Poeta: Elizandra Souza
Nascida na periferia de São Paulo, em 1983, Elizandra Souza viveu parte de sua vida em Nova Soure (BA), terra natal de seus pais. Retornou à capital paulista em 1996, momento em que inicia seu interesse na cultura hip-hop. Criadora do “Mjiba, fanzine de poesia”, o movimento permaneceu ativo entre 2001 e 2005 e Elizandra passou a frequentar os Saraus da Cooperifa a partir de 2004.
Para a autora, a poesia tem como ponto de partida sua vontade de revelar a sua condição étnica e de gênero sem que precisar usar tais palavras. Seu poema “Em legítima defesa”, colaborou com a criação do livro Águas da cabaça que relato casos midiatizados e aborda a violência contra a mulher. Elizandra Souza, perante toda uma herança escravocrata, entende que a mulher negra faz parte da base da sociedade brasileira, uma vez que as discriminações de gênero, classe e de raça se entrelaçam e colaboram para que o racismo seja tido apenas como um preconceito social.
A poetisa é autora do livro Águas da Cabaça, lançado em outubro de 2012, A obra é totalmente editada, produzida e publicada por jovens negras. É também coautora do livro de poesias Punga e tem participação em antologias literárias e revistas como: Literatura Marginal – Ato 3, Cadernos Negros, Negrafias, entre outras.
Enquanto eu dormia Os pássaros lá fora Dançavam ciranda E aqui do lado de dentro As paredes refletiam A tinta soltando do reboco Malcolm vigiava Com arma em punho Bob acendia um alívio Tupac me seduzia Enquanto eu dormia Os pássaros lá fora Dançavam ciranda O menino-homem ou Homem-menino Anoiteceu doce agarrado Nos galhos do …
Ciranda dos pássaros – Elizandra Souza Leia mais »
Nossas afinidades Tardes de preciosidades suco de cacau com graviola um samba de Cartola ele fumaça, eu incenso ele melodia, eu silêncio Nossas contendas Resolvemos com oferendas Ervas de benzedura Mordida na cintura Lambida no pescoço Esquecemos do almoço Somos estações do ano Períodos de estiagem Épocas de chuva Uma manhã ele me seduz Uma …
Ensaio sobre nós – Elizandra Souza Leia mais »
Aquela sinfonia é a mesma revoada que tenho n’alma sabe essa agonia de quem não sabe para onde vai e volta para o mesmo lugar É como subir as escadarias de um morro nunca visitado você caminha pé a pé e não sabe onde finda Há sempre um condutor que te leva na morada dos …
Revoada n’alma – Elizandra Souza Leia mais »
Hoje a poesia veio triste Despedidas são sempre o vazio O que não existirá mais Essa dor que arranha a garganta Embarga a voz E essa liberdade das águas dos olhos Caindo descontroladamente… Hoje a poesia veio triste Como a vitória regia solitária no rio Como uma estradeira que não olha pra trás Fecha a …
Estradeira – Elizandra Souza Leia mais »
Quem pode prender essa ventania que mora em mim? Essa fertilidade de espalhar boas sementes De unir elementos contraditórios dentro de si Tempo que se fecha sem chover, poeira do meu indizível. Fogo que alastra indomável pelo caminho Águas que recuam e voltam com intensidade Nesta instabilidade de nascer tempestade e dissipar-se fogo Fecha meu …
Redemoinhos – Elizandra Souza Leia mais »