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Tema para Juliana

O amor é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

Eu só queria ter um bem
Faz de conta que eu já tenho alguém
E que esse alguém também me quer

O lugar é meu
O coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

E pouco importa
As pedras do caminho e a felicidade
Se a minha sorte, a dura caminhada é a realidade

Se o amor é meu
Se o coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

E pouco importa
As pedras do caminho e a felicidade
Se a minha sorte, a dura caminhada é a realidade

Se o amor é meu
Se o coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

O amor é meu
O coração é meu
E aqui estou pro que der e vier

O lugar é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

O amor é meu
O coração é meu
De mão beijada entrego a quem quiser

O amor é meu
O coração é meu
Aqui estou pro que der e vier

O lugar é meu

Amor de violeiro

No braço de uma viola
Eu faço meu cativeiro
Eu choro, a dor me consola
E doa a quem doa, parceiro

Eu vim de um mundo levado
Misturado por inteiro
Fez o amor mais procurado
Que moeda, que dinheiro

Vejo a vela que se apaga
Vejo a luz, vejo o cruzeiro
Vejo a dor, vejo a vontade
Do amor de um violeiro

No braço de uma viola
Verdade seja bem-vinda
Que acabe o choro, que seja
O amor a coisa mais linda

Eu sou de agora e de sempre
Cantador de mundo afora
Padeço se estou contente
Me dói a dor de quem chora

Por isso eu sou violeiro
E num braço de uma viola
Quem quiser me abrace forte
Ou eu abraço primeiro

Sinto a vida, sinto a morte
Do amor de um violeiro
Salve a vida, salve a morte
Salve a hora de eu cantar

Deus me deu tamanha sorte
Não sair do meu lugar
No braço de uma viola
Eu faço meu cativeiro

Crônica do tempo

Pra mim, o mundo é um relógio
E, e o dinheiro é a mola
Que controla os relógios dessa vida

Se o senhor tiver tempo pra ouvir a minha história
Eu começo lhe contando
Que toda a minha vida foi um grande desencontro
Entre o tempo do relógio e as oportunidades

Deus, nosso Senhor, que perdoe a minha sinceridade
Como um segredo
Mas inté hoje não entendi
Por que é que pra tudo na minha vida
Eu sempre cheguei muito tarde ou muito cedo

Pra começar, nasci fora do tempo, sou de sete meses
E se foi cedo demais pra dar dores e tristezas
À minha mãe, com essa minha pressa de nascer
Foi tarde demais pra dar alegria ao meu pai, coitado
Ele morreu antes de me conhecer
E aí começa o meu rosário com o tempo do relógio

Já na idade de ir pra escola foi um tormento
Minha mãe, coitada, corria pra lá e pra cá
Comigo de mão dada
E sempre recebendo o mesmo desengano, coitada
Não pode, dona, só pro ano, é cedo ainda
Ou então, tarde demais, dona, as matrícula já tão tudo fechada

Com o tempo, eu fui crescendo
Já mocinho, procurava emprego
Porta de oficina, serviço diferente, coisa de pequena paga
E aquelas palavras do tempo me seguindo
Sempre acontecendo comigo como um relógio do destino
Olha, moço, não tem vaga, se você tivesse sido esperto
Agora o quadro de operários já tá completo

Eu me lembro que inté pro amor eu me atrasei
Quando pra aquela cabocla que eu gostava, me declarei
Ela falou pra mim: Você chegou tarde demais
Já dei meu coração pra outro rapaz

Mesmo assim, um dia me casei
E desse casamento nasceu
Um menino, bonito, que só vendo
Foi a única coisa que me chegou na hora certa
Porque ele foi a porta aberta pro meu riso
Riso que eu já nem sabia mais como era o jeito

Dei a ele o nome de Vitório, ia ser meu grande vingador
Pra me vingar do tempo, pra me vingar das hora dos relógio
E inté dos segundo, e de tudo
Me vingar dos donos desse relógio que é o mundo
Vitório, o meu grande vingador

