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Paixão descalça

Choro. A paixão é mansão
Onde eu vivo e não moro…
Rememoro toda a vida
Ida, volta.
A paixão só se amarra
Se a gente se solta:
A paixão é um bicho cruel
De asas feito gaivota
Por nós dois eu não juro
No futuro há pestanas
Em olhares escuros
Entre as venezianas
De um chalé de avenida…
Volta, ida
A paixão se suicida
Se a razão se intromete:
A paixão é uma freira descalça
Em vison de vedete
Juro, se é preciso:
Meu amor enlouquece
Ao tomar juízo

Choro pro Zé

Ai, por que choras, sax, tanto assim?
Conta pra mim o que te faz sofrer
Sou teu amigo, fiz por merecer:
Sempre junto a ti
Sou o coração que faz você viver
Ai, por que choras, sax, tanto assim?
Não há motivo pra se arrepender
Confia em mim
Que em minha vida
Alegrias, horas tristes e vazias
Passo com você
A emoção que seduz
Solando um choro ou um blues
Me faz lembrar de outras noites muito azuis
Ouvindo o sax murmurar
Num baile ao luar
Frases pra sofisticada lady
Existe um sax em mim
Chorando baixinho assim
E é tão bonito uma lágrima cantar…
Um saxofone num bar
Me faz respirar
Sempre que o amor
Provocar em mim falta de ar

Simples e absurdo

O olho claro no cabelo cor da noite
Riso branco feito açoite no olhar de paranóia
Aqui é cúmplice o que é simples e absurdo:
Esmeralda no veludo, onça negra com jibóia

O que é quente se reúne ao que é gelado:
Dois vaga-lume agarrado na casaca do pingüim
O que é sagrado vaticina o que é pecado:
Dois louva-deus afogado em piscina de nanquim

De que se ri Diacuí?
Farsante finge um piti:
Gelo picado desmanchando dentro de um daiquiri…
Noturna sanguessuga suga o meu sossego pra si
Feito o morcego enxuga o suco-seiva do sapoti

Quem vê a corça que há em ti
Não pressente o javali
Que espreita a vítima na íntima clareira ao luar
Quem olha a jovem encantada tão bonita dançar
Não vê que a louca desgrenhada premedita matar

Ai, prenda minha, verde-preta que me abate,
Andorinha no abacate, luto sobre o beija-flor…
Salve Rainha, chega dessa ladainha,
Que o amor que tu me tinha era pouco e se acabou