Adalgisa Nery

Adalgisa Nery nasceu em 29 de outubro de 1905, Perdeu a mãe com apenas 8 anos e estudou em um colégio de freiras. Foi expulsa do convento por defender as garotas órfãs que sofriam maltratadas na época por serem consideradas subalternas. 

Adalgisa Nery mergulhou então em uma vida trepidante. Seu estilo de vida lhe proporcionou a entrada em um sofisticado circuito intelectual. As frequentes reuniões em sua casa, além de uma estada de dois anos na Europa com o marido, à ajudou na aquisição de cultura e a se educar melhor. Adalgisa Nery publicou em 1959 o romance autobiográfico “A Imaginária” que veio a se tornar seu maior sucesso editorial. Utilizandocomo alter ego a personagem Berenice, Adalgisa descreveu o fascínio que tinha pelo marido no início do casamento e como o sentimento foi se alterando para um verdadeiro sentimento de terror na sua vida cotidiana.

Ficou conhecida por suas obras: Ar do Deserto (1943), A Mulher Ausente (1940), Mundos Oscilantes (publicado entre 1937 e 1952), Poemas, (1937), Og (1943) Cantos da Angústia (1948), A Imaginária, (1959), As Fronteiras da Quarta Dimensão (1952), entre outros.

Nostalgia do impreciso – Adalgisa Nery

Ao fechar de olhos para o sono Aromas de pânico e de dores, Aromas de errantes chuvas Transportando montanhas, vales, Atravessando ventos, Pousando em instantes tão diversos, Chamando medos E exílios de vontades. Aromas vasculhando a vida, Engendrando noites no vazio, Escapando de raízes em tumulto, De pedras milenares em silêncio, E de símbolos sem […]

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Paisagem – Adalgisa Nery

Restam nos meus olhos Séculos de planícies áridas E o vento ríspido que trouxe as lamentações Das sombras agitadas Sobre os pântanos desconhecidos Distantes estão os caminhos Onde eu encontraria a suprema fraqueza Para vergar os meus joelhos E deitar no pó a minha boca moribunda Invisíveis estão as estrelas Que me levariam a contemplar

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Pensamentos que reúnem um tema – Adalgisa Nery

Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar, Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar. Estou pensando nos que vivem a vida Na previsão do impossível E nos que esperam o céu Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível. Estou pensando

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Eterno tédio – Adalgisa Nery

Muitas vezes esgotando o meu destino Com o olhar em pranto E o coração pungente como um dobrar de sino, Ouço ruídos seculares que unem como um canto, Crescendo de intensidade, Mergulhando os meus sentidos Na maior profundidade! Muitas vezes, considerando a vida Com desumana indiferença, Por toda a esperança perdida, Pelo abrir de um

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Poema essencialista – Adalgisa Nery

Sinto o conteúdo da existência. Procuro ultrapassá-lo com enorme exaltação poética, Rompo as grades do mundo com o espetáculo das formas, Dos sons e das cores. Tudo me afoga em nostalgia de outras eras, De outras vidas que cristalizaram As tendências da minha infância. A utilização das coisas plásticas Altera o equilíbrio da visão. Distribuo

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Poema simples – Adalgisa Nery

Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite, Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra, Deixa-me recolher a estrela úmida Antes que sua luz desapareça na madrugada, Deixa-me recolher a tristeza da alma Antes que a lágrima banhe a pálpebra Do órfão abandonado e faminto, Deixa-me recolher a ternura

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Silêncio – Adalgisa Nery

Nas mãos inquietas Cansadas esperanças Tateando formas na luz ausente, Nos olhos embrumados A viva cruz do alívio, Na boca imobilizada A palavra amortalhada. E à tona da fugaz realidade O mistério das surpresas superadas. Paisagem de espaços, e fantasmas Ordenam não falar, não morrer, Ouvir sem conduzir o pensamento, Viver os vazios lúcidos Entre

