Lenine

Lenine é um cantor, compositor e multi-instrumentista brasileiro que se destacou por sua habilidade musical e pela mistura de ritmos, como o rock, o pop, o samba e a música nordestina. Nascido em Recife, em 1959, ele começou a carreira na música na década de 1980 e se tornou conhecido em todo o Brasil com o sucesso da música “Hoje Eu Quero Sair Só” em 1997. Lenine é um artista versátil que também colaborou com outros artistas e produziu trilhas sonoras para cinema e televisão. Com uma carreira de mais de 30 anos, ele é considerado um dos principais representantes da música contemporânea brasileira.

Aquilo que dá no coração

Aquilo que dá no coração E nos joga nessa sinuca Que faz perder o ar e a razão E arrepia o pêlo da nuca Aquilo reage em cadeia Incendeia o corpo inteiro Faísca, risca, trisca, arrodeia Dispara o rito certeiro  Avassalador Chega sem avisar Toma de assalto, atropela Vela de incendiar Arrebatador Vem de qualquer lugar Chega, nem pede licença Avança sem ponderar  Aquilo bate, ilumina Invade a retina Retém no

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Vivo

Precário, provisório, perecível; Falível, transitório, transitivo; Efêmero, fugaz e passageiro Eis aqui um vivo, eis aqui um vivo! Impuro, imperfeito, impermanente; Incerto, incompleto, inconstante; Instável, variável, defectivo Eis aqui um vivo, eis aqui… E apesar… Do tráfico, do tráfego equívoco; Do tóxico, do trânsito nocivo; Da droga, do indigesto digestivo; Do câncer vil, do servo

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Umbigo

Umbigo meu nome é umbigo Gosto muito de conversar comigo Umbigo meu nome é espelho Não dou ouvidos nem peço conselhos Umbigo meu nome é certeza Só é real o que convém à realeza Umbigo meu nome é verdade Sou o dono do mundo e o rei da cidade Umbigo meu nome é umbigo… Umbigo

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Tudo por Acaso

Eu sei! Tudo por acaso Tudo por atraso Mera distração… Eu sei! Por impaciência Por obediência Pura intuição… Qualquer dia Qualquer hora Tempo e dimensão O futuro foi agora Tudo é invenção… Ninguém vai Saber de nada E eu sei Pelo sentimento Pelo envolvimento Pelo coração… Eu sei! Pela madrugada Pela emboscada Pela contramão… Qualquer

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Tubi Tupy

Eu sou feito de restos de estrelas Como o corvo, o carvalho e o carvão As sementes nasceram das cinzas De uma delas depois da explosão Sou o índio da estrela veloz e brilhante O que é forte como o jabuti O de antes de agora em diante E o distante galáxias daqui Canibal tropical,

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Sonhei

Sonhei e fui, sinais de sim, Amor sem fim, céu de capim, E eu olhando a vida olhar pra mim. Sonhei e fui, mar de cristal, Sol, água e sal, meu ancestral, E eu tão singular me vi plural. Sonhei e fui, num sonho à toa, Uma leoa, água de Goa, E eu rogando ao

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Sentimental

Quem liberta o furacão Desamarra o mar da praia Desarruma o rumo, entorta o prumo Erra sem destino amor Quem desata o céu da terra Desfere a flecha, rasga o ar Tira a luz da treva, razão a terra, erra, desatina, amor Quem move o mundo todo apenas sendo sentimental Sentimental Quem me tira o

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Rosebud

Dolores, dólares… O verbo saiu com os amigos Pra bater um papo na esquina. A verba pagava as despesas, Porque ela era tudo o que ele tinha. O verbo não soube explicar depois, Porque foi que a verba sumiu. Nos braços de outras palavras O verbo afagou sua mágoa e dormiu. O verbo gastou saliva,

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Relampiano

Tá relampiano Cadê neném? Tá vendendo drops No sinal prá alguém Tá relampiano Cadê neném? Tá vendendo drops No sinal prá alguém E tá vendendo drops No sinal… Todo dia é dia Toda hora é hora Neném não demora Prá se levantar… Mãe lavando roupa Pai já foi embora E o caçula chora Prá se

