Maria Firmina dos Reis

Meditação – Maria Firmina dos Reis

(À minha querida irmã – Amália Augusta dos Reis)     Vejamos pois esta deserta praia, Que a meiga lua a pratear começa, Com seu silêncio se harmoniza esta alma, Que verga ao peso de uma sorte avessa. Oh! meditemos na soidão da terra, Nas vastas ribas deste imenso mar; Ao som do vento, que sussurra triste, Por entre os leques do gentil […]

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Nas praias do Cumam – Solidão – Maria Firmina dos Reis

Aqui na solidão minh’alma dorme; Que letargo profundo!… Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito.No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório – além Como chorosa, abandonada amante.E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas

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A uma amiga – Maria Firmina dos Reis

Eu a vi – gentil mimosa, Os lábios da cor da rosa, A voz um hino de amor! Eu a vi, lânguida, e bela: E ele a rever-se nela: Ele colibri – ela flor. Tinha a face reclinada Sobre a débil mão nevada: Era a flor à beira-rio. A voz meiga, a voz fluente, Era um arrulo cadente, Era um vago murmúrio. No langor dos

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Ela! – Maria Firmina dos Reis

(A pedido) Ela! Quanto é bela, essa donzela, A quem tenho rendido o coração! A quem votei minh’alma, a quem meu peito Num êxtase de amor vive sujeito… Seu nome!… não – meus lábios não dirão! Ela! minha estrela, viva e bela, Que ameiga meu sofrer, minha aflição; Que transmuda meu pranto em mago riso. Que da terra me eleva ao paraíso… Seu

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Seu nome – Maria Firmina dos Reis

Seu nome! em repeti-lo a planta, a erva, A fonte, a solidão, o mar, a brisa Meu peito se extasia! Seu nome é meu alento, é-me deleite; Seu nome, se o repito, é dúlia nota De infinda melodia.Seu nome! vejo-o escrito em letras d’ouro No azul sideral à noite quando Medito à beira-mar: E sobre as mansas águas debruçada, Melancólica, e bela eu vejo

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Confissão – Maria Firmina dos Reis

Embalde, te juro, quisera fugir-te, Negar-te os extremos de ardente paixão: Embalde, quisera dizer-te: – não sinto Prender-me à existência profunda afeição. Embalde! é loucura. Se penso um momento, Se juro ofendida meus ferros quebrar: Rebelde meu peito, mais ama querer-te, Meu peito mais ama de amor delirar. E as longas vigílias, – e os negros fantasmas, Que os sonhos povoam, se

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À minha extremosa amiga D. Ana Francisca Cordeiro – Maria Firmina dos Reis

Donzela, tu suspiras – esse pranto, Que vem do coração banhar teu rosto, Esse gemer de lânguido penar, Revela amarga dor – imo desgosto: Amiga… acaso cismas ao luar, Terno segredo de ignoto amor?!… Soltas madeixas desprendidas voam Por sobre os ombros de nevada alvura; Tua fronte pálida os pesares c’roam Como auréola de martírio… pura, Cândida virgem… que abandono o teu? Sonhas acaso com

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Uma tarde no Cuman – Maria Firmina dos Reis

Aqui minh’alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia – mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga

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O meu desejo – Maria Firmina dos Reis

A um jovem poeta guimaraense Na hora em que vibrou a mais sensível Corda de tu’alma – a da saudade, Deus mandou-te, poeta, um alaúde, E disse:Canta amor na soledade. Escuta a voz do céu, – eia, cantor, Desfere um canto de infinito amor. Canta os extremos duma mãe querida, Que te idolatra, que te adora tanto! Canta das meigas, das gentis

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Ah! não posso – Maria Firmina dos Reis

Se uma frase se pudesse Do meu peito destacar; Uma frase misteriosa Como o gemido do mar, Em noite erma, e saudosa, De meigo, e doce luar. Ah! se pudesse!… mas muda Sou, por lei, que me impõe Deus! Essa frase maga encerra, Resume os afetos meus; Exprime o gozo dos anjos, Extremos puros dos céus. Entretanto, ela é meu sonho, Meu ideal inda é ela; Menos

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No álbum de uma amiga – Maria Firmina dos Reis

D’amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar; Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?… Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. ——————– D’amiga

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