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Despejo na favela

Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E, contra seu desejo
Entregou pra seu narciso
Um aviso, uma ordem de despejo

— Assinada, seu doutor
Assim dizia a ‘pedição’
“Dentro de dez dias
Quero a favela vazia
E os barracos todos no chão”

— É uma ordem superior
Ô, ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
É uma ordem superior
Ô, ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
É uma ordem superior

— Não tem nada não, seu doutor
Não tem nada não
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não, seu doutor
Vou sair daqui
Pra não ouvir o ronco do trator

— Pra mim não tem ‘probrema’
Em qualquer canto eu me arrumo
De qualquer jeito eu me ajeito
Depois, o que eu tenho é tão pouco
Minha mudança é tão pequena
Que cabe no bolso de trás

…Mas essa gente aí, hein?
Como é que faz?
Mas essa gente aí, hein?
Com’é que faz?
Ô, ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
Essa gente aí
Como é que faz?
Ô, ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
Essa gente aí, hein?!
Como é que faz?

Defeito 11 – Tangolomango

Rico chega na dança
de braço dado
O diabo enche a pança
de braço dado

O olho grande e a ganância
de braço dado
Ao dólar reverência
todo arriba-saiado
Aos juros, esconjuros
todo calça-arriado

Isso é o tangolomango

O rico hoje, coitado,
É preso, todo cercado
Arrodeado de grades
Porteiroguarda e alarme

Arranje, Senhor, um porto
Que ele não ‘steja acuado
Com um pouco de conforto
Pra ele estar sossegado

Mas a verbá, a verbé,
A verborrologia dessa politimerdia
É o tangolomango
E a cárdio-filosoporria
É o tangolomango

Bis E é nesse tangolomango
Que me voy pal pueblo

Decididamente

Decididamente!

Não quero mais você.

Chora! Sofre!

Pra ver como é bom sofrer.

(bis)

Você me deixou padecendo.

Sofrendo uma grande paixão.

Agora me vem de joelhos.

Chorando, pedindo perdão.

Decididamente.

Não quero mais você.

Chora! Sofre!

Pra ver como é bom sofrer

(bis)

Currupaco

Se você
Num tá entendendo
O que o papagaio tá dizendo
Eu tô
Posso até lhe traduzir
Currupaco, papaco, paco
Vê se não me enche o saco

Está assim de curioso por aí
Que quer saber da vida da gente a fundo
Pra depois bancar o papagaio
E repetir
As fofocas pra todo mundo

Você parece relógio de repetição
Vê se arranja uma outra profissão
Pra não ficar igualzinho ao papagaio
Currupaco, papaco, paco
Não enche o saco, meu irmão

Conselho de mulher

Quando deus fez o homem
Quis fazer um vagolino que nunca tinha fome
E que tinha no destino
Nunca pegar no batente e viver forgadamente
O homem era feliz enquanto deus assim quis
Mas depois pegou adão, tirou uma costela e fez a mulher
Deis di intão, o homem trabalha prela
Mai daí, o homem reza todo dia uma oração
Se quiser tirar de mim arguma coisa de bão
Que me tire o trabaio, a muié não!

Pogressio, pogressio
Eu sempre iscuitei falar, que o pogressio vem do trabaio
Então amanhã cedo, nóis vai trabalhar

Quanto tempo nóis perdeu na boemia
Sambando noite e dia, cortando uma rama sem parar
Agora iscuitando o conselho das mulheres
Amanhã vou trabalhar, se deus quiser, mas deus não quer!

Pogressio, pogressio
Eu sempre iscuitei falar, que o pogressio vem do trabaio
Então amanhã cedo, nóis vai trabalhar

Quanto tempo nóis perdeu na boemia
Sambando noite e dia, cortando uma rama sem parar
Agora iscuitando o conselho das mulheres
Amanhã vou trabalhar, se deus quiser, mas deus não quer!