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Quadro Negro

No sub-imundo mundo sub-humano Aos montes, sob as pontes, sob o sol Sem ar, sem horizonte, no infortúnio Sem luz no fim do túnel, sem farol Sem-terra se transformam em sem-teto Pivetes logo se tornam pixotes Meninas, mini-xotas, mini-putas, de pequeninas tetas nos decotes Quem vai pagar a conta? Quem vai lavar a cruz? O

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Olho de Peixe

Permanentemente, preso ao presente O homem na redoma de vidro São raros instantes De alívio e deleite Ele descobre o véu Que esconde o desconhecido, O desconhecido E é como uma tomada à distância Uma grande angular É como se nunca estivesse existido dúvida, Existido dúvida Evidentemente a mente é como um baú E homem

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Oia o Rapa

  Tremenda correria Some com a mercadoria Sujou, sujou, sujou, rapaziada É penalty, é penalty Os homens tão na área Levaram, levaram Levaram na mão grande É grande, é grande, é grande a confusão É um armário esse negão Derruba o tabuleiro Mas parece um caminhão Derruba o tabuleiro Que barra pesada Os caras tão

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O Mundo

O mundo é pequeno prá caramba Tem alemão, italiano, italiana O mundo, filé à milanesa Tem coreano, japonês, japonesa… O mundo é uma salada russa Tem nego da Pérsia Tem nego da Prússia O mundo é uma esfiha de carne Tem nego do Zâmbia Tem nego do Zaire… O mundo é azul lá de cima

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O Marco Marciano

Pelos auto-falantes do universo Vou louvar-vos aqui na minha loa Um trabalho que fiz noutro planeta Onde nave flutua e disco voa: Fiz meu marco no solo marciano Num deserto vermelho sem garoa Este marco que eu fiz é fortaleza. Elevando ao quadrado Gibraltar! Torreão, levadiça, raio-laser E um sistem internet de radar: Não tem

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Na Pressão

Olho na pressão, tá fervendo Olho na panela Dinamite é o feijão cozinhando Dentro do molho dela A bruxa acendeu o fogo Se liga, rapaziada Tem mandinga de cabôco Mandando nessas parada Garrafada de serpente Despacho de cachoeira Quanto mais o fogo sobe Mais a panela cheira Olho na pressão, tá fervendo Olho na panela

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Meu Amanhã

Ela é minha delicia O meu adorno Janela de retorno Uma viagem sideral Ela é minha festa Meu requinte A única ouvinte Da minha radio nacional Ela é minha sina O meu cinema A tela da minha cena A cerca do meu quintal Minha meta, minha metade Minha seta, minha saudade Minha diva, meu divã

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Mais Além

A leste das montanhas da nação Cherokee Um índio na motocicleta cruza o deserto Ao longe o cemitério onde dorme o pai, Mas ele sabe que seu pai não está ali, É mais além Mais além) A linha que separa O mar do céu de chumbo A gaivota caça o peixe radioativo O náufrago retém

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Magra

Moça Pernas de pinça Alta Corpo de lança Magra Olhos de corça Leve Toda cortiça Passa Como que nua Calma Finge que voa Brasa Chama na areia Bela Como eu queria Magra, leve, calma Toda ela bela Tudo nela chama Segue Enquanto suspiro Toda Cor de tempero Cheira Um cheiro tão raro Clara Cura o

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Leão do Norte

Sou o coração do folclore nordestino Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá Sou o boneco do Mestre Vitalino Dançando uma ciranda em Itamaracá Eu sou um verso de Carlos Pena Filho Num frevo de Capiba Ao som da orquestra armorial Sou Capibaribe Num livro de João Cabral Sou mamulengo de São Bento do

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Labiata

Daqui desse momento Do meu olhar pra fora O mundo é só miragem A sombra do futuro A sobra do passado A sombra uma paisagem Quem vai virar o jogo E transformar a perda Em nossa recompensa Quando eu olhar pro lado Eu quero estar cercado Só de quem me interessa Às vezes é um

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Lá e Cá

Mangueira, Ilê Aiê e viva o baticum Quando a Padre Miguel encontra com Olodum Caymmi com Noel, no Tom maior Jobim A Penha, a Candelária, o Senhor do Bonfim Irmão São Salvador e São Sebastião Tamborim, berimbau na marcação Pontal do Arpoador, final de Itapoã Meninos do Pelô, da Flor do Amanhã Diga aí, diga

