Autor: Maria Firmina dos Reis
Aqui na solidão minh’alma dorme; Que letargo profundo!… Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito.No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório – além Como chorosa, abandonada amante.E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas ribas pedregosas, ermas, De noite – a onda vem de dor chorar.Mas, eu não choro, lhe escutando o choro; Nem sinto a brisa, que na praia corre: Neste marasmo, neste lento sono, Não tenho pena; – mas, meu peito morre.Que displicência! não desperta um’hora! Já não tem sonhos, nem já sofre dor… Quem poderia despertá-lo agora? Somente um ai que revelasse – amor. |
[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 177-178 ]
Maria Firmina dos Reis