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Pistom de gafieira

Na gafieira
Segue o baile calmamente
Com muita gente dando volta no salão
Tudo vai bem
Mas, eis, porém que de repente
Um pé subiu
E alguém de cara foi ao chão
Não é que o Doca
Um crioulo comportado
Ficou tarado quando viu a Dagmar
Toda soltinha
Dentro de um vestido-saco
Tendo ao lado um cara fraco
E foi tira-la pra dançar?
O moço era faixa preta, simplesmente
E fez o Doca rebolar sem bambolê
A porta fecha enquanto dura o vai-não-vai
Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai
Mas a orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura
Como parte da rotina
O piston tira a surdina
E põe as coisas no lugar

Na subida do morro

Na subida do morro me contaram
Que você bateu na minha nêga
Isso não é direito
Bater numa mulher
Que não é sua
Deixou a nêga quase nua
No meio da rua
A nêga quase que virou presunto
Eu não gostei daquele assunto
Hoje venho resolvido
Vou lhe mandar para a cidade
De pé junto
Vou lhe tornar em um defunto

Você mesmo sabe
Que eu já fui um malandro malvado
Somente estou regenerado
Cheio de malícia
Dei trabalho à polícia
Prá cachorro
Dei até no dono do morro
Mas nunca abusei
De uma mulher
Que fosse de um amigo
Agora me zanguei consigo
Hoje venho animado
A lhe deixar todo cortado
Vou dar-lhe um castigo
Meto-lhe o aço no abdômen
E tiro fora o seu umbigo

Aí meti-lhe o aço, quando ele vinha caindo disse,
– ‘Morengueira, você me feriu”,
Eu então disse-lhe:
– ‘É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha nega’.
Você sabe que em casa de vagabundo, malandro não pede emprego. Como é que você vem com xavecada, está armado? Eu quero é ver gordura que a banha está cara!
Aí meti a mão lá na duana, na peixeira, é porque eu sou de Pernambuco, cidade pequena, porém decente, peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem; ele caiu, bum!, todo ensangüentado.
E as senhoras, como sempre, nervosas:
– “Meu Deus, esse homem morre, Moço! Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue’
– ‘Ora, minha senhora, dê-lhe óleo acanforado, penicilina, estreptomicina crebiosa, engrazida e até vacina Salk’
Mas o homem já estava frio. Agora, o malandro que é malandro não denuncia o outro, espera para tirar a forra.
Então diz o malandro:

Vocês não se afobem
Que o homem dessa vez
Não vai morrer
Se ele voltar dou prá valer
Vocês botem terra nesse sangue
Não é guerra, é brincadeira
Vou desguiando na carreira
A justa já vem
E vocês digam
Que estou me aprontando
Enquanto eu vou me desguiando
Vocês vão ao distrito
Ao delerusca se desculpando
Foi um malandro apaixonado
Que acabou se suicidando.

Rei do gatilho

Trecho falado :

“O rei do gatilho…Super bang-bang de Michael Gustav, com Kid Morengueira, o mais temido pistoleiro de Wichitta.Temido pelos bandidos pois só atirava em nome da lei…”
O Rei do gatilho!”

Começa o filme com o garoto me entregando
Um telegrama do arizona, onde um bandido de lascar
Um bandoleiro transviado que era o bamba lá da zona
E não deixava nem defunto descansar.
Pedia urgente que eu seguisse em seu socorro
A diligência do oeste neste dia ia levar
Vinte mil dólares do banco Águia de Prata
Onde a mocinha costumava me encontrar(breque)

” Venha urgente, pois estou morta de medo. Só tú poderás salvar-nos.
Beijos da tua Mary.”

Botei na cinta dois revólveres que atiram
Sem que eu precise nem ao menos me coçar
Assobiei para um cavalo que passava do outro lado
E com o bandido mascarado fui lutar
Meti o peito e nem dei bola pro Xerife
Passei direto no Saloon, fui me encostando no balcão
Com o chapéu em cima dos olhos nem dei conta
De que o bandido me esperava a traição(breque)
”Cuidado, Moreira”
Era um indio meu amigo que sabia
Das intenções do bandoleiro contra mim
E advertia o seu amigo do perigo que corria
Devo-lhe a vida, mas isso não fica assim
A essa altura o cabaret em polvorosa
Já tinha um cheiro de cadáver se espalhando
Houve um “suspanse” de matar o Hitchicock
E em close-up prô bandido fui chegando
Parou o show e as bailarinas desmaiaram
Fugiram todos só ficando ele e eu
Eu atirei, ele atirou, e nós trocamos tantos tiros
Que até hoje ninguém sabe quem morreu
Eu garanto que foi ele, ele garante que fui eu
Só sei dizer que a mulher dele hoje é viúva
Que eu nunca fui de dar refresco ao inimigo
Como um filme, bang-bang vale tudo
O casamento da viúva foi comigo(breque)
“Tem um final, mas o final é meio impróprio e eu não digo,
Volte na próxima semana se quiser ser meu amigo
Eu de cowboy fico gaiato, mas não fujo do perigo.”

Acertei no milhar

– Etelvina!
– O que é, Moringueira?
– Acertei no milhar
Ganhei 500 contos
Não vou mais trabalhar
Você dê toda a roupa velha aos pobres
E a mobília podemos quebrar
Isto é pra já
Vamos quebrar

– breque –

Pegou um móvel bacana a bessa
Jogou na parede
– Pode quebrar minha filha
O pai tá com tudo
Nota de mil que é bom
Tá morando aqui no buraco do pano
Quer ver? Não tiro poque não fica bem

Etelvina
Vai ter outra lua-de-mel
Você vai ser madame
Vai morar no Palace Hotel
Eu vou comprar um nome não sei onde
De Marquês Moringueira de Visconde
Um professor de francês, mon amour
Eu vou trocar seu nome
Pra madame Pompadour
Até que enfim agora eu sou feliz
Vou passear Europa toda até Paris

E nossos filhos?
– Oh, que inferno!
Eu vou pô-los num colégio interno
E telefone pra Mané do armazém
Porque não quero ficar
Devendo nada a ninguém
E vou comprar um avião azul
Para percorrer a América do Sul

Mas de repente, de repenguente
Etelvina me chamou
Está na hora do batente
Mas de repente
Etelvina me chamou
Disse: Acorda Vargolino
Mete os peitos pelos fundos
Que na frente tem gente

Foi um sonho, minha gente!

Doze Anos

Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata
Dar banda por aí
Fazendo grandes planos
E chutando lata
Trocando figurinha
Matando passarinho
Colecionando minhoca
Jogando muito botão
Rodopiando pião
Fazendo troca-troca
Ai, que saudades que eu tenho
Duma travessura
Um futebol de rua
Sair pulando muro
Olhando fechadura
E vendo mulher nua
Comendo fruta no pé
Chupando picolé
Pé-de-moleque, paçoca
E disputando troféu
Guerra de pipa no céu
Concurso de pipoca