Nos Olhos de Guernica (Um Curto Verão em La Mancha)

O cavaleiro errante avança
com o coração em chamas.
Seu escudeiro não diz uma palavra.
Os gigantes de pedra aguardam
jogando cartas.
– Avante!
– Avante!
– Estou aqui pra lutar!

Sprays na parede dão a nova ordem.
Garrafas acesas de ódio e napalm
queimam as flores de Vandré no jardim.

Dulcinéia, oh doce princesa,
me perdoa por perder a vida
em luta com dragões no mar.
Me desculpa por bater os braços
e afundar ao ver que nunca soube nadar.

!Ya Basta!
O verão acabou
quando Durruti ficou sem munição
e Guernica tornou-se a maldição
que nem mesmo Che soube como controlar.

E quem vai pagar
agora que teu olhar só mira ao céu
e teus lábios são tão frios criança…

Então escalei tanques em Pequim
e ainda assim não pude ver
se você estava ali na multidão.
Li todos versos de Brecht
e não encontrei mensagens e recados
pra fugir outra vez
ao quarto onde o grande irmão
não pode nos ouvir e
nada mais importa, só você aqui
enquanto a primavera arde
por toda Paris.

São portões fechados
que não te deixam entrar.
Teus irmãos te trancaram pra fora
e agora também jogam
cartas com o diabo.
E, você sabe,
a noite os lobos saem pra cantar…

O monitor acende o nome,
os jornais tem a sua foto
e os intelectuais romantizam
sobre dias que nunca verão.
Os comitês votaram outro protesto,
os estudantes voltaram,
o feriado acabou
e seu corpo ficou esquecido ao chão.


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