Poeta: Affonso Romano de SantAnna

A IMPLOSÃO DA MENTIRA OU O EPISÓDIO DO RIOCENTRO – Affonso Romano de Sant`Anna

1 Mentiram-me. Mentiram-me onteme hoje mentem novamente. Mentemde corpo e alma, completamente.E mentem de maneira tão pungenteque acho que mentem sinceramente. Mentem, sobretudo, impune/mente.Não mentem tristes. Alegrementementem. Mentem tão nacional/menteque acham que mentindo história aforavão enganar a morte eterna/mente. Mentem. Mentem e calam. Mas suas frasesfalam. E desfilam de tal modo nuasque mesmo um cego …

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Fascínio – Affonso Romano de Sant`Anna

Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.Não deveria, dizem.Me esforço. Aliás,já nem me esforço.Abertamente me ponho a admirá-las.Não estou traindo ninguém, advirto.Como pode o amor trair o amor?Amar o amor num outro amoré um ritual que, amante, me permito. Affonso Romano de Sant`Anna Autor: Affonso Romano de SantAnna

EPITÁFIO PARA O SÉC XX – Affonso Romano de Sant`Anna

1. Aqui jaz um séculoonde houve duas ou três guerrasmundiais e milharesde outras pequenase igualmente bestiais. 2. Aqui jaz um séculoonde se acreditouque estar à esquerdaou à direitaeram questões centrais. 3. Aqui jaz um séculoque quase se esvaiuna nuvem atômica.Salvaram-no o acasoe os pacifistascom sua homeopáticaatitude— nux-vômica. 4. Aqui jaz o séculoque um muro dividiu.Um …

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O amor e o outro – Affonso Romano de Sant`Anna

Não amo melhornem piordo que ninguém. Do meu jeito amoOra esquisito, ora fogoso,às vezes aflitoou ensandecido de gozo.Já ameiaté com nojo. Coisas fabulosasacontecem-me no leito. Nem semprede mim dependem, confesso.O corpo do outroé que é sempre surpreendente. Affonso Romano de Sant`Anna Autor: Affonso Romano de SantAnna

Carta aos – Affonso Romano de Sant`Anna

Carta aosMortosAmigos, nadamudouem essência.Os saláriosmal dão para os gastos,as guerras não terminarame há vírus novos e terríveis,embora o avanço da medicina.Volta e meia um vizinhotomba morto por questão de amor.Há filmes interessantes, é verdade,e como sempre, mulheres portentosasnos seduzem com suas bocas e pernas,mas em matéria de amornão inventamos nenhuma posição nova.Alguns cosmonautas ficam no …

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Poemas para a amiga (fragmento 8) – Affonso Romano de Sant`Anna

Contemplo agora o leito que vazio se contempla. Contemplo agora o leito que vazio em mim se estende e se me aproximo existe qualquer coisa trescalando aroma em mim.  Onde o teu corpo, amante-amiga, onde o carinho que compungido em recebia e aquela forma que tranquila ainda ontem descobrias?  Agora eu te diria o quanto te agradeço o corpo teu se o me dás ou se o me tomas, e …

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Os desaparecidos – Affonso Romano de Sant`Anna

De repente, naqueles dias, começarama desaparecer pessoas, estranhamente.Desaparecia-se. Desaparecia-se muitonaqueles dias. Ia-se colher a flor ofertae se esvanecia.Eclipsava-se entre um endereço e outroou no táxi que se ia.Culpado ou não, sumia-seao regressar do escritório ou da orgia.Entre um trago de conhaquee um aceno de mão, o bebedor sumia.Evaporava o paiao encontro da filha que não …

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Confluência – Affonso Romano de Sant`Anna

Ter-te amado, a fantasia exata se cumprindosem distância.Ter-te amado convertendo em melo que era ânsia.Ter-te amado a boca, o tato, o cheiro:intumescente encontro de reentrâncias.Ter-te amadofez-me sentir: no corpo teu, o meu desejo– é ancorada errância. Affonso Romano de Sant`Anna Autor: Affonso Romano de SantAnna

A coisa pública e a privada – Affonso Romano de Sant`Anna

Entre a coisa públicae a privadaachou-se a Repúblicaassentada. Uns queriam privarda coisa pública,outros queriam provarda privada,conquanto, é claro,que, na provação,a privada, publicamente,parecesse perfumada. Dessa luta intestinaentre a gula pública e a privadaa Repúblicaacabou desarranjadae já ninguém sabiaquando era a empresa públicaprivada públicaoupública privada. Assim ia a rês pública: avacalhadauma rês pública: charqueadauma rês pública, publicamentecorneada, …

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