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Flor

Meu bem meu menino Me dê o seu sorriso A sua gargalhada escancarada Me empreste seus pés morenos. Coberto de sol Veloz sobre o areal Em corrida descalça descarada Rei da praia herói sem igual Me devolva meu coco Seu moleque bonitinho Me dê a sua bochecha Pra eu lhe pôr um beijinho Não ria

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Encantamento

Rússia brazuca Brasa sivuca Baiões na neve Acordeonde Terras do longe Sertões Kiev Caymminino Singra sozinho O alto mar negro E os pescadores Versejadores Ouvem arpejos Arpões não ferem Lapões não querem Mais ventania Param no porto Cantam me coro Sua baía O resultado Não poderia Ser diferente Todo ligado Luz, sinergia Canções da gente

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É Fogo

Éramos uma pá de apocalípticos, De meros hippies, com um falso alarme… Economistas, médicos, políticos Apenas nos tratavam com escárnio. Nossas visões se revelaram válidas, E eles se calaram mas é tarde. As noites tão ficando meio cálidas… E um mato grosso em chamas longe arde O verde em cinzas se converte logo, logo… É

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Caribantu

Bate tantã, tambor Bate pé no andor Vamos bater perna Vamos bota mais fé É ou então não é Que a vida é eterna Vamos batê cabeça Mexer cabaça Sonar no oco do babaçu Luz pra quem bebe auasca Quem masca coca Quem bebe e masca em Machu Picchu Vez pra quem sofre e chora

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Bundalelê

Chegou, chegou… A nossa tribo é o tambor que acorda o carnaval bebeu, sorriu, cantou… e organizou o cartel do alto-astral você que nada e não morre na praia você que é da gandaia, me diz, você que é do prazer, abra os seus olhos pra ver o lado iluminado do país o Rio de

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Alzira e a Torre

Alzira bebendo vodka defronte da Torre Malakof Descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole Alzira na Rua do Hospício, no meio do asfalto, fez um jardim Em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim? Em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim? (Hei hei hei) Alzira Ô (Alzira

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A Visão de Krishna na Forma Universal

Ó meu senhor de poderosos braços Todos os mundos e o seus semi-deuses Vendo teus braços, teus rostos, teus olhos, teus ventres, tuas cochas, teus dentes terríveis Se apavora… Eu também… Quando eu te vejo Vishnu oni presente… Enchendo o céu com cores radiantes O teu olhar flameja E as bocas escancaradas Fico amedrontado… amedrontado

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A Rede

Nenhum aquário é maior do que o mar Mas o mar espelhado em seus olhos Maior, me causa um efeito De concha no ouvido, barulho de mar Pipoco de onda, ribombo de espuma e sal Nenhuma taça me mata a sede Mas o sarrabulho me embriaga Mergulho na onda vaga Eu caio na rede Não

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A Ponte

Como é que faz pra lavar a roupa? Vai na fonte, vai na fonte Como é que faz pra raiar o dia? No horizonte, no horizonte Este lugar é uma maravilha Mas como é que faz pra sair da ilha? Pela ponte, pela ponte A ponte não é de concreto, não é de ferro Não

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A Mancha

A mancha vem comendo pela beira O óleo já tomou a cabeceira do rio E avança A mancha que vazou do casco do navio Colando as asas da ave praieira A mancha vem vindo Vem mais rápido que lancha Afogando peixe, encalhando prancha A mancha que mancha, Que mancha de óleo e vergonha Que mancha

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Miedo

Tienen miedo del amor y no saber amar Tienem miedo de la sombra y miedo de la luz Tienem miedo de pedir y miedo de callar Miedo que da miedo del miedo que da Tienem miedo de subir y miedo de bajar Tienem miedo de la noche y miedo del azul Tienem miedo de escupir

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Do It

Tá cansada, senta Se acredita, tenta Se tá frio, esquenta Se tá fora, entra Se pediu, agüenta Se pediu, agüenta… Se sujou, cai fora Se dá pé, namora Tá doendo, chora Tá caindo, escora Não tá bom, melhora Não tá bom, melhora… Se aperta, grite Se tá chato, agite Se não tem, credite Se foi

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Paciência

Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma A vida não pára… Enquanto o tempo Acelera e pede pressa Eu me recuso faço hora Vou na valsa A vida é tão rara… Enquanto todo mundo Espera a cura do mal E a loucura finge

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