João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto nasceu em 9 de janeiro de 1920 na cidade do Recife (PE). Filho de Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo e de Luís Antônio Cabral de Melo, era primo do poeta Manuel Bandeira. Além disso, também era irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo. João Cabral de Melo Neto foi um dos grandes poetas clássicos brasileiros. Autor da obra Morte e Vida Severina, se consagrou como poeta dramático no século XX. Graças a sua contribuição à literatura nacional tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras. 

As obras literárias de João Cabral são caracterizadas pela utilização da metalinguagem – muitos dos seus textos falam sobre a própria criação literária. Seus poemas também contêm influência da cultura popular e imagens surrealistas. Já em termos de formato, João Cabral é conhecido pela rigidez formal com rimas fixas, além de versos rimados. 

Entre os principais reconhecimentos estão o “Prêmio da Poesia” do Instituto Nacional do Livro, o Prêmio da União Brasileira de Escritores pelo livro Crime na Calle Relator (1987) e o Prêmio Jabuti da Academia Brasileira do Livro. Entre suas principais obras estão: Pedra do Sono (1942), O Engenheiro (1945), Psicologia da Composição (1947), O Cão Sem Plumas (1950), O Rio (1954), Morte e Vida Severina (1956), entre outras.

Fábula de um arquiteto – João Cabral de Melo Neto

A arquitetura como construir portas,de abrir; ou como construir o aberto;construir, não como ilhar e prender,nem construir como fechar secretos;construir portas abertas, em portas;casas exclusivamente portas e tecto.O arquiteto: o que abre para o homem(tudo se sanearia desde casas abertas)portas por-onde, jamais portas-contra;por onde, livres: ar luz razão certa. Até que, tantos livres o amedrontando,renegou […]

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A educação pela pedra – João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;Para aprender da pedra, frequentá-la;Captar sua voz inenfática, impessoal(pela de dicção ela começa as aulas).A lição de moral, sua resistência friaAo que flui e a fluir, a ser maleada;A de poética, sua carnadura concreta;A de economia, seu adensar-se compacta:Lições da pedra (de fora para dentro,Cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra

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Catar feijão – João Cabral de Melo Neto

1. Catar feijão se limita com escrever:Jogam-se os grãos na água do alguidarE as palavras na folha de papel;e depois, joga-se fora o que boiar.Certo, toda palavra boiará no papel,água congelada, por chumbo seu verbo;pois catar esse feijão, soprar nele,e jogar fora o leve e oco, palha e eco. 2. Ora, nesse catar feijão entra

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Os três mal amados – João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meu nome, minha identidade,meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade,minha genealogia, meu endereço. O amorcomeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todosos papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhascamisas. O amor comeu metros e metros degravatas. O amor comeu a

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Graciliano Ramos – João Cabral de Melo Neto

Falo somente com o que falo:com as mesmas vinte palavrasgirando ao redor do solque as limpa do que não é faca:de toda uma crosta viscosa,resto de janta abaianada,que fica na lâmina e cegaseu gosto da cicatriz clara.Falo somente do que falo:do seco e de suas paisagens,Nordestes, debaixo de um solali do mais quente vinagre:que reduz

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Psicologia da composição (trecho) – João Cabral de Melo Neto

Saio de meu poemacomo quem lava as mãos.Algumas conchas tornaram-se,que o sol da atençãocristalizou; alguma palavraque desabrochei, como a um pássaro.Talvez alguma conchadessas (ou pássaro) lembre,côncava, o corpo do gestoextinto que o ar já preencheu;talvez, como a camisavazia, que despi.Esta folha brancame proscreve o sonho,me incita ao versonítido e preciso.Eu me refugionesta praia puraonde nada

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Morte e Vida Severina (trecho) – João Cabral de Melo Neto

— O meu nome é Severino,como não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,deram então de me chamarSeverino de Maria;como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.Mais isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigosenhor

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O relógio – João Cabral de Melo Neto

Ao redor da vida do homemhá certas caixas de vidro,dentro das quais, como em jaula,se ouve palpitar um bicho. Se são jaulas não é certo;mais perto estão das gaiolasao menos, pelo tamanhoe quadradiço de forma. Umas vezes, tais gaiolasvão penduradas nos muros;outras vezes, mais privadas,vão num bolso, num dos pulsos. Mas onde esteja: a gaiolaserá

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