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Filho de Santa Maria

Aqui estou pra te proteger
Dos perigos da noite e do dia
Sou fogo, sou terra, sou água, sou gente
Eu também sou filho de Santa Maria

Se dona Maria soubesse que o filho
Pecava e pecava tão lindo
Pegava o pecado deixava de lado
E fazia da terra uma estrela sorrindo

Hoje eu saí lá fora
Como se tudo já tivesse havido
Já tivesse havido a guerra
A festa já tivesse havido
Eu só fosse puro espírito

Chavão abre porta grande

Não adianta vir arreganhando os dentes para mim
Porque sei que isso não é um sorriso

Penso logo existo, penso que existo
Penso que penso, penso que penso

Canto logo existo, canto enquanto isso
Canto o quanto posso, enquanto posso

Entre o sim e o não existe um vão
Entre o sim e o não existe um vão
Entre o sim e o não existe um vão
Entre o sim e o não existe um vão

Você já portou luvas no porta-luvas?

Lembre-se
Quem não vive tem medo da morte
Quem não vive tem medo da morte
Quem não vive tem medo da morte

Lembre-se
Chavão abre porta grande
Chavão abre porta grande
Chavão abre porta grande

Não sei se gosto de mim
Não sei se gosto de você
Mas gosto de nós

Non so se me amo
Non so se ti amo
Pero amo a noi due

O real é a rocha que o poeta lapida
Doando à humanidade mal agradecida
Poeta, talvez seja melhor
Afinar o coro dos descontentes.

De repente
O amor de sempre não era mais suficiente
O amor de sempre de repente não era mais suficiente

Je ne sais si je me plait
Je ne sais si tu me plait
Mais nous deux me plait

Noite torta

na sala numa fruteira
a natureza está morta
laranjas, maçãs e pêras
bananas, figos de cera
decoram a noite torta
sob a janela do quarto
a cama dorme vazia
encaro nosso retrato
sorrindo sobre o criado
no meio da noite fria
está pingando o chuveiro
que banho mais apressado
molhado caíste fora
no espelho minh’alma chora
lá fora está tão gelado
sozinha nesta cozinha
em pé eu tomo um café
na pia a louça suja
me lembra da roupa suja
no tanque que a vida é

Anteontem (Melô da U.T.I)

Hoje eu estou aqui
Por sorte não por ser forte
Porque que sobrevivi, não sei
Sei que não foi blefe ou trote

Anteontem na UTI
Foi me visitar a morte
Mesmo sedado senti
Seu bafo no meu cangote

De susto quase morri
Deu pânico, quase entrei em choque
Quando nas mãos dela eu vi
o invés da foice, serrote

Disse vim te advertir
Somente pra dar uns toques
Burrice tentar fugir
Cuide-se bem, se comporte

Daí desando a rir
Do carater, ri da corte
Passou a se divertir
Me dando corque e mais croque

Quando resolveu partir
Entregou-me um passaporte
Gritou antes de sumir
“Alem de servir de mote
Vim ajuda-lo a assumir de vez
O seu lado pop
Então é só decidir se morte é mote
Pra funk ou pra xote”

Cultura lira paulistana

(Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão)

Pobre cultura

A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura como pode ser segura
Mesmo assim mais um pouquinho
E seu nome será amargura ruptura sepultura
Também pudera coitada representada
Como se fosse piada
Deus meu por cada figura sem compostura
Onde era ataulfo tropicália
Monsueto dona ivone lara campo em flor
Ficou tiririca pura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que droga (merda)
Cultura não é uma tchurma
Cultura não é tcha tchura
Cultura não é frescura (nem a mentira)
A brasileira é uma mistura pura uma loucura
A textura brasileira é impura mas tem jogo de cintura
Se apura mistura não mata (cultura)
Cultura sabe que existe miséria existe fartura e partitura
Cultura quase sempre tudo atura
Sabe que a vida tem doce e é dura feito rapadura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Cultura sabe que existe bravura agricultura
Ternura existe êxtase e agrura noites escuras
Cultura sabe que existe paúra botões e abotoaduras
Que existe muita tortura
Cultura sabe que existe cultura
Cultura sabe que existem milhões de outras culturas
Baixaria na cultura tanto bate até que fura
Socorro elis regina
A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura
Como pode se segura
Mesmo assim mais um tiquinho
Coitada representada
Como se fosse um nada
Deus meu por cada feiúra
Sem compostura
Onde era pixinguinha elizeth macalé e o zé kéti
Ficou tiririca pura
Só dança de tanajura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura

socorro elis regina

baixaria na cultura tanto bate até que fura

socorro elis regina

Porcaria na cultura tanto bate até que fura

socorro, socorro

Socorro Elis Regina

Porcaria na cultura tanto bate até que fura

socorro Elis regina

Socorro

(Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão)

Vida de artista

Na vida sou passageiro
Eu sou também motorista
Fui trocador motorneiro
Antes de ascensorista
Tenho dom pra costureiro
Para datiloscopista
Com queda pra macumbeiro
Talento pra adventista
Agora sou mensageiro
Além de para-quedista
Às vezes mezzo engenheiro
Mezzo psicanalista
Trejeito de batuqueiro
A veia de repentista
Já fui peão boiadeiro
Fui até tropicalista
Outrora fui bom goleiro
Hoje sou equilibrista
De dia sou cozinheiro
À noite sou massagista
Sou galo no meu terreiro
Nos outros abaixo a crista
Me calo feito mineiro
No mais vida de artista

