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Quem ri melhor

Pobre de quem já sofreu nesse mundo
A dor de um amor profundo
Eu vivo bem sem amar a ninguém
Ser infeliz é sofrer por alguém
Zombo de quem sofre assim
Quem me fez chorar
Hoje chora por mim
Quem ri melhor é quem ri no fim

Felicidade é o vil metal quem dá
Honestidade ninguém sabe aonde está
Acaba mal quem é ruim
Pois quem me fez chorar hoje chora por mim
Quem ri melhor é quem ri no fim

Pobre de quem já sofreu nesse mundo
A dor de um amor profundo
Eu vivo bem sem amar a ninguém
Ser infeliz é sofrer por alguém
Zombo de quem sofre assim
Quem me fez chorar hoje chora por mim
Quem ri melhor é quem ri no fim

Sabendo disso eu não quero rir primeiro
Pois o feitiço vira contra o feiticeiro
Eu vivo bem pensando assim
Pois quem me fez chorar hoje chora por mim
Quem ri melhor é quem ri no fim

Você vai se quiser

Você vai se quiser
Você vai se quiser
Pois a mulher
Não se deve obrigar a trabalhar
Mas não vá dizer depois
Que você não tem vestido
Que o jantar não dá pra dois

Você vai se quiser
Você vai se quiser
Pois a mulher
Não se deve obrigar a trabalhar
Mas não vá dizer depois
Que você não tem vestido
Que o jantar não dá pra dois

Todo cargo masculino
Desde o grande ao pequenino
Hoje em dia é pra mulher
E por causa dos palhaços
Ela esquece que tem braços
Nem cozinhar ela quer

Você vai se quiser
Você vai se quiser
Pois a mulher
Não se deve obrigar a trabalhar
Mas não vá dizer depois
Que você não tem vestido
Que o jantar não dá pra dois

Os direitos são iguais
Mas até nos tribunais
A mulher faz o que quer
Cada qual que cave o seu
Pois o homem já nasceu
Dando a costela à mulher

Você vai se quiser
Você vai se quiser
Pois a mulher
Não se deve obrigar a trabalhar
Mas não vá dizer depois
Que você não tem vestido
Que o jantar não dá pra dois

Mulher indigesta

Mas que mulher indigesta!(Indigesta!)
Merece um tijolo na testa
Essa mulher não namora
Também não deixa mais ninguém namorar
É um bom center-half pra marcar
Pois não deixa a linha chutar
E quando se manifesta
O que merece é entrar no açoite
Ela é mais indigesta do que prato
De salada de pepino à meia-noite
Essa mulher é ladina
Toma dinheiro, é até chantagista
Arrancou-me três dentes de platina
E foi logo vender no dentista

Onde está a honestidade

Você tem palacete reluzente
Tem jóias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança nem parente
Só anda de automóvel na cidade

E o povo já pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?

O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e até felicidade

Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente

Voltaste (Pro Subúrbio)

Voltaste novamente pro subúrbio
Vai haver muito distúrbio
Vai fechar o botequim

Voltaste
E o despeito te acompanha
E te guia na campanha
Que tu fazes contra mim

O guarda que apitava ressonando
Anda alerta envergando
O seu capote de lã

Voltaste
Para fabricar defunto
Para fornecer assunto
Aos diários da manhã

Voltaste
Novamente sem dinheiro
Tapeando o açougueiro
Que não tem golpe de vista

Voltaste
Com um cão muito valente
Que só tiras da corrente
Quando chega o prestamista

Voltaste
Para mostrar ao nosso povo
Que não há nada de novo
Lá no Centro da cidade

Voltaste
Demonstrando claramente
Que o subúrbio é ambiente
Que completa a liberdade

Voltaste
Mas falhou o teu projeto
Não te dou o meu afeto
Quando eu quero
Eu sou ruim

Voltaste
Confessando sem vaidade
Que a sua liberdade
É viver bem preso a mim

Você Só… Mente

Não espero mais você, pois você não aparece
Creio que você se esquece das promessas que me faz
E depois vem dar desculpas, inocentes e banais
É porque você bem sabe
Que em você desculpo
Muitas coisas mais
O que sei somente
É que você é um ente
Que mente inconscientemente
Mas finalmente
Não sei porque
Eu gosto imensamente
De você
Invariavelmente, sem ter o menor motivo
Em um tom de voz altivo
Você quando fala mente
Mesmo involuntariamente, faço cara de inocente
Pois sua maior mentira, é dizer à gente que você não mente

Você É Um Colosso

Você é um colosso
Andou no meu carro
Filou meu almoço
Fumou meu cigarro

Vestiu meu pijama
Sentiu um abalo
Fuçou minha cama
Pisou no meu calo

E não adianta
Você me pedir perdão
Depois de você pisar
Meu calo de estimação

Você é um colosso
E não faz shmere
Enrolou no pescoço
O meu cashmere

Foi no galinheiro
Matou o meu galo
Falou em dinheiro
Pisou no meu calo

E não adianta
Você me pedir perdão
Depois de você pisar
Meu calo de estimação

Você é um colosso
Comeu sanduíche
Falando bem grosso
Que samba é maxixe

Eu disse: – Caramba!
Não sou seu vassalo
Falou mal do samba
Pisou no meu calo

E não adianta
Você me pedir perdão
Depois de você pisar
Meu calo de estimação

Vitória

Antes da vitória,
não se deve cantar glória
Você criou fama,
deitou-se na cama…
Eu que não estou dormindo
Vou subindo, vou subindo
enquanto você vai decaindo.
Antes da vitória,
não se deve cantar glória
Você criou fama,
deitou-se na cama…
Eu que não estou dormindo
Vou subindo, vou subindo
enquanto você vai decaindo.
Quero a minha independência,
E com jeito e paciência,
me preparo pro futuro.
Não garanto, nem duvido
Mas você tome sentido que entre nós o páreo é duro.
Agüentei muita indireta,
Mas andei na linha reta,
não maldigo a minha sorte.
Vou agindo com cadencia,
Sei que a minha independência há de ser a sua morte.
Antes da vitória,
não se deve cantar glória
Você criou fama,
deitou-se na cama…
Eu que não estou dormindo
Vou subindo, vou subindo
enquanto você vai decaindo.
Antes da vitória,
não se deve cantar glória
Você criou fama,
deitou-se na cama…
Eu que não estou dormindo
Vou subindo, vou subindo
enquanto você vai decaindo.
Sua voz, se alguém percebe,
Bem humilde lhe recebe
sua entrada ninguém ferra.
Você goza de ventura,
Mas quem voa em grande altura
Leva sempre grande queda.
Não tenho medo de grito
Sempre fiz papel bonito, o que eu falo é bem pensado.
Não aceito escaramuça
E que aceite a carapuça quem se sentir nele ingrato.

Vai Pra Casa Depressa (Cara ou Coroa)

Vai pra casa depressa
Vai prevenir teu senhor
Que vou cumprir a promessa
Que fiz de possuir teu amor.

Não quero ser um covarde
Volta depressa pro teu barracão
Antes que seja bem tarde
Para salvar a tua situação.

Quando a mulher desequilibra
Dois malandros que têm fibra,
Só há uma solução:
Pra que brigar à-toa?
Basta tirar cara ou coroa,
Com um níquel de tostão.

Se não basta tirar a sorte,
Se o amor falar mais forte
Sou o dono da questão.
E ao teu antigo dono
Tu vais dar teu abandono
Dando a mim teu coração.

Três Apitos

Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Ou está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé no agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto ao piano
Estes versos pra você

Tenho um novo Amor (c/ Cartola)

Tenho um novo amor (bis)
que vive pensando em mim
Não quer me ver triste nem zangada
Gosta que eu ande assim engraçada

Eu não quero dar a perceber
que gosto demais do meu amor
Se ele compreender, vai se convencer
de que tem para mim um enorme valor
(Estribiho)

Se acaso algum dia se apagar
do teu pensamento meu amor
para não chorar e não mais penar mando embora a saudade p’rá livrar-me da dor
(Estribilho)

Taí

Taí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah meu bem não faz assim comigo, não
Você tem, você tem
Que me dar seu coração

Meu amor, não posso esquecer
Se dá alegria, faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim

Taí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah meu bem não faz assim comigo, não
Você tem, você tem
Que me dar seu coração

Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor

Taí
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah meu bem não faz assim comigo, não
Você tem, você tem
Que me dar seu coração

Taí…

Só Pode Ser Você

Compreendi seu gesto
Você entrou naquele meu chalé modesto
Porque pretendia somente saber
Qual era o dia em que eu deixaria de viver
Mas eu estava fora
Você mandou lembranças e foi logo embora
Sem dizer qual o primeiro nome
De tal visita
Mais cruel, mais bonita que sincera
E pelas informações que recebi já vi
Que essa ilustre visita era você
Porque não existe nessa vida
Pessoa mais fingida
Do que você

Sinhá Ritinha

No mês de maio,
No tempo da ladainha,
Foi que eu vi Sinhá Ritinha
Sobrinha de Nhô Vigário
Pra Zé Sampaio
Ela olhou desconfiada
Tava tão encabulada
Que caiu o seu rosário.

Ela apanhou
O rosário da caboca
Mas a coragem era pouca
Pra fala com a mulé
Depois pensou
E pra não perder a vaza
Guardou o rosário em casa
Pra dá quando Deus quisé.

Já fez dois anos
Que ele não vai à capela
Mas leva o rosário dela
Pro todo logá que fô
Não foi engano
O que disse toda a gente q
Que a sodade de repente
Tinha virado em amo

E o Zé Sampaio
Foi-se embora lá pro Norte
Pois teve a pio da sorte
Que se pode imagina
No Mês de maio
Quando vortô à capela
Pra entrega o rosário dela
Ela não quis aceita.

Silêncio de um Minuto

Não te vejo e não te escuto
O meu samba está de luto
Eu peço o silêncio de um minuto

Homenagem a história
De um amor cheio de glória
Que me pesa na memória
Nosso amor cheio de glória
De prazer e de emoção
Foi vencido e a vitória

Cabe à tua ingratidão
Tu cavaste a minha dor

Com a pá do fingimento
E cobriste o nosso amor
Com a cal do esquecimento

Teu silêncio absoluto
Obrigou-me a confessar
Que o meu samba está de luto

Meu violão vai soluçar
Luto preto é vaidade
Neste funeral de amor
O meu luto é saudade
E saudade não tem cor

São Coisas Nossas

Queria ser pandeiro
Pra sentir o dia inteiro
A tua mão na minha pele a batucar
Saudade do violão e da palhoça
Coisa nossa, coisa nossa

O samba, a prontidão
E outras bossas,
São nossas coisas,
São coisas nossas!

