Confissão – Maria Firmina dos Reis

Autor: Maria Firmina dos Reis


Embalde, te juro, quisera fugir-te, 
Negar-te os extremos de ardente paixão: 
Embalde, quisera dizer-te: – não sinto 
Prender-me à existência profunda afeição.

Embalde! é loucura. Se penso um momento, 
Se juro ofendida meus ferros quebrar: 
Rebelde meu peito, mais ama querer-te, 
Meu peito mais ama de amor delirar.

E as longas vigílias, – e os negros fantasmas, 
Que os sonhos povoam, se intento dormir, 
Se ameigam aos encantos, que tu me despertas, 
Se posso a teu lado venturas fruir.

E as dores no peito dormentes se acalmam. 
E eu julgo teu riso credor de um favor: 
E eu sinto minh’alma de novo exaltar-se, 
Rendida aos sublimes mistérios do amor.

Não digas, é crime – que amar-te não sei, 
Que fria te nego meus doces extremos… 
Eu amo adorar-te melhor do que a vida, 
melhor que a existência que tanto queremos.

Deixara eu de amar-te, quisera um momento, 
Que a vida eu deixara também de gozar! 
Delírio, ou loucura – sou cega em querer-te, 
Sou louca… perdida, só sei te adorar.

         [ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 79-80 ]

Maria Firmina dos Reis

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