Chora na rampa

Chora na rampa negão
Chora na rampa
Chora que etus olhos se destampa

Ó Florisvarda
Eu chorei na tua campa
Chora negão na rampa
Ó Esmerarda
A chaleira está sem tampa
Chora negão na rampa

Ó Ermengarda
Tás bebendo minha úca às pampa
Chora negão na rampa
Tô sem bufunfa
Prá pagar a luz da lampa
Chora negão na rampa

Chega

Agora eu vivo só e tão desolado
Por meu amor ter me abandonado
Sem ter razão feriu meu coração
Por isso eu sou julgado como um vagabundo
Não descanso um momento
Ninguém tem pena de mim neste mundo

Jamais na vida te darei perdão mulher fingida
Só porque você feriu meu coração
Eu jurei com tristeza
Ah, mas ninguém terá amizade
Não és mulher para me compreender
Você um dia vai se arrepender

Casamento do Moacir

A turma da favela convidaram-nos
Para irmos assistir
O casamento da gabriela com o moacir
Arranjemos uma beca preta
E um sapato branco bem apertado no pé
E se apreparemos para ir
Na catedral lá da vila ré

Quando os noivos estava no artar
O padre começou a perguntar
Umas coisas assim em latim:
Qualquer um de vodis aqui presenti
Tem alguma coisa de falar contra esses bodis?

Seu padre, apara o casamento!
O noivo é casado, pai de sete rebento
Fora o que está pra vir
O pai é esse aí – o moacir!

Que vexame!
A noiva começou a soluçar
Porque o noivo não passou no exame nupiciar
Já acabou-se a festa
Porque nóis descobriu
O moacir era casado
Cinco vez, lá no estado do rio

Camisolão

Tô… tô… tô…

De camisolão

A mulher depois da dez

Passa chave no portão!

A mulher depois das dez

Diz que é hora de deitar

Meu bloco tá passando

Que saudade que me dá

A mulher de camisola

Eu de camisolão…

Quem quizer casar que case

Eu não dou opinião!”

Bazares

Comprei um quimono
No japão (galvão bueno)
Fui depois ver israel
Zé paulino no sereno.

25 de março
Mão-de-obra da turquia
Levanta-se muito cedo
Quando ainda não é de dia

(refrão)
Mais um aqui pro fregueis,
Divinha que tem na mão
Aqui caro sai barato,
E tem até prestação.

Na penha, na oriente
Na lapa ou aclimação,
Existem muitos bazares
Que são uma tentação.

No cambuci, no ipiranga,
Ou na vila mariana,
Todos tem conta corrente,
Durante toda semana

Até amanhã (Adoniran Barbosa e Wilma Camargo)

Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 

Até amanhã, durma bem 
Tenha bom sono 
Não deixe que as amarguras 
Te levem ao abandono 

Por mais que digam os outros 
Ninguém é o nosso retrato 
Cada um sabe melhor 
Onde lhe aperta o sapato 

Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 

Até amanhã, durma bem 
Tenha bom sono 
Não deixe que as amarguras 
Te levem ao abandono 

A amargura foi ontem 
Hoje sobrou só o saldo 
Do fogo da nossa vida 
Amanhã será o rescaldo 

Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã 
Até amanhã, durma bem, até amanhã

Asa negra

Depois que aquela mulher me deixou
Minha vida melhorou
Depois que aquela mulher me deixou
Minha vida melhorou

Se eu soubesse disso
Teria deixado aquela mulher
Há mais tempo
Há mais tempo

Hoje vieram me dizer
Que ela vive a sofrer
E a razão eu sei por que
Vou lhe dizer

Era ela a minha asa negra
Era ela a minha asa negra

Armistício (Eduardo Gudim e Adoniran Barbosa)

Tem um ditado
Não sei se é inglês ou português
Só sei que o ditado diz
Quem faz uma, faz duas, faz três

Você fez uma, você fez duas
Mas três não vou deixar você fazer
Você fez uma, você fez duas
Mas três não vou deixar você fazer

Agora vem você pedindo acordo
Agora vem você pedindo armistício
Perdi a confiança em você
Pois você é igual a ovelha
Que perde o pêlo mas não perde o vício

Aqui Gerarda (Adoniran Barbosa, Moreno e Joca)

Geralda, saiu de casa
Onde será que Geralda foi parar
Aqui Gerarda, aqui Gerarda
O charutinho está cansado de chorar

Chora negrão na rampa
Chora que eu também já chorei
De noite todas as gatas são parda
Aqui Gerarda, aqui Gerarda

Chora negrão na rampa
Chora que eu também já chorei
Você gosta de salsicha com mostarda
Aqui Gerarda, aqui Gerarda

Agora pode chorar (Adoniran Barbosa e José Nicolini)

