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Fascínio – Affonso Romano de Sant`Anna

Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


O homem e a letra – Affonso Romano de Sant`Anna

Depois de Beranger ter visto seus vizinhos virarem rinocerontes
depois de Clov contemplar a terra arrasada e comunicar-se
em monossílabos com seus pais numa lixeira
depois de Gregory Sansa ter acordado numa manhã
transformado em desprezível inseto aos olhos da família
e Kafka não ter entrado no castelo para ele aberto todavia
depois de Carlito a sós na ceia do ano cavando o inexistente
afeto no ouro dós salões
depois de Se Tsuam perder-se não entre as três virtudes
teologais
mas num maniqueísmo banal entre o bem e o mal
depois dos diálogos estáticos de Vladimir e Estragon
na estrada.de Godot
depois de Alfred Prufrock como um velho numa estação
seca contemplando a devastação e incapaz de perturbar o universo
depois dos labirintos de Teseu, Borges e Robbe-Grillet
depois que o lobo humano se refugiou transido na estepe fria
depois da recherche no tempo perdida e de Ulisses perdido
no périplo de Dublin
depois de Mallarmé se exasperar no jogo inútil de seus dados
e Malevitch descobrir que sobre o branco
só resta o branco por pintar
depois dos falsos moedeiros moendo a escrita exasperante
em suas torres devorando o que das mãos de Cronos
gera e degenera
depois da morte do homem e da morte da alma
depois da morte de Deus na Carolina do Norte
antes e depois do depois
aqui estou Eu confiante Eu pressupondo EU erigindo
Eu cavando Eu remordendo
Eu renitente Eu acorrentado Eu Prometeu Narciso Orfeu
órfano Eu narciso maciço promitente Eu
descosendo a treva barroca desse Yo
sem pejo do passado
reinventando meu secreto
concreto
Weltschmerz
Que ligação estranha então havia entre os nós e os nós
de outros eus
entre Deus e Zeus
que estranha insistência que penitência ardente que estúpido
e tépido humanismo
que fragilidade na memória que vocação de emblemas
e carência em mitografar-se
que projectum árduo e cego que radar tremendo pelas veias
que vocação de camuflar abismos e flutuar no vácuo
que reincidente recolocar do vazio no centro do vazio?

Que aconteça o humano com todos os seus happenings
e dadas?
que para total desespero de mim mesmo e de meus amigos
I have a strong feeling that the sum of the parts does not
equal the whole
e que la connaissance du tout précède celle des parties
e com um irlandês aprendo a dividir 22 por 7 e achar
no resto ZERO
enquanto grito sobre as falésias
when genuine passion moves you say what you have to say
and say it hot
Bêbado de merda e fel egresso da Babel e de onde os sofistas
me lançaram
vate vastíssimo possesso e cego guiado pelo que nele há
de mais cego
tateando abismos em parábolas
açodando a louca parelha que avassala os céus
diante do todo-poderoso Nabucodonosor eu hoje tive um sonho:
OOO: INFERNO — recomeçar
Salute o Satana, “Finnegans reven again!”
agora sei que há a probabilidade da prova e da idade
o descontínuo do tímpano e o contínuo
que de Prometeu se vai a Orfeu e de Ptolomeu se vai
a Galileu
Eurídice e Eu, Eu e Orfeu
o feitiço contra Zebedeu Belzebu e os seus

Madness! Madness!”
sim, loucura, mas não é a primeira vez que me expulsam
da República
loucura, sim, loucura, ora direis
enquanto retiro os jovens louros de anteontem

Que encham a casa de espelhos aliciando as terríveis maravilhas
para que vejam quão desfigurado cursava o filho do homem
em seus desertos cheios de gafanhoto e mel silvestre
que venha o longo verso do humano
o desletrado inconsciente
fora os palimpsestos! Mylord é o jardineiro
eis que o touro negro pula seus cercados e cai no povaréu
Ecce Homo
ego e louco
cego e pouco
ébrio e oco
cheio de sound and fury
in-sano in-mundo

Madness! Madness! Madness!
Madness
Summerhill
Weltschmerz
— ET TOUT LE RESTE EST LITTÉRATURE

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Arte-final – Affonso Romano de Sant`Anna

Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.