Vitório foi crescendo como pode
Logo já tinha cinco ano, e a vida, o tempo
O tempo como um inimigo traidor sempre me espiando
Um dia, Vitório adoentou-se
Como acontece com qualquer criança
E eu trabalhava num faz de tudo ao mesmo tempo
Pra nenhum remédio lhe fartá, eu tinha esperança

Num dia só fui camelô, bilheteiro
Entregador de encomenda, jardineiro, tudo
E chegava em casa moído e fedorento
De suor pra lhe abraçar e lhe beijar
E o coitadinho encuído, magrinho, dava dó, tava sofrendo

Então o doutor trouxe ele pra vê ele
É, homem bão, atencioso
Que logo depois de examinar falou assim
Oh, corre, vá depressa comprar essa receita
Seu filho não tá bão, quem sabe se com isso ele se ajeita
E chacoalhando a cabeça, foi-se embora
Quem sabe aconselhando uma promessa

Como eu não tinha dinheiro pro remédio
Dei de garra num velho despertador lá de casa
A única coisa de valor
Pensando que podia vender ele num brechó
E saí correndo, bem correndo

Mas inté hoje não entendi por que ouvi uns grito na rua
Pega ladrão, pega ladrão
E gente amontoando pro meu lado
Quem sabe imaginando que eu era algum malfeitor
E foi soco, bordoada, pontapé
E quando eu pude perceber
Já tava de pé na frente de um delegado

Doutor, meu filho tá doente, tá morrendo
Por favor, eu tenho aqui uma receita, ó
E supliquei, chorando
O tal delegado, então, acreditando, falou pro guarda
Pega o carro da rádio patrulha, leva o moço
E me entregando um toco de dinheiro do seu bolso, arrematou
Corre, corre, compra o tal remédio pro seu filho na farmácia

Eu fui embora correndo, correndo
Correndo, correndo comprei o remédio
Voltei feito um raio, feito um raio lá pra casa
Mas como sempre na vida, eu corri contra o tempo
Esse covarde
Quando abracei meu filho, é que eu vi
Mais uma vez, eu tinha chegado tarde

Adeus meu pai

Adeus meu pai, adeus minha mãe
Adeus pessoal, estou indo embora
Pro mundo afora, dentro de um bornal
Levo um restinho de alegria
Um bocadinho de sal, que cai dos olhos
Que dentro deles, como uma saudade mortal.

Eu deixei minha família
De um jeito que tanto faz
Lá no sertão de goiás,
Boiadas marcadas a ferro
Com letras de outro patrão
Quando atravessa o rio grande
Não volta nunca mais não.

Adeus meu pai, etc

Eu deixei minha família, etc

Seresta

Meu violão em seresta à luz de um luar
A natureza em festa, tudo parece cantar
Só eu tristonho na rua, sozinho, sem ninguém

Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem
Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem

Porque não vens, não vens escutar o teu cantor a cantar
Esta canção que eu mesmo fiz por ser assim infeliz
Porque não vens não vens escutar o teu cantor a cantar
Esta canção que eu mesmo fiz por ser assim infeliz

Meu violão em seresta à luz de um luar
A natureza em festa, tudo parece cantar
Só eu tristonho na rua, sozinho, sem ninguém

Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem
Vivo cantando pra lua a canção que é só tua meu querido bem

Eu, a viola e Deus

Eu vim-me embora
E na hora cantou um passarinho
Porque eu vim sozinho
Eu, a viola e Deus

Vim parando assustado, espantado
Com as pedras do caminho
Cheguei bem cedinho
A viola, eu e Deus

Esperando encontrar o amor
Que é das velhas toadas canções
Feito as modas da gente cantar
Nas quebradas dos grandes sertões

A poeira do velho estradão
Deixou marcas no meu coração
E nas palmas da mão e do pé
Os catiras de uma mulher, ei…

Essa hora da gente ir-se embora é doída
Como é dolorida,
Eu, a viola e Deus

Eu vou-me embora
E na hora vai cantar um passarinho
Porque eu vou sozinho
Eu, a viola e Deus

Vou parando assustado, espantado
Com as pedras do caminho
Vou chegar cedinho
A viola, eu e Deus

Vide vida marvada

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê

Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vaqueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-lis