Álvares de Azevedo

Escritor, Poeta e contista, Álvares de Azevedo foi um autor da Segunda Geração Romântica brasileira. Suas poesias retratam o seu mundo interior, ficando conhecido como “o poeta da dúvida”. Faz parte dos poetas que não davam tanto destaque a temas indianistas e nacionalistas, utilizados na Primeira Geração Romântica. Álvares de Azevedo mergulhava fundo em seu mundo interior e, graças as suas obras, se tornou patrono da cadeira n.º 2, da Academia Brasileira de Letras.

Álvares de Azevedo é um dos nomes mais importantes do “Ultra Romantismo”.  Também chamado de “Segunda Geração Romântica”, o movimento se caracterizou pelos poetas deixaram em segundo plano os temas tradicionais e darem ênfase as suas questões pessoais. Seus poemas falam constantemente das frustrações amorosas, do tédio da vida e dos sentimentos relacionados a morte. A figura da mulher aparece frequentemente em seus versos, ora como um anjo, ora como demônio, mas sempre distante e inacessível. Álvares de Azevedo transparecia em seus poemas, a marca de uma adolescência conflitante.

Álvaro de Azevedo não teve nenhuma obra publicada ao longo de sua vida. Álvares de Azevedo faleceu em 1852, com apenas 20 anos de idade. O livro Lira dos Vinte Anos foi a única obra preparada pelo autor. Após sua morte, suas obras foram publicadas e entre elas estão: Lira dos Vinte Anos (1853), A Noite na Taverna (1855), O Conde Lopo, poesia (1866), entre outras.

Namoro a cavalo – Álvares de Azevedo

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraçaQue rege minha vida malfadada,Pôs lá no fim da rua do CateteA minha Dulcinéia namorada. Alugo (três mil-réis) por uma tardeUm cavalo de trote (que esparrela!)Só para erguer meus olhos suspirandoÀ minha namorada na janela… Todo o meu ordenado vai-se em floresE em lindas folhas de papel bordado,Onde eu […]

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Lenço dela – Álvares de Azevedo

Quando, a primeira vez, da minha terraDeixei as noites de amoroso encanto,A minha doce amante suspirandoVolveu-me os olhos úmidos de pranto. Um romance cantou de despedida,Mas a saudade amortecia o canto!Lágrimas enxugou nos olhos belos…E deu-me o lenço que molhava o pranto. Quantos anos, contudo, já passaram!Não olvido porém amor tão santo!Guardo ainda num cofre

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Morena – Álvares de Azevedo

Ó Teresa, um outro beijo! e abandona-mea meus sonhos e a meus suaves delírios.JACOPO ORTIS É loucura, meu anjo, é loucuraOs amores por anjos… bem sei!Foram sonhos, foi louca ternuraEsse amor que a teus pés derramei! Quando a fronte requeima e delira,Quando o lábio desbota de amor,Quando as cordas rebentam na liraQue palpita no seio

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Vi o poeta moribundo – Álvares de Azevedo

Poetas! amanhã ao meu cadáverMinha tripa cortai mais sonorosa!…Façam dela uma corda, e cantem nelaOs amores da vida esperançosa! Cantem esse verão que me alentava…O aroma dos currais, o bezerrinho,As aves que na sombra suspiravam,E os sapos que cantavam no caminho! Coração, porque tremes? Se esta liraNas minhas mãos sem força desafina;Enquanto ao cemitério não

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Minha desgraça – Álvares de Azevedo

Minha desgraça, não, não é ser poeta,Nem na terra de amor não ter um eco,E meu anjo de Deus, o meu planetaTratar-me como trata-se um boneco…. Não é andar de cotovelos rotos,Ter duro como pedra o travesseiro….Eu sei…. O mundo é um lodaçal perdidoCujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro…. Minha desgraça, ó cândida

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Vagabundo – Álvares de Azevedo

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,Fumando meu cigarro vaporoso;Nas noites de verão namoro estrelas;Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;Mas tenho na viola uma riqueza:Canto à lua de noite serenatas,E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raivaNas cavernas do

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Meu sonho – Álvares de Azevedo

EU Cavaleiro das armas escuras,Onde vais pelas trevas impurasCom a espada sanguenta na mão?Porque brilham teus olhos ardentesE gemidos nos lábios frementesVertem fogo do teu coração? Cavaleiro, quem és? o remorso?Do corcel te debruças no dorso….E galopas do vale através…Oh! da estrada acordando as poeirasNão escutas gritar as caveirasE morder-te o fantasma nos pés? Onde

