Autor: Adalgisa Nery
Restam nos meus olhos
Séculos de planícies áridas
E o vento ríspido que trouxe as lamentações
Das sombras agitadas
Sobre os pântanos desconhecidos
Distantes estão os caminhos
Onde eu encontraria a suprema fraqueza
Para vergar os meus joelhos
E deitar no pó a minha boca moribunda
Invisíveis estão as estrelas
Que me levariam a contemplar os céus abençoados.
E só espaços sem medida
Onde a música da noite
É livre sobre os pensamentos em sono.
Desconhecida para mim a praia onde eu me deitaria
De olhos cerrados e sentiria
O último movimento da onda
Balançar os meus pés
Como as algas sem direção.
Como os detritos rejeitados pela pureza do mar.
Restam dentro da minha sombra
Fragmentos de agitações de outras vidas
Plantadas no meu grito de revolta
Que eu não libertarei
Até que no deserto universal
A flor de um cardo movimente
A paisagem silenciosa.
– Adalgisa Nery, in: Cantos da Angústia, 1948.
Adalgisa Nery