Autor: Ivan Junqueira
Sem trilhas no labirinto,
solitário, a passo lento,
leio o infausto testamento
de um infante agora extinto.
O que ensina esse lamento
a quem o escuta e, faminto,
só o aprende à luz do instinto,
e nunca à do entendimento?
Não será acaso o vento
o que nas vértebras sinto?
Ou será que apenas minto,
e mente-me o pensamento?
Não há dor nem sofrimento
no que leio, mas consinto
em que ali tudo está tinto
do mais fáustico argumento:
não o aroma do jacinto
nem a paz do esquecimento,
mas o grifo que, violento,
verte o verde do absinto.
– Ivan Junqueira, em “A sagração dos ossos”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994.