Malandro que não bebe,
Que não come,
Que não abandona o samba
Pois o samba mata a fome,
Morena bem bonita lá da roça,
Coisa nossa, coisa nossa

O samba, a prontidão
E outras bossas,
São nossas coisas,
São coisas nossas!

Baleiro, jornaleiro
Motorneiro, condutor e passageiro,
Prestamista e o vigarista
E o bonde que parece uma carroça,
Coisa nossa, muito nossa

O samba, a prontidão
E outras bossas,
São nossas coisas,
São coisas nossas!

Menina que namora
Na esquina e no portão
Rapaz casado com dez filhos, sem tostão,
Se o pai descobre o truque dá uma coça
Coisa nossa, muito nossa

O samba, a prontidão
E outras bossas,
São nossas coisas,
São coisas nossas!

Samba da Boa Vontade

(Campanha da boa vontade)

Viver alegre hoje é preciso
Conserva sempre o teu sorriso
Mesmo que a vida esteja feia
E que vivas na pirimba
Passando a pirão de areia

Gastei o teu dinheiro
Mas não tive compaixão
Porque tenho a certeza
Que ele volta à tua mão
Se ele acaso não voltar
Eu te pago com sorriso
E o recibo hás de passar
(Nesta qüestão solução sei dar)

Neste Brasil tão grande
Não se deve ser mesquinho
Quem ganha na avareza
Sempre perde no carinho
Não admito minharia
Pois qualquer economia
Sempre acaba em porcaria
(Minha barriga não está vazia)

Comparo o meu Brasil
A uma criança perdulária
Que anda sem vintém
Mas tem a mãe que é milionária
E que jurou batendo o pé
Que iremos à Europa
Num aterro de café
(Nisto eu sempre tive fé)

Rir (c/ Cartola)

Rir, não se ri de quem padece
Sofre, meu coração sabe dizer
Ri, quando vê alguém chorar
Deus é justo e verdadeiro
Por quem eu tenho chorado
Tenho fé em me vingar

Às vezes é um sorriso
Que acompanha uma esperança
Outras vezes é um riso
Que provoca uma vingança

Rir, não se ri de quem padece
Sofre, meu coração sabe dizer
Ri, quando vê alguém chorar
Deus é justo e verdadeiro
Por quem eu tenho chorado
Tenho fé em me vingar

Meu juízo se revolta
Quando vejo alguém zombar
O mundo dá muita volta
Quem zombou pode chorar

Rir, não se ri de quem padece
Sofre, meu coração sabe dizer
Ri, quando vê alguém chorar
Deus é justo e verdadeiro
Por quem eu tenho chorado
Tenho fé em me vingar

Retiro da Saudade

Quando li o seu recado
Por ti fascinado
Encontrei no seu cartão
Minha desilusão
Retirei saudosamente
Pra mostrar a essa gente
Que não tenho coração

Quando por amor suspiro
A saudade vem então
Encontrar o seu retiro
Encontrar o seu retiro
Dentro do meu coração

Dentro do teu coração
Não me diga que não
Só existe falsidade
É a pura verdade
Eu já fiz um trocadilho
Pra cantar com estribilho
No retiro da saudade

Rapaz Folgado

Deixa de arrastar o teu tamanco
Pois tamanco nunca foi sandália
E tira do pescoço o lenço branco
Compra sapato e gravata
Joga fora esta navalha que te atrapalha

Com chapéu do lado deste rata
Da polícia quero que escapes
Fazendo um samba-canção
Já te dei papel e lápis
Arranja um amor e um violão

Malandro é palavra derrotista
Que só serve pra tirar
Todo o valor do sambista
Proponho ao povo civilizado
Não te chamar de malandro
E sim de rapaz folgado

Quero Falar com Você

Quero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegar

Quero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegar

O amor se declara em segredo
Quem tem seu amor já aprendeu
Não posso deixar de ter medo
Que alguem subtraia o seu amor do meu

Amor não tem dia nem tem hora
Prá vir não tem antes nem depois
Só tem dia para ir-se embora
Dividindo a tristeza por dois

Quero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegar

O amor é castigo e é brinquedo
Depende da hora em que vem
Faz mal se não é em segredo
Quando os outros não sabem é mal que nos faz bem

Somando a ilusão com alegria
Assim é o começo do amor
Depois prá maior nostalgia
Multiplica atristeza por dor

Quero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegar

Quero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegarquero falar com você
Mas em segredo
Que ninguém venha saber do nosso amor

Será que para sempre
Havemos de guardar
Para a felicidade algum dia nos chegar

Quem Não Quer Sou Eu

Quando eu queria o teu a…mor
Não davas atenção ao meu
Pra mim tu não tens mais va…lor
Agora quem não quer sou eu
Observo que hoje em dia
Quem não quis diz que me quer
Cabe muita hipocrisia num capricho de mulher
Vou viver desiludido
Sem amor, sem ideal
Pra não ser submetido a desejo tão banal

Ao ouvir tuas propostas
Com tão falsas frases juntas
Achei uma só resposta que responde mil perguntas
Hás de ter em tua vida
Um destino igual ao meu
Podes ir desiludida, hoje quem não quer sou eu

Quem Não Dança

Quem não dança
Quem não dança
Pega na criança

Você é um contrapeso
E não entra na balança

Veja se carrega pedras
Enquanto você descansa

Quando eu peço mais amor
Quero menos confiança

Não pretendo andar no luxo
“Toilette” é lá na França

Eu sou muito liberal
Mas não uso aliança

Por qualquer mil e quinhentos
Você faz uma lambança

Quem Dá Mais?

Quem dá mais por uma mulata que é diplomada
Em matéria de samba e de batucada
Com as qualidades de moça formosa
Fiteira, vaidosa e muito mentirosa?
Cinco mil réis, duzentos mil réis, um conto de réis!

Ninguém dá mais de um conto de réis?
O Vasco paga o lote na batata
E em vez de barata
Oferece ao Russinho uma mulata

Quem dá mais por um violão que toca em falsete
Que só não tem braço, fundo e cavalete
Pertenceu a Dom Pedro, morou no palácio
Foi posto no prego por José Bonifácio?
Vinte mil réis, vinte e um e quinhentos, cinqüenta mil réis!

Ninguém dá mais de cinqüenta mil réis?
Quem arremata o lote é um judeu
Quem garante sou eu
Pra vendê-lo pelo dobro no museu.

Quem dá mais por um samba feito nas regras da arte
Sem introdução e sem segunda parte
Só tem estribilho, nasceu no Salgueiro
E exprime dois terços do Rio de Janeiro

Quem dá mais? Quem é que dá mais de um conto de réis?
(Quem dá mais? Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três!)

Quanto é que vai ganhar o leiloeiro
Que é também brasileiro
E em três lotes vendeu o Brasil inteiro?
Quem dá mais?

Que Se Dane

Vivo contente embora esteja na miséria
Que se dane! Que se dane!
Com essa crise levo a vida na pilhéria
Que se dane! Que se dane!
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola

Fui despejado em minha casa no Caju
Que se dane! Que se dane!
O prestamista levou tudo e fiquei nu
Que se dane! Que se dane!
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola

Fui processado por andar na vadiagem
Que se dane! Que se dane!
Mas me soltaram pelo meio da viagem
Que se dane! Que se dane!
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola
Não amola! Não amola!
Não deixo o samba porque o samba me consola

Precaução Inútil

Eu vi num armazém de Niterói
Um velho que se julga herói
E teme em ser conquistador
Lá no Banco do Brasil
Depositou mais de três mil
Botando água no vinho do barril
Seus lábios só se abriram para falar
Das velhas contas a cobrar
Dos que morreram sem pagar
Eram dois lábios agressores
Dois grandes cobradores
Dos seus devedores
Seu cabelo tinha cor de burro
Quando foge do amansador
Seus olhos eram circunflexos
Perplexos e desconexos
Mãos de usuários, braços de cigalho
Corpo de macaco chipanzé maduro
Enfim, eu vi neste velhote
Um imortal pão duro

Seu cabelo tinha cor de burro
Quando foge do amansador
Seus olhos eram circunflexos
Perplexos e desconexos
Um bigodão na cara indiscreta
Feito bicicleta com guidão de fora
Enfim, o velho nunca mais
Se casa com a senhora

Positivismo

A verdade, meu amor, mora num poço
É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz
E também faleceu por ter pescoço
O autor da guilhotina de Paris

A verdade, meu amor, mora num poço
É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz
E também faleceu por seu pescoço
O infeliz autor da guilhotina de Paris

Vai, orgulhosa, querida
Mas aceita esta lição:
No câmbio incerto da vida
A libra sempre é o coração

O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim

O amor vem por princípio, a ordem por base
O progresso é que deve vir por fim
Desprezastes esta lei de Augusto Comte
E fostes ser feliz longe de mim

Vai, coração que não vibra
Com teu juro exorbitante
Transformar mais outra libra
Em dívida flutuante

A intriga nasce num café pequeno
Que se toma pra ver quem vai pagar
Para não sentir mais o teu veneno
Foi que eu já resolvi me envenenar

Por Esta Vez Passa

Por esta vez passa
Por esta vez passa
Mas não volte a minha casa
Assim cheirando a cachaça

Já é coisa bem sabida
Que a Dona Manuela
Ou acaba com a bebida (como é?)
Ou a bebida com ela

Acabou-se o parati
Em casa de Dona Sônia
Por isso, Dona Didi (que foi?)
Só bebe água da colônia

Diz o artigo nacional:
“O brasil vai ter valor”
Por isso Seu Amaral (qual?)
Só bebe álcool motor

Por Causa da Hora

(Senhorita adiantou o seu relógio)

Meu bem
Veja quanto sou sincero
No poste sempre eu espero
Procuro bonde por bonde
E você nunca que vem
Olho, ninguém me responde
Chamo, não vejo ninguém

Talvez seja por causa dos relógios
Que estão adiantados uma hora
Que eu, triste, vou-me embora
Sempre a pensar porque
Não encontro mais você?

Terei que dar um beijo adiantado
Com o adiantamento de uma hora
Como vou pagar agora
Tudo o que comprei a prazo
Se ando com um mês de atraso?

Eu que sempre dormi durante o dia
Ganhei mais uma hora pra descanso
Agradeço ao avanço
De uma hora no ponteiro:
“Viva o Dia Brasileiro!”