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Sem título – Álvares de Azevedo

ITenho um seio que deliraComo as tuas harmonias!Que treme quando suspira,Que geme como gemias! IITenho músicas ardentes,Ais do meu amor insano,Que palpitam mais dormentesDo que os sons do teu piano! IIITenho cordas argentinasQue a noite faz acordar,Como as nuvens peregrinasDas gaivotas do alto mar! IVComo a teus dedos lindinhosO teu piano gemer,Vibra-me o seio aos

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Malva maça – Álvares de Azevedo

De teus seios tão mimososQuem gozasse o talismã!Que ali deitasse a fronteCheia de amoroso afã!E quem nele respirasseA tua malva-maçã! Dá-me essa folha cheirosaQue treme no seio teu!Dá-me a folha… hei de beijá-laSedenta no lábio meu!Não vês que o calor do seioTua malva emurcheceu… (…) Descansar nesses teus braçosFora angélica ventura:Fora morrer — nos teus

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Por que mentias? – Álvares de Azevedo

Por que mentias leviana e bela?Se minha face pálida sentiasQueimada pela febre, e minha vidaTu vias desmaiar, por que mentias? Acordei da ilusão, a sós morrendoSinto na mocidade as agonias.Por tua causa desespero e morro…Leviana sem dó, por que mentias? Sabe Deus se te amei! Sabem as noitesEssa dor que alentei, que tu nutrias!Sabe esse

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Lira dos vinte anos – Álvares de Azevedo

Oh! não tremas! que este olhar, esteabraço te digam quanto é inefável – o deabandono sem receio, os inebriamentos deuma voluptuosidade que deve ser eterna.GOETHE, Fausto Sim! coroemos as noitesCom as rosas do himeneu…Entre flores de laranjaSerás minha e serei teu! Sim! quero em leito de floresTuas mãos dentro das minhas…Mas os círios dos amoresSejam

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Se eu morresse amanhã – Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudades morreriaSe eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que manhã!Eu perdera chorando essas coroasSe eu morresse amanhã! Que sol! que céu azul! que doce n’alvaAcorda a natureza mais louçã!Não me batera tanto amor no

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Lira dos vinte anos – 2a parte – Álvares de Azevedo

Meu pobre coração que estremecias,Suspira a desmaiar no peito meu:Para enchê-lo de amor, tu bem sabiasBastava um beijo teu! Como o vale nas brisas se acalenta,O triste coração no amor dormia;Na saudade, na lua macilentaSequioso ar bebia! Se nos sonhos da noite se embalavaSem um gemido, sem um ai sequer,E que o leite da vida

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Por mim? – Álvares de Azevedo

Teus negros olhos uma vez fitandoSenti que luz mais branda os acendia,Pálida de langor, eu vi, te olhando,Mulher do meu amor, meu serafim,Esse amor que em teus olhos refletia…Talvez! – era por mim? Pendeste, suspirando, a face pura,Morreu nos lábios teus um ai perdido…Tão ébrio de paixão e de ventura!Mulher de meu amor, meu serafim,Por

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Pálida à luz – Álvares de Azevedo

Pálida à luz da lâmpada sombria,Sobre o leito de flores reclinada,Como a lua por noite embalsamada,Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar, na escuma friaPela maré das águas embalada!Era um anjo entre nuvens dalvoradaQue em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! o seio palpitandoNegros olhos as pálpebras

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Oh! Páginas da vida que eu amava – Álvares de Azevedo

Oh! Páginas da vida que eu amava,Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado! …Ardei, lembranças doces do passado!Quero rir-me de tudo que eu amava! E que doudo que eu fui! como eu pensavaEm mãe, amor de irmã! em sossegadoAdormecer na vida acalentadoPelos lábios que eu tímido beijava! Embora — é meu destino. Em treva densaDentro do peito

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Lembrança de morrer – Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibraQue o espírito enlaça à dor vivente,Não derramem por mim nem uma lágrimaEm pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impuraA flor do vale que adormece ao vento:Não quero que uma nota de alegriaSe cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédioDo deserto, o

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Anjos do mar – Álvares de Azevedo

