Skip to main content

Segunda

Segunda é dia de branco
Vou arrastar meu tamanco
Quem não tem dinheiro em banco
Madruga e Deus não ajuda

Sexta-feira eu dou o arranco
No sábado aguento o tranco
Chega no domingo estanco
Na segunda tudo muda

Digo isso com alegria
Não vejo o nascer do dia
Mas pela Virgem Maria
Tenho dinheiro e patrão

Eu mesmo sou mei galego
O meu chefe no emprego
É que é mulato pra nego:
Só ecos da escravidão

Se conhece pela bunda
Pela tristeza profunda
Mas é só dele a segunda
Eu foi que herdei a senzala

Mas agora a minha sala
Tem geladeira de gala
À dele quase se iguala
Muda o mundo em barafunda

Vou arrastar meu tamanco
Que amanhã volto à peleja
Quem não me mata me beija
Mas ninguém morre de inveja

Essa é a última cerveja
Bendigo quem vai à igreja
Quem não vai, louvado seja
Segunda é dia de branco

Neguinho

Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê?
Neguinho nem quer saber
O que afinal define a vida de neguinho

Neguinho compra o jornal, neguinho fura o sinal
Nem bem nem mal, prazer
Votou, chorou, gozou: o que importa, neguinho?

Rei, rei, neguinho rei
Sim, sei, neguinho
Rei, rei, neguinho é rei
Sei não, neguinho

Se nego pensa que é difícil, fácil, tocar bem esse país
Só pensa em se dar bem – neguinho também se acha
Neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro, um GPS
E acha que é feliz
Neguinho também só quer saber de filme em shopping

Rei, rei, neguinho rei
Sim, sei, neguinho
Rei, rei, neguinho é rei
Sei não, neguinho

Se o mar do Rio tá gelado
Só se vê neguinho entrar e sair correndo azul
Já na Bahia nego fica den’dum útero
Neguinho vai pra Europa, States, Disney
E volta cheio de si
Neguinho cata lixo no Jardim Gramacho

Neguinho quer justiça e harmonia
Para se possível todo mundo
Mas a neurose de neguinho vem e estraga tudo
Nego abre banco, igreja, sauna, escola
Nego abre os braços e a voz
Talvez seja sua vez:
Neguinho que eu falo é nós

Rei, rei, neguinho rei
Sim, sei, neguinho
Rei, rei, neguinho é rei
Sei não, neguinho