Picilone

Yvone (Yvone)
Yvone (Yvone)
Eu ando roxo
Pra te dizer um picilone

Já reparei outro dia
Que o teu nome, ó Yvone
Na nova ortografia
Já perdeu o picilone

É pra ganhar simpatia
Que todo mundo se abaixa
Pra te fazer cortesia
Com os olhos fora da caixa

Tem uma vida folgada
Não faz mais nada, a Yvone
Até já tem empregada
Para atender telefone

Cansei de andar só de tanga
Já perdi a paciência
Fui te encontrar na Cananga
Mas não me deste audiência

Pela Décima Vez

Jurei não mais amar pela décima vez
Jurei não perdoar o que ela me fez
O costume é a força que fala mais forte do que a natureza
E nos faz dar provas de fraqueza
Joguei meu cigarro no chão e pisei
Sem mais nenhum aquele mesmo apanhei e fumei
Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ela é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir
Senti que o meu coração quis parar
Quando voltei e escutei a vizinhança falar
Que ela só de pirraça seguiu com um praça ficando lá no xadrez
Pela décima vez ela está inocente nem sabe o que fez

Pastorinhas

A estrela d’alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar

Palpite Infeliz

Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila Não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também

Fazer poema lá na Vila é um brinquedo
Ao som do samba dança até o arvoredo
Eu já chamei você pra ver
Você não viu porque não quis
Quem é você que não sabe o que diz?

A Vila é uma cidade independente
Que tira samba mas não quer tirar patente
Pra que ligar a quem não sabe
Aonde tem o seu nariz?
Quem é você que não sabe o que diz?

O X do Problema

Nasci no Estácio
Eu fui educada na roda de bamba
Eu fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê

Nasci no Estácio
O samba é a corda e eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba
Que possa fazer gostar de você

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
E felicidade maior neste mundo não há
Já fui convidada para ser estrela do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é o X do problema

Você tem vontade
Que eu abandone o largo de Estácio
Pra ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete uma vez por semana
Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você pode ver que palmeira do mangue
Não vive na areia de copacabana

O Pulo da Hora

(Que horas são ?)

Eu venho agora
Saber a hora
Que o ponteiro está marcando
No relógio da Senhora

Minha mulher
Sempre quer me dar pancada
Quando eu olho o mostrador
Do relógio da criada
Eu já danado
Com intriga e com trancinha
Arranquei hoje o cabelo
Do relógio da vizinha

Fiquem sabendo,
os senhores e as senhoras
Que o pai da minha pequena
Me manda embora ás 10 horas
Mas a pequena, que é sabida e muito sonsa
Com este pulo da hora
Já deu o pulo da onça

Há muito tempo
Briguei com o batedor
Troquei de mal com as horas
Quebrei o despertador
O meu relógio anda agora viciado
De tanto andar no meu bolso
Ele anda sempre atrasado

O Maior Castigo Que Eu Te Dou

O maior castigo que eu te dou
É não te bater
Pois sei que gostas de apanhar
Não há ninguém mais calmo
Do que eu sou
Nem há maior prazer
Do que te ver me provocar
Não dar importância
A sua implicância
Muito pouco me custou
Eu vou contar em versos
Os teus instintos perversos
É este mais um castigo
Que eu te dou
O maior castigo…
A porta sem tranca
Te dá carta branca
Para ir onde eu não vou
Eu juro que desejo
Fugir do seu falso beijo
É esse mais um castigo
Que eu te dou

Nunca… Jamais

Meu bem,
não me faça sofrer
Tu queres ter
liberdade demais
Os homens
tu conquistas um por um
Sem amar nenhum
Não, não pode ser
Nunca…jamais
Em tempo algum

Qualquer dia eu morro de um acesso
Só por ver o teu processo
De iludir os coronéis
Qualquer dia eu perco a paciência
Digo uma inconveniência
E depois te meto os pés
E vou pagar vinte mil réis

Deste a todo mundo tua mão
E teu pobre coração
Mas parece uma estalagem
Para salvação o que desejo
É mandar fazer o despejo
Pra poder descer bagagem
Mas é preciso ter coragem

Nada de ti posso aproveitar
Nada tens para me dar
Nem tens nota pra pintura
Todo mundo sabe que és pobre
Não herdaste o sangue nobre
E abusaste da feiúra
Pra quem é pobre a lei é dura

Nêga

Nêga… Nêga…
Já te dei tudo
Agora chega

Chega pro cordão
Que eu sopro nos metá
Pois eu sou da banda
Do Batalhão Navá.

Tu é nêga prosa
Tu não é palpiteira
Não vai á macumba
Não dança em gafieira.

Pode vir chegando
Meu bem para o cordão
Mas traz a bandeja
Pra recolher tostão.

Não Morre Tão Cedo

Você não morre tão cedo
Você não morre tão cedo
Juro que, neste momento
Pensava nesta sua pessoa
Tão boa, tão boa
Que até dormindo perdoa

Você sentiu agora com certeza
A dor que sinto no meu coração
E veio pra matar minha tristeza
E veio pra me dar o seu perdão

Chegando exatamente no momento
Em que a gente pensa o que não diz
Você adivinhou meu pensamento
Você já perdoou tudo que fiz

Você mostrou que tem bom coração
Sabe que estou sem a razão
Mas vem me dar o seu perdão
Você não trata a gente com desdém
Não guarda ódio de ninguém
E paga sempre o mal com bem

Não Me Deixam Comer

-Todos brincam, fazem farra, gastam o dinheiro. E eu quero gastar mas não posso. Ninguém vive sem comer. Eu, no entanto, quero comer mas não posso. Até os cachorros têm o direito de dormir. Eu quero dormir mas não posso.

Gosta de dança e da orgia
Ser fuzarqueira é o teu orgulho
Tocas vitrola noite e dia
E agora durma-se com este barulho

Quero dormir, não posso
Quero dormir, não posso
Eu tenho um troço que me aborrece
Já não janto nem almoço

Andas atrás da minha nota
Queres tomar o meu salário
E mesmo até no agiota
Tu já passaste o conto do vigário

Quero gastar, não posso
Quero gastar, não posso
Eu tenho um troço que me aborrece
Já não janto nem almoço

A cozinheira já não dorme
Pois a patroa só mastiga
A tua fome é tão enorme
Que tens a boca maior do que a barriga

Quero comer, não posso
Quero comer, não posso
Eu tenho um troço que me aborrece
Já não janto nem almoço

Não Há Castigo

Desta vez não há castigo
Se vais à Penha comigo
Tu tens que me dar vantagem
Vais pagar minha passagem
Carregar minha bagagem

(Oi… quero ver se tens coragem)
De subir a escadaria
Eu bem sei que tu não gostas
Mas juro que nesse dia
Vais me carregar nas costas

(Oi… quero ver se tens coragem)
Para pagares teus pecados
Pra ganhares o meu perdão
Vais subir de olhos vendados
Não é mais que obrigação

Não Foi por Amor

Não foi por amor,meu bem
Que por mim você chorou
Você foi interesseira
Quis amar de brincadeira
Só enquanto me explorou

(só enquanto me explorou)
Pra depois ficar dizendo
Que a sorte não lhe ajudou
Pra depois ficar dizendo
Soluçando e gemendo
Que a sorte não lhe ajudou

Eu me sinto bem feliz
Relembrando o que passou
Eu fui bobo porque quis
Hoje a canja se acabou

Quero só que você prove
Que você me ajudou
O seu choro não comove
Quem você prejudicou
(e não foi)

Não Faz, Amor

Não faz, amor, deixa-me dormir
Oh, minha flor, tenha dó de mim
Sonhei, acordei assustado
Receoso que tivesses me enganado
(Eu não durmo sossegado)

Só tens ambição e vaidade
Não pensas na felicidade
E eu não descanso um momento
Por pensar que o teu amor é só fingimento

Mas eu vou entrar com meu jogo
E vou pôr à prova de fogo
A tua sincera amizade
Para ver se tu falaste verdade

Amar sem jurar é bem raro
O verbo cumprir custa caro
Amor é bem fácil de achar
O que acho mais difícil é saber amar

O mundo tem suas surpresas
Mas nós temos nossas defesas
Por isso eu estou prevenido
Pra saber se sou ou não traído

Não Digas

Oh! Não digas
Que ainda eu não te esqueci
Quem não sabe há de pensar
Que eu ando atrás de ti

E a nossa amizade teve fim
Tu bem sabes que fui mesmo eu quem quis
Eu não sei por que mentes tanto assim
Pois mentira não se diz

Eu ainda fico triste a lembrar
Apesar de ter deixado já de ti
Lamentando aquele dia de azar
Em que te conheci

Mulato Bamba

Esse mulato forte é do Salgueiro.
Passear no tintureiro é o seu esporte,
Já nasceu com sorte e desde pirralho
Vive às custas do baralho,
Nunca viu trabalho.
E quando tira um samba é novidade,
Quer no morro ou na cidade,
Ele sempre foi o bamba.
As morenas do lugar vivem a se lamentar
Por saber que ele não quer se apaixonar por mulher.

O mulato é de fato,
E sabe fazer frente a qualquer valente
Mas não quer saber de fita nem com mulher bonita.
Sei que ele anda agora aborrecido
Por que vive perseguido
Sempre, a toda hora
Ele vai-se embora
Para se livrar
Do feitiço e do azar
Das morenas de lá.

Eu sei que o morro inteiro vai sentir
Quando o mulato partir
Dando adeus para o Salgueiro.
As morenas vão chorar,
Vão pedir pra ele voltar
E ele não diz com desdém:
-Quem tudo quer, nada tem.

Mulata Fuzarqueira

Mulata fuzarqueira, artigo raro
Que samba de dar rasteira
E passa as noite inteira em claro
Não quer mais saber de preparar as gordura
Nem usar mais das costura
O bom exemplo já te dei
Mudei a minha conduta
Mas agora me aprumei

Mulata fuzarqueira da gamboa
Só anda com tipo à toa
Embarca em qualquer canoa

Mulata, vou contar as minhas mágoa
Meu amor não tem R
Mas é amor debaixo d’água
Não gosto de te ver sempre a fazer certos papel
A se passar pros coronel
Nasceste com uma boa sina
Se hoje andas bem no luxo
É passando a beiçolina

Mulata, tu tem que te preparar
Pra receber o azar
Que algum dia há de chegar
Aceita o meu braço e vem entrar nas comida
Pra começar outra vida
Comigo tu podes viver bem
Pois aonde um passa fome
Dois podem passar também

Morena Sereia

Morena sereia
Que à beira-mar não passeia
Que senta na praia e deixa a praia cheia
De lindos castelos de areia

Cuidado criança
Que qualquer dia um tufão
Derruba estes teus castelos de esperança
E enche de areia o teu coração

Se algum dia tu souberes
Que o teu nome eu escrevi
Entre mais de dez nomes de mulheres
Terás certeza que te amei mas te esqueci

Meu Sofrer (Queixumes)

Sem estes teus tão lindos olhos,
Eu não seria sofredor
Os meus ferinos abrolhos
Nasceram do teu amor.
Eu hoje sou um trovador
E gosto até de assim penar,
Vou te dizer os meus queixumes:
Ciúmes tenho do seu olhar.
Quero sempre te ver bem junto a mim,
Porque te esquivas, assim, coração
De uma paixão?
O teu olhar traz alegria
Mas também traz o amargor,
Sem ele, então, não viveria
Vida não há sem dor.

