Autor: Adalgisa Nery
Ao fechar de olhos para o sono
Aromas de pânico e de dores,
Aromas de errantes chuvas
Transportando montanhas, vales,
Atravessando ventos,
Pousando em instantes tão diversos,
Chamando medos
E exílios de vontades.
Aromas vasculhando a vida,
Engendrando noites no vazio,
Escapando de raízes em tumulto,
De pedras milenares em silêncio,
E de símbolos sem forma
Nascidos de pensamentos mutilados.
Aromas de carne e flor,
De chão e fonte,
De gestos tatuados no espaço,
De galeras rumo ao centro-mar
Em busca de estrelas excedentes
Aromas de grão e de criança
Cobrindo as coisas repetidas,
Fazendo-se pólen no infinito virgem.
Aroma-plasma de invitações
Ao canto, à flor, ao pranto,
Ao entrelaçamento de mãos desprotegidas
No temor de quedas sinuosas.
Ao fechar de olhos para o sono
Aromas de mistério,
Fracas luzes se abrindo
No mundo de silêncios e de símbolos
Dando vida à vida que vai fugindo.
– Adalgisa Nery, in: Erosão, 1973.
Adalgisa Nery