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Cão sem dono

É nas noites que eu passo sem sono
Entre o copo, a vitrola e a fumaça
Que ergo a torre do meu abandono
E que caio em desgraça
É nas horas em que a noite faz frio
E a lembrança ao castigo me arrasta
Solidão é o carrasco sombrio
E a saudade a vergasta
Se eu cantar a alegria sai falsa
Se eu calar a tristeza começa
E eu prefiro dançar uma valsa
Que ouvir uma peça
E eu recuo, eu prossigo e eu me ajeito
Eu me omito, eu me envolvo e eu me abalo
Eu me irrito, eu odeio, eu exito
Eu reflito e me calo

Mãos

Mãos plantando, compondo
Passando tijolos
Mãos cavando, cortadas
Nas linhas de pesca
Catando no lixo, dormentes
Mãos recém nascidas
Mãos mortas
Mãos de carpinteiro
Mãos de artífice
Mãos de Severino
Mãos de Eurídice
Mãos espancando, acariciando
Mãos erguidas
Mãos postas
Passando o rosário
Mãos guardando o retrato
Com copo tremendo
Esmagando o cigarro
Mãos algemadas
Mãos nuas
Mãos dadas