Meu Barracão

Faz hoje quase um ano
Que eu não vou visitar
Meu barracão lá da Penha
Que me faz sofrer
E até mesmo chorar
Por lembrar a alegria
Com que eu sentia
Um forte laço de amor
Que nos unia

Não há quem tenha
Mais saudades lá da Penha
Do que eu, juro que não
Não há quem possa
Me fazer perder a bossa
Só saudade do barracão

Mas veio lá da Penha
Hoje uma pessoa
Que trouxe uma notícia
Do meu barracão
Que não foi nada boa
Já cansado de esperar
Saiu do lugar
Eu desconfio que ele
Foi me procurar

Não há quem tenha
Mais saudades lá da Penha
Do que eu, juro que não
Não há quem possa
Me fazer perder a bossa
Só saudade do barracão

Mentiras de Mulher

São mentiras e mulher,
Pode crer quem quiser.

Que eu tenho horror ao batente,
E não sou decente,
Poder crer quem quiser,
Que eu sou fingido e malvado,
E até que sou casado,
São mentiras de mulher.
(bis)

Quando n o reino da intriga,
Surge uma briga,
Por um motivo qualquer,
Se alguém vai pro cemitério,
É porque levou a sério,
As palavras da mulher.
(bis)

Esta mulher jamais se cansa,
De fazer trança,
Na mentira é um colosso,
Sua visita tão cacete,
Que escrevi no gabinete:
“Está fechado para almoço”.
(bis)

Esta mulher, de armar trancinha,
Ficou magrinha,
Amarela e transparente,
Quando vai ao ponto marcado,
De um encontro combinado,
Dizem que ela está ausente….

Mentir

Mentir, mentir
Somente para esconder
A mágoa que ninguém deve saber
Mentir, mentir
Em vez de demonstrar
A nossa dor num gesto ou num olhar

Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz

É com a mentira que a gente se sente mais contente
Por não pensar na verdade
O próprio mundo nos mente, ensina a mentir
Chorando ou rindo, sem ter vontade

E se não fosse a mentira, ninguém mais viveria
Por não poder ser feliz
E os homens contra as mulheres na terra
Então viveriam em guerra
Pois no campo do amor
A mulher que não mente não tem valor

Saber mentir é prova de nobreza
Pra não ferir alguém com a franqueza
Mentira não é crime
É bem sublime o que se diz
Mentindo para fazer alguém feliz

Menina dos meus Olhos

Menina dos olhos castanhos,
Que reside lá na serra,
Bem juntinho de deus…
Tu és a menina dos meus olhos,
Estou cego de saudade
Pelos olhos seus.

A serra não precisa de luar,
É iluminada pela luz do teu olhar,
Até o próprio sol resolveu não brilhar
Pra não perder (pra quem?) pro teu olhar!

Teus olhos abusaram do clarão
Parecem fogos dominando a multidão
Um rasgo de luz teu olhar produziu
Foi o olhar (de quem?) do meu brasil

Mas Como… Outra Vez?

Mas como…? Outra vez?
Toma cuidado
Se a moda pega
Estou bem certo:
Acabas como Judas no deserto

Quando tu compras jornal é fiado
Dando a desculpa que não tens trocado
Os pobres ficam com dor de cabeça
Por ouvir: “Deus te favoreça!”

Lembrei agora em hora propícia
Que o teu caso pertence à polícia
Cabe esta espécie de caso anormal
À Polícia Especial!

Mardade de Cabocla

No arraiá do Bom Jesus
A gente vê uma cruz
Que chama logo atenção
Quem fincou foi siá Chiquinha
A caboca mais bonita
Que pisou no meu sertão

Essa moça era querida
Que por ela davam a vida
Os cabocos do rincão
Dois home se apaixonaram
E um dia quando se oiaram
Tiveram a mesma intenção

Tendo duas viola apostada
E também a namorada
Lá na festa do arraiá
Zé Simão indignou-se
Nos repentes intrapaiou-se
Perdeu pro Chico Ganzá

Perdendo a viola amada
E também a namorada
Não disse mais nada, não
Foi manhãzinha encontrado
Com um punhá bem enterrado
Pro riba do coração

Marcha da Prima… Vera

Chama-se Vera
A minha prima
Não é Severa
Pois é Vera só
Não é prima do violão
É a sobrinha da minha avó

E receando que a Vera vive fera
Fiz esta marcha para a prima Vera
A Vera prima
Por ser primeira
Achando rima
Para o verbo amar
Não vai ao rádio, mas irradia
Antipatia por seu olhar

A prima Vera
Dizendo a idade
Não é sincera:
Diminui demais
Se nos contasse as primaveras
Era mais velha do que seus pais

Mão no Remo (Iça a Vela)

Nesta vida, nesta vida cada qual
Tem um barco em que navega
E o azar é natural
Nem há nada mais fatal
E a justiça é cega

Mas se os ventos sopram contra
Ou se vem a tempestade
Nunca mais o barco encontra
O porto da felicidade

Mão no remo, mão no remo
Com toda a coragem
Pra levar vantagem
No mar desta vida
Pois se queres ser feliz no amor
Tens que remar com ardor

Nesta vida…

Mete a vela, mete a vela
Quando for a hora
Irei no mar afora
Em busca da sorte
Aproveitando a maré a favor
Terás pra sempre valor

Malandro Medroso

Eu devo, não quero negar, mas te pagarei quando puder
Se o jogo permitir, se a polícia consentir e se Deus quiser…
Não pensa que eu fui ingrato, nem que fiz triste papel,
Hoje vi que o medo é o fato e eu não quero um pugilato
Com seu velho coronel.

A consciência agora me doeu
E eu evito (detesto a) concorrência, quem gosta de mim sou eu!
Neste momento, saudoso eu me retiro,
Pois teu velho é ciumento e pode me dar um tiro.

Se um dia ficares no mundo, sem ter nesta vida mais ninguém,
Hei de te dar meu carinho,
Onde um tem seu cantinho, dois vivem também…
Tu podes guardar o que eu te digo contando com a gratidão
E com o braço habilidoso de um malandro que é medroso,
Mas que tem bom coração.

Mais Um Samba Popular

Fiz um poema pra te dar
Cheio de rimas que acabei de musicar
Se por capricho
Não quiseres aceitar
Tenho que jogar no lixo
Mais um samba popular

Se acaso não gostares
Eu me mato de paixão
Apesar de teus pesares
Meu samba merece aprovação

Eu bem sei que tu condenas
O estilo popular
Sendo as notas sete apenas
Mais eu não posso inventar

Linda Pequena

A estrela d’alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as moreninhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor

Linda pequena
Pequena que tens a cor morena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar

Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar

Lataria

Diálogo inicial:
Almirante:Como é ,pessoal,
Vamos fazer uma batucada?
João de Barro:Vambora.Mas
Cadê o pandeiro?
Eduardo Souto: Pandeiro nada!
Lata veia ta aí à beça.
João de Barro:
Todos vambora!

Já que não temos pandeiro
Pra fazer nossa batucada,
Fabriquei o meu pandeiro
Com lata de goiabada.

ALMIRANTE:
Pra poder formar no samba
Para entrar na batucada
Fabriquei o meu pandeiro
Com lata de goiabada.

NOEL ROSA:
Sai do meio do brinquedo
Não se meta, dona Irene
Porque fiz o meu pandeiro
De lata de querosene,

ALVINHO:
Ando bem desinfetado
Só porque, minha menina,
O meu tamborim foi feito
De lata de creolina.
JOÃO DE BARRO:
Escuta bem, minha gente,
Repara bem pelo som
E depois vocês me digam
Se meu instrumento é bom.

João Teimoso

Tenho mais o que fazer
Não discuto com teimoso
Não posso perder meu tempo
O meu tempo precioso
É para viver
Tenho mais o que fazer!

João Teimoso é seu nome
Dorme em pé naquela rede
Dá bebida a quem tem fome
Dá comida a quem tem sede

Foge das meninas boas
Diz que prefere as coroas
Quando começa não pára
Este cara cismou com a minha cara

João Ninguém

João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar…
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar

João Ninguém
Não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém
E fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião

João Ninguém
Não tem ideal na vida
Além de casa e comida
Tem seus amores também
E muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade
Que goza João Ninguém!

João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião

Já Sei Que Tens Um Novo Amor

Já sei que tens um novo amor
Não vá depois se arrepender
Não voltes, mulher, nunca mais
Sofre calada, não dá a perceber

Sem dar a perceber também sofri
Desde o infeliz momento em que te vi
E hoje o que me fere o coração
É saber que foste embora sem razão

Por causa de outro amor tu vais sair
Eu não quero que tu venhas me pedir
Desculpas pelo teu procedimento
Nem que chores aumentando o meu tormento

Isso Não Se Faz

Assim poderei te perdoar
Se é que mudaste de pensar
Se tens prazer em me ver chorar
Por favor me deixa em paz
Isso não se faz

Devias pagar por fazer chorar
A quem te tratava tão bem
Mas eu aprendi
O que fiz por ti
Não hei de fazer por mais ninguém

Eu só quero ver o teu proceder
Se a tua promessa é fatal
Eu tenho razão
Não digas que não
Porque tu já me fizeste mal

Ingênua

Talvez eu lhe diga um dia
Toda a melancolia de um coração
Todo este sofrimento
Que agora experimento
Nesse infeliz momento
De tão acerba dor
Que crueldade!

Eu era um sonhador
Ela não entendeu meu amor
Qual a razão
Por que minha paixão
Não a pode comover?

Somente o Criador sabe do amor
Que consagrei a quem tanto amei
À hora propricia
Em que a malícia dela se apoderar
Com meu violão direi então
O meu pensar e se ainda
Essa ingênua linda
Não me compreender
Eu, já descrente, direi que ela
É inocente até morrer…

Habeas-Corpus

No tribunal da minha consciência
O teu crime não tem apelação
Debalde tu alegas inocência
Mas não terás minha absolvição

Os autos do processo da agonia
Que me causaste em troca ao bem que fiz
Correram lá naquela pretoria
Na qual o coração foi o juiz

Tu tens as agravantes da surpresa
(E) Também as da premeditação
Mas na minh’alma tu não ficas presa
Porque o teu caso é caso de expulsão

Tu vais ser deportada do meu peito
Porque teu crime encheu-me de pavor
Talvez o habeas-corpus da saudade
Consinta o teu regresso ao meu amor

Gosto, Mas Não É Muito

Olha, escuta, meu bem
É com você que eu estou falando, neném
Esse negócio de amor não convém
Gosto de você, mas não é muito… muito!

