Poeta: Manoel de Barros

Filho de Alice Pompeu Leite de Barros e João Venceslau Barros, Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no dia 19 de dezembro de 1916. Indiscutivelmente Manoel de Barros foi um dos principais poetas contemporâneos, o autor escrevia versos nos quais elementos regionais se misturavam a considerações existenciais.

Manoel de Barros passou a infância na fazenda da família localizada no Pantanal e sua origem pantaneira teve grandes influências em suas obras.  Em 1937, publicou seu primeiro livro de poesias intitulado “Poemas Concebidos Sem Pecados”. Manoel de Barros foi um poeta tanto quanto primitivo para alguns e produzia seus versos a partir da realidade imediata que o cercava.  Apesar da formação cosmopolita, grande parte de sua obra fala sobre a natureza.

Mostrava-se distante do rótulo de “Jeca do Pantanal”, que lhe tentaram impingir. Se tornou um dos grandes nomes da literatura nacional e foi reconhecido com inúmeros prêmios literários. Entre suas principais obras estão: Face Imóvel (1942), Poemas Concebidos Sem Pecado (1937), Poesias (1946), Gramática Expositiva do Chão (1969), Compêndio Para Uso dos Pássaros (1961), Matéria de Poesia (1974), entre muitas outras.

Prefácio – Manoel de Barros

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —sem nome.Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.Insetos errados de cor caíam no mar.A voz se estendeu na direção da boca.Caranguejos apertavam mangues.Vendo que havia na terraDependimentos demaisE tarefas muitas —Os homens começaram a roer unhas.Ficou certo pois nãoQue as moscas iriam …

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Aprendimentos – Manoel de Barros

O filósofo Kierkegaard me ensinou que culturaé o caminho que o homem percorre para se conhecer.Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fimfalou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisasdi-menor com a natureza. Aprendeu que as folhasdas árvores servem para nos ensinar a …

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Apanhador de desperdícios – Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.Não gosto das palavrasfatigadas de informar.Dou mais respeitoàs que vivem de barriga no chãotipo água pedra sapo.Entendo bem o sotaque das águasDou respeito às coisas desimportantese aos seres desimportantes.Prezo insetos mais que aviões.Prezo a velocidadedas tartarugas mais que a dos mísseis.Tenho em mim um atraso de nascença.Eu fui aparelhadopara …

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Retrato do artista quando coisa – Manoel de Barros

A maior riquezado homemé sua incompletude.Nesse pontosou abastado.Palavras que me aceitamcomo sou— eu não aceito.Não aguento ser apenasum sujeito que abreportas, que puxaválvulas, que olha orelógio, que compra pãoàs 6 da tarde, que vailá fora, que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.Perdoai. Mas eupreciso ser Outros.Eu pensorenovar o homemusando borboletas. Manoel de Barros Autor: …

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O fazedor de amanhecer – Manoel de Barros

Sou leso em tratagens com máquina.Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.Em toda a minha vida só engenhei3 máquinasComo sejam:Uma pequena manivela para pegar no sono.Um fazedor de amanhecerpara usamentos de poetasE um platinado de mandioca para ofordeco de meu irmão.Cheguei de ganhar um prêmio das indústriasautomobilísticas pelo Platinado de Mandioca.Fui aclamado de idiota pela maioriadas …

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