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Falha humana

Eu provoco desastres sinistros de amor
Aquelas tragédias que seja como for
Encerram fins de ano
Misturam na boca o pernil e a dor
O vinho e o horror
Um que anda no hall dos desaparecidos
Um outro que nem foi identificado
Ilusões soterradas, carinhos perdidos
Choro não resgatado
E a chuva em diferentes clarões de vermelho
As buscas inúteis pela noite inteira
O grito e a raiva, dois trens
Que se engavetaram em Mangueira

O choque permanente da decepção
Manchou minhas formas, apagou meu contorno
E não tenho seguro pra me proteger
De envelhecer nessa dor de corno
É um deslizamento daquelas barreiras
Que me sustentavam querendo descer
E que desabadas, vão ao ar deformadas
Em jornal de tv
Meu samba é a autópsia de amores passados
O atestado de óbito da vida insana
Teve meu laudo
Perito em paixão constatou:
Falha Humana

Perder um amigo

Perder um amigo,
morrer pelos bares,
pifar em New York,
penar em Pilares…
Perder um amigo:
errar a tacada,
sentir comichão
na perna amputada.
Perder um amigo,
mudar pra bem longe,
levar vida afora
o tombo do bonde.

Perder um amigo
é a última gota
se o cara duvida
que a vida é marota.
Perder um amigo,
perder o sentido,
perder a visão,
as mãos, os ouvidos…

Perder um amigo:
perder o encontro
marcado e marcar-se
com a perda do espelho
nos olhos do amigo
aonde melhor
conheci minha face.

Valquíria

Valquíria era filha de Maria
Morava na São Miguel
Justo no pé do Borel.
De tanto ouvir falar em montarias
Entre outras mordomias
Cismou de comprar um corcel


Mas já desaqueciam, a economia escandalosa
E o sonho atravessou
Feito osso de penosa
Valquíria que tinha mania de ser bom cabrito

Comprou um jerico na Xavier de Brito
Saiu pela na Muda que nem Dom Quixote, com roupa de adidas
Há dias foi vista a caminho da Penha
Em plena Avenida Brasil
E a pedir mais milagre
O burro empacou e a Valquíria caiu.
Um gozador comentou:
- Já não se cavalga tão bem no país!
Afinal somos meio leitões
Somos chefes de casas civis

Entre o torresmo e a moela

Envelheci, mas continuo em exposição
A ex-mulher me chama de Sardinha de Balcão
Eu digo sempre que melhor que apodrecer ao lado dela
É ir mofando entre o torresmo e a moela

Porque lá em casa a barra era violenta
Eu padecia entre a mostarda e a pimenta
Agora vivo entre o cavaco e o violão
Lá em casa era entre o cutelo e o facão
Quem acordava entre a meleca e a remela
Prefere a vida entre o torresmo e a moela

De barco entre a tempestade e a piração do leme
Levava beiço do Ecad e bico da Capemi
Falavam mal de mim a sogra e a vizinha
Ai, eu penava entre o modess e a calcinha
Quem se amarrou entre cabresto, rédea e sela
Quer descansar entre o torresmo e a moela

Entrei para a política e votei no Leonel
Acabei entre o Agnaldo e a mãe, via Embratel
Pedi desculpa a um general que me deu na costela
O vice disse outra tolice, não lhe dei mais trela:
Entre o sambódromo e o bicheiro, rei da passarela
Quero é sambar entre o torresmo e a moela

O Sandoval tá mudado

NO PRONTO SOCORRO DO ANDARAÍ
TU ENTRA CAJÁ E SAI CAQUI
NA URGÊNCIA DO MIGUEL COUTO
UM TUBARÃO VIROU BOTO

MAIS O PIOR SUCEDEU
A UM TIO MEU LÁ NO ROCHA FARIA AI AI AI AI
ENTROU SANDOVAL SAIU ANA MARIA
A UM TIO MEU LÁ NO ROCHA FARIA AI AI AI AI
ENTROU SANDOVAL SAIU ANA MARIA

COUVE NÃO VIRA REPOLHO
TÔ COM OLHO NO PÉ
O QUE O PÉ TEM QUE DÁ
MESMO REGANDO COM MOLHO
DO VANDO ESSE OLHO NÃO VOU ME ENGANAR

O SANDOVAL SE INTROMETE
E COMPROMETE A MUDA QUE VOU ME MUDAR
SANDOVA DISFARÇA BANCA O SONGA MONGA
MAS TRUFA A CENOURA SENHORA QUE NEM PERNA LONGA
AI AI AI AI
ENTROU SANDOVAL SAIU ANA MARIA

NAS HORTALIÇAS QUE EU PAGO
SÓ VEJO GRILINHO UMA OU OUTRA TOUCEIRA
O SANDOVAL QUER QUIABO
EXIGE PEPINO SECA PIMENTEIRA
A PRÓPRIA MUDA ADMITE
QUE É CIRCULAR E NÃO TEM MEDO DISSO
MAS HÁ DIFERENÇA ENTRE UM LOMBO AOS DOMINGOS
E ALGUÉM QUE SÓ PENSA EM SENTAR NO CHOURIÇO
AI AI AI AI

Querelas do Brasil

O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapir, jabuti
Iliana, alamanda, alialaúde
Piau, ururau, akiataúde
Piá, carioca, porecramecrã
Jobimakarore Jobim-açu
Uô-uô-uô-uô

Pererê, câmara, tororó, olerê
Piriri, ratatá, karatê, olará!

O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Jerebasaci
Caandrades cunhãs, ariranharanha
Sertões, Guimarães, bachianaságuas
Imarionaíma, arirariboia
Na aura das mãos de Jobim-açu
Uô-uô-uô-uô

Jereerê, sarará, cururu, olerê
Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará

Do Brasil, S.O.S. ao Brazil

Tinhorão, urutu, sucuri olerê
Ujobim, sabiá, bem-te-vi olará
Cabuçu, Cordovil, Cachambi olerê
Madureira, Olaria ibangu olará
Cascadura, Águasanta, Acari olerê
Ipanema inovaiguaçu olará

Araguaia e tucuruí
Cantagalo, ABC, japeri
Cabo frio xingú sabará
Florianópolis piabetá
Araceli no espirito santo
E o aézio em jacarépaguá
Os inamps o jari a central
Instituto medico legal

Do Brasil, S.O.S. ao Brazil
Do Brasil, S.O.S. ao Brasil