Fica firme, não estrilha
Traz o retrato e a estampilha
Que eu vou ver
O que posso fazer por você

Seu amor é insensato
Me amofinou, mesmo, de fato
Não leve a mal
Eu prefiro a Lei Marcial

Gago Apaixonado

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido

Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago

Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda!

Foi Ele

Quem roubou o meu capão de estimação?
Foi ele…
Quem abriu o meu portão para o ladrão?
Foi ela…
Depois ele tropeçou… ô… ô
Mas meu galo não se machucou
Quem parou porque a carroça atropelou?
Foi ele…

Foi um galo que cantou… có… có…ró…có
Um cachorro que acordou… au, au, au, au, au…
Quem comeu sempre galinha na cozinha?
Foi ele!

Da opereta Ladrão de Galinha
Paródia de Noel Rosa para Foi Ela, de Ary Barroso

Fiquei Sozinha

Fiquei sozinha,
Abandonada, implorando o teu perdão
Fiquei sozinha,
Desesperada com a tua ingratidão

Seu teu perdão, amor,
Eu vivo a padecer
Sem ter o que comer
Sem um vintém para beber

Oh, vem depressa, vem!
Isso não é papel
Se não voltares
Eu arranjo um coronel

Sem a tua companhia
Não posso resistir
Vendo o prazer fugir
Sem um lugar para dormir

Pra me vingar de ti
Farei o que puder
Não é assim
Que se despreza uma mulher

Fiquei Rachando Lenha

O meu amor chorou
Porque não fui à Penha
Fiquei rachando lenha
No ano que passou

Meu amor chorou
Mas não lhe dei razão
Vem primeiro a obrigação
E depois a devoção

Não há obrigação
Que faça te esquecer
Ela só me faz perder
Os momentos de prazer

Eu trabalhei demais
Por ter necessidade
De ter ouro em quantidade
Pra comprar comodidade

No ano que passou
Não pude ir à Penha
Meu amor se me desdenha
Quer comprar a minha lenha

Finaleto

Helena, linda flor de Cascadura
Escravo sou da tua formosura
Por ti serei poeta e trovador
Eu dou a vida pelo teu amor

Meu belo condutor de Cascadura
Bancaste muitas vezes cara-dura
Por ti fujo da casa do meu pai
E vou casar contigo no Uruguai

Bem que eu desconfiei de ti, sabido,
Mas a meu pai eu nunca dei ouvido
Juro pelos níqueis que você matou
Que não há pai mais mole do que eu sou

Helena, anjo de candura
Helena, flor de Cascadura…

Eu fui a noiva de um condutor
Prefiro um bobo rico a um doutor
Barbosa é um grande milionário
Já sabe que nasceu pra ser otário
Faz tudo por seu filho Joaquim
No mundo não existe sogro assim

Nós vamos ter mobília primorosa
Oferta grandiosa de Barbosa
As jóias ele vai nos dar depois
Por isso, viva Deus e chova arroz!

Festa no Céu

O leão ia casa
Com sua noiva leoa,
E São Pedro, pra agrada,
Preparou uma festa boa.
Mandou logo um telegrama
Convidando o bicho macho
Que levasse todas dama
Que existisse cá por baixo.

Pois tinha uma bela mesa
E um piano no salão.
Findo o baile, por surpresa,
No banquete do leão
Os bicho todo avisado
Tavam esperando o dia
Tudo tava preparado
Pra entra enfim na orgia.

E no tal dia marcado
Os bicho tomaram banho
Foram pro céu alinhado
Tudo em ordem por tamanho.
O mosquito entrou na sala
Com um charuto na boca;
Percevejo de bengala,
E a barata entrou de toca

Zunindo qual uma seta,
Foi o pingüim do Pólo;
O peixe de bicicleta
Como o tamanduá no colo;
O siri chegou atrasado
No bico de um passarinho,
Pois muito tinha custado
Pra bota seu colarinho.

E o gato foi de luva
Pra assisti o casório;
Jacaré de guarda-chuva
E a cobra de suspensório,
O porco de terno branco
Com um sapato de sola;
E o tigre de tamanco
De casaco e de cartola.

De lacinho à borboleta
Foi o cabrito faceiro;
E o burro de luneta
Montado num carroceiro;
O macaco com a macaca
Com rouge pelo focinho;
Estava engraçada a vaca
De porta-seio e corpinho.

Vou breviá o discurso
Pra não dizê tanto nome:
Lá foi a mulhê do urso
De cabeleira A la home;
Quando o leão foi entrando,
São Pedro muito se riu
E pro bicho foi gritando:
Caiu 1º de abril. “

Felicidade

Felicidade! Felicidade!
Minha amizade foi-se embora com você
Se ela vier e te trouxer
Que bom, felicidade que vai ser!

Trago no peito
O sinal duma saudade
Cicatriz de uma amizade
Que tão cedo vi morrer

Eu fico triste
Quando vejo alguém contente
Tenho inveja dessa gente
Que não sabe o que é sofrer
(Felicidade…)

O meu destino
Foi traçado no baralho
Não fui feito pra trabalho
Eu nasci pra batucar

Eis o motivo
Que do meu viver agora
A alegria foi-se embora
Pra tristeza vir morar
(Felicitá…)

Faz Três Semanas

Faz três semanas
Que tô comendo banana
Só porque não tenho grana
Nem ao menos pra almoçar

O que eu tô vendo
É que se eu não me defendo
Vou acabar me comendo
Pra poder me alimentar

Isso é despacho
Nunca tive tão por baixo
Que se eu não me agacho
Vou morrer de inanição

Eu me escangalho
De pular de galho em galho
Seu Ministro do Trabalho
Me deu má colocação

Meu esqueleto
Tá pior do que graveto
Eu já tô virando espeto
Meus ólho tá lá no fundo

Num bruto treino
Pra tomar café pequeno
Quero ver se me enveneno
Pra comer lá no outro mundo

Inda outro dia
Fui andar na galeria
Para ver se eu mordia
O primeiro a aparecer

Chegou a hora
Eu disse: “Meu Deus, é agora!”
Mas. Virgem Nossa Senhora!
Cadê dente pra morder?
(Pra morder…)

Paródia de Noel Rosa para Suçuarana, de Hekel Tavares e Luís Peixoto.

Faz de conta que eu morri

Faz de conta que eu não vivo
Faz de conta que eu morri
Que eu me encarrego de sumir
Faz de conta que a saudade
Essa dor que nos invade
Já deixou de existir

Amar para nós deve ser divertimento
E não o eterno ciúme que traz sofrimento
Desiste de me procurar
Não quero escutar declarações de amor
Pois de tanto chorar
Minha fisionomia já mudou de cor

Não quero lembrar esse mal que nos perseguiu
Nem quero lembrar uma jura que não se cumpriu
Não deves mais telefonar
Mandando me chamar
Porque não dou consulta
A quem escreve a carta
Sem botar o selo pra eu pagar a multa

Eu Sei Sofrer

Quem é que já sofreu mais do que eu?
Quem é que já me viu chorar?
Sofrer foi o prazer que Deus me deu
Eu sei sofrer sem reclamar
Quem sofreu mais que eu não nasceu
Com certeza Deus já me esqueceu

Mesmo assim não cansei de viver
E na dor eu encontro prazer
Saber sofrer é uma arte
E pondo a modéstia de parte
Eu posso dizer que sei sofrer

Quanta gente que nunca sofreu
Sem sentir, muitos prantos verteu
Já fui amada, enganada
Senti quando fui desprezada
Ninguém padeceu mais do que eu

Eu Agora Fiquei Mal

Tenho vontade de ir à Penha
Mas me falta o principal:
A mulher que me ajudava tanto
Ela deu o fora!
Eu agora fiquei mal

Esta mulher foi-se embora
Me deixou bem arruinado
Eu que estava tão sadio
Agora estou acabado
Mas agora eu peço muito
Para não escorregar
Leve o meu pedido
À Santa que está no altar

Tou vendo as coisas feias
Talvez nem possa alcançar
O final da escadaria
Que sobe pro seu altar

Nossa Senhora da Penha
Vai fazer o que puder
Se ela me livra
De toda mulher…

Estrela da Manhã

A estrela da manhã
Quando brilha na amplidão
Faz lembrar uma saudade
Que guardei no coração

Quando à noite olho as estrelas
A brilhar no firmamento
Fica distraída ao vê-las
Esquecendo o meu tormento

E dos amores que tive
A gozar a mocidade
Só um no meu peito vive
Sob a forma de saudade

Este Meio Não Serve

É feio! É feio!
Menina de família
Andar metida em certo meio
(É muito feio!)

As sobrinhas do almirante
Já saíram do Sion
Vão tomar vinho chianti
Lá pras bandas do Leblon

Os filhinhos da Candinha
Que andam sempre de má-fé
Fazem queixa à sua mãe da Zinha
E ela diz: “Sei lá se é…”

Quando a menina travessa
Dá palpites numa roda
Papai tem dor de cabeça
Mas mamãe não se incomoda

Esquina da Vida

É na esquina da vida
Que assisto à descida
De quem subiu…

Faço o confronto
Entre o malandro pronto
E o otário
Que nasceu pra milionário

E na esquina da vida
Observo o valor
Que o homem dá à mulher e ao amor
E é por isso que ela
Em qualquer situação
Zomba da gente, sempre cheia de razão

É na esquina da vida
Que espero ver você
Estendendo a mão
E implorando
Já desiludida
O meu perdão
Para eu dizer que não

Esquecer e Perdoar

Pelo mal que me fizeste
Sem eu merecer
Eu te quero perdoar
E te esquecer
Não deixei de te amar
(Vai por mim)
Nem posso viver assim

Quero agora o teu carinho
Quero a tua proteção
Quero arranjar padrinho
Não quero morrer pagão

Vem a forte tempestade
Mas depois vem a bonança
Sofri tua crueldade
Mas minh’alma hoje descansa
(Só me resta a lembrança…)

Se deixei de te amar
Foi só pela ingratidão
Que fizeste sem pensar
Sem lembrar de uma paixão

Mas agora estou mudado
Meu coração não se cansa
Por saber que sou amado
A minh’alma hoje descansa
(Vivo só de esperança…)

Espera Mais Um Ano

Espera mais um ano que eu vou ver
Vou ver o que posso fazer
Não posso resolver neste momento
Pois não achei o teu requerimento.
(Espera, espera, espera…)

No samba tu quiseste me perder
Tentaste na orgia me arrastar
Mas hoje que eu não quero me prender
Procura um coronel pro meu lugar

Tu foste sempre a minha diferença
Chegaste me obrigar a te bater
Já chega de pancada e desavença
Espera mais um ano que eu vou ver

Sapatos e vestidos eu te dei
E tu não pagaste o que eu te fiz
De tanto te aturar eu já cansei
Agora vou voltar a ser feliz

A tua pretensão vai acabar
Meu câmbio vai subir, tu vais descer
As coisas para mim vão melhorar
Espera mais um ano que eu vou ver

Escola de Malandro

A escola do malandro
É fingir que sabe amar
Sem elas perceberem
Para não estrilar…
Fingindo é que se leva vantagem
Isso, sim, que é malandragem
(Quá, quá, quá, quá…)
[-Isso é conversa pra doutor?]