Dor elegante

Leminski disse
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Leminski disse e a Zélia vai repetir pra você

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
(Uma coroa) Ou coisa que os valha
Um milhão de dólares ou coisa que os valha

Ópios (Ópios), édens (Édens), analgésicos (Analgésicos)
(Não me toquem nessa dor) Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra (Por favor, por favor)
Ela é tudo o que me sobra
(Sofrer vai ser a minha última obra)
Sofrer vai ser a minha última obra
(Ela é tudo que me sobra)
(Sofrer vai ser a minha última obra)

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra (Por favor, por favor)
Ela é tudo que me sobra (Sofrer vai ser a minha última obra)
Sofrer vai ser a minha última obra (Ela é tudo que me sobra)

Leminski disse e a Zélia repete aqui pra vocês

Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
(Ela é tudo que me sobra) Ela é tudo que me sobra
(Viver vai ser a nossa última obra)

Mal menor

Você vai notar olhando ao redor
Que sou dos males o menor
Pode até contar com o meu amor
Naquilo que seja lá o que for

Sofrer é antigo por isso que digo
Basta estar vivo para correr perigo
Pra tudo conte comigo
Darei meu abrigo se quiser abrigo
Se for pra brigar por você também brigo
Pra tudo conte comigo

Você vai notar olhando ao redor
Que sou dos males o menor
Pode até contar com o meu amor
Naquilo que seja lá o que for

Minha flor de trigo meu licor de figo
Diga aonde irás que é pra lá que eu sigo
Pra tudo conte comigo
Eu quero estar contigo meu sexto sentido
Serei inimigo dos teus inimigos
Pra tudo conte comigo.

Já deu pra sentir

Já deu pra criar fama
Já deu pra sentir qual a trama
Quando eu nasci já tinha calor
Boca-de-siri, beijos de amor

Já deu pra saber quem me ama
Já deu pra sentir numa cama
Quando eu nasci já tinha a flor
O céu, javali, o cão caçador

A praia de Copacabana, minha mãe
São Paulo, Havana
Quando eu nasci tinha, sim senhor
Sapo, sapoti, Cristo Redentor
Águia, paturi, camelo, condor

E as águas do Amazonas
Os ratos, as rãs, ratazanas
Quando eu nasci já tinha terror
Águia, paturi, camelo, condor

Já deu pra saber dançar samba
Já deu para sentir pernas bambas
Quando eu nasci já tinha vapor
Little Richard já era cantor

Já deu para saber ser urbano
Já deu pra sentir ser humano
Quando eu nasci já tinha glamour
Pinel, Juqueri, Santos, Salvador

Amanticida

A gente nasce, vai crescendo, crescendo…
Até atingir a adolescência.
Começa um fogo por dentro,
Que vai queimando,
E uma inexplicável e violentíssima
Atração pelo sexo oposto.
Dai até a morte é um Deus-nos-acuda.

Eu vivo tentando saber
Por que teu bem-me-quer de mulher
Me mata, e me acende
Quando você bem entende.
Me arrasta daqui pra Bagdá.
Me empurra pra lá, me puxa pra cá,
Me agita, me sacode…
Você me deixa grogue.

Emito intrépidos
Grunhidos de felicidade.
Me masca, estica, tira o doce
Depois me cospe, me liga, me desliga,
Liga lâmpada de poste.
Me bate três vezes por dia,
Bate forte, mais dez da noite.
Provoca esquizofrenia
Tanto que me bate.
Me dá pontapés.
Me dribla pra lá, parece Pelé,
No Morumbi, Maracanã, Pacaembu.
Escracha, roga praga,
Enrosca, mete a boca…
Me rasga a roupa, louca,
Vampira, amanticida,
Fera, bruxa, madrasta, amanticida…
Homem, mulher…
Amada que mata amante.

Nego Dito

Meu nome é
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Eu me invoco, eu brigo
Eu faço, eu aconteço
Eu boto pra correr
Eu mato a cobra e mostro o pau
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Tenho o sangue quente
Não uso pente meu cabelo é ruim
Fui nascido em Tietê
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Não gosto de gente
Nem transo parente
Eu fui parido assim
Apaguei um no Paraná, pá, pá, pá, pá
Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Quando tô de lua
Me mando pra rua pra poder arrumar
Destranco a porta a pontapé
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se tô tiririca
Tomos umas e outras pra baratinar
Arranco o rabo do satã
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se chamá polícia
Eu viro uma onça
Eu quero matar
A boca espuma de ódio
Pra provar pra quem quiser ver e comprovar
Me chamo Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé
Benedito João dos Santos Silva Beleléu
Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé

Se chamá polícia
(Eu viro uma onça)
A boca espuma
(Eu vou cortar tua cara)
E se chamá polícia
(Vou retalhá-la com navalha)
(Eu viro uma onça)
A boca espuma de ódio