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Pipira

Mané, tem um viveiro
Tem passarinho de toda qualidade
Zabelê, canário, corrupião
Pipira, sábia tem azulão

Rosinha, tava brincando
Pipira, lhe biliscou
O dedo inchava, ela chorava
Ai ai, ai dor

O que é menina
Foi a pipira do mané que biliscou
O que é menina
Foi a pipira de mané que biliscou

Já vi menina da carne reimosa
Pipira do bico venenoso
Deixou todo mundo em alvoroço

Que a menina tá inchando
Do dedo até o pé do pescoço
E a menina tá inchando
Do dedo até o pé do pescoço

Eu via disso lá no bacabal
Ninguém pode ver o trem engordando
Censura ai meu deu que é um horror

Fica o povo comentando
Mais um que a pipira biliscou
E tu também ta engordando
Mais uma que a pipira biliscou
E tu também ta engordando
Mais uma que a pipira biliscou

Morceguinho (o rei da natureza)

O homem é o rei dos animais
A mulher a rainha da beleza
Através da ciência tudo faz
Engrandece a terra e a natureza
Faz um ¨moio¨ de ferro avoar
Mata e cura a própria humanidade
Fala um lá da China num ciclone
E num bicho de nome telefone
Manda um outro no Brasil escutar
Mas tem coisa pequena nesse mundo
Que desafia a ciência de verdade

Tá aqui uma que causa confusão
A ciência não dá explicação
Se morcego é ave ou animal
E como é que é feita a geração
Mata um, tem outro dentro dele
Dentro dele tem outro menorzinho
Procurando com jeito ainda encontra
Dentro do outro um outro morceguinho

A abelha por Deus foi amestrada
Sem haver um processo bioquímico
Até hoje não houve nenhum químico
Pra fazer a ciência dizer nada
O buraco pequeno da entrada
Facilita a passagem com franqueza
Uma é sentinela de defesa
E as outras se espalham no vergel
Sem turbina sem tacho fazem mel
Quanto é grande e suprema a natureza

Procurando com jeito ainda encontra
Dentro dele um outro morceguinho

O jangadeiro

O jangadeiro vai ganhar a vida
No alto mar
Vai sem saber se volta
Mas tem que a vida ganhar
a vida ganhar…

Quando ele vem voltando na beira da praia
Fica logo assim de gente pra peixe comprar
Peixe a cem mil réis o quilo ninguém quer pagar
Mas todos quer peixe bonito
No preço do fiscal
Que nunca enfrentou
Temporal…

Mas ele enfrenta tudo porque tem zezinho
Filho de estimação que quer aprender ler
Ver o filho estudando é seu maior prazer
É a razão de ir pra o mar
Sem medo de morrer
Pra um pescador
Zé não sei…

Nunca temeu ao mar mas sempre o respeitou
Por viver sempre no mar ele tem amor
Tem orgulho do que é mas o que ele não quer
É que seu filho pra viver
Tenha que enfrentar o mar
Tenha que vim ser
Pescador…

A lavadeira e o lavrador

Eu vi a lavadeira pedindo sol
E o lavrador pra chover
Os dois com a mesma razão
Todos precisam viver

Eu vi o lavrador com o joelho no chão
O pranto banhando o rosto
Seu filho pedindo pão
O gado todo morrendo
Ó Deus poderoso
Faça chover no sertão

Nessa hora eu queria ter força e poder
Pra acabar com a miséria
E fazer no sertão chover
Vocês vão me censurar
Mas veio na imaginação
Nem tudo é santo de Deus
Pois Deus não tem coração

Depois, veio a lavadeira
Soluçando a reclamar
Dez dias que não faz sol
Pra minha roupa secar
Se eu não entrego a roupa toda
Doutor não vai me pagar
Se amanhã não fizer sol
Ai, meu Deus, o que será
Aí, eu vi que Deus é toda a perfeição
O que eu pensei ainda há pouco
Agora peço perdão
Só uma força de cima
Controla a situação
Um povo querendo inverno
Outro querendo verão