Oi, enquanto existir o samba
Não quero mais trabalhar
A comida vem do céu,
Jesus Cristo manda dar!

Tomo vinho, tomo leite,
Tomo a grana da mulher,
Tomo bonde e automóvel,
Só não tomo Itararé¹
(Mas…)

Oi, a nega me deu dinheiro
Pra comprar sapato branco,
A venda estava perto,
Comprei um par de tamanco.

Pois aconteceu comigo
Perfeitamente o contrário:
Ganhei foi muita pancada
E um diploma de otário.
(Mas…)

¹ Alusão à não ocorrida batalha de Itararé, durante a Revolução de 1390, entre forças revolucionárias e governamentais, com a endição destes últimos ao tomarem conhecimento da deposição do então presidente da república Washington Luís.

É Preciso Discutir

01: Na introdução deste samba
Quero avisar por um modo qualquer
Que esta briga é por causa de uma mulher

02: E eu aviso também
Que neste samba agora me meto
Pra cantar com Francisco Alves em dueto

02: É preciso discutir
01: Mas não quero discussão
02: Da discussão sai a razão
01: Mas às vezes sai pancada
02: A questão é complicada
01: Quero ver a decisão

02: A mulher tem que ser minha
01: A mulher não traz letreiro
02: Foi comigo que ela vinha
01: Mas fui eu quem viu primeiro
02: Ela é minha porque vi
01: Mas quem segurou fui eu
02: A CONVERSA já meti
01: A mulher não escolheu
02: (E podes crer que é…)

02: Já perdi a paciência…
01: Eu por ela me arrisco
02: Sou capaz de violência
01: Mas não vai quebrar o disco
02: Quanto tempo foi perdido
01: Perdi tempo pra ganhar
02: Ganhar fama de atrevido
01: Quem se atreve quer brigar
(E podes crer que…)

[Música cantada em dueto]

É Peso

É peso, estou pesado
O meu viver é uma sentença
Que eu fui condenado a cumprir
Esta pena o remorso condena
Eu serei sentenciado

Se eu soubesse que a saudade
Não se esquece nem querendo
Não deixava essa amizade
Para não ficar sofrendo
Hoje eu quero e não me queres,
E o remorso que me invade
É saber que tu preferes
Morrer longe de saudade

E quando a lua descampa
Um pandeiro a batucar
Saio da roda do samba
Pra ninguém me ver chorar
Ao azar hoje me entrego
Quem tem peso tem azar
Mas o peso que eu carrego
É a pena de te amar

E Não Brinca Não (Não Brinca Não)

Pega na saca,
Tira a jaca,
Leva a faca,
Que a macaca
Sai da estaca
Ela te ataca
À traição

E não brinca não…
Que ela hoje tá com o cão!

Seu Fortunato,
Olha o rato
No sapato.
E o seu gato,
Que é de fato,
Foi pro mato
Com meu cão.

E não brinca não…
Que vais ficar de pé no chão!

Com sua farda,
Toda parda,
Bem galharda,
Na vanguarda,
De espingarda,
Vem um guarda
No pifão.

E não brinca não…
Que ele tá cheio da razão!

Dona Adalgisa
Só me avisa,
Só me frisa
Que a camisa
Não é lisa
Não precisa
De botão.

E não brinca não…
Que não tá paga a prestação!

Eu bem dizia
Que eu sabia
Que a Maria
Fazia
Na sacristia
Cortesia
Ao sacristão.

E não brinca não…
Que até o padre é gavião!

Dono do meu Nariz

Miséria… de vez em quando
Prestamistas recitando
Minhas contas no portão
E a criada, calmamente,
Diz que eu estou ausente
E não lhe deixei tostão…

Mas alguém que está gozando
Porque vive me manjando
Percebeu que eu não saí…
E aspiro no terreiro
L’Origan de galinheiro
Meu L’Origan de “galli”…¹

E no meu ninho de penas
Vejo aves tão serenas
A quem dei milho na mão
O vendeiro por afronta
Suspendeu a minha conta
E eu vou ficar sem feijão…

Dono deste meu nariz,
Não paguei porque não quis…
Não sou de todo infeliz
Por consolo vou gritando:
Neste meu nariz eu mando…
E… galinha não tem nariz!

¹ Jogo de palavras com certa colônia bem em voga à época: L’Origan de Coty

[Paródia para Dona da Minha Vontade, de Francisco Alves e Orestes Barbosa]

Dona Emília

Sai da frente
Dona Emília
Que o nosso bloco
Só tem gente de família

O nosso bloco vai a todas as batalhas
Só pra ganhar muitas medalhas.
E se houver muita concorrência
Eu trago o prêmio da violência.

O nosso bloco tem cordão de isolamento
Só pra barrar mau elemento
E dona Emilia anda despeitada
Por não entrar na batucada.

A dona Emilia foi pedir por compaixão
Pra penetrar no meu cordão
Mas eu não quero essa tagarela
Porque ela samba lá na favela.

Dona do Lugar

(Chegou…) Chegou a dona do lugar
Chegou…
Pelo modo de pisar
Se vê que é Iaiá de Ioiô

Lá vem ela, lá vem ela
Com o Ioiô do seu lado
Arrastando a chinela
Dizendo samba raiado

Quando ela pega a sambar
Com o seu sapateado
Todos ficam a gritar
Dando viva ao Cais Dourado

E essa bela Iaiá
Não acredita em muamba
Ela tem uma patuá
Que é todo o nosso samba

Vou pedir, vou implorar
A meu Senhor do Bonfim
Pra fazer essa Iaiá
Se apaixonar por mim

Dona Aracy

Dona aracy! dona aracy!
Quero saber:
Como anda isso por aí?

Como vai o seu malhado?
Seu marido em certidão
Inda está desconfiado
(inda está desconfiado)
Que é lesado pelo irmão.

Como vai a sua filha?
Qua namora no porão
Se a senhora não estrilha
(se a senhora não estrilha)
Quero uma apresentação.

Como vão as suas jóias?
Tão bonitas, eu não nego
Não passavam de pinóias
(não passavam de pinóias)
Davam dez tostões no prego.

Que foi feito do renato?
Que malvado, que troféu
Que pisava no meu sapato
(que pisava no meu sapato)
E cuspia no meu chapéu.

Disse Me Disse

Você me disse
Que a vizinha disse
Que eu sempre disse
Que você é louca
Que essa vizinha
Que só faz trancinha
De falar sozinha
Vive sempre rouca

Eu tenho pena dessa infeliz
Que sem motivo diz
Que eu seria capaz
De sustentar aquilo
Que você não disse
Deixa de tolice
Não leva-e-traz

Eu encontrei alguém que garantisse
Que a vizinha disse
Que eu falei demais
E esse alguém
Que fala mal de todo mundo
Creio que no fundo
Não é mau rapaz

Que bom seria se eu,
Face a face,
Hoje declarasse
À vizinha rouca
Que ela deve
Se chamar língua-de-trapo
Quanto bate-papo!
Quanto bate-boca!

Deus Sabe o que Faz

Tu sendo infeliz como se vê
Bancas tanto chiquê
Que a mim até já faz horror
Quanto mais se tivesses valor
Não teve e nem terás
Deus sabe o que faz…

O chiquê é feio pra quem pode ter
Quanto mais pra quem não tem nada de seu
Ai de quem não sabe se reconhecer
Nunca vi um gênio igual ao teu

Mas o mundo nos ensina a viver
Tudo isso com o tempo há de ter fim
Porque mesmo tu tens que reconhecer
Que nunca se deve ser assim

Deixa de ser Convencida

Deixa de ser convencida
Todos sabem qual é
Teu velho modo de vida

És uma perfeita artista, eu sei bem,
Também fui do trapézio,
Até salto mortal
No arame eu já dei.

E no picadeiro desta vida
Serei o domador,
Serás a fera abatida

Conheço muito bem acrobacia
Por isso não faço fé
Em amor, em amor de parceria
(Muita medalha eu ganhei!)

De Qualquer Maneira

Quem tudo olha quase nada enxerga
Quem não quebra se enverga
A favor do vento
Eu não sou perfeito
Sei que tenho de pecar
Mas arranjo sempre um jeito
De me desculpar

Eu lá na Penha agora vou estifa¹
Mas não vou como um cafifa²
Quem foi lá desacatar
Mas a força falha
Ele teve um triste fim
Agredido a navalha
Na porta de um botequim

Pra ver a minha santa padroeira
Eu vou à Penha
De qualquer maneira…

Faz hoje um mês que fui naquele morro
E a Juju pediu socorro
Lá da ribanceira
Toda machucada
Saturada de pancada
Que apanhou do seu mulato
Por contar boato

Meu coração bateu a toda pressa
E eu fiz uma promessa
Pra mulata não morrer…
Pela padroeira
Ela foi bem contemplada
Levantou do chão curada
Saiu sambando fagueira

Eu vou à Penha de qualquer maneira
Pois não é por brincadeira
Que se faz promessa
E o tal mulado
Para não entrar na lenha
Fez comigo um contrato
Pra sumir da Penha

Quem faz acordo não tem inimigo
A mulata vai comigo
Carregando o violão
E com devoção
Junto à santa milagrosa
Vai cantar meu samba prosa
Numa primeira audição

¹ Gíria da época: alinhado, bem-vestido.
² Gíria da época: sujeito sem sorte.

De Babado

REFRÃO:
De babado, sim
Meu amor ideal
Sem babado não.

Seu vestido de babado,
Que é de fato alta-costura,
Me fez sábado passado
Ir a pé a Cascadura.
(E voltei de cara-dura!)