Uma coisa é a letra,
e outra o ato,

– quem toma uma por outra
confunde e mente.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


A IMPLOSÃO DA MENTIRA OU O EPISÓDIO DO RIOCENTRO – Affonso Romano de Sant`Anna

1

Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Publicado no livro Política e paixão (1984).

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 198

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


A coisa pública e a privada – Affonso Romano de Sant`Anna

Entre a coisa pública
e a privada
achou-se a República
assentada.

Uns queriam privar
da coisa pública,
outros queriam provar
da privada,
conquanto, é claro,
que, na provação,
a privada, publicamente,
parecesse perfumada.

Dessa luta intestina
entre a gula pública e a privada
a República
acabou desarranjada
e já ninguém sabia
quando era a empresa pública
privada pública
ou
pública privada.

Assim ia a rês pública: avacalhada
uma rês pública: charqueada
uma rês pública, publicamente
corneada, que por mais
que lhe batessem na cangalha
mais vivia escangalhada.

Qual o jeito?
Submetê-la a um jejum?
Ou dar purgante à esganada
que embora a prisão de ventre
tinha a pança inflacionada?

O que fazer?
Privatizar a privada
onde estão todos
publicamente assentados?
Ou publicar, de uma penada,
que a coisa pública
se deixar de ser privada
pode ser recuperada?

— Sim, é preciso sanear,
desinfetar a coisa pública,
limpar a verba malversada,
dar descarga na privada.

Enfim, acabar com a alquimia
de empresas públicas-privadas
que querem ver suas fezes
em ouro alheio transformadas.

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. Poema integrante da série Aprendizagem de História

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


EPITÁFIO PARA O SÉC XX – Affonso Romano de Sant`Anna

1. Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.

2. Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.

3. Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
— nux-vômica.

4. Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado, empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.

5. Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.

6.Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.

7.Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas, sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.

8. Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.

9. Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passsado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
— já vai tarde.

(…)

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. Poema integrante da série Aprendizagem de História

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Carta aos – Affonso Romano de Sant`Anna

Carta aos
Mortos
Amigos, nada
mudou
em essência.
Os salários
mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.
Reencenamos
as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos,
rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento
dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou
em essência.
Cantamos parabéns
nas festas,
discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia
um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar
que vive no ápice da história.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Poemas para a amiga (fragmento 8) – Affonso Romano de Sant`Anna

Contemplo agora 
o leito que vazio 
se contempla. 
Contemplo agora 
o leito que vazio 
em mim se estende 
e se me aproximo 
existe qualquer coisa 
trescalando aroma em mim. 

Onde o teu corpo, amante-amiga, 
onde o carinho 
que compungido em recebia 
e aquela forma que tranquila 
ainda ontem descobrias? 

Agora eu te diria 
o quanto te agradeço o corpo teu 
se o me dás ou se o me tomas, 
e o recolhendo em mim, 
em mim me vais colhendo, 
como eu que tomo em ti 
o que de ti me vais doando. 

Eu muito te agradeço este teu corpo 
quando nos leitos o estendias e o me davas, 
às vezes, temerosa, 
e, ofegante, às vezes, 
e te agradeço ainda aquele instante (o percebeste) 
em que extasiado ao contemplá-lo 
em mim me conturbei 
– (o percebeste) me aguardaste 
e nos olhos te guardei. 

Eu muito te agradeço, amante-amiga, 
este teu corpo que com fúria eu possuía, 
corpo que eu mais amava 
quanto mais o via, 
pequeno e manso enigma 
que eu decifrei como podia. 

Agora eu te diria 
o que não soubeste 
e nunca o saberias: 
o que naquele instante eu te ofertava 
nunca a mim eu já doara 
e nunca o doaria. 

Nele eu fui pousar 
quando cansado e dúbio, 
dele eu fui tomar 
quando ofegante e rubro, 
dele e nele eu revivia 
e foi por ele que eu senti 
a solidão, e o amor 
que em mim havia. 

