Do azul, num soneto – Alphonsus de Guimaraens Filho

Autor: Alphonsus de Guimaraens Filho


Verificar o azul nem sempre é puro.
Melhor será revê-lo entre as ramadas
E os altos frutos de um pomar escuro
— Azul de ténues bocas desoladas.

Melhor será sonhá-lo em madrugadas,
Claro, inconstante azul sempre imaturo,
Azul de claridades sufocadas
Latejando nas pedras — nascituro.

Não este azul, mas outro e dolorido,
Evanescente azul que na orvalhada
Ficou, pétala ingênua, torturada.

Recupero-o, sem ver, e ei-lo perdido,
Azul de voz, de sombra envenenada,
Que em nós se esvai sem nunca ter vivido.
– Alphonsus de Guimaraens Filho, em “A cidade do sul”. Poesia. Coleção Marília de Dirceu, 1. Belo Horizonte: Movimento Editorial Panorama, 1948

Alphonsus de Guimaraens Filho

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