REFRÃO

Com um vestido de babado
Que eu comprei lá em Paris
Eu sambei num batizado
Não dei palpite infeliz.
(Você não viu porque não quis!)

REFRÃO

Quando eu ando a seu lado
Você sobe de valor,
Seu vestido sem babado
É você sem meu amor.
(É assistência sem doutor!)

REFRÃO

Quando andei pela Bahia
Pesquei muito tubarão,
Mas pesquei um bicho um dia
Que comeu a embarcação.
(Não era peixe, era dragão!)

REFRÃO

Brasileiro diz meu bem
E francês diz “mon amour”,
Você diz: vale quem tem
Muito dinheiro pra pagar meu “point-à-jo”
(Eu ando sem “I’argent toujours!”)

REFRÃO

Vou buscar um copo d’água
Pra dar à minha avó,
Não vou de bonde porque tenho mágoa,
Não vou a pé porque você tem dó.
(Vamos comprar o Mossoró¹!)

REFRÃO MODIFICADO:
De cavalo, sim
Meu amor ideal
Sem cavalo, não
(Mas o cavalo de babado…)

¹ Nome do cavalo vencedor do primeiro Grande Prêmio Brasil em 1933.

Cordiais Saudações

(Cordiais saudações…)

Estimo que este mal traçado samba
Em estilo rude,
Na intimidade
Vá te encontrar gozando saúde
Na mais completa felicidade
(Junto dos teus, confio em Deus)

Em vão te procurei,
Notícias tuas não encontrei,
Eu hoje sinto saudades
Daqueles dez mil réis que eu te emprestei.
Beijinhos no cachorrinho,
Muitos abraços no passarinho,
Um chute na empregada
Porque já se acabou o meu carinho

A vida cá em casa
Está horrível
Ando empenhado
Nas mãos de um judeu.
O meu coração vive amargurado
Pois minha sogra ainda não morreu
(Tomou veneno, e quem pagou fui eu)

Sem mais, para acabar,
Um grande abraço queira aceitar
De alguém que está com fome
Atrás de algum convite pra jantar
Espero que notes bem:
Estou agora sem um vintém
Podendo, manda-me algum.
Rio, sete de setembro de trinta e um

(Responde que eu pago o selo…)

Coração (Samba Anatômico)

Coração
Grande órgão propulsor
Transformador do sangue venoso em arterial
Coração
Não és sentimental
Mas entretanto dizem
Que és o cofre da paixão
Coração
Não estás do lado esquerdo
Nem tampouco do direito
Ficas no centro do peito – eis a verdade!
Tu és pro bem-estar do nosso sangue
O que a casa de correção
É para o bem da humanidade

Coração
De sambista brasileiro
Quando bate no pulmão
Lembra a batida do pandeiro
Eu afirmo
Sem nenhuma pretensão
Que a paixão faz dor no crânio
Mas não ataca o coração

Conheci
Um sujeito convencido
Com mania de grandeza
E instinto de nobreza
Que, por saber
Que o sangue azul é nobre
Gastou todo o seu cobre
Sem pensar no seu futuro
Não achando
Quem lhe arrancasse as veias
Onde corre o sangue impuro
Viajou a procurar
De norte a sul
Alguém que conseguisse
Encher-lhe as veias
Com azul de metileno
Pra ficar com sangue azul

Cor de Leite com Café (Atchim!)

(Atchim!)
Essa morena cheia de beleza e graça
É o símbolo da raça, cor de leite com café…
E esse loura nunca foi, nem é meu tipo
Perto dela eu me constipo…
Atchim!… Atchim!…
De tão fria que ela é.

Essa morena tem que ser bom destino
Fez do samba o seu hino
Pra cantar cheia de fé.

Pela morena que há de ser a padroeira
Da folia brasileira
Tenho que bater o pé!

Condeno o Teu Nervoso

Condeno o teu nervoso
Que não tem razão de ser
Sou bom e generoso
E a prova disto hás de ter

No meu torrão natal
Nos chamam de herói
Já tenho capital e brevemente…
E brevemente compro…
Eu compro Niterói…

Condeno o teu nervoso
Que não tem razão de ser
Sou bom e generoso
A prova disso hás de ter

Condeno o cinema
Que é mau conselheiro
E não é meu sistema
Esbanjar dinheiro.

(Condeno o teu nervoso…)

[Paródia para Teus Ciúmes, de Lacy Martins e Aldo Cabral]
[Da opereta O Barbeiro de Niterói]

Com Mulher Não Quero Mais Nada

Com mulher não quero mais nada
Minha sina está traçada
Neste mundo que me causa horror

O que me faz ficar doente
É mulher na minha frente
A fazer enredos de amor

Eu tenho fama de filósofo amador
Quem diz que ama nunca sabe o que é o amor
Amar jurando nunca foi jurar amando
É por isso que eu juro
Que o amor não dá futuro

(Com mulher…)

Cidade Mulher

Cidade de amor e aventura
Que tem mais doçura
Que uma ilusão

Cidade mais bela que o sorriso,
Maior que o paraíso
Melhor que a tentação

Cidade que ninguém resiste
Na beleza triste
De um samba-canção

Cidade de flores sem abrolhos
Que encantando nossos olhos
Prende o nosso coração

Cidade notável,
Inimitável,
Maior e mais bela que outra qualquer.
Cidade sensível,
Irresistível,
Cidade do amor, cidade mulher.

Cidade de sonho e grandeza
Que guarda riqueza
Na terra e no mar

Cidade do céu sempre azulado,
Teu Sol é namorado
Da noite de luar

Cidade padrão de beleza,
Foi a natureza
Quem te protegeu

Cidade de amores sem pecado,
Foi juntinho ao Corcovado
Que Jesus Cristo nasceu

Chuva de Vento

Chuva de vento
É quando o vento dá na chuva
Sol com chuva,
Céu cinzento
Casamento de viúva

Zeca Secura
Da fazendo do Anzol
Quando chove não vê sol
Vai comprar feijão no centro
Bebe dez litros
De cachaça em meia hora
Pra agüentá chuva por fora
Tem que se molhar por dentro

Vento danado
É aquele lá de Minas
Sopra em cima das meninas
Diverte a população
Até os velhos
Vão correndo pras janelas
Pra ver se alguma delas
Já usa combinação

Faz sol com chuva
Tem viúva lá da Penha
Não há viúva que tenha
Tantos pretendente junto
Nessa corrida
Da viúva de seu Mário
Quem for vencedor do páreo
Ganha resto de defunto

Quem nunca viu
Chuva de vento à fantasia
Vá em Caxambu de dia
Domingo de carnaval
Chuva de vento
Só essa de Caxambu
Domingo chove chuchu
E venta água mineral

Um Zé Pau d’Água
Tem um amigo parasita
Não trabalha e sempre grita:
Viva Deus e chova arroz!
Gritando assim
Do seu povo ele se vinga:
Viva Deus e chova pinga
Que o arroz nasce depois.

Cem Mil Réis

Você me pediu cem mil réis,
Pra comprar um soirée,
E um tamborim,
O organdi anda barato pra cachorro,
E um gato lá no morro,
Não é tão caro assim.

Não custa nada,
Preencher formalidade,
Tamborim pra batucada,
Soirée pra sociedade,
Sou bem sensato,
Seu pedido atendi,
Já tenho a pele do gato,
Falta o metro de organdi.

Sei que você,
Num dia faz um tamborim,
Mas ninguém faz um soirée,
Com meio metro de cetim,
De soirée,
Você num baile se destaca,
Mas não quero mais você,
Porque não sei vestir casaca.

Capricho de Rapaz Solteiro

Nunca mais esta mulher
Me vê trabalhando!
Quem vive sambando
Leva a vida para o lado que quer
De fome não se morre
Neste Rio de Janeiro
Ser malandro é um capricho
De rapaz solteiro

A mulher é um achado
Que nos perde e nos atrasa
Não há malandro casado
Pois malandro não se casa

Com a bossa que eu tive
Orgulhoso vou gritando:
“Nunca mais esta mulher
Nunca mais esta mulher
Me vê trabalhando”

Antes de descer ao fundo
Perguntei ao escafandro
Se o mar é mais profundo
Que as idéias do malandro

Vou, enquanto eu puder,
Meu capricho sustentar
Nunca mais esta mulher
Nunca mais esta mulher
Me vê trabalhando

Cansei de Pedir

Já cansei de pedir
Pra você me deixar
Dizendo que não posso mais
Continuar amando
Sem querer amar
Meu Deus, estou pecando
Amando sem querer…
Me sacrificando sem você merecer!

Amar sem ter amor é um suplício
Você não compreende a minha dor
Nem pode avaliar
O sacrifício que eu fiz
Para você ser feliz!

Com a ingratidão eu não contava
Você não compreende a minha dor
Você, se compreendesse
Me deixava sem chorar
Para não me ver penar

Cansei de Implorar

Já cansei de implorar
Pra você desguiar
Dizendo que a minha filha
Ainda é muito moça pra namorar
Meu Deus, que teimosia
Desista de insistir
Na delegacia você vai residir

Casar sem exibir credenciais
E sem dizer o nome dos seus pais
Não pode ser conversa para mim que sou doutor
Vá-se embora, por favor
Quem casa sem ter casa não se cria
Amor sem nota não tem mais valia
Você me diz que é advogado de valor
Mas eu também sou doutor

Canção do Galo Capão

Có… có… có… có… có… có… có… ró…
Có… có… có… có… có… có… có… ró…
Eu hoje estou com gogo
Não aperte o meu gogó.

Você é ladrão de galinha
Quem me informou foi a minha vizinha
Sou galo e… se você me roubar
O papagaio hoje vai me desmoralizar.

[Paródia para Marchinha do Grande Galo de Lamartine Babo e Paulo Barbosa]
[Da opereta Ladrão de Galinha]

Cabrocha do Rocha

Eu tenho uma cabrocha
Que mora no Rocha
E não relaxa.

Sei que ela joga no bicho,
Que dança maxixe,
Que dá muita bolacha.

Tenho um filho macho
Com cara de tacho
E além disso é coxo.

Ele me faz de capacho,
Qualquer dia eu racho
Este carneiro mocho.

Bom Elemento

Entrei no samba
E os malandros perguntaram
Se eu era bamba
No bater do tamborim
E o batuque
Eles logo improvisaram
Eu dei a cadência assim:

Meu bem, o valor dá-se a quem tem
A Vila e a Aldeia não perdem pra ninguém
( O que é que tem?/não diga meu bem)
Meu bem, o valor dá-se a quem tem
A Vila e a Aldeia não perdem pra ninguém

Com violência
Enfrentei a batucada
A harmonia
Do meu simples instrumento
Fez toda a turma
Ficar muito admirada
Porque sou bom elemento.