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Instante – Adalgisa Nery

O espanto abriu meu pensamento Com idioma vindo do delírio, Dos receios indefesos, dos louvores sem raízes, No perdão oferecido sem razão. O espanto abriu meu pensamento Na noite carregada de lamentos Em linguagem universal Fluindo do eco perdido Com passos de presságio amanhecendo. Corpos florindo na pele da terra Acendendo vida nas rosas e

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Vivência – Adalgisa Nery

Começamos a viver Quando saímos do sono da existência, Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo. Começamos a viver Quando confusos e sem consolo Não sentimos os traços do irmão perdido. Quando antes da força Surge a sombra do insignificante. Quando o sono é transformado em sonhos superados, Quando o existir não é

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A poesia se esfrega nos seres e nas cousas – Adalgisa Nery

Nunca sentiste uma força melodiosaCercando tudo o que teus olhos vêem,um misto de tristeza numa paisagem grandiosaOu um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidasDeparando com um campo devolutoSemelhante a uma viagem esquecida?Num circo,nunca se apoderou de ti um amargor sutilVendo animais amestrados E logo

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A razão de eu me gostar – Adalgisa Nery

Eu gosto da minha forma no mundoPorque representa uma fagulha,Porque mostra um instante doce e perversoDa ideia, do gesto e da realizaçãoDe Deus no Universo.Eu gosto dos erros que praticoPorque vejo a pureza colocada na minha essênciaDesde o InícioLutar contra todo o mal que em mim existeE ser tão maior, que sobre a minha misériaEla

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A essência imutável – Adalgisa Nery

Entre a estrela e o átomo A matéria viva estabelece o traço original. A fotossíntese realiza a assimilação Da energia solar do homem, Mecanismo-alimento da força biológica Existente no grão de luz que ronda o corpo inanimado Vindo da semente viajante dos ventos programados. Cubos-pedra lançam o elétron De uma órbita a outra dos planetas

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Abandono – Adalgisa Nery

A exaustão faminta Procura elementos ainda vivos no meu ser Talvez guardados em escuros vácuos Que carrego sem saber. Alimenta-se do sopro das imagens Desenhadas pela minha imaginação Pelo tato dos meus sentimentos, Pelo pânico do desconhecido. Aparece como febre constante dilatando as minhas carnes Descoloridas e sem sabor de vida. A exaustão sobe pelos meus pés, Cobre os meus gestos incipientes, Prende a minha língua, Suga o

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Canção para dentro – Adalgisa Nery

A canção do corpo é cantada para dentro E a leveza da alegria se transmuda em peso, A brisa adere aos amargos pensamentos Fluindo no sorriso compassivo. Logo, Surgindo de células desamadas Os matizes áureos anoitecem, Pálpebras levantadas vão caindo E nesgas apenas vislumbramos, Geografias em nós morrendo, Oceanos crescendo, ilhas sumindo, Rosas nascendo na

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Cemitério Adalgisa – Adalgisa Nery

Moram em mim Fundos de mares, estrelas-d′alva, Ilhas, esqueletos de animais, Nuvens que não couberam no céu, Razões mortas, perdões, condenações, Gestos de amparo incompleto, O desejo do meu sexo E a vontade de atingir a perfeição. Adolescências cortadas, velhices demoradas, Os braços de Abel e as pernas de Caim. Sinto que não moro. Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas É habitada pelos corpos. Moram

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Aspiração – Adalgisa Nery

Antes que vingue outra esperança Quero as sombras do branco espesso. Antes que mais uma insônia se cumpra Quero o torpor no abismo indecifrável Do espírito amortalhado. Antes que o pensamento acorde E descubra os espaços petrificados, Quero narcotizar-me sem sonhos E deitar-me no mundo sem sombras, Sem palavras nem gestos. Antes que alguma crença

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A paisagem de manhã – Adalgisa Nery

Ânsia de paz de noites desertas, Desejo de sentir o tranquilo positivo Nas intenções indevassáveis, Na voz acima de todos os sons, Acima do estrondo universal da bomba fratricida. Ânsia de repouso final No exaspero de mãos unidas pelo medo, Pânicos imprevistos Calando todos os instantes, todas as idades, Chorando o nosso jamais. Olhos outrora

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