com mil cruzeiro
Disse ao garçom pra guardar o trocado
Quem quiser meu endereço
Que não se faça de arrogado
É só chegar lá em Andradina
E perguntar pelo rei do gado

Ferreirinha

Eu tinha um companheiro por nome de Ferreirinha
Nós lidava com boiada desde nós dois rapazinhos
Fomos buscar um boi bravo no campo do espraiadinho
Eram 28 quilômetros da cidade de Pardinho

Nos chegamos no tal campo cada um seguiu prum lado
Ferreirinha foi num potro redomão muito cismado
Já era de tardezinha e eu já estava bem cansado
Não encontrava o Ferreirinha e nem o tal boi arribado
Naquilo avistei o potro que vinha vindo assustado
Sem arreio e sem ninguém fui ver o que tinha se dado
Encontrei o Ferreirinha numa restinga deitado
Tinha caído do potro e andou pro campo arrastado

Quando avistei Ferreirinha meu coração se desfez
Eu rolei do meu cavalo com tamanha rapidez
Chamava ele por nome chamei duas ou três vezes
E notei que estava morto pela sua palidez
Pra deixar meu companheiro é coisa que eu não fazia
Deixar naquele deserto alguma onça comia
Estava alí só eu e ele Deus em nossa companhia
Veio muitos pensamentos só um é que resolvia

Pra levar meu companheiro veja quanto eu padeci
Amarrei ele pro peito numa árvore suspendi
Cheguei meu cavalo embaixo e na garupa desci
E com cabo de um cabresto amarrei ele em mim
Sai praquela estrada tão triste tão amolado
Era um frio do mês de Junho seu corpo estava gelado
Já era uma meia noite quando eu cheguei no povoado
Deixei na porta da Igreja e fui chamar o Delegado

A morte deste rapaz mais do que eu ninguém sentiu
Deixei de lidar com gado minha inclinação sumiu
Quando lembro essa passagem franqueza me dá arrepio
Parece que a friagem das costas ainda não saiu

Rio de lágrimas (Rio de Piracicaba)

O rio de Piracicaba
Vai jorrar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

Lá no bairro onde eu moro
Só existe uma nascente
A nascente dos meus olhos
Já formou uma corrente
Pertinho da minha casa
Já formou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos
Por causa de uma pessoa

O rio de Piracicaba
Vai jorrar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

Eu quero apanhar uma rosa
Minha mão já não alcança
Eu choro desesperado
Igualzinho uma criança
Duvido alguém que não chore
Pela dor de uma saudade
Quero ver quem que não chora
Quando amar de verdade

O rio de Piracicaba
Vai jorrar água pra fora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora

Lá Onde Eu Moro

Lá onde eu moro,é um recanto encoberto,
mas parece um céu aberto,
cheio de tanta beleza!
lá onde eu moro,minha vida é mais vida,
a paisagem colorida
pela própria natureza!

lá onde eu moro,quem desejar conhecer,
eu ensino com prazer,
com toda sastifação!
a minha casa não é lá muito bonita,
mais quem me fizer visita,
eu recebo de coração!

lá onde eu moro,é cercado de arvoredo,
o sol se esconde mais cedo,
demora surgir o luar.
constantemente,corre água cristalina
lá no alto da colina-
como é lindo a gente olhar!

lá onde eu moro,a gente não fica triste-
tristeza lá não existe,
embora seja um recanto!
lá onde eu moro,é mesmo um paraíso
nos lábios só tem sorriso,
nos olhos não se vê pranto.

lá onde eu moro,quando é madrugada,
gorjeia a passarada,
prenúncio de um novo dia:
o xororó pia triste na queimada,
ao longe,lá na invernada,
a codorninha assobia.
por nada troco meu pedacinho de terra,
minha casa ao pé da serra,
meu campo vestido em flor!
chão abençoado,recanto dos passarinhos-
onde eu moro é um ninho
de paz,ternura e amor!