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Ladrão de terra

Tinha eu quatorze ano
Quando deixei meu estado
Meu pai era sitiante
Trabaiador e honrado

Por este mundão de Deus
Eu dei murro no pesado
Quando a sorte me sorria
Os meus plano foi cortado
Triste notícia chegava
Meu destino transformava
Eu fiquei um revortado

Meu pai tinha falecido
Na carta vinha dizendo
As terra que ele deixou
Minha mãe acabou perdendo

Para um grande fazendeiro
Que abusava dos pequeno
Meu sangue ferveu na veia
Quando eu fiquei sabendo
Invadiram as terra minha
Tocaram a minha mãezinha
Pra roubar nossos terreno

Eu vortei pra minha terra
Foi com de no coração
Procurando meus direito
Eu entrei num tabelião

Quase que também caía
Nas unha dos gavião
Porque o dono do cartório
Protegia os embrulhão
Me falou que o fazendeiro
Tinha rios de dinheiro
Pra ganhar esta questão

Respondi no pé da letra
Não tenho nenhum tostão
Meu dinheiro é dois revólver
E bala no cinturão

Se aqui não tiver justiça
Para minha proteção
Vou mandar os trapaceiro
Pra sete parmo de chão
Embora saia uma guerra
Vou matar ladrão de terra
Dentro da minha razão

Nós tava de onze a onze
Na parada nesse dia
O pobre é carta baixa
E os rico são as mania

Foi uma chuva de bala
Só capanga que corria
Foi pela primeira vez
Que o dinheiro não valia
O barulho acabou cedo
Entregaram foi de medo
Terras que me pertencia

Na cerca de minha terra, oi, ai
Quem mexer ninguém imagina, oi, ai

O menino da porteira

Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria a abrir a porteira, depois vinha me pedindo
“Toque o berrante, seu moço, que é pra eu ficar ouvindo”.
Quando a boiada passava e a poeira ia abaixando
Eu jogava uma moeda e ele saía pulando
“Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando”.
Por aquele sertão afora meu berrante ia tocando

No caminho desta vida muito espinho eu encontrei
Mas nenhum calou mais fundo do que isto que passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada, o menino não avistei
Apeei do meu cavalo num ranchinho à beira-chão
Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão
“Boiadeiro, veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração”.

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
Quando passo na porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem
A cruzinha do estradão do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão, berrante eu não toco mais