Clarice Lispector

Natural de Tchetchelnik, Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Ucrânia. A poetisa foi um dos maiores nomes femininos da história literária brasileira no Século XX. Graças aos seus romances inovadores e com sua linguagem extremamente poética, sua obra se destacou em relação aos modelos narrativos tradicionais da época. 

Clarice Lispector é considerada uma escritora intimista. Porém sua produção literária também envolve outros universos – sua obra também é filosófica, social e existencial. Em busca de uma linguagem única para expressar o estado da alma e suas paixões, a autora utilizou recursos técnicos modernos como o monólogo interior e a análise psicológica ao longo de sua obra; As histórias de Clarice raramente seguem a estrutura de um começo, um meio e um fim, sua ficção transcende o tempo e o espaço. Os personagens são postos em situações limite e são, com frequência, mulheres situadas em centros urbanos.

Clarice viveu quase duas décadas fora do Brasil. Dessa forma, acabou escrevendo muitas cartas aos amigos com um olhar cosmopolita, falando nas correspondências sobre as agruras da condição humana, os absurdos do cotidiano e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra Todas as Cartas publicada em 2020. Entre as suas principais obras estão: Lustre (1946), A Cidade Sitiada (1949), Alguns Contos (1952), Laços de Família (1960), A Maçã no Escuro (1961), A Paixão Segundo G.H (1961, entre outras.

O sonho – Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,porque você possui apenas uma vidae nela só se tem uma chancede fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.Dificuldades para fazê-la forte.Tristeza para fazê-la humana.E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.Elas sabem fazer o melhor das oportunidadesque aparecem […]

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Isso é muita sabedoria – Clarice Lispector

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou

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Quero escrever o borão vermelho de sangue – Clarice Lispector

Quero escrever o borrão vermelho de sanguecom as gotas e coágulos pingandode dentro para dentro.Quero escrever amarelo-ourocom raios de translucidez.Que não me entendampouco-se-me-dá.Nada tenho a perder.Jogo tudo na violênciaque sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que eu,por falso respeito humano,não dei. Mas aqui vai o meu berrome rasgando as profundas entranhasde

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Meu Deus, me dê a corajem – Clarice Lispector

Meu Deus, me dê a coragemde viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,todos vazios de Tua presença.Me dê a coragem de considerar esse vaziocomo uma plenitude.Faça com que eu seja a Tua amante humilde,entrelaçada a Ti em êxtase.Faça com que eu possa falarcom este vazio tremendoe receber como respostao amor materno que nutre

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Sou… – Clarice Lispector

… assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho. As vísceras torturadas pela voluptuosidade Guiam-me, fúria dos impulsos. Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de

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Não te amo mais – Clarice Lispector

Não te amo mais.Estarei mentindo dizendo queAinda te quero como sempre quis.Tenho certeza queNada foi em vão.Sinto dentro de mim queVocê não significa nada.Não poderia dizer jamais queAlimento um grande amor.Sinto cada vez mais queJá te esqueci! E jamais usarei a fraseEU TE AMO!Sinto, mas tenho que dizer a verdadeÉ tarde demais… Nota: leia o

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Nossa truculência – Clarice Lispector

Quando penso na alegria vorazcom que comemos galinha ao molho pardo,dou-me conta de nossa truculência.Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,tanto gosto delas vivasmexendo o pescoço feioe procurando minhocas.Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?Nunca.Nós somos canibais,é preciso não esquecer.E respeitar a violência que temos.E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,comeríamos

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Passional – Clarice Lispector

Sou um ser totalmente passional.Sou movida pela emoção, pela paixão…. tenho meus desatinos…Detesto coisas mais ou menos.Não sei conviver com pessoas mais ou menos Não sei amar mais ou menos.Não me entrego de forma mais ou menos.Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo… ESQUEÇA-ME!Se você sabe conviver com pessoas intempestivas,

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Estrela perigosa – Clarice Lispector

Estrela perigosaRosto ao ventoMarulho e silêncioleve porcelanatemplo submersotrigo e vinhotristeza de coisa vividaárvores já floresceramo sal trazido pelo ventoconhecimento por encantaçãoesqueleto de idéiasora pro nobisDecompor a luzmistério de estrelaspaixão pela exatidãocaça aos vagalumes.Vagalume é como orvalhoDiálogos que disfarçam conflitos por explodirEla pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é. No obscuro erotismo de vida

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Eu – Clarice Lispector

Sou composta por urgências:minhas alegrias são intensas;minhas tristezas, absolutas.Entupo-me de ausências,Esvazio-me de excessos.Eu não caibo no estreito,eu só vivo nos extremos. Pouco não me serve,médio não me satisfaz,metades nunca foram meu forte! Todos os grandes e pequenos momentos,feitos com amor e com carinho,são pra mim recordações eternas.Palavras até me conquistam temporariamente…Mas atitudes me perdem ou

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Precisão – Clarice Lispector

O que me tranquilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existecom essa exatidãonos é tecnicamente

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A lucidez perigosa – Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grandeque me anula como pessoa atual e comum:é uma lucidez vazia, como explicar?assim como um cálculo matemático perfeitodo qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizervendo claramente o vazio.E nem entendo aquilo que entendo:pois estou infinitamente maior que eu mesma,e não me alcanço.Além do que:que faço dessa lucidez?Sei

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A perfeição – Clarice Lispector

O que me tranqüilizaé que tudo o que existe,existe com uma precisão absoluta.O que for do tamanho de uma cabeça de alfinetenão transborda nem uma fração de milímetroalém do tamanho de uma cabeça de alfinete.Tudo o que existe é de uma grande exatidão.Pena é que a maior parte do que existecom essa exatidãonos é tecnicamente

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