Chora, chora…

Quem te ensinou a sofrer não fui eu

Chora, chora…

Porque o nosso amor morreu

Andas por aí, dizendo que a culpa é minha

Nada disso é verdade pois fizeste sua vontade

Perdeste a linha por falta de juízo

Hoje estás arrependida lamentando a própria vida

Chora, chora…

Quem te ensinou a sofrer não fui eu

Chora, chora…

Porque o nosso amor morreu

Fica insistindo para eu te perdoar

Mas meu coração magoado

De sofrer já está cansado

Não há mais nada não adianta reclamar

Me deixaste tão sózinho

Padecendo de carinho

Chora, chora…

Quem te ensinou a sofrer não fui eu

Chora, chora…

Porque o nosso amor morreu

Adeus escola (Adoniran Barbosa, Ari Machado e Nilo Silva)

Enganado eu vou partir
Neste mundo jamais viverá
Adeus minha escola do samba
Eu vou para nunca mais voltar

Adeus companheiros do samba
Perdão, se algum dia te ofendi sem ter razão
Adeus escola
Adeus escola, eu levo você no coração

Enganado eu vou partir
Neste mundo jamais viverá
Adeus minha escola do samba
Eu vou para nunca mais voltar

O meu tamborim respeitado
Eu deixo para quem melhor que eu possa tocar
Adeus escola
Adeus escola, eu vou partir para nunca mais voltar

Acende o candieiro

“Vai nêga, fala que o pai mandou, viu

Vai lá e fala que o pai mandou, vai fia”.

Acende o candieiro,
Ó nêga
Alumeia o terreiro,
Ó nêga
Vai avisar o pessoal
Que hoje vai ter
Ensaio geral

Vai depressa maria
Antes que fique tarde
Daqui a pouco escurece
Não dá pra avisar ninguém
Na volta não esquece
De falar com dona irene

E passar pelo armazém
Trazer um pacote
De vela
E um litro de querozene

Desta vez
Não pode acontecer
O que aconteceu
Da outra vez
Foi uma coisa incrível
O ensaio parou
Porque faltou combustível

Vai nêga vai

A canôa virou

A canôa virou, virou…

Deixa ella virar, virar…

Veja o que me acontece,

Toda vez que eu vou remar.

(A canôa virou…)

Meu barco nunca fez água,

Tenha meu bem muita fé,

Venha esquecer tua magua…

Na vazante da maré.

(A canôa virou…)

Vamos fazer a sondagem,

Parece que o mar vae secar,

Tenho medo d’abordagem…

Vae dar muito que falar.

(A canôa virou…)

Vila Esperança

Vila Esperança, foi lá que eu passei
O meu primeiro carnaval
Vila Esperança, foi lá que eu conheci
Maria Rosa, meu primeiro amor

Como fui feliz, naquele fevereiro
Pois tudo para mim era primeiro
Primeira rosa, primeira esperança
Primeiro carnaval, primeiro amor criança

Numa volta no salão ela me olhou
Eu envolvi seu corpo em serpentina
E tive a alegria que tem todo Pierrot
Ao ver que descobriu sua Colombina

O carnaval passou, levou a minha rosa
Levou minha esperança, levou o amor criança
Levou minha Maria, levou minha alegria

Viaduto Santa Efigênia

Venha ver
Venha ver eugênia
Como ficou bonito
O viaduto santa efigênia
Venha ver

Foi aqui,
Que você nasceu
Foi aqui,
Que você cresceu
Foi aqui que você conheceu
O seu primeiro amor

Eu me lembro
Que uma vez você me disse
Que um dia que demolissem o viaduto
Que tristeza, você usava luto
Arrumava sua mudança
E ia embora pro interior

Quero ficar ausente
O que os olhos não vê
O coração não sente

Triste Margarida (Samba do Metrô)

Você está vendo aquela mulher que tá indo ali
Ela não quer saber de mim
Sabem por que?
Eu menti pra conquistar seu bem querer

Eu disse a ela que eu trabalhava de engenheiro
Que o metrô de São Paulo estava em minhas mãos
E que se desse tudo certo
Ela seria a primeira passageira na inauguração
Tudo ia indo muito bem até que um dia

Até que um dia
Ela passou de ônibus pela via 23 de maio
E da janela do coletivo me viu
Plantava grama no barranco da avenida
Hoje fiquei sabendo que ela é orgulhosa, convencida
Não passa de uma triste Maragaria
Orgulhosa, convencida
Não passa de uma triste Maragaria…

Trem das Onze

Quais, quais, quais, quais, quais, quais
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Quais, quais, quais, quais, quais, quais,
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito, amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito, amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

E além disso, mulher
Tem outra coisa
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar

Sou filho único
Tenho minha casa pra olhar

Quais, quais, quais, quais, quais, quais
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Quais, quais, quais, quais, quais, quais
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Quaisgudum, tchau!