Boas Tenções

[Da opereta A Noiva do Condutor]

Saiba primeiro que o senhor não tem direito
De duvidar do meu amor
Eu sou um rapaz bem-educado
Tenho dinheiro e sou advogado.

Meu coração pulsando diz
Que sua filha vai ser comigo bem feliz
Eu sou um rapaz cuja família
Além de dote, vai me dar mobília.

Agora, espero que o senhor
Faça o favor de não negar a bela mão
E o coração
Da sua linda morena, Helena!

Já declarei minhas tenções
Foi o senhor que assim quis
Mas não terás desilusões:
Helena há de ser bem feliz.

Belo Horizonte

[Paródia para I’m Looking over a Four Leaf Clover, de Mort Dixon e Harry Woods]

1
Belo Horizonte
Deixa que eu conte
O que há de melhor pra mim
Não é o bordão deste meu violão
Nem é a prima que eu firo assim
Não é a cachaça
Nem a fumaça
Que no meu cigarro vi
Belo Horizonte
Deixa que eu conte
Bem mesmo é estar aqui…

2
Belo Horizonte
Atrás do monte
Rosinha deu pro Leitão
Arrependida se pôs a chorar
Jurando que nunca mais ia dar
Porém, no outro dia,
Leitão comia
Na cama outro jantar
E a Rosinha,
Tão pobrezinha,
De inveja quis se matar…

Balão Apagado

Sobe, balão… Sobe, balão…
Por este céu azul sem fim,
Vai dizer ao meu São João
Que não se esqueça de mim.

Já mandei um balão com foguete
Levar um bilhete
Ao meu Antônio
E o balão, pra fugir do inverno
Entregou no inferno
O bilhete ao demônio!

Satanás respondeu ao recado:
“Balão apagado
Não entra no céu…
No inferno tu serás respeitado,
Tu tens tanto pecado
Que eu tiro o chapéu!”

Num balão que a chuva apagou
Alguém me mandou
Este triste recado:
“Eu espero ver a tua descida,
No céu da minha vida,
És balão apagado!”

Até Amanhã

Até amanhã se Deus quiser
Se não chover eu volto pra te ver
Oh, mulher!
De ti gosto mais que outra qualquer
Não vou por gosto
O destino é quem quer

Adeus é pra quem deixa a vida
É sempre na certa em que eu jogo
Três palavras vou gritar por despedida:
“Até amanhã! Até já! Até logo!”

O mundo é um samba em que eu danço
Sem nunca sair do meu trilho
Vou cantando o teu nome sem descanso
Pois do meu samba tu és o estribilho

Assim, sim!

Assim, sim
Mas assim também não
Já não gostas mais de mim
Mas eu não te dei razão.

Infelizmente este mundo é sempre assim
Quem ri muito no começo
Chora quando chega o fim.

Em mar de rosas começou nossa amizade
E depois tu me entregaste
A tristeza e a saudade.

E muita gente que a tristeza desconhece
Chora às vezes de alegria
Quando ri de quem padece.

Nas tuas juras eu sorrindo acreditei
Hoje eu choro já descrente
Vendo quanto me enganei.

Araruta

Tu pedes
Mandando
“Faça o favor” a tua boca nunca diz.

Tu cedes
Negando
Com esses olhos que para mim são dois fuzis.

Sou mole,
Manhoso,
Teus impropérios retribuo com brandura
Pois água mole
Na pedra dura tanto bate até que fura!

Tu beijas
Mentindo
A tua boca beija e mente sem sentir.

Desejas
Sorrindo
Que o teu perdão humildemente eu vá pedir.

Não peço,
Espero
Ainda ver-te entre lágrimas bem mal.
Meu bem, escuta:
A araruta tem seu dia de mingau!

Ao Meu Amigo Edgar (c/ João Nogueira)

Ja’ apresento melhoras
Pois levanto muito cedo
E deitar as nove horas
Pra mim ja’ eh um brinquedo
A injecao me tortura
E muito medo ‘me mete’
Mas minha temperatura
Nao passa de 37

Nessas balanças mineiras
De variados estilos
‘Trepei’ de varias maneiras
E pesei 50 quilos

Deu resultado comum
O meu exame de urina
Meu sangue 91
Por cento de hemoglobina

Creio que fiz muito mal
Em desprezar o cigarro
Pois nao ha’ material
Pro meu exame de escarro
Ate’ agora so’ isto
Para o bem dos meus pulmoes
E nem brincando desisto
De seguir as instrucoes
Que o meu amigo Edgard
Arranque desse papel
O abraço que vai mandar
O seu amigo Noël

P.S:
Muito obrigado ao Noël
E’ grande satisfação
Ter um parceiro no Céu
Quem fala aqui e’ o João.

Ando Cismado

Mulher, eu ando cismado
Que me enganei com você
Se algum dia não ficar mais a seu lado
Não precisa perguntar por quê.

A mentira é fatal
Creio que não é por mal
Que a mulher nos faz descrer
Mas se é realidade
Sua grande falsidade
Eu hei de ver você sofrer.

Eu cismado espero agora
Ver você a qualquer hora
Dando ao outro o coração
Quando chegar esse dia
Deixo sua companhia
Sem explicar por que razão.

Amor de Parceria

Saiba primeiro
Que fulana é minha amiga
E comigo ela nao briga,
Com ciume de você
Você provoca briga entre rivais
Para depois ver nos jornais,
Seu nome e seu clichê
Há muito tempo minha amiga me avisava
Que ela sempre conversava
Com você no seu jardim,
E começou nossa parceria
Eu fui por ela
E ela foi por mim

Você pensou que fomos enganadas
Marcando encontro em horas alteradas
E nós fizemos a sua vontade
Dentro de aquela
“Escrita” eu e ela
Nao tivemos prejuizo na sociedade!

Quando você se atrasava uma hora
E fingia nao saber a razao dessa demora
E muita vez você perdeu a fala
Quando tava sem tostao e eu pedia bala!
Nós aturamos os seus modos irritantes
Mas filamos bons jantares
Nos melhores restaurantes
Você nao sai de nosso pensamento
Você foi negócio,
E foi divertimento.

Amar com Sinceridade

Amar com sinceridade
Não há quem consiga uma só vez.
Pode haver muita amizade
Mas há sempre a falsidade
Como outrora Judas fez!

De ingratidão
Já estou farto e inteirado
E meu pobre coração
Vive sempre amargurado
Não tenho sorte com o amor
Vive sem felicidade
Dominado pela dor de uma saudade.

Sinceridade
Toda a gente desconhece
A cruel realidade
Ensinou-me o interesse
Mas todo o bem dura pouco
Todo mal tem sempre fim
As mulheres quero só longe de mim.

Agora

Agora, quem chora é quem me fez sofrer
Eu bem sabia que tu ias padecer
Hoje te vejo penando e procurando
Quem queria contigo viver

Tenho certeza
De que pensas em voltar
Mas, que tristeza!
Já cansei de perdoar.

Tu foste embora,
Amezinaste minha vida,
Só por isso vou agora
Bendizer tua saída.

Sempre vivi
Aturando desaforo.
Já decidi:
Não quero saber de choro,
Pois sou bem forte
E não lastimo estar a sós.
Cada qual com a sua sorte:
Deus ajuda a todos nós.

Adeus

Adeus! Adeus! Adeus!
Palavra que faz chorar
Adeus! Adeus! Adeus!
Não há quem possa suportar

Adeus é bem triste, que não se resiste
Ninguém jamais com adeus, pode viver em paz
(Foi o último…)

Adeus! Adeus! Adeus!
Palavra que faz chorar
Adeus! Adeus! Adeus!
Não há quem possa suportar

Pra que foste embora?
Por ti, tudo chora!
Sem teu amor, esta vida não tem mais valor
(Foi o último…)

A Razão Dá-Se a Quem Tem

Se meu amor me deixar
Eu não posso me queixar
Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

Sei que não posso suportar
(Se meu amor me deixar)
Se de saudades eu chorar
(Eu não posso me queixar)
Abandonado sem vintém
(Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém)
Quem muito riu chora também
(A razão dá-se a quem tem)

Se meu amor me deixar
Eu não posso me queixar
Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

Eu vou chorar só em lembrar
(Se meu amor me deixar)
Dei sempre golpe de azar
(Eu não posso me queixar)
Pra parecer que vivo bem
(Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém)
A esconder que amo alguém
(A razão dá-se a quem tem)

Se meu amor me deixar
Eu não posso me queixar
Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

A Melhor do Planeta

Tu pensas que tu é que és
A melhor mulher do planeta
Mas eu é que vou fazer
Tudo o que te der na veneta.

Tu foste marcar dois por quatro
Batendo teus pés lá no chão do teatro
Não entendo a opereta
Fizeste a careta
Pior do planeta.

Tu foste dançar par constante
Num baile de um clube da liga barbante¹
Tu abafaste a orquetra
Dizendo: “Sou mestra…”
Pior pro Palestra²!

¹ Barbante é um termo de gíria com significado de vagabundo, ordinário.

² Referência ao clube Palestra-Itália de São Paulo. Atualmente, Sociedade Esportiva Palmeiras.

A Genoveva Não Sabe o que Diz

[Paródia para Palpite Infeliz]
[Da operete Ladrão de Galinha]

A Genovena não sabe o que diz
E nunca soube onde tem o nariz
Salve as aves, os ovos, as ovas
E as cozinheiras bem novas
Às quais sempre quis um grande bem
O Meyer encontrou, enfim, alguém
Que amansa galos e pintos também.

Pegar um galo lá no Meyer é brinquedo
Bomba de gás lacrimejante é meu segredo
Mas na saída a gente cala e o galo faz “cocorocó”
E o cão rasga o nosso paletó.

Fita Amarela

Quando eu morrer, não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela
Se existe alma, se há outra encarnação
Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão

Não quero flores nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta, violão e cavaquinho
Estou contente, consolado por saber
Que as morenas tão formosas a terra um dia vai comer.

Não tenho herdeiros, não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos mas não paguei a ninguém
Meus inimigos que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim.

Com Que Roupa?

Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar

Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Seu português agora deu o fora
Já foi-se embora e levou seu capital
Esqueceu quem tanto amou outrora
Foi no Adamastor pra Portugal

Pra se casar com uma cachopa
E agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Conversa de botequim

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d’água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do fute..bol

Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro,
Um envelope e um cartão,
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas,
Um isqueiro e um cinzeiro

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa…

Telefone ao menos uma vez
Para três quatro quatro três três três
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empresta algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro,
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure esta despesa
No cabide ali em frente
Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d’água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do fute..bol