Teu corpo quando amava 
me excedia, 
e me excedendo 
com o amor foi me envolvendo, 
e nesse amor absorvente 
de tal forma absorvendo, 
que agora que o não tenho 
não sei como permaneço nesta ausência 
em que tuas formas se envolveram, 
tanto o amor 
e a forma do teu corpo 
no meu corpo se inscreveram.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Os desaparecidos – Affonso Romano de Sant`Anna

De repente, naqueles dias, começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Ia-se colher a flor oferta
e se esvanecia.
Eclipsava-se entre um endereço e outro
ou no táxi que se ia.
Culpado ou não, sumia-se
ao regressar do escritório ou da orgia.
Entre um trago de conhaque
e um aceno de mão, o bebedor sumia.
Evaporava o pai
ao encontro da filha que não via.
Mães segurando filhos e compras,
gestantes com tricots ou grupos de estudantes
desapareciam.
Desapareciam amantes em pleno beijo
e médicos em meio à cirurgia.
Mecânicos se diluíam
— mal ligavam o torno do dia.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Desaparecia-se a olhos vistos
e não era miopia. Desaparecia-se
até à primeira vista. Bastava
que alguém visse um desaparecido
e o desaparecido desaparecia.
Desaparecia o mais conspícuo
e o mais obscuro sumia.
Até deputados e presidentes evanesciam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iam, aerefeitos, constatar no além
como os pecadores partiam.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os da platéia
enquanto riam.
Não, não era fácil
ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
— desapareciam.

Publicado no livro Política e paixão (1980).

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 198

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Definição – Affonso Romano de Sant`Anna

O corpo é onde
é carne:

o corpo é onde
há carne
e o sangue
é alarme.

O corpo é onde
é chama:

o corpo é onde
há chama
e a brasa
inflama.

O corpo é onde
é luta:

o corpo é onde
há luta
e o sangue
exulta.

O corpo é onde
é cal:

o corpo é onde
há cal
e a dor
é sal.

O corpo
é onde
e a vida
é quando.

Publicado no livro Canto e palavra (1965).

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 198

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Limites do amor – Affonso Romano de Sant`Anna

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.

O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, em empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:

– ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Confluência – Affonso Romano de Sant`Anna

Ter-te amado, a fantasia exata se cumprindo
sem distância.
Ter-te amado convertendo em mel
o que era ânsia.
Ter-te amado a boca, o tato, o cheiro:
intumescente encontro de reentrâncias.
Ter-te amado
fez-me sentir:

no corpo teu, o meu desejo
– é ancorada errância.

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Que país é este? – Affonso Romano de Sant`Anna

1

Uma coisa é um país,
outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,
outra um regimento.

Uma coisa é um país,
outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,
outra um fingimento.

Uma coisa é um país,
outra um monumento.

Uma coisa é um país,
outra o aviltamento.

(…)

2

Há 500 anos caçamos índios e operários,
há 500 anos queimamos árvores e hereges,
há 500 anos estupramos livros e mulheres,
há 500 anos sugamos negras e aluguéis.

Há 500 anos dizemos:
que o futuro a Deus pertence,
que Deus nasceu na Bahia,
que São Jorge é que é guerreiro,
que do amanhã ninguém sabe,
que conosco ninguém pode,
que quem não pode sacode.

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:
este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem Deus ajuda
e a Europa ainda se curva.

Há 500 anos
somos raposas verdes
colhendo uvas com os olhos,

semeamos promessa e vento
com tempestades na boca,

sonhamos a paz da Suécia
com suíças militares,

vendemos siris na estrada
e papagaios em Haia,

senzalamos casas-grandes
e sobradamos mocambos,

bebemos cachaça e brahma
joaquim silvério e derrama,

a polícia nos dispersa
e o futebol nos conclama,

cantamos salve-rainhas
e salve-se quem puder,

pois Jesus Cristo nos mata
num carnaval de mulatas.

(…)


Publicado no livro Que país é este? e outros poemas (1980).

In: SANT’ANNA, Affonso Romano de. A poesia possível. Rio de Janeiro: Rocco, 198

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna


Intervalo amoroso – Affonso Romano de Sant`Anna

O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?

Onde estou, quando não estou
no teu gozo incluído?
Sou todo exílio?

Que imperfeita forma de ser é essa
quando de ti sou apartado?

Que neutra forma toco
quando não toco teus seios, coxas
e não recolho o sopro da vida de tua boca?

O que fazer entre um poema e outro
olhando a cama, a folha fria?

Affonso Romano de Sant`Anna

Autor: Affonso Romano de SantAnna