Torresmo à Milanesa

O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, joão!
Vam s’embora, joão!
O enxadão da obra bateu onze hora
Vam s’embora, joão!
Vam s’embora, joão!

Que é que você troxe na marmita, Dito?
Troxe ovo frito, troxe ovo frito
E você beleza, o que é que você troxe?
Arroz com feijão e um torresmo à milanesa,
Da minha Tereza!

Vamos armoçar
Sentados na calçada
Conversar sobre isso e aquilo
Coisas que nóis não entende nada
Depois, puxá uma páia
Andar um pouco
Pra fazer o quilo

É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!
É dureza João!

O mestre falou
Que hoje não tem vale não
Ele se esqueceu
Que lá em casa não sou só eu

Tocar na Banda

Tocar na banda
Pra ganhar o quê
Duas mariolas
E um cigarro iolanda

Num relógio
É quatro e vinte
No outro é quatro e meia
É que de um relógio pra outro
As horas vareia

Marquei com a minha nega
Às cinco
Cheguei às cinco e quarenta
Esperar mais
Que vinte minutos
Quem é que agüenta

Tiro ao Àlvaro

De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
Táubua de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar
Táuba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar

Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno e estriquinina
que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver

Saudosa Maloca

Se o senhor não tá lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete abandonado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca

Mas, um dia
Nem quero me lembrá
Veio os home co´as ferramentas
O dono mandô derrubá

Peguemos tudo as nossas coisa
E fumos pro meio da rua
Apreciar a demolição
Que tristeza que eu sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração

Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homi tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemos quando o Joca falou:
“Deus dá o frio conforme o cobertô”
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim, dim, donde nóis passemo os dias feliz de nossas vida

Samba Italiano

Falado:
“gioconda, pitina mia,
Vai brincar alí no mareí no fundo,
Mas atencione co os tubarone, ouvisto
Capito meu san benedito”.

Piove, piove,
Fa tempo que piove qua, gigi,
E io, sempre io,
Sotto la tua finestra
E vuoi senza me sentire
Ridere, ridere, ridere
Di questo infelice qui

Ti ricordi, gioconda,
Di quella sera in guarujá
Quando il mare ti portava via
E me chiamaste
Aiuto, marcello!
La tua gioconda a paura di quest’onda

Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: “Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever”

Prova de Carinho

Com a corda mi
Do meu cavaquinho
Fiz uma aliança pra ela,
Prova de carinho.

Quantas serenatas
Eu tive que perder,
Pois o cavaquinho
Já não pode mais gemer.
Quanto sacrifício
Eu tive que fazer,
Para dar a prova pra ela
Do meu bem querer.

Pafunça

Pafúnça, pafúnça.
Pafúnça que pena pafunça que nossa amizade virou bagunça
Pafúnça, pafúnça.
Pafúnça que pena pafunça que nossa amizade virou bagunça

Pafúnça acabou-se a sopa
Que te dava pra eu morfar
Pafúnça acabou-se as ropa
Que eu te dava pra lavar

Hoje eu vivo no abandono
Um vira-lata sem dono
E pra me judiar pafunça
Nem meu nome tu pronúnça

O teu coração sem amor
Se esfriou, se desligou,
Inté parece, pafúnça,
Aqueles alevador,
Que está escrito “não funúnça”
E a gente sobe a pé!
E pra me judiar, pafúnça
Nem meu nome tú pronúnça

No Morro do Piolho

Quando chego lá no Morro do Piolho
As vizinha fica louca, os vizinho fica de olho. Charutinho pra cá, charutinho pra lá, vem aqui colá.
Só dá eu, nunca vi coisa igual.
Me elegeram lá no Morro do Piolho, onde eu sou fundador.
Com muitos votos eu ganhei a eleição, para vice foi eleito o
panela de pressão. A Pafucinha foi queixa de mirô: “Como é que esse malandro teve a consagração ?”.
A Terezoca foi chamar o Trabucão, que com sua mocidade desconriu a tapeação.
Eu, como sempre, acabei entrando bem. Êta nego sem vergonha, o Panela de Pressão, esse negão, quando vê a coisa preta vai dizendo “sou inocente”, não conhece mais ninguém.
“Bãosis, a conversa está muito dus animadas, mas eu vou dar uma de Pirandela. É como diz o deitado: ‘Quando pobre come galinha, ou ele tá doente ou a galinha’.”