O bom filho à casa torna

Eu vou contar seu moço
Por que deixei meu sertão
Não foi pru falta de inverno
Não foi pra fazer baião
Não foi pru falta de inverno
Não foi pra fazer baião

É que todo sertanejo
Sempre tem essa ilusão
Conhecer cidade grande
E põe nas costa um matulão
Deixa que cá na cidade
Não existe exproração

Óia os bens que eu deixei
Um roçado de algodão
Bem cheinho de mandioca
De arroz e de feijão
Mas também só na mulher
É que não tinha sócio não

Acontece é que vi tudo
Arranha-céu muita grandeza
Móio de ferro voando
Remexendo a natureza
Mas o cheirim do mato verde
Para mim tem mais beleza

Ai meu Deus, quanta saudade
Do Lachinha e do Sané
Do De Ouro, do Leipinha
João Piston, do Rafaé
Esmagado, Garrinchinha
São meus amigos de fé

Essa água dos meus óio
Algum dia vai parar
O bom filho volta à casa
Por isto eu vou voltar
Eu já vi ditado certo
Pr’aprender tem que apanhar

Graças a Deus que eu tenho
Quem me protege no mundo
São José de Ribamar
Em Vargem Grande
São Raimundo
São José de Ribamar
Em Vargem Grande
São Raimundo

Bom vaqueiro

Quem foi vaqueiro que vê
Outro vaqueiro aboiar
Fica lembrando dos tempo
Que vivia a vaquejar

Sofre igual quem ama alguém
E vê com outro, passar

Ô

Mestre Costa bom vaqueiro
No sertão do Maranhão
Muntado no seu cavalo
Num cachorro um barbatão
E com carreira e meia
Não jogasse ele no chão

Ô

Hoje em vez de peitoral
Traz no peito uma paixão
De não poder vaquejar
Nem vestir o seu gibão
Passa boi passa boiada
Pisa no seu coração

Ô

Mestre Costa na fazenda
Hoje só abre cancela
Mocidade deixou ele
Ele também deixou ela
A véice montou nele
Ele desmontou da sela

Ô

Mestre Costa na fazenda
Hoje só abre cancela
Mocidade deixou ele
Ele também deixou ela
A véice montou nele
Ele desmontou da sela

Ô

Cicatriz

Pobre não é um
Pobre é mais de dois
Muito mais de três
E vai por aí
E vejam só

Deus dando a paisagem
Metade do céu já é meu
Deus dando a paisagem
Metade do céu já é meu

Pobre nunca teve gosto
A tristeza é a sua cicatriz.
Reparem bem que
Só de vez em quando
Pobre é feliz

Ai, quanto desgosto
Ai, quanto desgosto
Assim a vida vale a pena Não.
Mas é explicar a situação
Dizer pra ele que …

Pobre não é um
Pobre é mais de cem,
Muito mais de mil,
Mais de um milhão
E vejam só :

Deus dando a paisagem
O resto é só ter coragem
Deus dando a paisagem
O resto é só ter coragem.

Minha história

Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção

Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar

E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar: 
– O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
– O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar

Hoje todo são “doutô”, eu continuo joão ninguém 
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos “doutô”, basta pra me sentir bem
Ver meus amigos “doutô”, basta pra me sentir bem

Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: – João foi meu colega, como eu me sinto feliz
E dizem: – João foi meu colega, como eu me sinto feliz

Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas , e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião

Pra mim não

Dizem que acabou a escravidão
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não

Eu conheço um dito assim
Todos nós somos irmãos
E o sol nasceu pra todos
Pra mim não, pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não

Lá vai eu de sol a sol
Os meus calos é só na mão
Só um cego é que não vê
Que eu dou lucro a meu irmão
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não
Mais pra mim não

A voz do povo

Meu samba é a voz do povo
Se alguém gostou
Eu posso cantar de novo

Eu fui pedir aumento ao patrão
Fui piorar minha situação
O meu nome foi pra lista
Na mesma hora
Dos que iam ser mandados embora

Eu sou a flor que o vento jogou no chão
Mas ficou um galho
Pra outra flor brotar
A minha flor o vento pode levar
Mas o meu perfume fica boiando no ar