Autor: Maria Firmina dos Reis
Aqui minh’alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia – mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas frases tuas. Aqui se ameigam de meu peito as dores, Menos ardente me goteja o pranto; Aqui, na lira maviosa e doce Minha alma trina melodioso canto. A mente vaga em solidões longínquas, Pulsa meu peito, e de paixão se exalta; Delírio vago, sedutor quebranto, Qual belo íris, meu desejo esmalta. Vem comigo gozar destas delícias, Deste amor, que me inspira poesia; Vem provar-me a ternura de tu’alma, Ao som desta poética harmonia. Sentirás ao ruído destas águas, Ao doce suspirar da viração, Quanto é grato o amor aqui jurado, Nas ribas deste mar, – na solidão. Vem comigo gozar um só momento, Tanta beleza a me inspirar poesia! Ah! vem provar-me teu singelo amor Ao som das vagas, no cair do dia. NB – Cuman – praias de Guimarães |
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 25-26 ]
Maria Firmina dos Reis