No Morro da Casa Verde

Silêncio, é madrugada.
No morro da casa verde
A raça dorme em paz
E lá embaixo
Meus colegas de maloca
Quando começa a sambá não pára mais
Silêncio!

Valdir, vai buscar o tambor
Laércio, traz o agogô
Que o samba na casa verde enfezou!
Silêncio!

Mulher, Patrão e Cachaça

Num barracão da favela do vergueiro
Onde se guarda instrumento
Alí, nóis morava em três

Eu, violão da silveira, seu criado
Ela, cuíca de souza
E o cavaquinho de oliveira penteado
Quando o cavaco centrava
E a cuíca soluçava
Eu entrava de baixaria
E a ximantada sambava
Bebia saculejava
Dia e noite, noite e dia

No barracão quando a gente batucava
Essa cuíca marvada, chorava como ela só
Pois ela gostava demais do meu líti
Que bem baixinho gemia
Gemia assim
Como quem tem algum dodói

Tudo aquilo era pra mim
Gemia e me olhava assim
Como quem diz
Alô my boy
E eu como bom violão
Carregava no bordão
Caprichado sol maior

Mas um dia patrão, que horror
Foi o rádio que anúnciou com o fundo musical
Dona cuíca de souza
Com cavaco de oliveira penteado se casou

E deu uma coisa na claquete
Eu ía pegá o cavaco
E o pandeiro me falou:

Não seja bobo
Não se escracha
Mulher patrão e cachaça
Em qualquer canto se acha
Não seja bobo
Não se escracha
Mulher patrão e cachaça
Em qualquer canto se acha

Malvina

Malvina, você não vai me abandonar,
Não pode, sem você como é que eu vou ficar.
Malvina, você não vai me abandonar,
Não pode, sem você como é que eu vou ficar.

Tá fazendo mais de dez anos
Que nóis estemos juntos
E daqui você não sai

Minha vida sem você não vai
Minha vida sem você não vai

Joga a Chave

Não perturbo mais teu sono
Chego a meia noite sim
Ou então a qualquer hora

Joga a chave meu bem
Aqui fora tá ruim demais
Cheguei tarde perturbei teu sono
Amanhã eu não perturbo mais

Joga a chave meu bem
Aqui fora tá ruim demais
Cheguei tarde perturbei teu sono
Amanhã eu não perturbo mais

Faço um furo na porta
Amarro um cordão no trinco
Pra abrir pro lado de fora
Não perturbo mais teu sono
Chego à meia-noite sim
Ou então à qualquer hora

Joga a chave meu bem
Aqui fora tá ruim demais
Cheguei tarde perturbei teu sono
Amanhã eu não perturbo mais

Faço um furo na porta
Amarro um cordão no trinco
Pra abrir pro lado de fora
Não perturbo mais teu sono
Chego à meia-noite sim
Ou então à qualquer hora

Já Fui uma Brasa

Eu também um dia fui uma brasa
E acendi muita lenha no fogão
E hoje o que é que eu sou?
Quem sabe de mim é meu violão
Mas lembro que o rádio que hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro,
Tocava saudosa maloca

Eu gosto dos meninos destes tal de iê-iê-iê, porque com eles,
Canta a voz do povo
E eu que já fui uma brasa,
Se assoprarem posso acender de novo

(declamado):
É negrão… eu ia passando, o broto olhou pra mim e disse: é uma cinza, mora?
Sim, mas se assoprarem debaixo desta cinza tem muita lenha pra queimar…

Iracema

Iracema, eu nunca mais eu te vi
Iracema meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amor foi você

Iracema, eu sempre dizia
Cuidado ao travessar essas ruas
Eu falava, mas você não me escutava não
Iracema você travessou contra mão

E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.

