Autor: Maria Firmina dos Reis
D’amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar; Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?… Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. ——————– D’amiga a existência Não queiras provar, Há nelas tais dores, Que podem matar. O pranto é ventura, Que almejo gozar; A dor é tão funda, Que estanca o chorar. Se intento um sorriso, Que duro penar! Que chagas não sinto No peito sangrar!… Não queiras a vida Que eu sofro – levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, – mal podendo Meus pesares sentir. Talvez assim deus queira o meu viver Tão cheio de amargura. P’ra que não ame a vida, e não me aterre A fria sepultura. |
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 67-68 ]
Maria Firmina dos Reis