As ondas são anjos que dormem no mar,Que tremem, palpitam, banhados de luz…São anjos que dormem, a rir e sonharE em leito d’escuma revolvem-se nus! E quando, de noite, vem pálida a luaSeus raios incertos tremer, pratear…E a trança luzente da nuvem flutua…As ondas são anjos que dormem no mar! Que dormem, que sonham… e

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Eutanásia – Álvares de Azevedo

Ergue-te daí, velho! ergue essa fronte onde o passado afundou suas rugas como o vendaval no Oceano, onde a morte assombrou sua palidez como na face do cadáver, onde o simoun do tempo ressicou os anéis louros do mancebo nas cãs alvacentas de ancião?Por que tão lívido, ó monge taciturno, debruças a cabeça macilenta no

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Fantasia – Álvares de Azevedo

Quanti dolci pensier, quanto disio!DANTE C’est alors que ma voixMurmure un nom tout bas… c’est alors que je voisM’apparaître à demi, jeune, voluptueuse,Sur ma couche penchée une femme amoureuse!………………………..Oh! toi que j’ai rêvée,Femme à mes longs baisers si souvent enlevée,Ne viendras-tu jamais?………………………..CH. DOVALLE À noite sonhei contigo…E o sonho cruel maldigoQue me deu tanta ventura.Uma

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Fragmento de um canto em cordas de bronze – Álvares de Azevedo

Deixai que o pranto esse palor me queime,Deixai que as fibras que estalaram doresDesse maldito coração me vibremA canção dos meus últimos amores! Da delirante embriaguez de bardoSonhos em que afoguei o ardor da vida,Ardente orvalhos de febris pranteios,Que lucro à alma descrida? Deixai que chore pois. — Nem loucas venhamConsolações a importunar-me as dores:Quero

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Idéias íntimas – Álvares de Azevedo

FRAGMENTO.La chaise ou je m’assieds, la natte ou je me couche,La table ou je t’écris, ……………………….…………………………………………….Mes gros souliers ferrés, mon bâton, mon chapeau,Mes livres pêle-mêle entassés sur leur planche……………………………………………..De cet espace étroit sont tout l’ameublement.LAMARTINE. Jocelyn. I Ossian o bardo é triste como a sombraQue seus cantos povoa. O LamartineE’ monótono e belo como a

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Lágrima de sangue – Álvares de Azevedo

Ao pé das aras no clarão dos círiosEu te devera consagrar meus dias;Perdão, meu Deus! perdãoSe neguei meu Senhor nos meus delíriosE um canto de enganosas melodiasLevou meu coração! Só tu, só tu podias o meu peitoFartar de imenso amor e luz infindaE uma Saudade calma;Ao sol de tua fé doirar meu leitoE de fulgores

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Lágrimas da vida – Álvares de Azevedo

Ao pé das aras no clarão dos círiosEu te devera consagrar meus dias;Perdão, meu Deus! perdãoSe neguei meu Senhor nos meus delíriosE um canto de enganosas melodiasLevou meu coração! Só tu, só tu podias o meu peitoFartar de imenso amor e luz infindaE uma Saudade calma;Ao sol de tua fé doirar meu leitoE de fulgores

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Amor – Álvares de Azevedo

Amemos! Quero de amorViver no teu coração!Sofrer e amar essa dorQue desmaia de paixão!Na tu’alma, em teus encantosE na tua palidezE nos teus ardentes prantosSuspirar de languidez! Quero em teus lábio beberOs teus amores do céu,Quero em teu seio morrerNo enlevo do seio teu!Quero viver d’esperança,Quero tremer e sentir!Na tua cheirosa trançaQuero sonhar e dormir!

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Anjinho – Álvares de Azevedo

And from her fresh and unpolluted fleshMay violets spring!HAMLET Não chorem! que não morreu!Era um anjinho do céuQue um outro anjinho chamou!Era uma luz peregrina,Era uma estrela divinaQue ao firmamento voou! Pobre criança! dormia:A beleza reluziaNo carmim da face dela!Tinha uns olhos que choravam,Tinha uns risos que encantavam!Ai meu Deus! era tão bela! Um anjo

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Adeus, meus sonhos! – Álvares de Azevedo

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!Não levo da existência uma saudade!E tanta vida que meu peito enchiaMorreu na minha triste mocidade! Misérrimo! Votei meus pobres diasÀ sina doida de um amor sem fruto,E minh’alma na treva agora dormeComo um olhar que a morte envolve em luto. Que me resta, meu Deus? Morra comigoA estrela

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