– Iracema, fartavam vinte dias pra o nosso casamento
Que nóis ia se casar
Você atravessou a São João
Veio um carro, te pega e te pincha no chão
Você foi para Assistência, Iracema
O chofer não teve curpa, Iracema
Paciência, Iracema, paciência

E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato

Fica Mais um Pouco Amor

Fica mais um pouco, amor
Que eu ainda não dancei com você
Somos quase vizinhos, fazemos o mesmo caminho,
Vamos, me dê sua mão
Quando o baile acabar, eu deixo você no seu portão.

Eu não vou pedir, mas se você quiser me dar
Aquele beijo, ao qual eu faço jús
Espero você entrar, acender e apagar a luz
Abrir a janela e me dizer:
“boa noite, zé, té manhã se deus quiser”.
Tá tudo legal

Coríntia (Meu Amor é o Timão)

como é bom ser alvi-negro
ontem, hoje e amanhã
respirar o ar mistura
do Tietê a Tatuapé
lá no alto a velha Penha
Da Anchieta e Bandeirantes
Ver São Jorge lá na lua
Abençoando a fazendinha
Onde mora um gigante
Tem igreja e tem biquinha

Corítia, Coríntia
Meu Amor é o timão
Corítina, cada minuto
Dentro do meu coração

Belém, Vila Maria e Moóca
E São Paulo extensão
ogi, Guarulhos, Itaquera
Tudo vibra coringão
É o corítia de nóis tudo
É Paulista é campeão

Bom Dia Tristeza

Bom dia tristeza
Que tarde tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando até meio triste
De estar tanto tempo longe de você

Se chegue tristeza
Se sente comigo
Aqui nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

As Mariposas

As mariposa quando chega o frio
Fica dando volta em volta da lâmpida pra se esquentar
Elas roda, roda, roda e dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra descansar

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando volta em volta de mim
Toda noite só pra me beijar

Apaga o Fogo Mané

Inez saiu dizendo que ia comprar um pavio
pro lampião
Pode me esperar Mané
Que eu já volto já

Acendi o fogão, botei a água pra esquentar
E fui pro portão
Só pra ver Inez chegar

Anoiteceu e ela não voltou
Fui pra rua feito louco
Pra saber o que aconteceu

Procurei na Central
Procurei no Hospital e no xadrez
Andei a cidade inteira
E não encontrei Inez

Voltei pra casa triste demais
O que Inez me fez não se faz
E no chão bem perto do fogão
Encontrei um papel
Escrito assim:
-Pode apagar o fogo Mané que eu não volto mais

Aguenta a mão, João

Não reclama
Contra o temporal
Que derrubou teu barracão
Não reclama
Guenta a mão joão
Com o cibide
Aconteceu coisa pior
Não reclama
Pois a chuva
Só levou a tua cama
Não reclama
Guenta a mão joão
Que amanhã tu levanta
Um barracão muito melhor

C’o cibide coitado
Não te contei?
Tinha muita coisa
A mais no barracão
A enchurrada levou seus
Tamanco e o lampião
E um par de meia que era
De muita estimação
O cibide tá que tá dando
Dó na gente
Anda por aí
Com uma mão atrás
E outra na frente

A Luz da Light

Lá no morro quando a luz da light pífa
A gente apela pra vela, que alumeia também (quando
tem)
Se não tem não faz mal
A gente samba no escuro
Que é muito mais legal (e é natural)

Quando isso acontece
Há um grito de alegria
A torcida é grande pra luz voltar
Só no outro dia
Mas o dono da casa
Estranhando a demora e achando impossível
Desconfia logo que alguém passou a mão no fuzíl
No relógio da luz

Abrigo de Vagabundos

Eu arranjei o meu dinheiro
Trabalhando o ano inteiro
Numa cerâmica
Fabricando potes
e lá no alto da Moóca
Eu comprei um lindo lote dez de frente e dez de fundos
Construí minha maloca
Me disseram que sem planta
Não se pode construir
Mas quem trabalha tudo pode conseguir

João Saracura que é fiscal da Prefeitura
Foi um grande amigo, arranjou tudo pra mim
Por onde andará Joca e Matogrosso
Aqueles dois amigos
Que não quis me acompanhar
Andarão jogados na avenida São João
Ou vendo o sol quadrado na detenção

Minha maloca, a mais linda que eu já vi
Hoje está legalizada ninguém pode demolir
Minha maloca a mais deste mundo
Ofereço aos vagabundos
Que não têm onde dormir